8132.pdf

download 8132.pdf

of 11

Transcript of 8132.pdf

  • Mar

    lia

    Xav

    ier

    Cur

    yN

    OVA

    S P

    ERSP

    ECTI

    VAS

    PA

    RA

    A C

    OM

    UN

    ICA

    O M

    USE

    OL

    GIC

    A E

    OS

    DES

    AFI

    OS

    DA

    PES

    QU

    ISA

    DE

    REC

    EP

    O

    EM

    MU

    SEU

    SA

    ctas

    do

    I Se

    min

    rio

    de

    Inve

    stig

    ao

    em

    Mus

    eolo

    gia

    dos

    Pa

    ses

    de L

    ngu

    a P

    ortu

    gues

    a e

    Espa

    nho

    la, V

    olum

    e 1,

    pp.

    26

    9-2

    79

    Marlia Xavier Cury

    Museloga formada no Intituto de Museologia de

    So Paulo. Atuo na rea de museologia e museus

    desde 1985, tendo trabalhado no Museu Municipal

    Famlia Pires, Estao Cincia, Museu Lasar Segall.

    Atualmente sou professora da Universidade de So

    Paulo, lotada no Museu de Arqueologia e Etnologia,

    onde ministro cursos, desenvolvo pesquisa e

    coordeno aes expogrfi cas. Tenho diversos artigos

    publicados no Brasil e no exterior.

  • Mar

    lia

    Xav

    ier

    Cur

    yN

    OVA

    S P

    ERSP

    ECTI

    VAS

    PA

    RA

    A C

    OM

    UN

    ICA

    O M

    USE

    OL

    GIC

    A E

    OS

    DES

    AFI

    OS

    DA

    PES

    QU

    ISA

    DE

    REC

    EP

    O

    EM

    MU

    SEU

    SA

    ctas

    do

    I Se

    min

    rio

    de

    Inve

    stig

    ao

    em

    Mus

    eolo

    gia

    dos

    Pa

    ses

    de L

    ngu

    a P

    ortu

    gues

    a e

    Espa

    nho

    la, V

    olum

    e 1,

    pp.

    26

    9-2

    79

    270

    NOVAS PERSPECTIVAS PARA A COMUNICAO MUSEOLGICA E OS DESAFIOS DA PESQUISA

    DE RECEPO EM MUSEUS*Marlia Xavier Cury

    Resumo

    Muito se fala em comunicao em museus e em comunicao museolgica,

    sem os cuidados nas distines entre os dois termos. O primeiro remete s aes em

    um museu e o segundo subrea de conhecimento da museologia.

    Os dois termos esto ligados, mas a comunicao museolgica que fundamenta

    as aes comunicacionais em museus, alm de construir conhecimento terico.

    A abordagem contempornea da comunicao de ne o lugar do pblico como

    sujeito do processo comunicacional. Dessa maneira, os plos da emisso e da recepo

    se equilibram em termos do poder que possuem. Por outro lado, a abordagem coloca o

    cotidiano do visitante como lugar primordial para se pensar a comunicao, inclusive

    a museolgica, considerando o deslocamento do foco dos meios para as mediaes

    culturais.

    O artigo tem como objetivo discutir novas abordagens comunicacionais para

    os museus, a partir de pressupostos fundamentados na comunicao museolgica.

    Igualmente, ser discutida a importncia dos estudos de recepo para os museus e

    para o desenvolvimento de conhecimentos comunicacionais e museolgicos.

    Palavras-chave: Comunicao Museolgica, Pesquisa de Recepo, Pblico de

    Museu

    * Este artigo uma sntese de outro, no prelo, elaborado para o MAST Colloquia 2008,

    Museu de Astronomia e Cincias Afi ns, Rio de Janeiro, Brasil.

  • Mar

    lia

    Xav

    ier

    Cur

    yN

    OVA

    S P

    ERSP

    ECTI

    VAS

    PA

    RA

    A C

    OM

    UN

    ICA

    O M

    USE

    OL

    GIC

    A E

    OS

    DES

    AFI

    OS

    DA

    PES

    QU

    ISA

    DE

    REC

    EP

    O

    EM

    MU

    SEU

    SA

    ctas

    do

    I Se

    min

    rio

    de

    Inve

    stig

    ao

    em

    Mus

    eolo

    gia

    dos

    Pa

    ses

    de L

    ngu

    a P

    ortu

    gues

    a e

    Espa

    nho

    la, V

    olum

    e 1,

    pp.

    26

    9-2

    79

    271

    Museologia

    A discusso sobre Museologia e seu objeto de estudo remete-nos ao ICOFOM

    Comit de Museologia do ICOM Conselho Internacional de Museus, que,

    aps da sua criao, tornou-se um dos principais lugares para a reunio da

    discusso sobre a disciplina. Outro lugar primordial para o debate e construo

    de conhecimento em Museologia passou a ser a universidade de forma especial e

    particular, sobretudo nos anos recentes.

    No contexto do ICOFOM, em 1980 Zbynek Z. Strnsky, prope que museologia seja

    entendida como o estudo da relao espec ca do Homem com a Realidade, tendo

    como objeto

    [...] uma abordagem espec ca do homem frente realidade, cuja expresso o fato de que ele seleciona alguns objetos originais da realidade, insere-os numa nova realidade para que sejam preservados, a despeito do carter mutvel inerente a todo objeto e da sua inevitvel decadncia, e faz uso deles de uma maneira, de acordo com suas prprias necessidades.

    (apud MENSCH, 1994, p. 12)

    A proposio de Strnsky foi bem aceita por outros integrantes do ICOFOM. Em

    1981, Anna Gregorov, corroborando com Strnsky, acrescenta que museologia

    [...] cincia que estuda a relao espec ca do homem com a realidade, que consiste na coleo e conservao intencional e sistemtica de objetos selecionados, quer sejam inanimados, materiais, mveis e principalmente objetos tridimensionais, documentando assim o desenvolvimento da natureza e da sociedade e deles fazendo uso cient co, cultural e educacional.

    (apud MENSCH, 1994, p. 12)

    Posteriormente, e seguindo essa proposio, Peter van Mensch, comenta que

    museologia :

    [...] uma abordagem espec ca do homem frente realidade, cuja expresso o fato de que eles selecionam alguns objetos originais da realidade, inserindo-os numa nova realidade para que sejam preservados, a despeito do carter mutvel inerente a todo objeto e da sua inevitvel decadncia, e faz uso deles de uma nova maneira, de acordo com suas prprias necessidades.

    (MENSCH, 1994, p. 12)

    No contexto do Brasil, essa proposio foi trabalhada por Waldisa Russio Camargo

    Guarnieri igualmente membro do ICOFOM. Para essa autora museologia a

    cincia que tem como estudo o fato museolgico:

  • Mar

    lia

    Xav

    ier

    Cur

    yN

    OVA

    S P

    ERSP

    ECTI

    VAS

    PA

    RA

    A C

    OM

    UN

    ICA

    O M

    USE

    OL

    GIC

    A E

    OS

    DES

    AFI

    OS

    DA

    PES

    QU

    ISA

    DE

    REC

    EP

    O

    EM

    MU

    SEU

    SA

    ctas

    do

    I Se

    min

    rio

    de

    Inve

    stig

    ao

    em

    Mus

    eolo

    gia

    dos

    Pa

    ses

    de L

    ngu

    a P

    ortu

    gues

    a e

    Espa

    nho

    la, V

    olum

    e 1,

    pp.

    26

    9-2

    79

    272

    Fato museolgico a relao profunda entre o Homem, sujeito que conhece, e o Objeto, parte da realidade qual o Homem tambm pertence e sobre a qual tem poder de agir relao esta que se processa num cenrio institucionalizado chamado museu.

    (1990, p. 7)

    A proposio de Strnsky incorporada por diversos autores tornou-se uma tradio

    (ou modelo) que pode ser sintetizada no ternrio HOMEM, OBJETO e MUSEU ou

    H x O x M. O ternrio representa a relao entre o homem e a realidade mediada

    pelo objeto musealizado.

    O ternrio replicado, em uma outra verso, para atender nova museologia.

    rplica como outra reproduo e como resposta s novas demandas da museologia

    e seu contexto de aplicao fora dos muros do que podemos denominar como

    museus tradicionais. Nesse sentido, o ternrio constitudo pela SOCIEDADE, o

    PATRIMNIO e o TERRITRIO, ou S x P x T.

    O Campo museolgico trata do ternrio em seu conjunto ou a partir de um de seus

    aspectos, sem perder de vista o todo trilgico. Assim, a produo em museologia

    pode ser considerada aquela em que o objeto de estudo trata do ternrio, mesmo

    que considerando uma de suas partes, sem perder, no entanto, a perspectiva do

    todo. Talvez este seja um dos pontos para discernirmos sobre a produo em

    museologia da produo de outras reas que se aproximam do ternrio ou de um de

    seus pontos constitutivos, mas com outras problemticas. Essas reas, certamente,

    contribuem com a museologia trazendo outros elementos, argumentos, teorias

    e conceitos, ampliam os limites da e uma crtica sobre a disciplina museolgica,

    trazendo contribuies que podero ser apropriadas pelo campo, transformando-o.

    De outra forma, essas mesmas reas e/ou outras que, inseridas no ternrio no

    todo ou em um de seus pontos constitutivos , produzem museologia, participando

    dela. Sem perder sua identidade original, essa outra rea se identi ca com

    os discursos museolgicos, sentindo-se parte dele. As contribuies para ou

    participaes de outras reas na museologia acontecem na multidisciplinaridade ou

    na interdisciplinaridade. Como a museologia uma transdisciplina em formao,

    semelhana da rea de comunicao, a aproximao e reciprocidade com outras

    reas essencial para a construo da transversalidade, da estrutura epistemolgica

    transdisciplinar e do quadro terico-conceitual.

  • Mar

    lia

    Xav

    ier

    Cur

    yN

    OVA

    S P

    ERSP

    ECTI

    VAS

    PA

    RA

    A C

    OM

    UN

    ICA

    O M

    USE

    OL

    GIC

    A E

    OS

    DES

    AFI

    OS

    DA

    PES

    QU

    ISA

    DE

    REC

    EP

    O

    EM

    MU

    SEU

    SA

    ctas

    do

    I Se

    min

    rio

    de

    Inve

    stig

    ao

    em

    Mus

    eolo

    gia

    dos

    Pa

    ses

    de L

    ngu

    a P

    ortu

    gues

    a e

    Espa

    nho

    la, V

    olum

    e 1,

    pp.

    26

    9-2

    79

    273

    A museologia, h dcadas, deslocou o seu objeto de estudo dos museus e das

    colees1 para o universo das relaes, como: a relao do homem e a realidade;

    do homem e o objeto no museu; do homem e o patrimnio musealizado; do

    homem com o homem, relao mediada pelo objeto. Esse universo de relaes

    deve ser enfrentado na perspectiva transdisciplinar dada a sua complexidade. Se a

    museologia disciplina com objeto de estudo, o enfrentamento desse objeto deve

    ocorrer com clareza e com bases tericas fundamentadas nas cincias humanas e

    sociais.

    Museografi a e gesto

    No ternrio HOMEM, OBJETO E MUSEU o museu adquire uma posio

    fundamental, pois se constitui no cenrio que permite a relao entre o homem

    e a realidade de uma forma particular. O museu um cenrio construdo e sua

    construo processual denomina-se museogra a.

    A museogra a abrange toda a prxis da instituio museu, compreendendo

    administrao, avaliao e parte do processo curatorial (aquisio, salvaguarda e

    comunicao).

    A gesto museolgica organiza a prxis formando o cotidiano institucional que

    opera no tempo. A gesto museolgica faz as aes museogr cas atuarem em

    sinergia, como um sistema que opera com atividades meio e m. A administrao

    atividade meio que d suporte ao processo curatorial, aes m em torno do objeto

    museolgico.

    O museu como um sistema o conjunto de procedimentos metodolgicos,

    infra-estrutura, recursos humanos e materiais, tcnicas, tecnologias, polticas,

    informaes, procedimentos e experincias necessrios para o desenvolvimento de

    processos museais.

    Processo curatorial

    O conceito de curadoria foi se alterando no decorrer do tempo e, mesmo hoje, h

    diferentes concepes em lugares, instituies, regies ou pases diferentes. No

    raro, em uma mesma instituio encontramos distintas formas de entender, tratar e

    fazer curadoria.

    1 Mensch, 1994, discrimina essas tendncias ora superadas: Museologia como o Estudo da Finalidade e Organizao de Museus; Museologia como o Estudo da Implementao e Integrao de um Conjunto de Atividades Visando Preservao e Uso da Herana Cultural e Natural; Museologia como o Estudo dos Objetos de Museu, Museologia como Estudo da Musealidade.

  • Mar

    lia

    Xav

    ier

    Cur

    yN

    OVA

    S P

    ERSP

    ECTI

    VAS

    PA

    RA

    A C

    OM

    UN

    ICA

    O M

    USE

    OL

    GIC

    A E

    OS

    DES

    AFI

    OS

    DA

    PES

    QU

    ISA

    DE

    REC

    EP

    O

    EM

    MU

    SEU

    SA

    ctas

    do

    I Se

    min

    rio

    de

    Inve

    stig

    ao

    em

    Mus

    eolo

    gia

    dos

    Pa

    ses

    de L

    ngu

    a P

    ortu

    gues

    a e

    Espa

    nho

    la, V

    olum

    e 1,

    pp.

    26

    9-2

    79

    274

    Uma forma contempornea de entender curadoria seria aquela elaborada por

    Ulpiano Bezerra de Meneses. Para esse autor

    [...] curadoria o ciclo completo de atividades relativas ao acervo, compreendendo a execuo e/ou orientao cient ca das seguintes tarefas: formao e desenvolvimento de colees, conservao fsica das colees, o que implica solues pertinentes de armazenamento e eventuais medidas de manuteno e restaurao; estudo cient co e documentao; comunicao e informao, que deve abranger de forma mais aberta possvel, todos os tipos de acesso, apresentao e circulao do patrimnio constitudo e dos conhecimentos produzidos, para ns cient cos, de formao pro ssional ou de carter educacional genrico e cultural (exposies permanentes (sic) e temporrias, publicaes, reprodues, experincias pedaggicas, etc.).

    (USP, 1986)

    Curadoria ou processo curatorial uma das formas de se entender o trabalho

    do museu, agora a partir da cadeia operatria em torno do objeto. A partir desta

    concepo o papel do curador se amplia, ou seja, so curadores todos aqueles que

    participam do processo curatorial.

    Em sntese, esse processo constitudo pelas aes integradas (realizadas por

    distintos pro ssionais) por que passam os objetos em um museu, denominados

    objetos museolgicos ou muselia, conforme de nido por Strnsk em 1969.

    As aes do processo curatorial so: Formao de acervo, pesquisa, salvaguarda

    (conservao e documentao museolgica), comunicao (exposio e educao).

    Apesar de ser cadeia operatria, no deve ser entendido como sequncia linear, o

    que o caracterizaria como estrutura esttica, mecnica e arti cial. Ao contrrio, uma

    viso cclica seria a melhor representao do processo, visto a interdependncia

    de todos os fatores entre si e a sinergia que os agrega e que agrega valor dinmico

    curadoria. Se um museu deve ser dinmico, igualmente deve ser o processo

    curatorial.

    O processo curatorial organiza o cotidiano em torno do objeto museolgico, mas

    traz luz do processo um outro elemento constitutivo do que entendemos ser o

    museu: o pblico. O pblico o receptor dos museus e do patrimnio cultural

    musealizado e traz consigo, como sujeito ativo, uma participao no processo

    curatorial.

    Avaliao museolgica e pesquisa de recepo

    Para os museus, a avaliao museolgica est ligada ao projeto de gesto. O projeto

    de gesto integra organicamente a museogra a com o processo curatorial. O projeto

    de gesto tambm uni ca, de modo a operar com e cincia, as atividades meio com

    as atividades m. A avaliao museolgica parte inerente do projeto de gesto,

  • Mar

    lia

    Xav

    ier

    Cur

    yN

    OVA

    S P

    ERSP

    ECTI

    VAS

    PA

    RA

    A C

    OM

    UN

    ICA

    O M

    USE

    OL

    GIC

    A E

    OS

    DES

    AFI

    OS

    DA

    PES

    QU

    ISA

    DE

    REC

    EP

    O

    EM

    MU

    SEU

    SA

    ctas

    do

    I Se

    min

    rio

    de

    Inve

    stig

    ao

    em

    Mus

    eolo

    gia

    dos

    Pa

    ses

    de L

    ngu

    a P

    ortu

    gues

    a e

    Espa

    nho

    la, V

    olum

    e 1,

    pp.

    26

    9-2

    79

    275

    pois traz luz da conscincia o andamento das estratgias, mtodos, tcnicas, aes

    propostas, posies, comportamentos etc. a avaliao que uni ca o cotidiano

    do museu ao projeto de gesto, ajustando-os reciprocamente para a e cincia e

    a e ccia. Para tanto, a avaliao deve ser praticada em todo o museu e atingir

    diferentes nveis e planos, envolvendo seus atores (pblico interno e externo), ou

    seja, avaliar os mtodos e estratgias, aes, atividades, produtos e servios. A

    avaliao alimenta, ajusta, adequa, corrige..., faz o sistema andar em direo aos

    objetivos traados e aos propsitos institucionais.

    Com o plano museolgico o sistema opera plenamente na interdependncia de

    elementos e na sinergia, na globalidade onde o todo maior do que a soma das

    partes. Planejamento pensar e agir, sendo que a avaliao move o processo

    nos limites de nidos pela equipe de pro ssionais e cria uma conscincia sobre

    o processo e a tomada de deciso. Uni cao das aes, construindo o cotidiano

    institucional e uma rotina a nada com os propsitos institucionais e com as

    nalidades museais.

    A avaliao serve ao museu para organizao do cotidiano, re exo sobre cultura

    de trabalho, construo de conhecimento prtico e para a implementao de uma

    inteligncia da prxis. Porque serve ao museu, a avaliao est no domnio da

    museogra a.

    Para a museologia, a avaliao museolgica2 passa a ser pesquisa ou estudo de

    recepo, ou seja, ela deixa de ser avaliao de processos e resultados para

    alimentar, corrigir e ajustar o projeto de gesto, faz-lo acontecer, en m , e passa

    a ser estudo de recepo, das formas de uso que o pblico faz do museu e das

    interaes geradas pelas exposies, em face das mediaes culturais. A pesquisa de

    recepo de pblico importante para o museu, porque so os usos que o pblico

    faz dele que lhes do forma social. A pesquisa de recepo fundamental para

    a museologia porque uma das possibilidades de produo de conhecimento e

    construo terica.

    Porque a pesquisa de recepo ocorre na relao do pblico com o patrimnio

    musealizado, o campo para a construo de experimentos empricos de coleta e

    anlise de dados a museogra a, campo autnomo e auxiliar como a etnogra a

    para a antropologia. Por outro lado, o campo para a construo da interpretao

    dos dados coletados e analisados transpondo esses dados descritivos para um

    contexto compreensivo e terico a museologia. Sendo assim, e referenciando-

    nos no Quadro Geral da Disciplina Museologia, a avaliao museolgica um item

    2 A avaliao museolgica uma denominao (ou termo) que engloba, at ento, todos os estudos com pblico realizados no contexto do museu, inclusive aqueles relativos a produo cientfi ca.

  • Mar

    lia

    Xav

    ier

    Cur

    yN

    OVA

    S P

    ERSP

    ECTI

    VAS

    PA

    RA

    A C

    OM

    UN

    ICA

    O M

    USE

    OL

    GIC

    A E

    OS

    DES

    AFI

    OS

    DA

    PES

    QU

    ISA

    DE

    REC

    EP

    O

    EM

    MU

    SEU

    SA

    ctas

    do

    I Se

    min

    rio

    de

    Inve

    stig

    ao

    em

    Mus

    eolo

    gia

    dos

    Pa

    ses

    de L

    ngu

    a P

    ortu

    gues

    a e

    Espa

    nho

    la, V

    olum

    e 1,

    pp.

    26

    9-2

    79

    276

    da Museologia Aplicada, ao passo que a recepo enquadra-se perfeitamente e

    honestamente na Museologia Geral.

    Museologia, museografi a e musealizao

    Houve um tempo que museogra a e museologia eram a mesma coisa, hoje elas se

    diferenciam.

    O cenrio museu onde se d a construo museogr ca, campo prtico do museu

    e auxiliar da museologia. O lugar da museogra a no museu, o tradicional ou

    outras formas, na sua estruturao administrativa, tcnica, poltica e metodolgica.

    O lugar da museologia onde esto as relaes do homem com o patrimnio

    cultural e a posio da museologia est na construo de conhecimento para

    compreenso do fato museolgico.

    O processo de musealizao aproxima a museogra a e a museologia porque

    descreve (o qu), especi ca (para quem) e analisa (como) o processo no qual a

    sociedade atribui o status patrimonial a determinados objetos e preserva-os para

    distintos usos (BRUNO, 2007, p. 147).

    Por outro lado, e a partir da de nio de Guarnieri, podemos entender o fato

    museolgico como um processo comunicacional, numa perspectiva da interao

    entre o museu e a sociedade. Para tanto, o museu vai de encontro cultura ao

    assumir que a signi cao da mensagem museal uma construo cultural que

    acontece a partir das mediaes do cotidiano do pblico visitante, ou seja, o

    cotidiano cultural sustenta a interpretao do pblico, da mesma forma que o

    receptor (o visitante de museu) construtor ativo de sua prpria experincia

    museal. Dessa maneira, a exposio o local de encontro e negociao do

    signi cado museal (a retrica) e do meio (a exposio mesma) para a interao,

    como dilogo e exerccio de tolerncia, onde h reciprocidade entre museu e

    pblico.

    A pesquisa museolgica, na forma como apresentamos, pesquisa de recepo de

    pblico de exposio e de outras aes de comunicao, onde o processo museal

    todo revisto, revisitado a partir do ngulo de viso do pblico.

    A museogra a (da qual a expogra a faz parte), aqui entendida como conjunto de

    aes prticas que existem e acontecem em sinergia sistmica a prxis museal

    campo de conhecimento autnomo ligado ao museu a instituio , ao mesmo

    tempo que auxiliar da museologia a disciplina. Ento, a museogra a o suporte

    que a pesquisa de recepo em exposies necessita para se realizar como pesquisa

    em museologia, porque corrobora na construo do experimento investigativo e

    anlise e interpretao dos dados coletados. Ento, ao invs de fazer a etnogra a de

  • Mar

    lia

    Xav

    ier

    Cur

    yN

    OVA

    S P

    ERSP

    ECTI

    VAS

    PA

    RA

    A C

    OM

    UN

    ICA

    O M

    USE

    OL

    GIC

    A E

    OS

    DES

    AFI

    OS

    DA

    PES

    QU

    ISA

    DE

    REC

    EP

    O

    EM

    MU

    SEU

    SA

    ctas

    do

    I Se

    min

    rio

    de

    Inve

    stig

    ao

    em

    Mus

    eolo

    gia

    dos

    Pa

    ses

    de L

    ngu

    a P

    ortu

    gues

    a e

    Espa

    nho

    la, V

    olum

    e 1,

    pp.

    26

    9-2

    79

    277

    uma exposio devemos fazer a museogra a da mesma.

    Museogra a est para a museologia, assim como a etnogra a est para a

    antropologia. Isso um dos pontos que queremos pr em discusso.

    Pesquisa em Museologia

    A pesquisa em museologia pode se dar a partir de distintas perspectivas, tanto as de

    carter processual, metodolgica e historiogr ca quanto as tericas, sendo que as

    possibilidades de abordagens no so excludentes.

    A pesquisa terica em museologia, por seu lado, pode se dar a partir de distintas

    vises epistemolgicas e paradigmticas.

    A pesquisa de recepo , no entanto, uma possibilidade de problematizao do fato

    museolgico (relao do homem e o objeto mediada pelo museu, qualquer que seja

    o seu formato), aprendendo a identi c-lo e a delimit-lo na realidade emprica,

    apreendendo-o. Em sntese, a aproximao das reas de comunicao e recepo

    para possibilitar o posicionamento do cotidiano do pblico e suas interpretaes

    e signi caes junto ao universo patrimonial das coisas musealizadas. Tambm,

    entender como as mensagens museolgicas so apropriadas, reelaboradas

    e inseridas no cotidiano do pblico visitante, ou seja, como as mensagens

    museolgicas so veiculadas na vida das pessoas e qual o impacto sociolgico dessa

    veiculao. Dos meios s mediaes proposio de Jesus Martn-Barbero (1997)

    consiste no deslocamento dos estudos de recepo dos meios (no caso do museu,

    a exposio) para as mediaes culturais, desde onde as mensagens museolgicas

    fazem sentidos e onde elas passam a ter importncia ou caem no esquecimento.

    Com isto e a partir desta perspectiva, deslocam-se as nossas atenes do museu

    como meio para as mediaes que ocorrem no cotidiano do pblico visitante. Isto

    no signi ca mudana de objeto de estudo o fato museolgico como apresentado

    , mas sim entender essa mudana como um novo lugar metodolgicvo. Dessa

    maneira, desloca-se o foco de anlise do museu para o cotidiano das pessoas e

    distingue-se com clareza a museologia da museogra a, sem necessariamente

    separ-las.

    Nesse sentido, duas iniciativas se fazem necessrias:

    1- criar um quadro terico-metodolgico que sustente as pesquisas de recepo

    em face de hipteses museolgicas, que so distintas de outras hipteses de outras

    reas, mesmo que o objeto de anlise seja o museu e/ou seu pblico.

    2- construo de uma teoria compreensiva da relao do pblico com o patrimnio

    cultural musealizado, partindo da construo de um conjunto de dados descritivos

    sobre a relao do pblico com o patrimnio musealizado o que inexiste, visto que

  • Mar

    lia

    Xav

    ier

    Cur

    yN

    OVA

    S P

    ERSP

    ECTI

    VAS

    PA

    RA

    A C

    OM

    UN

    ICA

    O M

    USE

    OL

    GIC

    A E

    OS

    DES

    AFI

    OS

    DA

    PES

    QU

    ISA

    DE

    REC

    EP

    O

    EM

    MU

    SEU

    SA

    ctas

    do

    I Se

    min

    rio

    de

    Inve

    stig

    ao

    em

    Mus

    eolo

    gia

    dos

    Pa

    ses

    de L

    ngu

    a P

    ortu

    gues

    a e

    Espa

    nho

    la, V

    olum

    e 1,

    pp.

    26

    9-2

    79

    278

    o que h incipiente em direo um quadro terico que explique a descrio.

    Para nalizar, importante discernirmos entre pesquisar o e pesquisa no. Pesquisar

    um contexto diferente de pesquisar no contexto. O contexto o museu. Pesquisar

    o museu tarefa do plano de gesto, a avaliao a servio da gesto e da produo

    de conhecimento oriundo da re exo sobre a prxis, visando construo de

    uma inteligncia prtica. Pesquisar no museu outra forma de produo de

    conhecimento que transcende o cotidiano institucional. Consiste em, a partir da

    de nio de um objeto de estudo, construir conhecimento terico museolgico.

    Nestas perspectivas esto presentes as correlaes entre museogra a e museologia.

    Os contextos para a pesquisa museolgicas so inmeros, superando o espao do

    museu tradicional. A museologia est se libertando dos museus tradicionais e,

    com isto, ampliando a concepo de cenrio e da idia do que seja museu. Com isto,

    outras transformaes so possveis, a prpria museologia se transformando e se

    construindo de uma forma dinmica e acadmica.

  • Mar

    lia

    Xav

    ier

    Cur

    yN

    OVA

    S P

    ERSP

    ECTI

    VAS

    PA

    RA

    A C

    OM

    UN

    ICA

    O M

    USE

    OL

    GIC

    A E

    OS

    DES

    AFI

    OS

    DA

    PES

    QU

    ISA

    DE

    REC

    EP

    O

    EM

    MU

    SEU

    SA

    ctas

    do

    I Se

    min

    rio

    de

    Inve

    stig

    ao

    em

    Mus

    eolo

    gia

    dos

    Pa

    ses

    de L

    ngu

    a P

    ortu

    gues

    a e

    Espa

    nho

    la, V

    olum

    e 1,

    pp.

    26

    9-2

    79

    279

    Bibliografi a

    Bruno, Maria Cristina Oliveira (2007), Museological action`s main fi elds. Sociomuseology. Liboa: Edies Universotrias Lusfonas, p. 145-151.

    Chagas, Mario d Souza (1996), Muselia. Rio de Janeiro: JC Editora. 124 p.

    Cury, Marlia X (2005a), Comunicao museolgica. Uma perspectiva terica e metodolgica de recepo, Tese de Doutorado, ECA/USP.

    Cury, Marlia Xavier (2005 b), Museologia. Marcos referenciais. Cadernos do CEOM. Chapec: Argos, n. 21, p. 45-73.

    Guarnieri, Waldisa Rssio Camargo Guarnieri (1990), Conceito de cultura e sua inter-relao com o patrimnio cultural e a preservao. Cadernos Museolgicos. Rio de Janeiro: IBPC, n. 3, p. 7-12, 1990.

    Martn-Barbero, Jess (1997), Dos meios s mediaes: comunicao, cultura e hegemonia. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 360 p.

    Mensch, Peter van (1994), O objeto de estudo da Museologia. Traduo de Dbora Bolsanello e Vnia Dolores Estevam de Oliveira. Rio de Janeiro: UNIRIO, 22 p. (Prtextos Museolgicos, 1).

    UNIVERSIDADE DE SO PAULO. Relatrio elaborado pela Comisso designada pela Portaria GR.2073 de 15/07/1986. Arruda, Jos Jobson de Andrade (Org.).