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SALÃO NOBRE MARÇO 2018 Serões Musicais no Palácio da Pena MUSICAL EVENINGS AT THE PALACE OF PENA 4.ª TEMPORADA DE MÚSICA DA PARQUES DE SINTRA | 4TH PARQUES DE SINTRA MUSIC SEASON 23/24 | 21:00 De Espanha, nem bom vento…: o mundo musical ibérico entre o romantismo e a Belle Époque Queremos saber a sua opinião https://tinyurl.com/SMUS2018

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SALÃO NOBRE

MARÇO 2018

SerõesMusicaisno Palácio da PenaMUSICAL EVENINGS AT THE PALACE OF PENA

4.ª TEMPORADA DE MÚSICA DA PARQUES DE SINTRA | 4TH PARQUES DE SINTRA MUSIC SEASON

23/24 | 21:00

De Espanha, nem bom vento…: o mundo musical ibérico entre o romantismo e a Belle Époque

Queremos saber a sua opiniãohttps://tinyurl.com/SMUS2018

PROGRAMA

MANUEL GARCÍA (1805-1906)

• “El riqui riqui”• “Yo que no se callar”

MANUEL GARCÍA (1805-1906) / ARR. PAULINE VIARDOT (1821-1910)

De Chansons espagnoles:• “Silencio”• “Lo Corredor”

GIOACCHINO ROSSINI (1792-1868)

• “Les amants de Séville”

ANTONIO REPARAZ (1831-1886)

• “La Pasionaria”• “Pobre flor!”

JUAN GOULA (1843-1917)

• “Addio mio ben!”• “La tua finestra”

SEBASTIÁN IRADIER (1809-1865)

• “El Arreglito”

INTERVALO

Sónia Alcobaça sopranoMário João Alves tenorJoão Paulo Santos piano

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ADVERTÊNCIASPor favor, mantenha o seu telemóvel desligado durante o espetáculo.A captação não autorizada de imagens não é permitida no decorrer do espetáculo.

JOSÉ FRANCISCO ARROYO (1818-1886)

• Dueto de Bianca e Febus, de Bianca di Mauleon (1º ato)

JOÃO ARROYO (1861-1930)

• Dueto final, de Amor de Perdição

JOSÉ A. RIBAS (1882-1934)• “O Fado rigoroso da Figueira da Foz”

ALEXANDRE REY-COLAÇO (1854-1928)

• Jota• Fado nº 5

FRANCISCO BARBIERI (1823-1894)

• Duo de Federico e Princesa, de El Sargento Federico• Tango de Benjamin, de Entre mi mujer y el negro• Romanza de Pilar, de Sueños de oro• Duo Polka Mazurka, de El Niño

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Em Portugal, um ditado popular com raízes seiscentistas afirma que “De Espanha, nem bom vento nem bom casamento”. Apesar das distâncias que, ao longo de séculos, se forjaram entre os dois Estados que formam a Península, do ponto de vista das relações musicais, verificou-se, com altos e baixos, um intercâmbio frutuoso. No entanto, na ânsia de legitimar a nossa vida musical através de ligações aos grandes centros europeus (em especial à França e à Alemanha) a nossa relação com a Espanha é frequentemente esquecida.Contudo, num artigo publicado na edição de 1 de janeiro de 1858 do jornal A Revolução de Setembro, acerca do café-concerto da então Rua da Abegoaria (atual Largo Bordalo Pinheiro), em Lisboa, constava a seguinte recomendação:

“Algumas pessoas lembram que talvez não fosse desacertado nacionalizar um pouco mais aquele espetáculo, ou aproximá-lo ainda aos nossos gostos e usos, introduzindo na companhia uma ou duas artistas espanholas para cantarem as agradáveis sigadilhas [sic] tão populares na península, e sempre tão bem recebidas pelo seu chiste e picante. Quem resiste a um salero travessamente entoado por uma boca andaluza, acompanhado daqueles requebros que dão encanto e relevo a estes cantos dos povos meridionais.”

Eis uma versão daquilo que, quer criadores, quer públicos, quer críticos e teóricos da música, idealizaram como “sonoridade da Espanha” e que ainda hoje orienta a nossa escuta para esse imaginário. Quem fica alheio ao erotismo dos ritmos de uma havanesa ou de um tango? À intensidade das suas melodias ricas em cromatismos e ornamentos? Terão sido estes os ingredientes com que se consolidou a música espanhola como tradução de força e sensualidade. Essa “cor local” está presente em várias obras do compositor sevilhano Manuel García (1775-1832), como a canção ‘El karrakiki y karrakaka’ – parte do repertório do célebre meio-soprano Maria Malibran (1808-1836), sua filha – e ‘Yo que no se calar’, um dos seus Caprichos Líricos Espanhóis. Contrastantes que são as atmosferas de ‘Silencio’ e de ‘El corredor’ – transcrições para canto e piano de números de operetas de Manuel García por Pauline Viardot (1821-1910), sua segunda filha –, repare-se no realce conferido a certas palavras pelo prolongamento ornamental de algumas sílabas. Empregam, afinal, uma técnica comum ao bel canto italiano, do qual García, Maria e Pauline foram destacados intérpretes.

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‘Les amants de Séville’ é uma síntese desses intercâmbios. Rossini (1792-1868) – cujo ‘Conde de Almaviva’ foi interpretado por Manuel García na estreia absoluta de O Barbeiro de Sevilha (1816) – socorre-se de estratégias semelhantes para musicar um poema em língua francesa com temática amorosa no cenário da cidade andaluza. Porém, quer ‘La Pasionaria’ e ‘Pobre flor!’ de Antonio Reparaz (1831-1886), quer ‘Addio mio ben!’ e ‘La tua finestra’ de Juan Goula (1843-1817), acentuam o caráter dialético da relação entre estes modelos. A linguagem melodramática destas peças é reveladora da importância que a ópera italiana teve na consagração das carreiras de autores espanhóis. Inversamente, o caso de ‘El Arreglito’ é interessante como exportação, já que o protagonismo que granjeou ao seu autor – Sebastián Iridier (1809-1865) – se deveu ao plágio de que foi alvo na ‘Habanera’ da Carmen de Bizet (1838-1875), onde se expõe o potencial sexual e fatalista da protagonista de uma ópera francesa indelevelmente marcada no imaginário sobre Espanha.O recorte de jornal com que este texto se inicia revela o interesse nacional pelos artistas espanhóis. Cinco compositores originários do país vizinho vieram a ter papéis importantes na história da música em Portugal. Com raízes bascas e estabelecida no Porto na primeira metade do século XIX, a família Arroyo é um caso interessante. No fulgor patriótico deste período, as óperas Bianca de Meulon de José Francisco (1818-1886), pai, e Amor de Perdição de João Marcelino (1861-1930), filho – respetivamente estreadas nos Teatros de São João (1846) e São Carlos (1907) – foram apropriadas pela crítica como exemplos da aproximação da música em Portugal aos padrões de qualidade do centro da Europa. O texto e a música de Bianca inspiram-se em larga medida na produção de Donizetti (1787-1848), enquanto Amor de Perdição se aproxima da linguagem de Wagner (1813-1883), com libreto adaptado a partir do romance homónimo de Camilo Castelo Branco (1825-1890).Note-se que a intervenção dos Arroyo no contexto musical português se deu também através do associativismo e mutualismo musical. José Francisco foi um dos fundadores do Montepio Filarmónico Portuense e sucedeu a João António Ribas (1799-1870) à frente da União Musical. Ribas – um galego que se fixa no Porto na década de 1830 – é o responsável por uma das primeiras recolhas de reportório popular português. O ‘Fado rigoroso da Figueira da Foz’ faz parte dessa

coletânea, publicada em 1857. Paralelamente, ‘Jota’ e ‘Fado n.º 5’ – de outro compositor espanhol radicado em Portugal: Alexandre Rey-Colaço (1854-1928) – conciliam o referencial da música popular e as técnicas de composição associados à música dita erudita, incluindo o instrumentário (neste caso, o piano). À semelhança das danças populares (portuguesas e espanholas), o fado dominou o imaginário das camadas burguesas de então, particularmente nos anos oitenta. Estes são casos de inspiração e procura do “folklore”, desígnio abraçado por tantos em Portugal, com especial intensidade a partir da efeméride camoniana de 1880 e da crise do Ultimatum (1890). O perfil nostálgico do ‘Fado n.º 5’ é particularmente exemplificativo da associação entre o fado e a “saudade“ de um passado idealizado e, por conseguinte, deste género à expressão de uma “identidade lusitana”.Na viragem para o século XX, a zarzuela havia já perdido muita da popularidade obtida ao longo de grande parte do século anterior. Francisco Ansejo Barbieri (1823-1894) foi um dos seus cultores mais acarinhados nos palcos portugueses, como nos da sua Espanha natal. Em 1908, o empresário teatral Sousa Bastos definia a zarzuela desta forma:

“É um género exclusivamente espanhol. De um caráter alegre e vivo, aproxima-se da opereta francesa, mas toma ainda uma feição nacional pela introdução de trechos de canções populares, marchas patrióticas, danças alegres, seguidilhas, pasacalles, boleros, malagueñas, etc.”

É difícil defender que a composição de trechos como ‘À través de mis cristales’ tenham escapado à influência, uma vez mais, da estética da ópera italiana. Ao mesmo tempo, constata-se a influência do tango no excerto de Entre mi mujer y el negro e, por outro lado, das danças de salão europeias em ‘Ya esto yen la grata mansión’. Já El Sargento Federico é afinal uma adaptação do vaudeville Le Sergent Frederic (1855). Em suma, a zarzuela – como as múltiplas variantes nacionais da opereta, da francesa à vienense, passando pela portuguesa – é expressão do ecletismo de públicos e criadores. Mais ou menos evidente, mais ou menos acrimoniosamente, o intercâmbio musical entre as nações ibéricas, e entre estas e o resto do mundo, foi sempre uma realidade.

Filipe GasparCESEM – NOVA FCSH

TEXTOS DAS PEÇAS CANTADAS

EL RIQUI RIQUIMúsica e Texto: Manuel García (1805-1906)

As raparigas de HavanaSão negras como chouriços,E querem-se pôr brancasCom cascas de arroz.

Dá-me Lolita,Toma LolitaTu fazes-me riqui riquiEu faço-te riqui raca.

Nem me pagas a casaNem me dás de comer.E tens ciúmesPor que razão?

Debaixo da nossa camaEstão uns sapatos brancos.Não são meus nem são teusDe quem serão?

Tradução: João Paulo Santos

YO QUE NO SE CALLARMúsica e Texto: Manuel García (1805-1906)

Eu que não sei estar caladoE tenho o hábitoDe dizer o que pensoE morrer se não faloA todos quero contarCerto segredo que ouvi.Mas não o hei de fazerÉ mais fácil proclamar

Que eu digo mentiras.Os taberneiros gostam tanto de águaComo as raparigas de esfregar.Deixem aos curas de MadridA tarefa de batizar.

Que se cheguem perto de pasteleirosEm vez de brincar com elesFazem deles picado.Há estômagos que ladrariamSe comessem o que eu comi.

Tradução: João Paulo Santos

SILENCIODe Chansons espagnolesMúsica e Texto: Manuel García (1805-1906)Arranjo: Pauline Viardot (1821-1910)

Parem, pássaros,Não voem irrequietosPorque a minha amadaDorme um plácido sono.

Parem, e de rosasTecei um dosselPara se abrigar do solA flor do zurguén!

Tradução: João Paulo Santos

EL CORREDORDe Chansons espagnolesMúsica e Texto: Manuel García (1805-1906)Arranjo: Pauline Viardot (1821-1910)

Este sim é um corredor,Este sim e os outros não.Há de espantar as estrelasCom ousadas maravilhas.Que por fim é um homem de canasPor parecer feito delas.Todos seguem as suas pegadasQuer o boi, quer o açor.

Tradução: João Paulo Santos

LES AMANTS DE SÉVILLEGioacchino Rossini (1792-1868)Texto: Émilien Pacini

AMBOSLonge da sua SevilhaLonge das gentes e da cidade,Numa estadia tranquilaDe sonhos e tranquilidadeReina a felicidade.

Escuta, ouve-se a vozDo rouxinol nos bosques…A que os ventos enamorados Respondem com doces suspiros

Os vales ecoam suavementeO som das nossas cançõesO amor aqui estáFujamos!

ELAAh! Ouço os seus juramentosMas hesito em fugir de rompantePois é nos mais doces momentosQue nos engana o amante.

Os fidalgos são lestosAs suas palavras ligeiras;De si depende a minha sorteA minha vida, ou a morte!

Que dias assim belosPara sempre resplandeçamPara o nosso amor

ELENo meu coração ébrioUm sonho divino Torna-se realidade Sim, enquanto viverOfereço-lhe o meu amor.E todos os prazeres e sucessos!Tenho apenas um voto, um desejo!Ah, conceda-me a doce prisãoDe ser para mim o universo.

A minha alma é sua;Doces serão os diasQue para nós nascerão.

AMBOSA felicidade espera-nos,Partamos, eis o instante!O meu amor está de péDemos juntos um salto de fé.

Tradução: Ana Yokochi e Marina Roger (KennisTranslations)

LA PASIONARIAAntonio Reparaz (1831-1886)Texto: Leopoldo Cano y Masas

Há um lodo onde nasceA flor do mal.É feito com o muitoQue choraramOs que se arruinaram.Redimindo-se a si mesma,Toma vida a impureza,E sobe pelo malComo planta trepadora…

Almeja o céu no seu delírio,Mas, escrava do lodo, cresceE infelizmente floresceIndicando o seu martírio.É impossível a redençãoE se enfeita na tristezaCom a fúnebre belezaDa rosa da paixão.

Desse modo germinei,Flori na formosuraQue para indicar o meu tormentoAbriu o cálice sobre o lodo.Os que escutam este meu lamentoInsulta-me se me redimem.Sou o fogo que faz o crime,Chamo-me: a Passionaria.

Tradução: João Paulo Santos

POBRE FLOR!Antonio Reparaz (1831-1886)Texto: José Zorrilla

Só uma flor amarela,Que ao vento murchará,Brotará no pradoQue circunda a minha campa.

Pobre flor! Porque nascesteSobre um túmulo deserto?Não temes a dura noite,Tão solitária e tão triste?

Pobre flor!... Porque tão cedoDeste ao mundo o teu sorriso?Hoje agita-te a fresca brisaMas amanhã morrerás.

Ai! Pobre flor amarela!...Porque nascer tão cedoSe o vento te há de murcharAo pé da mina campa.

Tradução: João Paulo Santos

ADDIO MIO BEM!Texto e Música: Juan Goula (1843-1917)

Adeus meu amor!Quando estiver longeNão te esqueças Do meu fiel amor!

Não te esqueçasQue o meu triste destinoLonge de tiAinda será mais triste.

Nas tuas mãosDeposito a mina vida,Que, sem ti,Será o meu martírio.

E mais valiaVê-la terminadaPois viver sem tiÉ morrer.

Tenho de me ir.Chama-meA voz da honraÀquelas margens longínquas.

Reza por mimJunto àquela cruzOnde um dia beijeiA tua mão.

Amar-te-ei sempreSe esqueceresAquele que tanto te amaEle morrerá.

Tradução: João Paulo Santos

LA TUA FINESTRAJuan Goula (1843-1917)Texto: A. de Sanctis

Quando a tua amável voz,Doce, divina, ouvi à tua janelaUm êxtase os meus sentidos,Os meus sentidos tomou.

Ah, a célere alegriaHavia de me fugir,Aquela que me jurava amorHavia de me trair.

Agora na escura ruelaQuando sozinho me passeio,Sinto uma misterioso sensação,Vontade sinto de morrer.

Ainda te amo, acredita,É imenso o meu sofrer.Céus! Concedam-me o esquecimentoO façam-me morrer.

Tradução: João Paulo Santos

EL ARREGLITOMúsica e Texto: Sebastián Iradier (1809-1865)

Chinita minha, vem cá,Que tu bem sabesQue por ti morro.

Não, não, não vou aí,Porque em tiNão confio.Se tu me amasDi-lo a sério,E de seguidaSerei o teu par.Apaixonados,Sem excessos,Uma pequena dançaVamos bailar.

Minha menina,Meu doce amorAmo-teCom tanta paixãoQue a minha almaCom essa esperançaPor ti se inflama.Minha pomba,Por ti palpitaO meu coração.

Se tu me deresPreciosa rapariga,Face de rosa,O teu coração,Mil e mil vezesTe adorarei,Te pedireiEm casamento.

Se jurasSer-me fielE que só a mim Adorarás,Conta comigoTerno Pepito.Juro-teQue o teu pactoPor mimSe fará.

Assim sendoMinha querida,Bem da minha vidaDá-me o teu amor.Juro-teQue te serei fielE te amarei Com grande paixão.

Que feliz momento,Nunca o esquecerei.Ama-me, minha pomba,Juro-te amor e fidelidade.

Tradução: João Paulo Santos

DUETO DE BIANCA E FEBUSDe Bianca di Mauleon (1º ato)José Francisco Arroyo (1818-1886)Libreto: Antonio Paterni

CAVALEIRODebaixo deste traje desconhecidoUm ardente coração palpita,Que a um anjo de virtudeConsagra o seu amor.Se o anjo que eu adoroCorresponde à minha paixão,Nada mais peço a Deus,Passarei bem-aventurados dias.

BIANCAOh! Entre o mais suave encantoSinto que apenas respiro;Quem tanto ardor reprime,Como pode ocultar amor?Ó meu pai, inspira-meÉ extremo o meu sofrimento,É excessivo o meu contentamento,O coração já não é meu.

CAVALEIROEsperar posso, ó Bianca, o que eu desejo…responde…

BIANCASenhor…

CAVALEIROUma só palavra bastaPara me dar de novo a vida.

BIANCAAh! Sim eu te amo,Imensamente eu te amo, e este coraçãoArdia por te encontrar e falar em amor.

CAVALEIROBranca…oh prazer… repete essas doces palavras.

BIANCAAmo-te é verdade; mas o teu nome qual é, a tua família?

CAVALEIROQue te importa sabê-lo?Mas sossega e sobre o meu coração repousa:Dizer-te quem sou agora é impossível coisa.Parto e mui breve de voltaEu espero tornar a ti, minha vida.Piedoso o céu benéficoImplora tu por mim.Do meu amor te lembraPorque por ti somente vivo,Pois que tu só fazes as minhas delícias,Tu és o conforto da minha virtude

BIANCAO coração que tu me despedaçasFiel te conservo e puro;Tu igualmente recorda-teDe que vivo somente para ti.Ao céu implorando que fortaleçaEste débil coração que tanto sofre,Eu rogarei que voltarTu possas sendo-me sempre fiel.

Tradução: João Paulo Santos

DUETO FINALDe Amor de PerdiçãoJoão Marcelino Arroyo (1861-1930)Texto: Francisco Bernardo Braga Júnior

SIMÃODiz-me Teresa, o que sofreste,Fala, fala, meu amor!

TERESAEra jovem, não conheciaAs amarguras desta vida.O nosso imenso amorApós uma hora de doces ilusõesMe ensinava o que é a dor.Uma infelicidade nascida de um raioDo mais puro amor.

SIMÃOÓ maldição!

TERESA Para quê lutarSe nada nos pode já salvar?

SIMÃOCéu cruel, porque nascemos nós?Para um dia sentir o nosso coraçãoFerido, dilacerar-se?Onde estás justiça? Enlouqueço!

TERESASimão!

SIMÃODevo, como um malditoSem esperançaSentir o infinitoDeste nosso afeto?E não te poder dizerUma única palavra de consolo?

TERESAEstou cansada!

SIMÃOViver assim É um martírio.

TERESAA vida é o amor…

SIMÃOFatalA morte chegará!No túmulo nos casaremos!

TERESAAbraça-me, Simão!Meu desesperado amor,Senhor deste coração.

SIMÃOOh! dá-me num último abraçoA força heroica de te abandonar, meu Deus!Volta a dizer-me adeus num olhar!

TERESAAmo-te!...Mais do que a vida te amo!

SIMÃOSó a morte desejo!Minha Teresa!

TERESAÓ terror!

SIMÃOCruel agonia!

TERESADesfaleço!

SIMÃOPerco a coragem!

TERESAMorte tão desejada!

SIMÃOAdeus, felicidade e amor!

TERESAAdeus vida funesta!

SIMÃO, TERESAQue o céu castigue com durezaOs cruéis autores deste horrível tormento!Que sejam punidos pelo céuOs que nos tiram a vida!Até à morteEste coração amante diráQue te pertence.Na hora desejadaFiel repetirá: eu amo-te!Neste mundo como no céu!Adeus!

Tradução: João Paulo Santos

DUO DE FEDERICO E PRINCESADe El Sargento FedericoFrancisco Barbieri (1823-1894) e Joaquin Gaztambide (1822-1870)Texto: Luís de Olona

FEDERICOCoração adormecidoDesperta!Que à tua portaEstá o amor!

PRINCESANem acorda do seu sonho,Nem bate.Eu bem seiQue nada o despertará.

FEDERICOHá um remédio

PRINCESANão vejo qual.

FEDERICOQue sinta o meu fogo!

PRINCESASois muito original!Fogo onde há neve?

FEDERICOHá de arder.

PRINCESANa neve Nunca um fogo ardeu.Sei que nada o despertaráE que nesse fogo Não há de se abrasar.

FEDERICOCoração adormecidoAcordaE sente o fogo amoroso,Não resistas mais.Acordou?

PRINCESAEstá na mesma!

FEDERICOÉ bem severoSe o amor não o comove.

PRINCESAEstais errado,Isso não é razão.

FEDERICONão?

PRINCESAO meu coração feliz respondeA uma fita, a uma flor,Ao êxito num salão,Às lisonjas do toucador.Mas amar? Isso não,Não é viver amar alguém!

FEDERICOQue uma fita, uma florOrne de Isabel a fina cinturaE assim desperte um fugaz desejoA formosa flor do seu coração.Para amar e ser amadaDeus tão bela te criou,Não, o teu desdém não me maltratePor causa de uma fita, de uma flor.Não tendes piedade?

PRINCESADe quê, meu senhor?

FEDERICOEsse aí… não muda?

PRINCESACreio que não.O meu coração feliz respondeA uma fita, a uma flor,Ao êxito num salão,Às lisonjas do toucador.

FEDERICOO teu desdém não me maltratePor causa de uma fita, de uma flor.E assim desperte um fugaz desejoNa formosa flor do seu coração.

Tradução: João Paulo Santos

TANGO DE BENJAMINDe Entre mi mujer y el negroFrancisco Barbieri (1823-1894)Texto: Luis de Olona

Como a minha face é negraE não falo como um senhorA minha patroa não vê os meus olhos,A minha patroa não me percebe!E por ela ardo e gelo,Não como, não durmo, que se passa?Meu Deus! enervo-me, sofroPerco a razãoE andam demónios no meu coração!

Embora me caleOs meus olhos dizem tudo!Ai, Panchita, dá-me o teu amor!

Enquanto ardo como um fósforoAi, Jesus, que deceção,Ela quer um marido brancoIsto sim, me enfurece.

Ardo, e já me decidi.Os ciúmes me consomem e rebento.Eu rumino, eu vigio,Eu mato o marido, Jesus,Que melindroso me fez o amor.

Embora não o reveleNa alma o guardo!Ai Panchita, tem piedade!

Tradução: João Paulo Santos

ROMANZA DE PILARDe Sueños de oroFrancisco Barbieri (1823-1894)Texto: Luis Mariano de Larra

Por detrás dos vidrosPor entre as minhas floresVejo todos passar,Todos…menos ele!

Desde madrugada os meus olhosProcuram esse prazerE vou fechá-losSem o voltar a ver.

Fixos no meu trabalhoOs meus olhos não têm tempo para amar:Ai! Chorai, meus olhos, choraiQue a solidão é má conselheira.

O canto dos meus pássaros,A cor das minhas flores,Tudo quando passa me fala dele,Só ele não me fala.

Eu passo o dia sozinha,E outro diga e logo um mês.E os sonhos da minha almaNão veja realizarem-se.

Fixos no meu trabalhoOs meus olhos não têm tempo para amar:Ai! Chorai, meus olhos, choraiQue a solidão é má conselheira.

Tradução: João Paulo Santos

DUO POLKA MAZURKADe El NiñoFrancisco Barbieri (1823-1894)Texto: Mariano Pina

FELIXJá estou na grata, celeste moradaQue ilumina o fúlgido sol.Mulher que assim me olhaDecerto que por mim sente imensa paixão.

No reflexo do espelhoMiro a minha linda tezNão é de admirar que nas belasCause estragos.

Fora medos e hesitações.Para os acabar basta como me visto,E estas luvas tão esplendorosasQue posso passar por um Marquês.

PACABeijo as mãosAo que foi meu par em Capellanes.

FELIXAos vossos pés,Linda modistaQue no baile causouToda esta minha alegria.

PACAO prazer é meu.

FELIXBoca de rosas.

PACAPalavras de mel.

FELIXQue lindos olhos!

PACAAi, que demónio!

FELIXQuem do teu olharResiste à divinaAtração magnéticaQue Deus te deu!

Quem da tua cinturaNão é vítimaSe uma polca íntimaContigo dançou!

PACAEsta alegre dançaAcende a minha paixãoE bailo frenéticaUma polca ou um cotillon.

Quando da orquestraOiço o apaixonado somUma deliciosa vertigemTurba o meu pensamento.

FELIXJá começo a respirarEste sopro embriagador,Já me sinto eletrizadoPelo fulgor dos teus olhos.

PACAJá começo a desfrutarDe um enlevo benfazejoDa música inigualávelDo canto sedutor.

Tradução: João Paulo Santos

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SÓNIA ALCOBAÇA Soprano

Natural de Lisboa, concluiu a licenciatura em 2002 na Escola Superior de Música de Lisboa e realiza atualmente o Mestrado na Escola Superior de Artes Aplicadas de Castelo Branco com a professora Elisabete Matos.Das produções realizadas destacam-se os seguintes papéis: Ubaldo, Artemidoro, Aronte (“Armida”, de Mysliveček - CCB, 2015); Annina (“L’Arco di Santanna”, de Francisco Sá de Noronha - Teatro Aberto, 2014); Turandot (“Turandot”, de Busoni - Festival ao Largo, 2012); Gutrune (“Die Götterdämmerung”, de Wagner - Graham Vick, TNSC); Santuzza (“Cavalleria Rusticana”, de Mascagni - TNSC em concerto com a OSP); Flaminia (“Il Mondo della Luna”, de Haydn - Planetário); Irene (“Irene”, de Alfredo Keil - TNSC); La voix humaine (“Poulenc”, de Cocteau - CAM); Contessa d’Almaviva (“As bodas de Fígaro”, de Mozart - Coliseu do Porto); Nedda (“I Pagliacci”, de Leoncavallo - CAE Figueira da Foz); Lucy (“The Beggar’s Opera”, de Britten - Teatro Aberto); Carmela (“La Vida Breve”, de Falla - TNSC); Sainte Marguerite (“Jeanne d’Arc au bûcher”, de Honegger - TNSC); Femme (“Le pauvre Matelot”, de Milhaud - CAM); Micaela (“Carmen”, de Bizet - Festival de Óbidos); Mulher (“Outro Fim”, de António Pinho Vargas - Culturgest) e Despina (“Così fan tutte”, deMozart - Castelo de Silves).Apresenta-se regularmente em recital e concerto nas mais variadas salas de espetáculos do país, incluindo estreias de obras de compositores portugueses.

MÁRIO JOÃO ALVES Tenor

Diplomou-se no Conservatório Superior de Musica de Gaia com a professora Fernanda Correia e prosseguiu os seus estudos em Turim e Génova com Elio Battaglia e Gabriella Ravvazzi.Presença assídua no Teatro Nacional de São Carlos, colabora regularmente com a generalidade das instituições musicais portuguesas e tem-se apresentado ainda nas temporadas de ópera dos teatros La Fenice (Veneza), La Monnaie (Bruxelas), BAM (Nova York), Regio (Turim), Maestranza (Sevilla), Tenerife Opera Festival, Petruzelli di Bari, Donizetti di Bergamo, Verdi di Sassari, Cairo Opera House, Muscat Royal Opera House e Seoul Arts Center.Interpretou os papéis de Rodolfo (“La Bohème”), Albert (“Albert Herring”), Conde de Almaviva (“O Barbeiro de Sevilha”), Nemorino (“Elixir do Amor”), Alfredo (“La Traviata”), Ernesto (“Dom Pasquale”), Beppe (“Rita”), Pinkerton (“Madama Butterfly”), Candide (“Candide”), Don Ottavio (“D. Giovanni”), Herr M. (“Neues von Tage”), Marquis de la Force (“Les Dialogues des Carmelites”), Rinuccio (“Gianni Schicchi”), Captain MacHeath (“The Beggar’s Opera”) entre mais de uma centena de produções.

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No repertório de concerto e recital interpretou “A Canção da Terra” (Mahler), “As Estações” e “A Criação” (Haydn), “Passion and Ressurrection” (J. Harvey), “Magnificat” (Bach), “Messias” (Händel), “Requiem” (Mozart), “9ª Sinfonia” (Beethoven) “Serenata para Tenor, Trompa e Orquestra de Cordas” (Britten) bem como os ciclos “Die Schöne Müllerin” e “Schwanengesang” (Schubert) ou “Dichterliebe” (Schumann).Gravou para as editoras Naxos, BMG, RCA Victor, Portugaller e PortugalSom, bem como executou diversas récitas e concertos para a RDP, RTP, Mezzo e RAI.Dirige o Estúdio de Ópera do Conservatório de Música de Coimbra e o Atelier de Ópera da Escola Superior de Artes Aplicadas do Instituto Politécnico de Castelo Branco.

JOÃO PAULO SANTOS Piano

Nascido em Lisboa em 1959, concluiu o curso superior de Piano no Conservatório Nacional desta cidade na classe de Adriano Jordão. Trabalhou ainda com Helena Costa, Joana Silva, Constança Capdeville, Lola Aragón e Elizabeth Grümmer. Como bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian, aperfeiçoou-se em Paris com Aldo Ciccolini (1979-84). A sua carreira atravessa os últimos 40 anos da história do Teatro Nacional de São Carlos, onde principiou como correpetidor (1976). Seguiu-se o cargo de Maestro Titular do Coro (1990-2004); desempenha atualmente as funções de Diretor de Estudos Musicais e Diretor Musical de Cena. Estreou-se na direção musical em 1990 com “The Bear” (W. Walton), encenada por Luís Miguel Cintra para a RTP. Tem dirigido óperas para crianças (“Menotti”, “Britten”, ”Henze” e “Respighi”), musicais (“Sondheim”), concertos e óperas nas principais salas nacionais. Estreou em Portugal, entre outras, as óperas “Renard” (Stravinski), “Hanjo” (Hosokawa), “Pollicino” (Henze), “Albert Herring” (Britten), “Neues vom Tage” (Hindemith), “Le Vin Herbé” (Martin) e “The English Cat” (Henze) cuja direção musical ganhou o Prémio Acarte 2000. Destacam-se ainda as estreias absolutas que fez de obras de Chagas Rosa, Pinho Vargas, Eurico Carrapatoso e Clotilde Rosa. A recuperação e reposição do património musical nacional ocupam um lugar significativo na sua carreira, sendo responsável pelas áreas de investigação, edição e interpretação de obras dos séculos XIXe XX. São exemplos as óperas “Serrana”, “Dona Branca”, “Lauriane” e “O espadachim do outeiro”, que já foram encenadas no Teatro Nacional de São Carlos e no Centro Cultural Olga Cadaval. Fez inúmeras gravações para a RTP e gravou discos com um repertório diverso. Colabora como consultor ou na direção musical em espetáculos de prosa encenados por João Lourenço e Luís Miguel Cintra.

Produção | Production Media partner

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BrevementeJulho