360 - Laicado Dominicano Jan.fev.2013

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    Janeiro/Fevereiro 2013Ano XLIII - n 360

    Directora: Isabel de Castro e LemosISSN: 1645-443X - Depsito Legal: 86929/95Praa D. Afonso V, n 86, 4150-024 Porto - PORTUGAL

    Fax: 226165769 - E-mail: [email protected]

    LAI

    CADO

    DOMINI

    CANO

    Directora: Cristina Busto

    ISSN: 1645-443X - Depsito Legal: 86929/95

    P r a a D . A f o n s o V , n 8 6 , 4 1 5 0 - 0 2 4 P o r t o - P O R T U G A L

    DOIS MODOS DE AGIR, UMA MESMA FIDELIDADE

    H mais ou menos oito anos vamos como umPapa, o Papa Joo Paulo II, resistia at ao extremodas suas foras para levar at ao fim a misso quelhe fora confiada. Agora soubemos que outro Pa-pa, o Papa Bento XVI, apresentou a sua renncia.H oito anos, muito se discutia, dentro e fora daIgreja, se Joo Paulo II devia abdicar, j queestava manifestamente incapacitado para exercerconvenientemente o seu mandato, devido idadee falta de sade. Entre os fiis catlicos, porm,muitos defendiam que o Papa devia permanecer

    na Sede de Pedro at ao fim dos seus dias. Era,diziam, um testemunho para o mundo. Um mun-do em que as pessoas idosas contam pouco maisque nada, em que a imagem tudo, um mundoque valoriza as pessoas por aquilo que fazem eno pelo que so. O Papa Wojtyla surgia entocomo uma luz, tnue verdade, mas uma luz queiluminava caminhos de fidelidade e de compro-misso, bem para l do apetecer ou da imagem amanter. E esta foi a opo clara de Joo Paulo II.Discutvel? Sim. E a atitude assumida hoje por

    Bento XVI mostra, pelo menos, que h outroscaminhos. Mas a posio de Joo Paulo II foi,ento e de facto, um testemunho de fidelidade ede entrega como poucos.

    Surpreendentemente, Bento XVI apresentouaos cardeais em Consistrio a sua renncia: Bemconsciente da gravidade deste acto afirma o Pa-pa , com plena liberdade, declaro que renuncioao ministrio de bispo de Roma, sucessor de SoPedro. As razes so declaradas com uma lucidez,humildade e clareza notveis: no mundo de

    hoje, sujeito a rpidas mudanas e agitado porquestes de grande relevncia para a vida da f,para governar a barca de So Pedro e anunciar oEvangelho, necessrio tambm o vigor quer docorpo quer do esprito; vigor este, que, nos lti-mos meses, foi diminuindo de tal modo em mim

    que tenho de reconhecer a minha incapacidade

    para administrar bem o ministrio que me foi con-fiado.

    Esta deciso apanhou o mundo inteiro de sur-presa. Percebeu-se pelas reaces dos prprios car-deais que, at para os colaboradores mais directosdo Papa, esta declarao no era de todo esperada.De facto, assim reagiu o cardeal decano, ngeloSodano: Ouvimo-la [a sua comovida comunica-o] com um sentimento de perplexidade, quasecompletamente incrdulos. Por muito apoiada ebem acompanhada que uma pessoa esteja, as gran-

    des decises da vida so tomadas na solido. Ain-da mais quando a pessoa de quem falamos umPapa. Ainda mais quando a deciso que ele toma algo que muito raramente aconteceu na histriada Igreja e que altera necessariamente o modo depensar e de actuar a que nos habitumos. Paraquem tanto fora acusado de tradicionalista e retr-grado, h que lhe reconhecer a liberdade e a cora-gem de assumir uma opo que tudo menos tra-dicional. Um Papa no abdica. Pelo menos assimdiz a tradio. Com esta renncia, Bento XVI sabe

    que est a abrir novas portas no modo de exercer oPapado, est a fazer Tradio.

    O interessante, no meio de todo este aconteci-mento, que os cristos no se sentem defrauda-dos. Mesmo aqueles que defenderam que JooPaulo II devia permanecer na Cadeira de Pedroat morrer, sentem hoje uma paz grande depoisda perplexidade prpria da surpresa ao lerem odiscurso de renncia de Bento XVI. Porqu? quea motivao que levou o Papa Wojtyla a manter-seat morrer e que conduz o Papa Ratzinger a resig-

    nar uma e a mesma motivao. So to-s doismodos antagnicos de viverem e exprimirem oamor inquestionvel Igreja e ao mundo. Paraum, o testemunho de ficar at ao fim era, ento,essencial para mostrar como da cruz no se abdi-ca; para o outro, a necessidade que o mundo ac-tual tem de uma Igreja que possa responder srpidas mudanas e s questes de grande rele-

    vncia para a vida da f, requer um Papa cujovigor Bento XVI sente escapar-lhe.

    As opes so diferentes, mas a fidelidade

    misso de Pedro a mesma: anunciar a liberdadecom que Cristo nos libertou.

    Padre Miguel Almeida,S.J.director do CUPAVCentro Univ. Pe. Antnio Vieira

    (in jornal Pblico, 14/02/2013)

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    PALAVRA DO PROMOTORA ANUNCIAO

    Neste ano de 2013 e,continuando aqueleprojecto de prepara-

    o de preparao dojubileu da Ordem de2016, a Famlia Do-minicana chamadaa reflectir sobre o lu-gar de Nossa Senhorana sua vida, na suaespiritualidade, e noseu empenhamento

    apostlico.O texto que somos chamados a ter presente na

    nossa reflexo o da Anunciao, tal como S. Lucasnos deixa, e sobretudo as palavras da Santssima Vir-gem s palavras do Anjo: "faa-se em mim segundo atua palavra" Lc 1, 38.

    Ao longo deste ano procurarei manter uma refle-xo sobre este texto, e tentar lig-lo aos diversos as-pectos da nossa vida.

    Hoje gostaria de relembrar uma reflexo feita apartir desta passagem do Evangelho feita na perspec-tiva da importncia do estudo, um elemento funda-

    mental da nossa vida. O texto da autoria do entoMestre Geral, Fr. Timothy Radcliffe e tem por ttulo"Manancial da esperana". Este texto pretende fazer-nos perceber o estudo na perspectiva da esperana acriar nos nossos coraes e nos coraes daqueles aquem somos enviados.

    Este texto tem como pano de fundo a Anuncia-o. Para o autor o momento da Anunciao foi "ummomento na histria da nossa redeno que resumecom uma enorme fora o que significa receber o dom

    da boa nova". Para ns o estudo no pode ser encara-do como um vaidade intelectual, mas como uma for-ma de acolhimento da Boa Nova que somos chama-dos a transmitir.

    O Mestre Geral distinguia trs momentos impor-tantes na forma de aprendizagem e da sua conse-quente partilha: um primeiro momento define-secomo um momento de ateno; um segundo mo-mento definido como um momento de fertilidade,porque a Palavra apropriada por ns gera-se emns; um terceiro momento definido como um mo-mento de esperana, porque se partilha uma luz novabaseada nessa esperana.

    Num primeiro momento a Anunciao revela-nosuma atitude fundamental em qualquer forma deaprendizagem, para conhecer preciso estar atento.

    A conversa de Nossa Senhora com o Anjo revelauma ateno particular s palavras ouvidas:" comoser isso se eu no conheo homem?". Maria ouviu,mas no de forma descuidada e desatenta. Nunca se

    viu na pergunta de Nossa Senhora o mnimo sinal defalta de f, mas sim um acto reflexivo de quem escu-tou com ateno. Estudar interrogar, olhar as pa-lavras da humanidade e a Palavra de Deus com pro-fundidade, exercer a nossa capacidade de interroga-o sobre o que vimos, ouvimos ou lemos. Gostavade lanar a grande questo da ateno profunda quedevemos ter. Um dos grandes perigos que continua-mente se nos coloca o da superficialidade. A Pala-

    vra soa-nos, muitas vezes, ao ouvido como uma msi-ca j escutada em que a melodia e diversidade dosacordes nos passa despercebida. Como o Senhor diza propsito do falar por meio de parbolas, tambmns ouvimos sem escutar e, por isso, tardamos a nos-sa converso e a nossa transformao interior.

    Um segundo momento apelidado de momentode fertilidade. Celebramos, normalmente, a Anuncia-

    o em 25 de Maro, nove meses antes da celebraodo Natal. Este momento da Anunciao tomadocomo o momento em que Nossa Senhora comea agerar Jesus no seu seio virginal. Como recordava oautor do documento a que vimos fazendo referncia,este cena evanglica na arte do Beato Anglico mos-tra Nossa Senhora com a Palavra de Deus, num livroque ela est a ler. Como se o contedo do livro pas-sasse para o seu interior. Nela a Palavra lida e con-templada faz-se carne. No sei como se opera em ca-

    da um de ns a incarnao da Palavra, mas deveriaacontecer em ns uma verdadeira incarnao da Pala-vra, como no seio de Maria. A grande inteno doestudo na nossa espiritualidade ajudar a esta proxi-midade da Palavra, de modo a que ela se gere em nsse faa vida em ns de modo que o anncio da mes-ma seja algo natural. O estuda permite momentos deuma grande fertilidade, para usar o termo do texto,porque fertiliza a nossa inteligncia e o nosso coraoe lhes d uma vida nova que se gera e que cresce den-tro de ns.

    (Continua na pgina 3)

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    O terceiro momento o da comunicao da espe-rana. As pessoas do nosso tempo carecem de espe-rana, carecem de sentido para as suas vidas, care-cem de luz que vena as trevas que persistem em tol-dar o sentido da caminhada. S uma esperana bem

    enraizada na mente e no corao pode ajudar outrosa encontrar a ncora da esperana. O servio da pala-

    vra tem de ser um servio esperana, um servioque ajude a encontrar respostas s dvidas, cimentea orientao da caminhada, ou sirva de conforto nasindecises. Mas esta esperana tem de ser fundamen-tada, no pode ser superficial, no pode ser um enga-nadora. a qualidade da esperana que anunciamos

    que est em causa e o estudo o tentar que a espe-rana que nos habita e que testemunhamos seja, defacto slida. Anunciao segue-se a Visitao naqual a alegria partilhada tem contedo firme e algoprofundamente vivenciado.

    Esta relao da Anunciao com o estudo leva-nosa descobrir o mesmo estudo como um desafio feito atodos os que querem testemunhar a Palavra, leva-nosa perceber como o estudo no se limita a um meroexerccio intelectual mas liga-se com a nossa vida e onosso testemunho e Maria apelo que nos diz comohavemos de acolher, gerar e testemunhar a Palavra.

    Fr. Rui Carlos Lopes, O.P.

    FRATERNIDADE LEIGA DE ESTREMOZ

    ELEIO DO NOVO CONSELHO DA FRATERNIDADEAos vinte ecinco do msde Novembrode 2012 naCasa do Rossioda Parquia deSanto Andrna cidade de

    Estremoz, reu-niu-se a Assem-bleia da Frater-nidade para

    proceder eleio dos membros do Conselho.

    O ato eleitoral foi presidido pelo Formador Pro-vincial, Francisco Piarra O. P., tendo sido escrutina-dores o prprio e Filomena Piarra O.P

    Ficaram eleitas e aceitaram as seguintes conselhei-ras: Conceio Sepana (presidente); Risoleta Ven-das,(vice-presidente) Cremilde Rodrigues (secretria)e Nilde Gomes(tesoureira).

    No final da reunio dois jovens, a Ana e o Tiago,

    fizeram uma bonita encenao sobre o Evangelho doencontro de Jesus com a Samaritana.E terminmos com um chzinho para aquecer o

    estmago.Conceio Sepana, o.p.

    ORAO A PEDIR O BOM HUMOR

    D-me, Senhor, uma boa digesto e tambm algo para digerir.

    D-me sade do corpo e tambm bom senso para conserv-la bem.

    D-me uma alma difana, Senhor, que tenha sensibilidade para o Bem epara o puro e que no se espante diante do pecado mas sempre encontreum meio de pr tudo em ordem.

    D-me uma alma livre de toda a chatice, que ignore o murmrio, o desa-bafo e as lamrias.

    No permitas que me preocupe demais por aquele algo que se quer im-por cada vez mais e a que ns chamamos Eu.

    D-me sentido para o humor, Senhor. D-me a graa de entender umaanedota para que eu tenha um pouco de alegria na vida e possa tambmtransmiti-la aos outros.

    Amm.Thomas More

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    EXISTNCIA E ARTE

    Deus existe? Ouvimos muitas vezes esta per-

    gunta e, por vezes, a voz que a faz a nossa em plenatravessia da f. Do mstico dominicano MestreEckhart (1260-1328) emerge outra pergunta talvezmais pertinente: Ns existimos? Uma das formas

    que ele prope para pensarmos nesta questo atra-vs da arte. Na Ordem dos Pregadores, pintores co-mo Fra Angelico e Fra Bartolommeo lembram-noscomo a arte se entrelaa com a espiritualidade. Dacriao fruio, a arte pode ser entendida comouma experincia mstica, uma experincia do mist-rio que funda e habita a nossa existncia e a domundo. No pode, por isso, deixar de revelar o quenos atrai ao mistrio dos mistrios a que chamamosDeus e o que nos afasta dele.

    Num comentrio ao Evangelho de So Joo,Eckhart recorre ao filsofo islmico andaluz Aver-ris e ao filsofo grego Aristteles para desenvolver

    uma imagem de Deus como artista. A arte surge as-sim como uma prtica que permite o contacto comDeus e como um territrio que d lugar sua desco-berta. O Verbo e a ideia so anlogos, j que o efei-

    to sempre uma expresso e uma representao, e tambm a palavra do seu princpio1. Dizer que o

    Verbo era Deus semelhante a dizer que a figura

    na mente o princpio da figura na parede2, como

    ele escreve a partir de Averris. O Verbo ou Logos

    o princpio da razo criativa divina revelado em Je-sus. A racionalidade dos artistas ligada criao es-

    pelha precisamente este princpio. Tal como paraToms de Aquino, Eckhart baseia-se nas reflexes de

    Aristteles sobre o conceito de princpio (ou causa).Diz ele que o escultor grego Policleto no pode ser o

    princpio de uma esttua se no adquirir a arte de afazer ou se perder essa arte. A arte e o artista tmuma existncia coeva, como o Pai e o Filho na

    imagem de Deus como Trindade. Nas palavras cla-ras de Herbert McCabe, no que o Filho exista

    primeiro e depois seja amado pelo Pai, a sua existn-cia divina a de ser eternamente amado pelo Pai3.

    A arte, fazendo-se de um processo criativo, envolve afertilidade e o cuidado do amor. Atravs desse pro-

    cesso, a arte criada d existncia ao artista que a cri-ou, tal como o inverso.

    Eckhart cria um paralelo entre natureza e arte4num comentrio ao Livro do xodo que esclarece anoo de existncia. Na natureza e na arte, a existn-cia procurada e desejada5. H uma fome e umasede de existncia em tudo. O telogo germnicorefere outro filsofo islmico, o persa Avicena, parasustentar que o verdadeiro desejo o da existncia.Noutras palavras, o verdadeiro desejo o de ser.Existir ser e s Deus , realmente. Da que eledeclare que Deus existncia6, tal como Deus

    amor (1Jo 4,16), precisamente porque existir e amar

    coincidem na vida divina. H, no profundo de ns,a memria da semente de Deus, a conscincia daraiz, a aptido para sermos o que devemos ser.

    Tal como Catarina de Sena mais tarde,7 Eckhartvem recordar-nos que nada somos por ns prprios,que somos ou existimos de forma inerente , mas dis-

    tinta da, existncia absoluta de Deus. A imanncia e atranscendncia divinas trabalham na natureza, emns, e na arte. A realidade de Deus -nos profunda-mente ntima e profundamente estranha. Para ele,somos indistintos de Deus porque existimos e somosdistintos de Deus porque fomos criados. A isso temosde acrescentar o que Jesus anuncia: que fomos deseja-dos, que somos amados. Essa tambm a relao quese estabelece entre o artista e a obra artstica que cria.

    (Continua na pgina5)

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    A obra querida pelo artista que a imagina e a

    faz, que muitas vezes a faz imaginando e imagina fa-

    zendo. Eckhart apoia-se noutras tradies filosficas eespirituais, para afirmar o carcter catlico, universal,

    do seu pensamento. Assim como a arte islmica repre-

    senta na recusa da representao, a arte tem um senti-

    do espiritual mesmo quando o seu tema profano. A

    arte reflecte a nossa relao com Deus atravs da sua

    dimenso existencial, numa teia aberta na qual existi-

    mos mais plenamente. O projecto de comunidade

    que o Cristianismo8 ensina-nos o que arte nos ensi-

    na: o que somos no comea nem acaba em ns.Srgio Dias Branco

    (imagem:Piet por Fra Bartolommeo)

    __________

    1 Mestre Eckhart, OP, The Essential Sermons, Commentaries, Treatises,

    and Defense, ed. Edmund Colledge, OSA, e Bernard McGinn

    (Nova Iorque: Paulist Press, 1981), p. 134 (trad. minha).

    2 Ibid.

    3 Herbert McCabe, OP, God Still Matters(Nova Iorque: Continu-

    um, 2002), p. 8 (trad. minha).

    4 Ver Eckhart, Teacher and Preacher, ed. Bernard McGinn com

    Frank Tobin e Elvira Borgstadt (Nova Iorque: Paulist Press,

    1986), p. 50.

    5 Ibid., p. 175.

    6 Ibid., p. 166 (trad. minha).

    7 Catarina de Sena, OP, The Dialogue, trad. Suzanne Noffke, OP

    (Nova Iorque: Paulist Press, 1980), p. 29.

    8 Jos Augusto Mouro, OP, Editorial, Cadernos do Instituto So

    Toms de Aquino, n. 6 (1998),

    http://www.triplov.com/ista/cadernos/cad_06/.

    QUARESMA 2013

    O cristianismo frequentemente olhado como

    uma religio que faz o elogio da tristeza e, conse-

    quentemente, os cristos vistos como gente triste,

    mergulhada no sentimento de penitncia, na ideiade pecado, no apego ao sofrimento. No podemos

    esconder que certas prticas do cristianismo e do

    catolicismo, culturalmente enraizadas no conceito

    de culpa e expiao, do essa imagem de uma religi-

    o pesada e triste. Algumas celebraes litrgicas

    tambm no ajudam muito: em vez de se deixarem

    atravessar pela alegria que emana da Palavra celebra-

    da e do Po partilhado, parecem rotinas fnebres,

    marcadas pela tristeza, quando no mesmo pelomau-gosto. Mas essas prticas parecem estar mais

    associadas aos dramas e tragdias de cada um e

    no raramente fragilidade da nossa sade mental

    do que fonte onde bebe o cristianismo: Jesus Cris-

    to. NEle o convite alegria constante. No a uma

    alegria artificial, efmera e superficial, mas a uma

    alegria autntica e profunda, nascida da transforma-

    o pessoal de quem se deixa habitar pelo EspritoSantoa minha alma louva o Senhor, e o meu esprito

    exulta de alegria em Deus, meu salvador(Lc.1:46-47).

    Mas esta santa alegria no recusa o sofrimento.

    Aceita-o como fazendo parte integrante da prpria

    vida. No o sofrimento como um fim em si mesmo

    (o que seria doentio), mas o sofrimento como um

    meio para alcanar um horizonte mais largo, umhorizonte que nos ultrapassa, que se situa para alm

    dos limites da nossa existncia. No nos sacrificamos

    por um filho, por um pai, por uma esposa ou por

    um marido, por um irmo, por um companheiro,

    por um amigo, por uma causa, por um ideal? A Qua-

    resma pode ser um mtodo pedaggico para recupe-

    rarmos o sentido da alegria crist.

    Jos Carlos Gomes da Costa, o.p.

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    ANO DA F. UM DECRETO PARA QU?

    1. Em 1953, numa curtaviagem de camionete, sentou-se, ao meu lado, um padrede outra congregao religio-

    sa. Sobre as caractersticas eas imagens de marca das in-vocadas na conversa, adian-tou: em humildade nin-gum nos supera. No esta-

    va a fazer humor. Fiquei toalrgico ao elogio da humil-dade como s disputas entrearrogantes. Nada, no entan-

    to, mais inspirador do que uma pessoa humilde.Esteve, em Portugal, Frei Bruno Cador. Nasceu

    em 1954, formou-se em medicina, entrou nos Domini-canos, foi director do Centro de tica Mdica do Insti-tuto Catlico de Lille e, depois de ter sido Provincialem Frana, foi eleito, em 2010, Mestre Geral da Or-dem.

    No interessa explicitar aqui o que foi o seu bri-lhante e inspirador percurso profissional e dominicano,pois ele prprio nunca se lhe refere. como se no ti-vesse existido.

    Veio para visitar a famlia dominicana portuguesa,na diversidade dos seus ramos e revelou um estilo queno muito habitual nos eclesisticos.Na primeira reunio com a comunidade a que perten-o, procurou ouvir-nos acerca da situao da Igreja emPortugal, da Diocese em que estamos inseridos, do pa-pel das ordens e congregaes religiosas, masculinas efemininas, segundo o carisma de cada uma. Passou, de-pois, ao encontro fraterno, com cada um, individual-mente, no para falar, mas para escutar. Durante meiahora ouviu-me, sem dizer uma palavra, despediu-se, semme fazer qualquer recomendao. evidente que deba-

    teu, com os rgos das instituies da Provncia Domi-nicana Portuguesa, as questes com que ela est con-frontada. Fez, tambm, a visita s monjas dominicanas,fundadas, no sculo XIII, por S. Domingos. Ainda an-tes do ramo masculino, eram elas a Santa Pregao. En-controu-se tambm com as outras religiosas e com osleigos dominicanos.

    Se Cristo veio, no para condenar, mas para mani-festar o amor de Deus pelo mundo, como se poderchamar evangelizao, nova ou antiga, s obras, palavrase atitudes que no sejam escuta humilde dessa amizade

    divina?O mtodo de Frei Bruno - muito ouvir antes de

    falar - foi praticado e exposto na Parquia de S. Domin-gos de Benfica, ao apresentar a traduo da obra clssi-ca sobre A Pregao, de Humberto de Romans, e as Ac-tas do Colquio sobre a Restaurao da Provncia Do-

    minicana em Portugal.

    2. antiga a convico de que o silncio o pai dosPregadores e que a graa da pregao secundada peloestudo e pela contemplao. A frmula dominicana foicunhada muito cedo e j fazia parte do ensino de To-ms de Aquino: contemplar e dar testemunho da reali-dade contemplada. Era, desde a antiguidade, conhecidae exaltada a superioridade da vida contemplativa emrelao vida activa. Em benefcio da sua prpria causa,o santo doutor observou: a vida activa, que nasce da

    abundncia da contemplao, vale mais do que a puracontemplao. Iluminar melhor do que ser, apenas,luz. Foi este, alis, o estilo da vida escolhida por Jesus.

    A resposta brilhante. Na prtica, continuava arivalidade entre o tempo consagrado ao principal e otempo gasto com realidades temporais, inferiores. Otempo gasto na actividade esvaziava os ganhos da con-templao. A orao de S. Domingos, testemunhadapelos seus contemporneos, estava sempre povoada pe-las alegrias e tristezas do quotidiano. O trabalho apost-lico no o dispersava nem o esvaziava. Na sua confern-cia, Frei Bruno Cador saltou fora do esquema de falsasoposies. A fonte e o alimento da contemplao nose restringem ao quadro conventual ou s celebraeslitrgicas. A Igreja - e nela o dominicano -, no se podeapresentar ao povo cristo, aos membros das outras reli-gies, aos agnsticos e aos ateus como quem est naposse da verdade, dos bons princpios, dos bons cami-nhos e das boas solues. Essa arrogncia impede o ca-minho humilde da escuta, do estudo e do dilogo comtodos os mundos em que se encontra, ou aos quais se

    dirige: a bondade e a verdade, servidas ou tradas, estodisseminadas em todos os estilos de vida e em todas asdimenses da existncia. A Igreja, sem crescer e amadu-recer nesse convvio, no pode partilhar nada, est forade jogo. Esquece que Deus se insinua, de muitos mo-dos, na vida das pessoas, expressa na diversidade de pro-blemticas e linguagens das sociedades, nas suas diferen-tes pocas e culturas. Os processos no so lineares enunca nada est garantido.

    (Continua na pgina 8)

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    PROMESSAS DA FRATERNIDADE LEIGA DOMINICANA DEMACEDO DE CAVALEIROS

    O dia 26 de Janeiro de 2013 foi a data escolhida para

    a reunio de preparao das Promessas dos quatro ele-mentos da Fraternidade Leiga Dominicana de Macedode Cavaleiros.A saber: Sr. Armindo Geraldes; D. Claudina Geral-

    des; D. Alcina Catarino; D. Mariana Cardoso.Esta reunio foi coordenada pelo Frei Rui Almeida

    Lopes, o nosso Promotor Provincial, juntamente com onosso Conselheiro Provincial Sr. Francisco Piarra esua Mulher D. Filomena Piarra.

    Decorreu este encontro no salo paroquial da Igrejade So Pedro e muitas pessoas da comunidade de Ma-

    cedo de Cavaleiros e arredores estiveram presentes.O Frei Rui comeou por elucidar o significado e aimportncia das Promessas e explicou todos os passosdo ritual que aconteceria no dia seguinte no meio dacelebrao Eucarstica do III Domingo do Tempo Co-mum, na Igreja de Santa Maria Me da Igreja em Mace-do de Cavaleiros.

    Com esta Promessa o nosso objectivo continua a seruma vida de perfeio, continuamos com as mesmasexigncias que os outros cristos tm. No somos, nemqueremos ser, superiores a ningum. Somos leigos queapoiam a pregao e estamos ao servio do anncio doEvangelho.

    Queremos defender, na medida das nossas foras, e,no local onde nos encontramos, a nossa F. Todo ocristo leigo deve anunciar a Palavra sendo sal e fer-mento.

    Podemos viver a Promessa catequizando, promoven-do os direitos de algum, visitando os doentes e idosos,educando os filhos cristmente na famlia, cuidandodos lugares de culto, etc.Anunciar a Palavra dar Esperana. Primeiro temos

    que saber ouvir para depois meditar e aprofundar. S

    depois estaremos aptos para partilhar.A grande preocupao de So Domingos era a salva-

    o de toda a gente. So Domingos amou os que esta-

    vam no erro no concordando com o seu erro.Jesus no nos pede mais do que aquilo que Ele nos

    deu.No se trata de fazer mais coisas mas sim de ser mais

    responsvel, mais apaixonado por Jesus e mais ao servi-o do Outro num mundo sem fronteiras.

    Esta Promessa liga-se Boa-Vontade de cada um deapaixonar-se por Jesus, independentemente do sexo,raa, idade, cultura e riqueza.A crise de hoje volta-nos para o essencial e um enor-

    me desafio nossa F.Porque a hora j ia adiantada despedimo-nos com o

    encontro marcado para o dia seguinte, s nove e meiada manh, na sala de reunies da Igreja de Santa MariaMe da Igreja.

    A nossa reunio de Domingo foi presidida pelo FreiRui e o Casal Filomena e Francisco Piarra. Efectuou-seimediatamente antes da Eucaristia.

    Foi-nos relembrado que esta Promessa no obrigasob pecado. nossa inteno viver segundo a Regra deSo Domingos e vamos tentar ser sempre do Evange-lho. Seremos a leitura do Evangelho para aqueles queno o lem. Pedimos a Misericrdia de Deus e Deusbaixa-se, vem ao nvel da nossa misria, e, a partir dalevanta-Se connosco. Deus capacita os incapacitados.A partir das nossas diferenas fortalecemos a F que

    nos une.s 11h dirigimo-nos todos para a Igreja. Diante doFrei Rui e de toda a Assembleia, no meio da Eucaristiaos quatro membros desta Fraternidade professaram aPromessa junto do altar. Depois de benzidas as 4 cruzesda Ordem pelo Frei Rui, a nossa Presidente Deolindacolocou-as uma a cada um de ns e ofereceu-nos umpequeno emblema da Cruz Dominicana e duas pajelas,uma de Nossa Senhora e outra de Santa Catarina deSena.

    Na homila, Frei Rui explicou a misso das Fraterni-dades leigas dominicanas.

    No fim da Missa ainda houve tempo para um almo-o, em ambiente de festa, convvio com todos os quequiseram estar presentes antes do regresso do Frei Ruie do Casal Piarra a suas casas.

    Resta-nos agradecer de todo o corao, o enormeempenho e dedicao com que nos tm acompanhadona nossa formao, ao longo destes 3 anos.

    Foi uma grande honra e um enorme prazer poderreceb-los no seio da minha famlia e em minha casa.Bem-hajam!

    Eternamente grata despeo-me com um abrao em

    So Domingos.Mariana Cardoso

  • 7/27/2019 360 - Laicado Dominicano Jan.fev.2013

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    F i c h a T c n i c aJornal bimensalPublicao Peridican 119112ISSN: 1645-443XPropriedade: Fraternidade Leigas de So DomingosContribuinte: 502 294 833Depsito legal: 86929/95Direco e RedacoCristina Busto (933286355)Maria do Carmo Silva Ramos (966403075)

    Administrao:Maria do Cu Silva (919506161)Rua Comendador Oliveira e Carmo, 26 2 Dt2800 476 Cova da PiedadeEndereo: Praa D. Afonso V, n 86,

    4150-024 PORTO

    E-mail: [email protected]: 435 exemplares

    O s a r t i g o s p u b l i c a d o s e x p r e s s a m a p e n a sa o p i n i o d o s s e u s a u t o r e s .

    Laicado Dominicano Janeiro/Fevereiro 2013

    No digas Pai, se cada dia no te comportas co-mo um filho.

    No digas nosso, se vives isolado no teu egosmo.No digas que estais nos cus, se s pensas nas

    coisas terrenas.No digas santificado seja o Vosso nome, se no

    o honras.No digas venha a ns o Vosso Reino, se o

    confundes com coisas materiais.No digas seja feita a vossa vontade, se no a

    aceitas quando dolorosa.No digas o po nosso de cada dia nos dai hoje,

    se no te preocupas com quem tem fome.No digas perdoai-nos as nossas ofensas, se man-

    tns rancor ao teu irmo.No digas livrai-nos do mal, se no tomas posio

    contra o mal.No digas men, se no compreendeste nem

    levaste a srio a palavra do Pai-Nosso.

    Jos Tolentino Mendona

    SOBRE O PAI-NOSSO

    (Continuao da pgina 6)

    3. Em vrios pases, sob o ponto de vista cristo, osculo XX foi prodigiosamente fecundo, apesar deduas guerras mundiais. Basta pensar nos movimentosbblico, litrgico, missionrio, ecumnico, social, na

    redescoberta da teologia patrstica e medieval, nos no-vos modelos e paradigmas de teologia - das realidadesterrestres, do trabalho, da matria, da evoluo, daconjugalidade -, assim como nas formas de evangeliza-o da pura presena, nos meios mais afastados das

    instituies da Igreja. Foi uma histria exaltante demuitas esperanas e desiluses continuadas, pela re-presso que se abateu sobre vrios destes movimen-tos.

    O Vaticano II, iniciativa de um papa que tinhaos olhos postos no mundo em transformao e no

    agiornamento da Igreja, recuperou e alargou a geogra-fia da esperana.Como e porqu se perdeu este impulso?

    Frei Bento Domingues, o.p.

    RETIRO ANUAL DAS FRATERNIDADES LEIGAS DOMINICANAS

    Nos prximos dias 8 a 10 de Maro vai realizar -seem Ftima o retiro anual das Fraternidades LeigasDominicanas.

    O retiro ter lugar na Casa do Verbo Divino sobo tema A F:

    Caminhada de converso

    Como aliment-la Dimenso apostlica

    A equipa de pregao ser constituda pelo freiRui Carlos Lopes e pelo Lus Santos. As inscriesdevero ser enviadas para a secretria provincial, Ma-ria do Cu Silva([email protected]).

    Cristina Busto, o.p.