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Cadernos de Educao Ambiental
C O N S U M OSUSTENTVEL
GOVERNO DO ESTADO DE SO PAULOSECRETARIA DO MEIO AMBIENTE
COORDENADORIA DE PLANEJAMENTO AMBIENTAL
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Cadernos de Educao Ambiental
10C O N S U M OS U S T E N TV E L
GOVERNO DO ESTADO DE SO PAULOSECRETARIA DO MEIO AMBIENTE
COORDENADORIA DE PLANE JAMENTO AMBIENTALS O PAU LO 2 0 1 1
AutoraDenize Coelho Cavalcanti
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S24c So Paulo (Estado) Secretaria do Meio Ambiente / Coordenadoria de Planejamento Ambiental. Consumo Sustentvel. Cavalcanti, Denize Coelho. So Paulo : SMA/
CPLA, 2011.
104 p. : 15,5 x 22,3 cm (Cadernos de Educao Ambiental, 10)
Bibliografia ISBN 978-85-86624-88-9
1.Consumo 2. Sustentabilidade e Meio Ambiente I. Cavalcanti, Denize Coelho II. So Paulo (Est.) Secretaria do Meio Ambiente III. Ttulo. IV. Srie.
CDU 349.6
Biblioteca Centro de Referncias de Educao Ambiental
Governo do estado de so Paulo Governador
secretaria do Meio aMbiente Secretrio
coordenadoria de PlanejaMento aMbiental Coordenadora
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Governo do estado de so Paulo Governador
secretaria do Meio aMbiente Secretrio
coordenadoria de PlanejaMento aMbiental Coordenadora
Geraldo Alckmin
Bruno Covas
Nerea Massini
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Sobre a Srie Cadernos de Educao Ambiental
A sociedade brasileira, crescentemente preocupada com as questes ecol-
gicas, merece ser mais bem informada sobre a agenda ambiental. Afinal, o direito
informao pertence ao ncleo da democracia. Conhecimento poder.
Cresce, assim, a importncia da educao ambiental. A construo do ama-
nh exige novas atitudes da cidadania, embasadas nos ensinamentos da ecologia
e do desenvolvimento sustentvel. Com certeza, a melhor pedagogia se aplica s
crianas, construtoras do futuro.
A Secretaria do Meio Ambiente do Estado de So Paulo, preocupada em
transmitir, de forma adequada, os conhecimentos adquiridos na labuta sobre a
agenda ambiental, cria essa inovadora srie de publicaes intitulada Cadernos
de Educao Ambiental. A linguagem escolhida, bem como o formato apresen-
tado, visa atingir um pblico formado principalmente por professores de ensino
fundamental e mdio, ou seja, educadores de crianas e jovens.
Os Cadernos de Educao Ambiental, em face da sua proposta pedaggica,
certamente vo interessar ao pblico mais amplo, formado por tcnicos, militan-
tes ambientalistas, comunicadores e divulgadores, interessados na temtica do
meio ambiente. Seus ttulos pretendem ser referncias de informao, sempre
precisas e didticas.
Os produtores de contedo so tcnicos, especialistas, pesquisadores e
gerentes dos rgos vinculados Secretaria Estadual do Meio Ambiente. Os
Cadernos de Educao Ambiental representam uma proposta educadora, uma
ferramenta facilitadora, nessa difcil caminhada rumo sociedade sustentvel.
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Ttulos Publicados
As guas Subterrneas do Estado de So Paulo Ecocidado Unidades de Conservao da Natureza Biodiversidade Ecoturismo Resduos Slidos Matas Ciliares Desastres Naturais Habitao Sustentvel
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Rumo ao consumo sustentvel
T rabalhar o consumo sustentvel na sociedade essencial para garantir s ge-raes futuras a sua sobrevivncia. A conservao do meio ambiente e seu uso sustentvel so objetivos da Secretaria do Meio Ambiente, porm, a sociedade tem
um papel essencial na promoo da qualidade ambiental.
Com a mudana de simples hbitos por parte dos mercados e dos consumidores,
possvel melhorar significativamente o meio ambiente, seja pela destinao de re-
sduos para a reciclagem, o uso do transporte pblico, a preferncia pela compra de
produtos com selos verdes, entre outros. Estas aes, quando realizadas por grande
parte da populao, promovem a melhoria da qualidade do ar, o uso racional dos
recursos naturais, alm de gerar emprego e renda para atividades econmicas com
manejo sustentvel.
Esta tendncia pode ser verificada, ainda que de forma tmida, em diversos
segmentos da sociedade.
A comunicao tem um papel essencial durante este processo. Somente com
informaes qualificadas, o consumidor poder realizar suas escolhas de forma cons-
ciente e garantir assim, a transio das cadeias produtivas para uma economia verde.
Este Caderno de Educao Ambiental vem cumprir este papel de comunicao no
sentido de informar a sociedade sobre o Consumo Sustentvel, alm de direcion-la
para a adoo de boas prticas.
A Secretaria do Meio Ambiente tambm deve atuar de forma decisiva na multi-
plicao e fomento destas boas prticas, com a instituio de polticas pblicas que
se traduzam em mudanas significativas nos processos produtivos, diversificando a
oferta dos produtos sustentveis disponveis pelo mercado e reduzindo o impacto
das cadeias produtivas sobre o meio ambiente.
Vamos juntos, governo e sociedade, expressar ao mercado a necessidade de
mudana dos processos produtivos e garantir, assim, a qualidade ambiental e a qua-
lidade de vida almejada por todos.
Bruno CovasSecretrio de Estado do Meio Ambiente
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Sustentabilidade e consumo
N os dias de hoje, falar em sustentabilidade remete diretamente necessidade de adequao dos padres de consumo vigentes na sociedade, na medida em que esse conceito abrange trs vertentes essenciais: a econmica, a social e a
ambiental.
Para muitas pessoas, a sustentabilidade corresponde apenas observncia de
critrios ambientais, de forma que o presente trabalho tem como objetivo justamente
demonstrar aos cidados a real amplitude do conceito e como isso diz respeito s
formas de comportamento verificadas na rotina de todos os que habitam o planeta.
Assim, informaes sobre tipos de comportamento, estilos de consumidores e
impactos econmicos, sociais e ambientais decorrentes dos mesmos so dispostas
neste Caderno de Educao Ambiental, visando estimular uma mudana na forma de
consumir, por meio do constante aprimoramento dos critrios que devem ser levados
em conta no momento de uma compra, seja ela realizada pelos indivduos ou pelo
poder pblico.
Embora a evoluo do grau de conscincia por parte dos cidados venha ocor-
rendo de forma lenta nos ltimos anos, aes como a publicao do presente trabalho
demonstram a preocupao do Governo de So Paulo em estimular essa evoluo
de forma eficiente, mediante a disponibilizao de instrumentos e conceitos bsicos
relacionados manuteno e preservao dos recursos naturais que o consumo sus-
tentvel capaz de promover.
Mostrar ao cidado a importncia de seu papel ao pensar globalmente e agir local-
mente na busca pela melhoria da qualidade de vida para as presentes e futuras geraes,
constitui um dos principais objetivos da Coordenadoria de Planejamento Ambiental, es-
pecialmente por meio da proposio de polticas pblicas voltadas tanto para a Adminis-
trao quanto para a sociedade em geral, nas quais a sustentabilidade corresponde a um
item transversal que deve permear todas as reas, especialmente a educao.
nerea MassiniCoordenadora de Planejamento Ambiental
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SUMRIO01.Introduo1302.OsPadresdeConsumo1903.ConsumoxConsumismo2304.TiposdeComportamento2705.GruposdeConsumidores3106.AAnlisedoCiclodeVida3507.AsComprasPblicaseoPapeldoGoverno3908.CertificaoFlorestal45 09.ProdutosOrgnicos4910.ConsumidorxEmpresas53 11.DaConscinciaPrtica6112.ReflexessobreoConsumo69 13.EstilosdeConsumidor73 14.AnlisedaPegadaEcolgica7715.Atitudesquefazemadiferena81
Concluso97
Referncias Bibliogrficas100
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Introduo Introduo
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CAdERno dE EduCAo AmBIEntAl CONSUMO SUSteNtvel14
1. Introduo
V ivemos, nos dias de hoje, o que se pode chamar de Era do Consumo, na qual a importncia atribuda satisfao imediata das prprias necessi-dades e ao poder aquisitivo das pessoas atinge propores acima do razovel,
apoiada, muitas vezes, no conceito de desenvolvimento econmico.
Uma das principais caractersticas do chamado desenvolvimento eco-
nmico consiste no desejo de transformar, por meio da utilizao de re-
cursos tecnolgicos, aquilo que oferecido pela natureza em produtos a
serem utilizados pelos indivduos, tendo por escopo a obteno de lucro
e prazer material.
O conceito de desenvolvimento econmico , em muitos casos, relaciona-
do melhoria da qualidade de vida da populao, a qual, tendo maior poder
aquisitivo, passa a comprar seu bem-estar. Assim, se pensarmos, por exem-
plo, nas estratgias utilizadas para a comercializao de imveis, possvel
verificar que, por trs dos anncios que expressam a expanso urbana das
classes mais favorecidas, retratando imveis dotados de toda a infraestrutu-
ra de lazer e comodidades possveis, omitem-se informaes sobre como os
sistemas naturais sero sacrificados para sustentar esses empreendimentos,
sendo necessrios cada vez mais e mais recursos para saciar a sede de con-
sumo das pessoas que habitaro esses locais. Isso sem considerar o fato de
que, guardadas as devidas propores, o mesmo ocorre com a expanso dos
bairros, condomnios e favelas.
Alm disso, verifica-se que, atualmente, os seres humanos constituem
uma espcie majoritariamente urbana, de forma que o alcance da susten-
tabilidade e do equilbrio entre o volume de recursos naturais e a demanda
humana dever ser atingido basicamente no mbito das cidades.
Ocorre que as pessoas que j nascem nas cidades no tm uma noo
clara do processo negativo que vem ocorrendo, pois no ritmo frentico do
ambiente urbano no costuma haver tempo para a reflexo sobre o assunto,
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151. IntRoduo
uma vez que tudo facilitado: gua disponvel nas torneiras, alimentos dis-
ponveis nos mercados (ainda que no para todos), dentre outros elementos
que proporcionam uma sensao de independncia e felicidade, notoriamen-
te enfatizada pela mdia.
Em resumo, o consumismo integrou-se ao prprio sistema de socializa-
o entre as pessoas, qual seja, a sociedade de consumo, acarretando graves
problemas ambientais.
Dessa forma, a postura do consumidor, nesta primeira dcada do sculo
21, determinar a qualidade do futuro ambiental para as prximas gera-
es e ecossistemas. O consumismo afeta de forma significativa o sistema
ambiental, na medida em que se apoia na posse e na explorao incontida
de espaos e recursos finitos. Se alocarmos todos os recursos para atendi-
mento das necessidades humanas, que tendem a ser infinitas, o colapso
FigURA 1 AMBIENTE URBANO.
Foto: Acervo SMA
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CAdERno dE EduCAo AmBIEntAl CONSUMO SUSteNtvel16
ambiental ser inevitvel e irreversvel. Assim, para garantir o desenvol-
vimento sustentado, ser preciso mudar a forma de atendimento dessas
necessidades, parcial e racionalmente.
Tal situao remete, portanto, necessidade de compatibilizar o desen-
volvimento socioeconmico com a preservao da qualidade do meio am-
biente e do equilbrio ecolgico, tal como previsto pela Poltica Nacional do
Meio Ambiente, instituda pela Lei n. 6.938/81.
A considerao desse aspecto corresponde, portanto, ao caminho para
se atingir o chamado desenvolvimento sustentvel, sendo este conceito an-
terior ao de consumo sustentvel, objeto do presente trabalho, definindo-se
aquele como a explorao equilibrada dos recursos naturais, limitando-se
satisfao das necessidades e do bem-estar da presente gerao, bem como
sua conservao para as futuras geraes.
O conceito de consumo sustentvel passou a ser construdo a partir do
termo desenvolvimento sustentvel, divulgado com a Agenda 21, documento
produzido durante a Conferncia das Naes Unidas sobre o Meio Ambiente e
Desenvolvimento, no Rio de Janeiro, em 1992. A Agenda 21 relata quais so
as principais aes a serem tomadas pelos governos para aliar a necessidade
de crescimento dos pases com a manuteno do equilbrio do meio ambiente.
Os temas principais desse documento falam justamente sobre mudanas de
padres de consumo, manejo ambiental dos resduos slidos e saneamento e
abordam, ainda, o fortalecimento do papel do comrcio e da indstria.
O ato de consumir corresponde a um processo que normalmente reali-
zado de forma automtica e, muitas vezes, impulsiva. A princpio, costuma-se
associar o consumo ao ato de comprar, o que, apesar de correto, no abrange
todas as etapas que permeiam o ato de consumo, pois a compra constitui
apenas uma dessas etapas.
Anteriormente compra propriamente dita, preciso decidir o que con-
sumir, por que razo consumir, de que forma consumir e de quem consumir.
Aps tais reflexes que se parte para a compra em si. Ressalte-se que o
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171. IntRoduo
processo no termina nesse momento, pois ainda ser preciso refletir sobre a
forma de uso e o descarte daquilo que foi adquirido.
Ademais, possvel perceber que o consumo, por se tratar de um pro-
cesso e no de um ato isolado, est presente de forma quase integral na vida
dos cidados, seno vejamos. Ao acordar, normalmente os indivduos tomam
banho e escovam os dentes, o que consome gua e eletricidade, fora sabo-
nete e pasta de dente. Em seguida, costumam tomar caf da manh, o que
implica o consumo, por exemplo, de caf, leite, pes, frutas e mais gua (para
o preparo de bebidas e para lavar a loua) e eletricidade.
Ao sair para o trabalho, consome-se combustvel, seja do carro, da mo-
tocicleta, do nibus, ou ainda, energia eltrica, no caso do metr. A menos,
claro, que se opte por andar a p ou de bicicleta. J no ambiente de trabalho,
FigURA 2 LADEIRA PORTO GERAL, PRxIMO RUA 25 DE MARO, SO PAULO.
Foto: Miguel Schincariol/Banco de Imagens SP
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CAdERno dE EduCAo AmBIEntAl CONSUMO SUSteNtvel18
mais consumo: eletricidade, gua, papel, etc. Isso demonstra, inclusive, que
no preciso despender dinheiro de forma imediata para consumir.
O conceito de consumo sustentvel, portanto, diz respeito compre-
enso por parte dos indivduos, na posio de cidados consumidores, dos
impactos e das consequncias de seu consumo sobre o meio ambiente, o
respeito qualidade de vida individual e coletiva e o desenvolvimento justo
da sociedade. Traduz-se, assim, pela conscincia em fazer do ato de compra
um ato de cidadania, por meio da escolha de produtos, servios e empresas
que colaborem para uma condio de vida ambientalmente adequada e
socialmente justa.
Pode-se definir o consumidor consciente, seja este indivduo, empresa,
entidade social ou governo, como aquele que, por seus valores e atitudes,
busca contribuir para um mundo melhor, por meio de escolhas conscientes
no momento de consumir produtos, servios e recursos naturais, valorizan-
do empresas que procuram ser socialmente responsveis, preocupando-se
com o impacto da produo e do consumo sobre o meio ambiente, buscan-
do a melhor relao entre preo, qualidade e atitude social em produtos
e servios oferecidos no mercado, atuando junto s empresas para que as
mesmas aprimorem seus processos de produo e suas relaes com a
sociedade e mobilizando outros consumidores para a prtica do consumo
consciente.
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os padresde consumo
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2. Os Padres de Consumo
H istoricamente, a mudana nos padres de consumo pode ser verificada por meio de uma anlise sobre o papel do indivduo em seu meio, de for-ma que o amadurecimento da conscincia possibilita discernir que o poder est
nas mos do homem comum; e o indivduo, na posio de cidado, toma para
si tal poder, tornando-se consciente e responsvel no exerccio de seus papis.
inegvel que nos ltimos anos tem se verificado um aumento da cons-
cientizao das pessoas sobre os danos que o uso indiscriminado dos recursos
naturais pode causar ao meio ambiente, levando o cidado a assumir uma pos-
tura mais crtica em relao s suas opes de consumo, considerando carac-
tersticas de produtos, at ento tidas como no essenciais, no processo de es-
colha, as quais passaram a representar um fator importante no ato da compra.
Entretanto, embora tenha havido um aumento na conscincia ambiental
das pessoas, ainda no se verificou uma mudana efetiva nos padres de con-
sumo dos cidados, na medida em que a informao, por si s, no o sufi-
ciente para mudar hbitos arraigados. Assim, as pessoas j sabem, por exemplo,
dos benefcios da reciclagem, da existncia de uma economia do lixo, etc., o
que no impede que as cidades continuem sujas, que as pessoas continuem a
jogar lixo em locais inapropriados e a gerar quantidades absurdas de resduos.
FigURA 3 LIxO A CU ABERTO.
Foto: Acervo SMA
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212. os PAdREs dE Consumo
Atualmente, os 500 milhes de pessoas mais ricas do mundo, cerca de
7% da populao, so responsveis por 50% das emisses de gases de efeito
estufa, enquanto os 3 bilhes de pessoas mais pobres emitem apenas 6%.
Diante desses dados, possvel constatar que, sem uma mudana cultural
que coloque valores sustentveis acima do consumismo, nenhuma revoluo
tecnolgica ou poltica pblica sero capazes de resgatar a humanidade de
problemas graves climticos, sociais e ambientais.
Em 2006, a humanidade consumiu algo em torno de US$ 30 trilhes em
mercadorias e servios, cerca de 28% a mais do que se consumiu h dez anos,
o que levou a um aumento considervel da extrao de recursos naturais para
atender a essa demanda.
Os norte-americanos, por exemplo, consomem aproximadamente 88 kg
de recursos por dia. Se todos vivessem dessa forma, a Terra s poderia susten-
tar um quinto da populao mundial, ou seja, 1,4 bilho de pessoas.
FigURA 4 EMISSES INDUSTRIAIS.
Foto: Acervo SMA
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CAdERno dE EduCAo AmBIEntAl CONSUMO SUSteNtvel22
Apesar dessa constatao, no se pode desconsiderar o fato positivo
de que o aumento progressivo da conscincia da populao em relao
necessidade de adotar padres mais responsveis de utilizao dos recur-
sos naturais ter consequncias virtuosas, principalmente a mdio e lon-
go prazo, com a modificao de comportamentos e hbitos de consumo.
Referidas mudanas vm sendo estimuladas, inclusive, pela mdia que tem
dado importncia ao tema em razo das previses negativas decorrentes do
aquecimento global.
Ressalte-se, ainda, que um consumo nunca 100% sustentvel, pois
a sustentabilidade um conceito complexo e deve ser buscada em toda a
cadeia produtiva. Dificilmente um produto ou servio inteiramente sustent-
vel, at mesmo porque ainda vivemos na era dos combustveis fsseis. Porm,
o consumo consciente, por enquanto praticado apenas por uma pequena par-
cela da populao, geralmente urbana e bem posicionada economicamente,
crescente e j viabiliza uma srie de negcios, estruturando mercados que
no existiam h 15, 20 anos, como, por exemplo, o de alimentos orgnicos,
equipamentos ecoeficientes e biocombustveis.
Dessa forma, as empresas vm sofrendo uma revoluo em suas pr-
ticas e processos de produo, o que mais sentido, entretanto, em uma
pequena elite preocupada com as novas tendncias do mercado e com
viso de longo prazo.
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Consumo X Consumismo
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3. Consumo X Consumismo
A problemtica relativa ao consumo torna necessrio distinguir entre o que consumo e o que consumismo, ou seja, qual a diferena entre consumir o bsico, de forma consciente, e consumir de forma excessiva ou intil.
Referida distino diz respeito nossa atual situao: vivemos em um
mundo capitalista e globalizado, no qual a sociedade de massa v no con-
sumo um aspecto altamente positivo, por entender que se trata de um po-
tencial indicador econmico e social. A questo, portanto, est diretamente
relacionada cultura da sociedade, de forma que os cidados so induzidos,
especialmente por fora da mdia, a acharem que precisam de determina-
dos bens e produtos, passando a consumir o suprfluo como se fosse absolu-
FigURA 5 CONSUMIDORAS OBSERVAM VITRINE.
Foto: Pierre Duarte / Banco de Imagens SP
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253. Consumo X ConsumIsmo
tamente necessrio, acarretando a mudana de sua condio: de consumidor
torna-se consumista. Trata-se, assim, de um processo relacionado aos hbitos
e atitudes individuais que, em uma sociedade, terminam por gerar impactos
das mais diversas naturezas.
Numa sociedade de consumo, como a que vivemos, o que se constata
que, ao longo do tempo, houve um aumento significativo do real valor
atribudo a um bem, de forma que o que antes era considerado no essencial
tornou-se imprescindvel. A explicao mais bvia para essa mudana radical
quanto essencialidade de um produto reside no poder de influncia da
mdia sobre as pessoas, especialmente sobre as crianas, que as fazem pen-
sar que no podem viver felizes se no puderem consumir aquilo que lhes
apresentado como essencial.
FigURA 6 EDUCAO PARA O CONSUMO.
Foto: Acervo SMA
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CAdERno dE EduCAo AmBIEntAl CONSUMO SUSteNtvel26
Diante do poder de persuaso das mdias e dos mecanismos de publici-
dade existentes, cabe ao poder pblico atuar de forma reguladora, a fim de
viabilizar uma mudana nos padres de produo e consumo atuais, por meio
da adoo de medidas como: aumento da carga tributria sobre atividades
ambientalmente danosas; reduo de subsdios para padres de produo
insustentveis; motivao da mdia e de setores de marketing para modela-
rem padres de consumo sustentvel; melhoria da qualidade da informao
relativa a impactos ambientais dos produtos e servios e incentivo ao desen-
volvimento industrial com utilizao de tecnologias limpas.
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tipos de Comportamento
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4. Tipos de Comportamento
Segundo pesquisas do Instituto Akatu entidade promotora do consumo
consciente ligada ao Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social
sobre os perfis dos consumidores, entre os comportamentos que os indivduos
declaram adotar e as razes que os levam a pratic-los, possvel verificar os
graus de preocupao com a coletividade expressos por eles, de acordo com
o estgio de conscincia em que se encontram. Tais comportamentos podem
ser classificados, conforme os efeitos que provocam, da seguinte forma:
a) Comportamentos de EFICINCIA: sua adoo resulta em benefcios
diretos e de curto prazo para o consumidor, evitando o desperdcio e gerando
melhor aproveitamento de produtos e servios. Dentre os comportamentos a
serem considerados nesta classificao, pode-se mencionar:
Evitar deixar lmpadas acesas em ambientes desocupados;
Fechar a torneira enquanto escova os dentes;
Desligar aparelhos eletrnicos quando no esto em uso;
No guardar alimentos quentes
na geladeira;
Utilizar o verso de folhas de papel
j utilizadas.
b) Comportamentos de REFLExO:
sua adoo resulta em benefcios a m-
dio prazo para o consumidor, estando
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FigURA 7 FECHAR A TORNEIRA ENqUANTO ESCOVA OS DENTES E FAz A BARBA.
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294. tIPos dE ComPoRtAmEnto
associados reflexo sobre suas prticas de consumo. Como exemplos des-
ses comportamentos, temos:
Planejar a compra de alimentos, evitando o desperdcio;
Pedir nota fiscal ao fazer compras, garantindo o cumprimento da lei por
parte das empresas;
Planejar a compra de roupas, considerando apenas o que for necessrio
Ler o rtulo atentamente antes de decidir a compra;
Apresentar queixa a algum rgo de defesa do consumidor em caso
de dano.
c) Comportamentos de SOLIDARIEDADE: sua adoo, ainda que no pro-
porcione benefcios diretos ou imediatos a quem os pratica, acarreta efeitos
Foto: Acervo SMA
FigURA 8 LATAS DE LIxO PARA RECICLAGEM.
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CAdERno dE EduCAo AmBIEntAl CONSUMO SUSteNtvel30
positivos a longo prazo coletividade e s futuras geraes. Refletem, assim,
uma viso de mundo mais voltada para a sustentabilidade, podendo-se men-
cionar, dentre outros:
Separar o lixo para reciclagem;
Comprar periodicamente produtos feitos com material reciclado;
Comprar produtos orgnicos de forma habitual.
FigURA 9 HORTA.
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Grupos de Consumidores
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CAdERno dE EduCAo AmBIEntAl CONSUMO SUSteNtvel32
5. Grupos de Consumidores
D entre os tipos de consumidores a serem considerados no contexto do consumo sustentvel, possvel classific-los, de acordo com seu grau de conscientizao, em consumidores Indiferentes, Iniciantes, Compro-
metidos e Conscientes.
O grupo Indiferentes constitui o ponto de partida do ranking e so
aqueles consumidores que adotam o menor nmero de comportamentos
conscientes, com menor frequncia, fazendo-o com uma viso de curto prazo
e mais voltados para seu prprio bem-estar.
Os Iniciantes e Comprometidos refletem estgios intermedirios
e expressam a evoluo da conscincia relativa ao consumo. J, o grupo
FigURA 10 RUA JOS PAULINO, SO PAULO, SP.
Foto: Rubens Chiri / Banco de Imagem Governo SP
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335. GRuPos dE ConsumIdoREs
Conscientes o que adota maior nmero de comportamentos conside-
rados ideais e os exerce com maior habitualidade. Demonstram, tambm,
maior preocupao com questes como a sustentabilidade e a preservao
do meio ambiente. Suas aes buscam solucionar problemas a curto, mdio
e longo prazos.
Normalmente, o que se verifica que os grupos Indiferentes e Cons-
cientes so os menores e expressam comportamentos antagnicos. Alm
disso, o grupo Indiferentes costuma ser mais jovem e mais pobre, alm
de individualista, enquanto o grupo Conscientes mais velho, com maior
poder aquisitivo e tende a se preocupar mais com o futuro. J, a maioria dos
consumidores encontra-se nas classificaes Iniciantes e Comprometidos.
O grupo Conscientes demonstra, assim, preocupaes que vo alm
FigURA 11 ELETRODOMSTICO COM SELO PROCEL.
Foto: Acervo SMA
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CAdERno dE EduCAo AmBIEntAl CONSUMO SUSteNtvel34
do ato individual de consumir e representa o nvel mais avanado da socieda-
de em termos de conscincia no consumo. Referidos consumidores percebem
os impactos que essas aes exercem no meio ambiente, a mdio e longo
prazos, adotando medidas no intuito de minimizar esses impactos.
Um dos comportamentos mais consolidados nesse grupo o uso racio-
nal da energia, o que provavelmente veio como consequncia do apago,
quando foi institudo o racionamento de energia eltrica. Nessa poca, vieram
tona as deficincias do Brasil em razo da falta de investimentos no setor,
noticiando a imprensa em larga escala que o uso indiscriminado dos recursos
naturais colocava a escassez de gua e energia como problemas contempo-
rneos com grande tendncia a se agravarem.
Tal fato acabou introduzindo novos hbitos na vida da populao, de
forma que banhos demorados, uso incorreto de eletrodomsticos, manter o
ferro eltrico ligado alm do tempo necessrio e outras formas de desperdcio
foram combatidos nos domiclios e nas empresas, por meio da disseminao
de comportamentos que acarretavam, alm do uso racional, a diminuio das
contas de luz.
Se, por um lado, economizar gua e energia corresponde a um comporta-
mento adotado por boa parte da populao, a compra de produtos reciclados
e orgnicos, por exemplo, um comportamento ainda restrito a uma minoria,
qual seja, os consumidores classificados como Conscientes. Tal se deve, em
parte, ao custo desses produtos, que so, em geral, mais caros que os tradi-
cionais, cabendo estabelecer, portanto, uma relao com o poder aquisitivo
dos consumidores.
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A Anlise do Ciclo de Vida
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6. A Anlise do Ciclo de Vida
U ma das formas mais indicadas para se escolher adequadamente um produto consiste na anlise de seu ciclo de vida, mais conhecido como anlise do bero ao tmulo, ou seja, desde a extrao da matria-prima at
o descarte final, pois por meio desse mecanismo possvel verificar, de forma
global, quais os impactos ambientais do produto a ser consumido. A partir de
referida anlise, o consumidor adquire a capacidade de considerar os critrios
de sustentabilidade no momento de sua compra.
Ocorre que a anlise do ciclo de vida de um produto, em razo de sua
alta complexidade, tem aplicao ainda deficiente no mercado nacional, de
forma que os consumidores no tm acesso a todas as informaes relativas
aos impactos ambientais dos produtos que consomem, dificultando a escolha
dentre as alternativas disponibilizadas no mercado.
O que se vislumbra, alis, justamente o contrrio: a maioria das pro-
pagandas mostra apenas o lado positivo do produto e normalmente o faz
FigURA 12 RECICLAGEM DE GARRAFAS PET.
Foto: Divulgao
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376. A AnlIsE do CIClo dE VIdA
de forma suficiente para fazer com que o consumidor assimile tal produto
como algo excelente e necessrio para seu bem-estar, ignorando os possveis
efeitos adversos que aquele bem pode acarretar coletividade e ao meio
ambiente.
Diante da dificuldade de verificao de todas as etapas inerentes
vida de um produto, resta ao consumidor buscar, por iniciativa prpria,
informaes bsicas a respeito do mesmo, tais como, matria-prima, con-
sumo de gua e energia decorrentes de sua utilizao, possibilidade de
reaproveitamento e/ou reciclagem, dentre outros aspectos que permitam
caracterizar minimamente um produto como sustentvel entre as opes
disponveis no mercado.
Alm disso, necessria a atuao conjunta entre Estado e sociedade
para a mudana do paradigma relativo ao consumo, por meio de um processo
FigURA 13 POLUIO INDUSTRIAL.
Foto: Acervo SMA
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educacional eficiente e por uma atuao mais firme por parte do poder pbli-
co relativamente regulao da publicidade, a fim de que sejam mostrados
ao consumidor no apenas os aspectos positivos, mas tambm os negativos,
como o mecanismo aplicado publicidade de bebidas alcolicas, por exem-
plo, que vem obrigatoriamente acompanhada de advertncias sobre os as-
pectos negativos do lcool. Dessa forma, o acesso informao e a influncia
do pblico nas decises dos produtores, por meio de seu poder de compra,
constituem elementos fundamentais para a promoo do desenvolvimento
sustentvel.
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As Compras Pblicas e o Papel do Governo
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7. As Compras Pblicas e o Papel do Governo
T odos os anos, os governos federal, estaduais e municipais consomem grande parte dos recursos do oramento na compra de produtos e na contratao de servios, movimentando bilhes de reais, que atingem um por-
centual considervel do Produto Interno Bruto do Pas, afetando diretamente
importantes setores da economia. Dados da OCDE Organizao para a Coo-
perao e Desenvolvimento Econmico apontam que, em pases desenvolvidos,
cerca de 10% do PIB gasto anualmente em compras e contrataes pblicas.
Nos pases em desenvolvimento, dentre os quais o Brasil, esse porcentual atinge
at 30%, demonstrando, portanto, a enorme influncia do Estado como agente
econmico, podendo impactar positivamente a economia e estimulando neg-
cios responsveis sob o ponto de vista socioambiental.
Assim, mediante a aprovao de polticas pblicas, construdas coletiva-
mente, com a participao de todos os atores envolvidos, os governos devem
comear a fazer compras mais responsveis, lanando editais de licitao
para a compra de produtos sustentveis, tais como: merenda orgnica, mo-
bilirio proveniente de manejo florestal sustentvel com cadeia de custdia
legalizada, carros que utilizem combustveis menos poluentes, equipamentos
de informtica eficientes do ponto de vista energtico, lmpadas menos po-
luentes e mais eficientes, etc.
A partir do momento em que os gastos governamentais passarem a ser
direcionados aquisio de bens e servios considerados sustentveis, verifi-
car-se- uma mudana gradual nos padres de consumo da sociedade como
um todo, que contribuir para a inovao do mercado fornecedor, por meio
da criao e comercializao de novas alternativas de produtos relativamente
s j existentes, considerando critrios sociais e ambientais a serem adotados
na fabricao dos bens e na prestao de servios.
Em pases desenvolvidos e em algumas cidades do Brasil, j possvel
vislumbrar as consequncias decorrentes da implementao do conceito de
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417. As ComPRAs PBlICAs E o PAPEl do GoVERno
compras sustentveis, privilegiando-se os fornecedores comprometidos com
o uso racional dos recursos naturais, pressionando as outras empresas a se
adaptarem aos padres de responsabilidade socioambiental sob pena de per-
derem sua competitividade no mercado.
O Estado de So Paulo, por exemplo, vem buscando, por meio de mu-
danas na legislao e de parcerias com os municpios, a implementao da
sustentabilidade em suas compras e contrataes. Dentre as normas apli-
cveis s licitaes, h o Decreto n. 50.170/2005, que instituiu o Selo de
Responsabilidade Socioambiental, a ser concedido a determinados materiais
e servios que atenderem aos critrios socioambientais previstos no citado
diploma legal, como economia no consumo de gua, no caso de torneiras de
fechamento automtico, economia no consumo de energia, no caso de apare-
lhos e eletrodomsticos que contenham Selo Procel, dentre outros exemplos.
FigURA 14 OPERAO DE FISCALIzAO DO PROJETO SO PAULO AMIGO DA AMAzNIA.
Foto: Acervo SMA
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FigURA 15 SELO DE RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL.
Foi publicado, ainda, o Decreto Estadual n. 53.336/2008, que criou o
Programa Estadual de Contrataes Pblicas Sustentveis. Referido Pro-
grama vem sendo implementado gradativamente no Estado de So Paulo,
por meio da capacitao de servidores envolvidos nos processos de compras e
contrataes dos rgos e entidades governamentais, indicando-se aos mes-
mos os caminhos a serem observados para a implementao da sustentabi-
lidade nos processos de aquisio de bens e contratao de servios, com a
incluso de critrios socioambientais nos editais.
Dentre as aes previstas no mbito do Programa est a elaborao, pe-
los rgos e entidades integrantes da Administrao Estadual, de Relatrios
de Sustentabilidade, com foco em compras e contrataes, por meio dos quais
ser possvel identificar as instituies que j internalizaram a questo da sus-
tentabilidade, bem como aquelas que precisam melhorar seu desempenho.
Observam-se, ainda, outras iniciativas visando introduo de critrios
socioambientais nas aquisies e contrataes realizadas pelo Estado, como
o dilogo junto ao setor produtivo, a fim de promover a inovao das opes
colocadas disposio no mercado, aumentando-se o nmero de alternativas
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437. As ComPRAs PBlICAs E o PAPEl do GoVERno
sustentveis passveis de serem adquiridas ou contratadas pelo Poder Pblico,
com preos competitivos em relao s alternativas comuns.
Cabe ressaltar o fomento ao atendimento de critrios quanto com-
provao da legalidade da origem de produtos como a madeira nativa uti-
lizada em obras pblicas, nos termos do que dispe o Decreto Estadual n.
53.047/2008, que criou o Cadastro Estadual das Pessoas Jurdicas que co-
mercializam, no Estado de So Paulo, produtos e subprodutos de origem na-
tiva da flora brasileira CADMADEIRA.
FigURA 16 FACHADA DA SECRETARIA DO MEIO AMBIENTE.
Alm disso, a Poltica Estadual de Mudanas Climticas, instituda pela
Lei Estadual n. 13.798/2009, e a Poltica Nacional de Resduos Slidos
Lei Federal n. 12.305/2010 apresentam diversos dispositivos relativos s
compras pblicas sustentveis, com o objetivo de promover a reduo das
emisses de gases de efeito estufa e do volume de resduos inerentes aos
bens e servios consumidos pela Administrao.
Foto: Acervo SMA
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Certificao Florestal
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8. Certificao Florestal
N os dias de hoje, cerca de um tero dos cidados brasileiros demonstra uma preocupao mnima relativamente aos impactos socioambientais decorrentes de seus atos de consumo, apresentando, inclusive, certa predispo-
sio a dar preferncia a produtos mais sustentveis, conforme revelam pesqui-
sas do Instituto Akatu. O que se verifica, entretanto, que entre a boa inteno
e a prtica efetiva do consumo consciente existe uma barreira a ser transposta,
a qual diz respeito correta identificao dos produtos considerados sustent-
veis, em virtude da profuso de selos, certificados e peas publicitrias tratando
do tema da sustentabilidade.
Referido excesso de informaes pode, ironicamente, deixar o consumidor
confuso, iludido ou informado de maneira inadequada. Nesse contexto, os cha-
mados selos verdes, cujo escopo consiste em certificar e atestar determina-
das caractersticas socioambientais verificadas em produtos e empresas, consti-
tuem uma importante ferramenta para orientar as escolhas dos consumidores.
No Brasil, o movimento da certificao voluntria, com base em critrios e dife-
renciais ambientais, teve incio na dcada de 1990, especialmente com os alimentos
orgnicos. A necessidade de adequao aos critrios estabelecidos pelo mercado
internacional foi o ponto crucial para a evoluo dos processos de certificao.
A certificao florestal corresponde a uma das formas de identificar um
produto como sustentvel e consiste num mecanismo voluntrio por meio
do qual as empresas buscam a valorizao do contedo ambiental de seus
produtos, visando maior competitividade no mercado da sustentabilidade,
atualmente em franca expanso.
Assim, a certificao florestal garante que os produtos so originrios
de florestas manejadas de maneira ambientalmente adequada, socialmente
benfica e economicamente vivel, tendo como benefcios principais a contri-
buio para a conservao da biodiversidade e seus valores associados (gua,
solo, paisagens e ecossistemas) e a promoo do respeito aos direitos dos tra-
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478. CERtIFICAo FloREstAl
balhadores, povos indgenas e comunidades locais, alm de gerar vantagem
competitiva e melhorar a imagem pblica da empresa.
Referido mecanismo, aliado disposio do consumidor em adquirir
produtos florestais de origem comprovadamente sustentvel, constitui uma
forma mais fcil e barata de internalizar os custos ambientais do benefcio, se
comparada a um controle regulatrio por parte do poder pblico.
Temos como exemplo de mecanismo de certificao florestal o FSC (Fo-
rest Stewardship Council), organizao no governamental independente e
sem fins lucrativos, fundada em 1993, cujos membros atuam como represen-
tantes de organizaes sociais e ambientais de comrcio de madeira e produ-
tos florestais, de povos indgenas, organizaes comunitrias e certificadoras
de produtos florestais de diversas partes do mundo.
FigURA 17 ESTAO ExPERIMENTAL DE CINCIAS FLORESTAIS, ITATINGA, SP.
Foto
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O FSC, controlador do principal selo voltado para produtos florestais,
responsvel por mais de um tero das florestas certificadas, naturais ou plan-
tadas, em todo o mundo. No Brasil, o FSC, estabelecido apenas em 2002, cer-
tifica uma produo voltada quase em sua totalidade para exportao. Assim,
a certificao da madeira e do papel brasileiros, por exemplo, foi fundamental
para garantir o acesso ao mercado internacional.
O Conselho Brasileiro de Manejo Florestal a organizao que represen-
ta o FSC no Brasil, tendo como objetivo principal a promoo do manejo e
da certificao florestal no pas. Dessa forma, atua coordenando o desenvol-
vimento de padres de certificao nacionais e regionais de manejo florestal,
consultas junto s operaes florestais certificadas no Brasil e como agente
nominal da marca FSC, emitindo a licena numerada que autoriza a aplicao
da mesma no produto.
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Produtos orgnicos
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9. Produtos Orgnicos
A agricultura e pecuria orgnicas encontram-se atualmente em franca expanso no Brasil, utilizando sistemas de produo mais equilibrados, com alternativas naturais para a nutrio e controle de doenas em animais.
Assim, ao optar por carnes ou aves orgnicas, por exemplo, o consumidor, alm
de aproveitar os benefcios de um alimento livre de agrotxicos e hormnios
sintticos, tambm proporciona qualidade de vida aos animais.
Pela anlise das caractersticas da agricultura convencional (uso de agro-
txicos, adubos, impregnao de resduos qumicos nos alimentos, alterao
de seu sabor, comprometimento da sade do lavrador, que manuseia os
produtos qumicos, e do consumidor), verifica-se a negatividade de seus im-
pactos, como a contaminao de mananciais, leitos de rios, lenis freticos,
dentre outros.
Foto: Fernandes Dias Pereira / Imprensa Oficial SP
FigURA 18 HORTA.
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519. PRodutos oRGnICos
Tais impactos negativos so ignorados na agricultura convencional, na
medida em que h maior preocupao com a quantidade produzida em detri-
mento da qualidade, com a utilizao, em larga escala, de produtos qumicos
e txicos, inseticidas, herbicidas e adubos qumicos, acarretando o empobre-
cimento do solo e alimentos impregnados de agrotxicos.
A agricultura orgnica, por sua vez, tem como alicerces a qualidade dos
alimentos, a sade da terra em que os mesmos so cultivados e do prprio ser
humano, que produz e consome esses alimentos. Prioriza, portanto, a utiliza-
o de tcnicas naturais de combate s pragas e tcnicas manuais de comba-
te ao mato, utilizando adubos sem processamento qumico, proporcionando
a interao entre o ser humano e a natureza durante o processo de cultivo.
Alm disso, a agricultura orgnica caracteriza-se pela adoo de critrios
sociais e ambientais de produo, cabendo aos produtores atuar dentro da
legalidade, registrando todos os seus funcionrios, bem como possuir alvar
Foto: Fernandes Dias Pereira / Imprensa Oficial SP
FigURA 19 PRODUO DE MARACUJ EM JACUPIRANGA, NO VALE DO RIBEIRA.
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da Vigilncia Sanitria e certificao ambiental. H, ainda, a preocupao
com a recuperao da mata ciliar e com a utilizao de estercos dos prprios
animais, com a rotao de culturas, compostagem e controle biolgico de
pragas e doenas, trabalhando-se em harmonia com a natureza.
Foto: Fernandes Dias Pereira / Imprensa Oficial SP
FigURA 20 FRUTAS.
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Consumidor X Empresas
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10. Consumidor X Empresas
A percepo que os consumidores tm das empresas influencia sobrema-neira seu comportamento ao consumir, determinando as razes que os estimulam a realizar uma compra ou a suspend-la, a procurar rgos de defesa
do consumidor ou a considerar outros fatores no ato de consumo.
Dentre as atitudes empresariais que deveriam ser adotadas a fim de es-
timular o consumidor a adquirir seus produtos e servios e recomend-los
a seus amigos, por exemplo, verifica-se que o fato de a empresa contratar
pessoas com deficincia fsica, colaborar com entidades sociais, manter um
bom servio de atendimento ao consumidor e combater o trabalho infantil
so medidas que atraem uma parcela considervel de consumidores, ainda
que os mesmos estejam num nvel de conscincia abaixo do esperado.
Por outro lado, atitudes como utilizar-se de propaganda enganosa, cola-
borar com polticos corruptos, desrespeitar o Cdigo de Defesa do Consumi-
dor ou utilizar mo de obra infantil desestimulam drasticamente os consumi-
dores a adquirirem os produtos e servios da empresa que as pratica.
Alm das atitudes positivas e negativas referidas, outro fato importante a
ser considerado so as razes que levam o consumidor a pagar mais por um
produto, uma vez que no processo de insero de produtos ambientalmente
amigveis no mercado, frequente constatar que os produtos considerados
sustentveis so mais caros que sua verso comum.
O que possvel notar relativamente a esse aspecto que a disposio
de pagar mais cresce com o grau de conscincia do consumidor, chegando-se
a um patamar mximo de 20% a ser despendido a mais pelo mesmo, tanto
em razo da observncia de critrios ambientais por parte da empresa, quan-
to pelo status que a aquisio do produto proporciona.
O produto ecolgico capaz de despertar a conscincia ecossocial da
comunidade e educar ambientalmente quem o produz e quem o consome. O
Brasil o pas mais rico do mundo em matrias-primas naturais renovveis
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5510. ConsumIdoR X EmPREsAs
(mais de 20% da biodiversidade planetria); tem lixo em quantidade abun-
dante e ainda pouco aproveitado (245 mil toneladas/dia), alm de milhes
de toneladas de resduos agrcolas e industriais sem qualquer uso. Em suma,
o pas rene todas as condies para ser um verdadeiro celeiro de ecoprodu-
tos e materiais reciclados, gerando emprego e levando cidadania a milhes
de pessoas, tornando-se um modelo de sustentabilidade para outras naes.
Tecnologia, know-how e criatividade no faltam para isso.
Com incentivos e poltica adequada, esses produtos poderiam ser ex-
portados para mercados vidos por artigos verdes, como o europeu e o
australiano, dentre outros. Hoje, artigos brasileiros j so exportados para a
Europa, assim como ecoprodutos alimentcios, casos da soja e aa orgni-
cos. Organismos governamentais divulgaram a cifra de US$ 6 bilhes anuais
movimentados na Europa apenas com produtos orgnicos. Com uma poltica
FigURA 21 COOPERATIVA DE RECICLAGEM.
Foto: Acervo SMA
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especfica para o mercado verde brasileiro, o pas poderia tornar-se um polo
de indstrias verdes ou sustentveis, tornando-se exportador de bens de con-
sumo, gerando divisas, emprego e renda de forma inteligente, j que seriam
retiradas milhes de toneladas de resduos que contaminam o meio ambien-
te, roubam espao e agridem a sade dos seres vivos.
Se, ao invs de estimular indstrias poluentes, como a automobilstica
movida a petrleo, que recebe milhes em incentivos de toda ordem, houves-
se uma poltica de crdito e ICMS verde, de apoio a projetos comunitrios,
micro e pequenos empreendimentos, o Brasil poderia contar, em pouco tem-
po, com um parque industrial sustentvel indito, rompendo a dependncia
tecnolgica que escraviza as naes em desenvolvimento.
Foto: Fernandes Dias Pereira / Imprensa Oficial SP
FigURA 22 COOPERATIVA DE ARTESANATO COM FIBRA DE BANANEIRA, REGISTRO, SP.
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5710. ConsumIdoR X EmPREsAs
Outra rea de imenso potencial para o crescimento de empresas com
produtos sustentveis a de saneamento. Segundo dados do IBGE, grande
parte dos municpios brasileiros no possui tratamento de gua e esgoto.
Essa necessidade poderia ser atendida pelo setor privado com o fornecimento
de miniestaes de tratamento, que, alm de resolverem um dos principais
problemas da sade pblica no Brasil (70% das enfermidades tm origem
em gua e esgoto no tratados), permitiriam que a gua fosse reutilizada no
prprio local, reduzindo gastos com grandes estaes de tratamento (ETEs) e
gerando economia para moradores e municpios; contribuindo, tambm, para
a descontaminao de corpos dgua e lenis freticos.
O conceito de produto ecolgico ou ecoproduto ainda representa uma
incgnita para a maior parte dos consumidores brasileiros: como evidenciar
que um produto realmente ecolgico ou que mais ou menos ecolgico
do que outro?
Foto: Fernandes Dias Pereira / Imprensa Oficial SP
FigURA 23 TRATAMENTO DE GUA PARA REUSO.
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CAdERno dE EduCAo AmBIEntAl CONSUMO SUSteNtvel58
Atualmente, a forma mais segura de identificao para o consumidor
a partir dos selos verdes, j referidos anteriormente, como os que j existem
na Unio Europeia, Japo, Estados Unidos, Austrlia e mesmo em pases vizi-
nhos, como a Colmbia, que j conta com poltica oficial nesse sentido. O selo
verde no apenas uma logomarca ou um rtulo com a palavra ecolgico
na embalagem de um produto, mas o resultado de uma avaliao tcnica
criteriosa, na qual devem ser levados em conta aspectos pertinentes ao seu
ciclo de vida, como matrias-primas (natureza e obteno), insumos, processo
produtivo, consumo e descarte. No Brasil, os selos verdes existentes atingem
basicamente dois segmentos: produtos orgnicos (alimentcios) e madeira.
A ausncia de regras claras no setor, ou melhor, a ausncia de um setor
que pense o mercado verde leva a essas distores e criao de uma cul-
tura duvidosa de ecoprodutos. O fato que o consumidor no obrigado a
FigURA 24 ESTAO DE TRATAMENTO DE ESGOTO - CANTAREIRA, SP.
Foto: Acervo SMA
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5910. ConsumIdoR X EmPREsAs
conhecer a verdade por si prprio. Ele no precisa ser um tcnico conhecedor
de qumica, fsica, engenharia, arquitetura, biologia, etc. para avaliar o que
est comprando. No entanto, ele o objetivo final do jogo de mercado. Por
isso, para que o ecomercado possa crescer saudvel, ser fundamental que no
Brasil surjam selos verdes como j existem em todo o mundo.
Considerar empresas certificadas pelas normas ISO 14001 como sendo
fabricantes de produtos ecolgicos ou como sendo elas mesmas ecolgi-
cas por deterem essa certificao um grave equvoco e gera confuso no
mercado. Na verdade, o selo atesta que foram implantados mecanismos de
reduo de impactos ambientais e que existe um sistema de monitoramento
para aperfeioar esse procedimento de forma contnua. Entretanto, no ga-
rante que determinado produto foi desenvolvido com as melhores prticas, de
forma que as normas ambientais vigentes no garantem que uma empresa
no seja poluidora, mas sim que a mesma busca solues para seus resduos,
documentando todas as aes que possam interferir no meio ambiente.
Em suma, empreender um sistema de gesto ambiental na empresa
diferente de ter um produto com certificado ambiental, na medida em que
a certificao de produto pressupe a realizao de anlise do ciclo de vida
especfico daquele bem, desde a extrao da matria-prima at o descarte
final. Assim, a utilizao do selo ISO 14001 no produto pode induzir o con-
sumidor a erro.
Uma proposta de ao interessante consiste em as empresas que se ade-
quarem a critrios socioambientais e, por conta disso, ganharem pontos junto
ao consumidor e reduzirem custos oriundos da insalubridade no uso de mate-
riais agressivos sade e ao meio ambiente, poderem receber incentivos fis-
cais por parte do poder pblico ou mesmo fontes de crdito mais fcil. Outra
opo de benefcio seria tributar menos ou no tributar produtos reciclados,
cuja matria-prima seria tributada apenas uma vez, quando virgem.
Adotar uma poltica favorvel ao mercado de produtos ecolgicos uma
prova de que as necessidades do homem moderno podem ser conciliadas
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com o uso dos recursos naturais e que a ecologia, mais do que um conceito
ou pea de marketing, tambm um fator de cidadania.
Cabe ressaltar, entretanto, que a certificao no algo imune a proble-
mas, especialmente se considerarmos a velocidade da disseminao dos selos,
nos dias de hoje, em razo da necessidade de atendimento de uma demanda
cada vez maior por produtos sustentveis. Diante de tal situao e do cres-
cente aumento do apelo pelo chamado consumo ecolgico, surge a se-
guinte questo: no estaria essa busca desenfreada pelo consumo ecolgico
enfraquecendo a mensagem de que sustentvel mesmo consumir menos?
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da Conscincia Prtica
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11. Da Conscincia Prtica
A prtica do consumo consciente pelo cidado pode ser efetivada em diversas oportunidades do seu cotidiano, nas diferentes escolhas feitas por ele em diferentes situaes de compras, desde a marca do sabonete at a
quantidade de gua utilizada durante o banho, da opo entre os alimentos que
ingere at a embalagem utilizada nos mesmos, dentre outras.
Essa prtica deve ser executada, tambm, pelas empresas e organiza-
es, na medida em que se constituem potenciais consumidores de recursos
naturais, em diversas escalas.
Assim, a possibilidade de um iminente colapso na capacidade do planeta
de fornecer bens e servios aos seres humanos est exigindo das empresas
FigURA 25 POLUIO NO RIO TIET EM PIRAPORA DO BOM JESUS, SP.
Foto: Acervo SMA
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6311. dA ConsCInCIA PRtICA
aes que vo alm da diminuio da emisso de poluentes ou da utilizao
de matrias-primas de forma sustentvel. Cabe, tambm, s organizaes
promoverem a conscientizao socioambiental da comunidade onde atuam e
da sociedade em geral. Isso porque a questo ambiental diz respeito a cada
um de ns, no a uma ou outra empresa que desmata florestas ou polui rios.
Nesse incio do sculo 21, a expectativa de que cerca de um tero dos
pases do mundo sofrer com a escassez permanente de gua. Isso porque,
desde 1950, seu consumo em todo o mundo triplicou. Para que a gua continue
sendo potvel e suficiente para todos, a populao precisa se conscientizar da
importncia dela para as suas vidas e mudar seus hbitos. A gua no um
bem de consumo, portanto no deve ser tratada como tal. Na verdade, trata-se
de um recurso natural essencial para a vida e cada vez mais ameaado.
A maior parte da gua doce existente no mundo est concentrada em
apenas dezenove pases. E o Brasil uma das naes privilegiadas, pois possui
13,7% da gua doce do planeta, embora sofra com o problema de concentra-
Foto: Divulgao
FigURA 26 OBRAS NO RIO TIET.
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o dos mananciais: 70% encontram-se na regio Norte. O consumo de gua
em nosso pas divide-se da seguinte forma: 59% so destinados agricultura,
22% para uso domstico e 19% para uso industrial.
Uma das alternativas para regies com escassez de gua doce a
utilizao de gua com alta concentrao de sais, como a gua salobra e
a gua do mar. Para torn-las potveis e, portanto, apropriadas ao consu-
mo humano, h a necessidade de proceder dessalinizao, processo que
exige alto investimento e recursos tecnolgicos complexos para a produo
em larga escala. Neste caso, o preo da gua para o consumidor final torna-
se muito mais elevado, devido menor oferta e aos gastos envolvidos para
torn-la potvel.
O adensamento populacional, assim como a ocupao desordenada, faz
com que o servio de distribuio de gua potvel torne-se uma tarefa de-
safiadora para o poder pblico nas grandes cidades do Brasil. Alm disso, o
problema no processo de urbanizao reflete diretamente na qualidade da
gua dos mananciais que abastecem as cidades.
J, a situao da alimentao no mundo marcada por um contrassenso:
se, por um lado, cerca de 800 milhes de pessoas passam fome todos os dias
devido a um sistema injusto de distribuio da produo, por outro, so pro-
duzidas, diariamente, por pessoa, 2.805 kcal, quantidade superior necessi-
dade de uma alimentao adequada, que de 2.350 kcal. Alm disso, existe
um nmero crescente de pessoas que tm acesso aos alimentos e que so
constantemente estimuladas por propagandas que visam aumentar a venda
de produtos alimentcios.
O resultado o consumo em excesso entre as pessoas que no tm uma
conscincia adequada, causando a obesidade e doenas a ela associadas,
como infarto, derrame, hipertenso e alguns tipos de cncer. Tais extremos
desnutrio e obesidade expem uma realidade de alerta para toda a so-
ciedade. Ambos, alm de serem um problema social crnico e que dependem
de uma ao efetiva dos governos, esto tambm diretamente relacionados
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com a atitude de cada cidado, no que se refere ao consumo consciente dos
alimentos.
A produo de alimentos vem gerando grandes impactos ao meio am-
biente, principalmente pelo uso de insumos agrcolas altamente poluentes,
pela devastao de grandes reas naturais para o plantio e pela extrao
desordenada de recursos j escassos e que podem chegar extino, aes
que no levam em conta a sustentabilidade do planeta.
O desperdcio de alimentos, iniciado na fase de produo at chegar
mesa do consumidor, agrava ainda mais esta situao. O Brasil um dos prin-
cipais produtores de alimentos do planeta, mas , tambm, um dos que mais
desperdia, em todas as etapas, desde a plantao, passando pelo transporte
e industrializao, at o manuseio e preparo dentro de casa. Estas perdas
tm como consequncia uma maior necessidade de produo dos alimentos
Foto: Fernandes Dias Pereira / Imprensa Oficial SP
FigURA 27 FEIRA EM SO PAULO.
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e, ainda, elevao nos preos, devido chamada lei da oferta e da procura,
aumentando os impactos ao meio ambiente e restringindo, ainda mais, o
acesso de uma parte da populao aos alimentos por limitaes financeiras.
Evitando o desperdcio dentro de casa, no s haver mais alimentos
disposio no mercado, como os preos sofrero reduo e eles ficaro mais
acessveis populao. A diminuio da demanda por alimentos far com
que menos reas sejam cultivadas, tornando o preo do metro quadrado mais
barato, acarretando a reduo dos preos e maior acessibilidade populao.
Alm disso, o acesso aos alimentos permitir uma perspectiva mais digna de
sobrevivncia para toda a populao.
Foto: Fernandes Dias Pereira / Imprensa Oficial SP
FigURA 28 FEIRA EM SO PAULO.
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Dados Relativos ao Consumo
A populao total do planeta consome 20% a mais em recursos naturais do que suportvel, ou seja, passvel de reposio. Alm disso, seriam necessrios mais quatro planetas Terra para que toda a populao mundial tivesse o mesmo padro de consumo dos norte-americanos e europeus.Fonte: Instituto Akatu e World Wildlife Fund
Cada brasileiro gera em torno de um quilo de lixo por dia. Cerca de 65% desse total representado por lixo orgnico, formado de restos de alimentos.Fonte: Instituto Akatu e Associao Brasileira de Empresas de Limpeza Pblica e Resduos Especiais (Abrelpe).
No Brasil, 70miltoneladas de alimentos vo para o lixo diariamente, e a cada cinco minutos, uma criana morre por problemas relativos fome, totalizando 288 crianas por dia.Fonte: Instituto Akatu
Em nosso pas, R$ 12 bilhes em alimentos so literalmente jogados no lixo por ano. Esse valor suficiente para alimentar oito milhes de famlias, ou cerca de 30milhes de pessoas carentes por ano, com cestas bsicas de R$ 120,00.Fonte: Secretaria de Agricultura e Abastecimento de So Paulo
Perto de 44% do que plantado se perde na produo, distribuio e comercializao: 20% na colheita, 8% no transporte e armazenamento, 15% na indstria de processamento e 1% no varejo. Com mais cerca de 20% de perdas no processamento culinrio e nos hbitos alimentares, os desperdcios totalizam 64% em toda a cadeia.Fonte: Revista Veja, edio 1749, ano 35, n 17.
S os supermercados da cidade de So Paulo descartam perto de 13milhesdetoneladas de alimentos por ano. As feiras livres jogam no lixo mais de mil toneladas em frutas, legumes e verduras por dia.Fonte: Mesa Brasil
Clculos da Secretaria de Agricultura e do IBGE mostram que de 20% a 30% de todos os alimentos comprados para abastecer uma casa acabam indo para o lixo.
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Traando-se uma comparao entre a evoluo do consumo nos pases
desenvolvidos e a ocorrida no Brasil, verifica-se que, infelizmente, o processo
de industrializao brasileiro no conseguiu desconcentrar a riqueza, afetada
diretamente pela herana colonialista e escravista, diferentemente do que
ocorreu nos pases desenvolvidos que, embora afetados em alguns momentos
por crises cclicas, apresentavam uma renda relativamente bem distribuda,
geogrfica e socialmente.
Assim, no Brasil, o mercado capitalista sofistica-se ao longo do tempo,
porm sem integrar as massas, acarretando uma situao facilmente per-
cebida nos dias de hoje: a coexistncia de luxo e pobreza extremada, que
prejudica, e muito, a imagem do Brasil perante outros pases.
No obstante, com a ampliao e consolidao da democracia, pressio-
na-se o poder pblico a se diversificar nos aspectos relativos s demandas
sociais, o que atualmente constitui papel de inmeras ONGs, cujo escopo con-
siste justamente em acelerar a transferncia internacional de reivindicaes e
movimentos de luta, dentre os quais, por exemplo, os de proteo mulher,
criana e ao meio ambiente, incluindo-se a o consumo.
Diante desse quadro, possvel chegar seguinte concluso: a renda
precisa se desconcentrar de forma contnua e segura, de forma que as ino-
vaes empresariais em produtos possam favorecer as camadas de menor
poder aquisitivo, considerando-se o nus coletivo que uma poltica empresa-
rial alheia ao impacto ambiental pode produzir, devendo ser encorajadas as
estratgias ecologicamente sustentadas.
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Reflexes sobre o Consumo
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12. Reflexes sobre o Consumo
C onsiderando o fato de que vivemos num mundo em transio, o apelo e estmulo ao consumo so constantes no dia a dia dos indivduos, porm, inegvel que existem momentos determinados em que a reflexo sobre nossa
forma de consumo vem tona de maneira crtica. A maioria desses momentos
pode ser verificada nas ocasies em que a sociedade submete-se a um perodo
de crise, seja esta de natureza econmica ou social, dentre outras.
Um forte exemplo dessa realidade pode ser vislumbrado se analisarmos
as consequncias decorrentes do ataque s torres gmeas nos Estados Uni-
dos, em 2001. Aps a destruio das torres, o presidente veio a pblico fazer
um apelo em nome de uma retomada do consumo, rotulando essa atitude
como sendo altamente patritica, uma vez que a manuteno do poder de
consumo era, naquele, momento, fundamental para o pas.
Outro exemplo o caso da Argentina, onde os consumidores vm pas-
sando por um processo no qual repensam seu consumo com base em valores
nacionalistas, acreditando que pode valer mais a pena consumir um produto
de origem local em vez de um produto importado, resultando em uma mu-
dana efetiva nos padres de consumo da populao.
Perodos de crise podem ser teis, portanto, para incentivar a reflexo
das pessoas no tocante questo do consumo, cabendo ressaltar, entretanto,
que o volume de informaes existentes, nos dias de hoje, nem sempre
disseminado de forma ampla o suficiente para permitir uma anlise por todas
as camadas da populao.
Tal reflexo mostra, de pronto, a realidade de que vivemos em um plane-
ta com recursos esgotveis e que, em algum momento, ser necessrio pensar
nessa finitude e quais as consequncias disso para o ser humano. Alm disso,
as pessoas comeam a pensar em sustentabilidade, tanto do consumo como
do planeta, visando sua continuidade. Por fim, passa-se a pensar na ques-
to dos resduos decorrentes do consumo, como as embalagens: para onde
vo, qual o seu potencial de reciclagem e de deteriorao, etc.
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7112. REFlEXEs soBRE o Consumo
FigURA 30 DESPEJO INADEqUADO DE LIxO DOMSTICO.
FigURA 29 REA CONTAMINADA COM AMIANTO.
Foto: Acervo SMA
Foto: Acervo SMA
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Estilos de Consumidor
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13. Estilos de Consumidor
N o que diz respeito aos perfis de consumo existentes nos dias de hoje, possvel constatar a existncia, basicamente, de trs estilos de consumi-dores: o consumidor impulsivo (ou compulsivo), o consumidor amadurecido e
o consumidor racional.
O consumidor impulsivo aquele que, teoricamente, todos gostariam de
ser: simplesmente olha, gosta e compra, tudo de forma imediata, sem qual-
quer reflexo aprofundada sobre o ato.
O segundo, mais amadurecido, considera sua situao financeira e deter-
mina suas compras com certo grau de racionalidade. Assim, pode at ceder a
algum impulso, mas habitualmente no foge sua lista de compras, demons-
trando uma mudana em suas prioridades, de forma que, ainda que j tenha
sido um consumidor compulsivo, passou a ser mais racional em suas compras.
quanto ao terceiro tipo, o consumidor racional, corresponde ao consu-
midor que planeja seu consumo, levando em conta suas reais necessidades,
distribuindo seus recursos de maneira a conseguir o mximo possvel com um
menor consumo.
Analisando os trs estilos, possvel concluir que o ideal mesmo que o
consumidor, independentemente de seu estilo, passe a consumir com respon-
sabilidade, o que muitas vezes corresponde a um campo desconhecido para
as pessoas. Assim, as reaes ao conceito de empresa com responsabilidade
social podem ter sua receptividade variada, em decorrncia, por exemplo, do
local considerado.
S possvel verificar certa unanimidade por parte dos consumidores em
considerar uma empresa como socialmente responsvel quando na mesma
encontra-se implcito o respeito aos direitos do consumidor, uma vez que este
um conceito j solidificado. quando se demonstra que a empresa social-
mente responsvel abrange, alm do respeito aos direitos do consumidor, o
respeito aos direitos do trabalhador, ao meio ambiente ou, ainda, o investi-
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7513. EstIlos dE ConsumIdoR
mento em projetos sociais, o pblico acaba por se encantar com a grandeza
do conceito.
Atualmente, o fator meio ambiente tem sido o que mais sensibiliza
o consumidor, pois representa uma questo capaz de alterar seu grau de
conscincia. J, no que diz respeito aos direitos trabalhistas, quanto mais
alta a escala social, mais o consumidor tende a achar que o respeito a esses
direitos no passa de obrigao das empresas; quanto mais baixa a escala
social, mais o consumidor fica encantado com o cumprimento desses deveres,
considerando isso como algo a ser prestigiado.
Diante desse quadro, possvel promover um salto qualitativo nos estilos
de consumo, por meio do estabelecimento de um dilogo com o consumidor,
o que demanda um trabalho de pesquisa, a fim de observar o grau de com-
preenso do pblico. O dilogo deve ser permanente, proporcionando conhe-
cimento sobre a questo, bem como tornando pblico esse conhecimento,
construindo-se junto com o consumidor o conceito de consumo consciente.
Outro fator importante para viabilizar o salto qualitativo a uniformiza-
o dos conceitos de consumo consciente e responsabilidade social, a fim de
tornar tais conceitos familiares ao consumidor. Alm disso, necessrio um
processo visando estimular a sociedade como um todo a refletir de forma
efetiva sobre suas reais necessidades de consumo, sobre as condies de
trabalho existentes, sobre o consumo sustentvel, sobre o esgotamento dos
recursos naturais e sobre as questes de incluso e excluso social.
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Anlise da Pegada Ecolgica
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14. Anlise da Pegada Ecolgica
A Anlise da Pegada Ecolgica consiste em uma metodologia que busca examinar como a forma de vida das pessoas deixa rastros e marcas no meio ambiente, estando diretamente ligada, portanto, aos padres de consumo
dos indivduos. No se trata de uma medida exata, mas sim de uma estimativa
que mostra at que ponto nossa forma de viver est de acordo com a capaci-
dade do planeta de oferecer e renovar seus recursos naturais e de absorver os
resduos que geramos ao longo de vrios anos.
Assim, considerando inmeros fatores, tais como o fato de a economia
global estar em choque com muitos limites naturais da Terra; de a populao
humana estar em constante crescimento, aumentando o consumo e a emis-
so de gases de efeito estufa; de as reservas de gua estarem se esgotando,
bem como o fato de quase todo o crescimento estar acontecendo nas cida-
des, que apesar de ocuparem apenas 2% da superfcie do planeta, consomem
75% dos seus recursos, necessrio que as pessoas calculem sua pegada
ecolgica, pois s assim percebero quanto suas atitudes e padres de con-
sumo podem acarretar consequncias irreversveis para o meio ambiente.
Dessa forma, a pegada ecolgica serve, tambm, como uma ferramenta
de leitura e interpretao da realidade, pela qual poderemos enxergar proble-
mas j conhecidos, como a m distribuio da renda, e construir novos cami-
nhos para solucion-los, por meio de uma distribuio mais equilibrada dos
recursos naturais, iniciada principalmente pelas atitudes de cada indivduo.
A anlise da pegada ecolgica surgiu como um instrumento adicional de
avaliao ambiental integrada, sendo perfeitamente aplicvel ao objeto do pre-
sente estudo, permitindo estabelecer, de forma quantitativa, um diagnstico dos
resultados das atividades humanas, assim como os custos relativos s apropria-
es de reas naturais para a manuteno dos padres de produo e consumo.
Considerando, portanto, o total de reas que podem ser consideradas
produtivas na superfcie terrestre, possvel imaginar, num primeiro momen-
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7914. AnlIsE dA PEGAdA EColGICA
to, que os seres humanos poderiam dispor de, aproximadamente, 9 bilhes de
hectares para desenvolver suas atividades. Excluindo-se desse total as reas
destinadas preservao, intentando a promoo do suporte vida (reservas
de biodiversidade, regulao do clima, estocagem de carbono, etc.), restam
apenas cerca de 7,4 bilhes de hectares de terras disponveis para o uso
humano.
Ocorre que essas reas disponveis por habitante vm diminuindo de
forma assustadora desde o sculo passado, quadro que se agravou espe-
cialmente nas ltimas dcadas. Assim, atualmente, cada habitante da Terra
dispe de, aproximadamente, 1,5 ha, de forma que estamos enfrentando um
desafio relativamente capacidade de sustentao dos ecossistemas perante
as atividades econmicas e o consumo de materiais.
O pice dessa crise pode ser vislumbrado, como j dito, nas cidades, onde
FigURA 31 DESPEJO DE LIxO DOMSTICO EM RIO.
Foto: Acervo SMA
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as pessoas simplesmente esquecem-se dos elos com a natureza, na medida
em que os alimentos so comprados em mercados, consumidos e seus res-
duos despejados em lixeiras, muitas vezes consideradas como sumidouros
mgicos, como se nelas acabasse o ciclo de vida dos produtos. Os dejetos
somem nos vasos sanitrios, levados por uma quantidade razovel de gua.
Ou seja, os metablitos do consumo humano simplesmente so omitidos dos
olhos da populao, com exceo dos miserveis que vivem dessas sobras.
Infelizmente, apesar dos esforos em sensibilizar os cidados para as
questes ambientais, o que se verifica so indicadores de qualidade ambiental
convergindo no sentido de que as transformaes ainda so insuficientes para
provocar uma mudana efetiva. Assim, instrumentos como a Educao Ambien-
tal, a legislao, as Unidades de Conservao, as certificaes, a avaliao de
impacto ambiental e o licenciamento ambiental, dentre outros, acabam apre-
sentando resultados tmidos, sendo necessrio, portanto, continuar a busca por
novos instrumentos, alm de aperfeioar os atualmente existentes.
FigURA 32 LIxO A CU ABERTO.
Foto: Acervo SMA
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Atitudes que Fazem a diferena
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15. Atitudes que Fazem a Diferena
O s atuais padres de produo e consumo so injustos e insustentveis, de forma que para satisfazer as necessidades de gua, matrias-primas e energia dos mais de 6 bilhes de pessoas que vivem hoje na Terra, consome-se
cerca de 20% a mais do que o planeta capaz de oferecer.
Tais fatos colocam a humanidade frente a um grande desafio, qual seja,
criar uma sociedade economicamente prspera, ecologicamente sustentvel
e socialmente justa sobre um planeta limitado. possvel vencer esse desafio
por meio de aes cotidianas, concretas e voluntrias de consumo consciente,
permitindo a qualquer pessoa contribuir para a preservao do meio ambien-
te e melhorar a qualidade de vida de todos, transformando o consumo num
verdadeiro instrumento de cidadania.
De fato, todos podemos incorporar em nossas vidas um padro de
sustentabilidade inicial e perceber que, aps alguns dias, semanas, meses
e anos, esse processo j ser um hbito. Portanto, observar a relao de
interdependncia entre o ato de consumir e o impacto desse ato sobre o
Planeta e as espcies que nele habitam, torna o consumidor um agente
de transformao do mundo, a partir da incorporao desses elementos
nas decises de compra, bem como no descarte dos resduos de produtos
e servios.
Dentre os principais problemas a serem considerados, verificam-se os
relativos ao consumo de gua e energia e disposio do lixo.
a) gUA
O consumo mundial de gua aumentou cerca de seis vezes no sculo
20, em decorrncia, principalmente, do elevado crescimento populacional e
do uso indiscriminado de gua para a irrigao e a indstria. Outro motivo
consiste na poluio dos mananciais, ligada aos despejos produzidos pelas
indstrias e agricultura, bem como pela falta de saneamento, dando subsdio
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8315. AtItudEs quE FAzEm A dIFEREnA
a previses de que, em 2050, uma em cada quatro pessoas viver num pas
com problemas de desabastecimento de gua.
Atualmente, cerca de 2,4 bilhes de pessoas vivem sem saneamento b-
sico, de forma que cada litro de esgoto produzido e no tratado capaz de
contaminar pelo menos outros 10 litros de gua limpa, causando doenas
que matam milhes de indivduos em todo o mundo. O excesso de consumo
e a poluio podem comprometer o acesso do brasileiro gua, tornando ne-
cessria a mudana nas atitudes de consumo a fim de conservar esse recurso.
b) LiXO
Diariamente, so descartadas, em mdia, 125 mil toneladas de lixo domi-
ciliar, no Brasil. Se todo esse lixo fosse colocado em caminhes e se os mes-
mos fossem enfileirados, ter-se-ia uma fila de 100 quilmetros de comprimen-
FigURA 33 LIxO.
Foto: Acervo SMA
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to. Ou seja, como se houvesse, a cada quatro dias, uma fila de caminhes
cheios de lixo indo de So Paulo at o Rio de Janeiro.
No h um sistema perfeito de disposio final para o lixo, pois tanto os
lixes e aterros quanto a incinerao e a reciclagem tm, em maior ou menor
grau, impactos ambientais. Os resduos domsticos jogados a cu aberto ou
em aterros irregulares provocam a contaminao das guas subterrneas e a
poluio do ar com gases txicos.
Por conta disso, o ideal que se evite, na origem, que o lixo seja produ-
zido, podendo o consumidor ajudar nisso recusando embalagens desneces-
srias, comprando produtos higinicos ou de beleza com refil, reaproveitando
sobras de comida e preferindo alimentos a granel, etc. quando isso no for
possvel, a sada reutilizar materiais usados, aproveitar embalagens, doar
roupas e material escolar, dentre outras aes. Por fim, existe a opo da
reciclagem. Papis, vidros, plsticos e metais, que so os principais materiais
reciclveis, representam cerca de 38% do peso total dos resduos gerados e
sua coleta mobiliza, atualmente, mais de 200 mil pessoas no Brasil. Entretan-
to, apenas 135 cidades no pas tm sistemas organizados de coleta seletiva,
que recolhem o lixo reciclvel de casa em casa. possvel contribuir para a
reduo dos impactos provocados pelo lixo mudando as atitudes de consumo.
c) ENERgiA
Para manter o ritmo de vida dos cidados brasileiros, cuja rotina deman-
da a utilizao de inmeros aparelhos eletrnicos e eletrodomsticos, cada
indivduo tem de consumir o equivalente a cerca de 8 toneladas de petrleo,
por ano. A maioria das fontes de energia tem grande impacto sobre o meio
ambiente, sendo a energia solar uma das excees, por ser renovvel, no
poluir o ar nem a gua, exigir pouco espao e no produzir rudo.
J, a queima de gasolina, diesel, gs e carvo mineral tem a caracterstica
de emitir gs carbnico e monxido de carbono, que causam uma srie de
problemas respiratrios populao. A queima de combustveis fsseis tam-
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8515. AtItudEs quE FAzEm A dIFEREnA
bm colabora para o aquecimento da Terra (aquecimento global), de forma
que, se carros e indstrias continuarem queimando combustveis provenien-
tes de petrleo e carvo, no ritmo atual, a temperatura mdia do planeta
poder aumentar em at 5C, nos prximos 50 anos.
Sendo o Brasil um pas ensolarado e detentor de bacias hidrogrficas
privilegiadas, possui boas condies de substituir o petrleo por fontes re-
novveis de energia, como a biomassa e a hidroeletricidade. A energia das
hidreltricas praticamente no emite poluentes no ar, mas exige a inundao
de reas imensas, tornando necessria a expulso de algumas populaes,
alm de inutilizar reas que poderiam ser plantadas.
Conclui-se, portanto, que a maioria dos problemas a serem solucionados
de imediato, em razo de sua gravidade, podem ser combatidos com mudan-
as simples nos atos cotidianos das pessoas. Como exemplos de atitudes que
fazem a diferena, temos:
Fechar a torneira ao escovar os dentes Cada vez que sete pes-
soas fecharem a torneira ao escovar os dentes, haver uma economia de,
aproximadamente, 122 litros de gua tratada, o que suficiente para atender
s necessidades dirias de uma criana.
Foto: Cleo Velleda / Imprensa Oficial SP
FigURA 34 TORNEIRA COM FECHAMENTO AUTOMTICO: ECONOMIA DE GUA.
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CAdERno dE EduCAo AmBIEntAl CONSUMO SUSteNtvel86
No usar o vaso sanitrio como lixo quando se aciona a descarga
para se livrar de algum resduo, como pontas de cigarro, por exemplo, 10 litros
de gua tratada de boa qualidade descem pelo ralo. Se 1 milho de pessoas
cortarem esse hbito, sero economizados 300 milhes de litros de gua por
ms. Esse volume equivale gua que cai nas Cataratas do Iguau a cada
quatro minutos.
No utilizar o esguicho para limpar a calada Ao varrer o quintal
ou a calada, deve-se lembrar que a cota individual de gua de cada cidado
pequena, devendo-se utilizar a vassoura e no a mangueira. Cada vez que
isso feito, economiza-se, em mdia, 280 litros de gua, o suficiente para
encher meia caixa dgua domstica.
Eliminar vazamentos Grande quantidade de gua desperdiada
no Brasil em vazamentos. Assim, se um cano tiver, por exemplo, um buraco de
apenas 2 milmetros, o vazamento de gua, ao longo de um ano, ser de cerca
de 1,15 milho de litros. Se essa perda for eliminada em 5 mil residncias,
ser poupada gua suficiente para abastecer todos os 36 milhes de habitan-
tes do Estado de So Paulo durante um dia.
Foto: Fernandes Dias Pereira / Imprensa Oficial SP
FigURA 35 VERIFICACO DE HIDRMETRO.
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8715. AtItudEs quE FAzEm A dIFEREnA
Recusar embalagens desnecessrias O Brasil recicla, em mdia,
17,5% do plstico rgido. O restante acaba no lixo, onde demora mais de
400 anos para se degradar. Se depositado a cu aberto, que o que aconte-
ce com 30% do lixo produzido no pas, dificulta a compactao e prejudica
a decomposio dos materiais degradveis. Por isso, prefervel levar sua
prpria sacola quando for fazer compras. Segundo dados do