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Cadernos de Educação Ambiental CONSUMO SUSTENTÁVEL GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO SECRETARIA DO MEIO AMBIENTE COORDENADORIA DE PLANEJAMENTO AMBIENTAL 10 $

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    10

    Cadernos de Educao Ambiental

    C O N S U M OSUSTENTVEL

    GOVERNO DO ESTADO DE SO PAULOSECRETARIA DO MEIO AMBIENTE

    COORDENADORIA DE PLANEJAMENTO AMBIENTAL

    10

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  • Cadernos de Educao Ambiental

    10C O N S U M OS U S T E N TV E L

    GOVERNO DO ESTADO DE SO PAULOSECRETARIA DO MEIO AMBIENTE

    COORDENADORIA DE PLANE JAMENTO AMBIENTALS O PAU LO 2 0 1 1

    AutoraDenize Coelho Cavalcanti

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  • S24c So Paulo (Estado) Secretaria do Meio Ambiente / Coordenadoria de Planejamento Ambiental. Consumo Sustentvel. Cavalcanti, Denize Coelho. So Paulo : SMA/

    CPLA, 2011.

    104 p. : 15,5 x 22,3 cm (Cadernos de Educao Ambiental, 10)

    Bibliografia ISBN 978-85-86624-88-9

    1.Consumo 2. Sustentabilidade e Meio Ambiente I. Cavalcanti, Denize Coelho II. So Paulo (Est.) Secretaria do Meio Ambiente III. Ttulo. IV. Srie.

    CDU 349.6

    Biblioteca Centro de Referncias de Educao Ambiental

    Governo do estado de so Paulo Governador

    secretaria do Meio aMbiente Secretrio

    coordenadoria de PlanejaMento aMbiental Coordenadora

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  • Governo do estado de so Paulo Governador

    secretaria do Meio aMbiente Secretrio

    coordenadoria de PlanejaMento aMbiental Coordenadora

    Geraldo Alckmin

    Bruno Covas

    Nerea Massini

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  • 35539002_2 miolo alt.indd 4 17/6/2011 13:41:52

  • Sobre a Srie Cadernos de Educao Ambiental

    A sociedade brasileira, crescentemente preocupada com as questes ecol-

    gicas, merece ser mais bem informada sobre a agenda ambiental. Afinal, o direito

    informao pertence ao ncleo da democracia. Conhecimento poder.

    Cresce, assim, a importncia da educao ambiental. A construo do ama-

    nh exige novas atitudes da cidadania, embasadas nos ensinamentos da ecologia

    e do desenvolvimento sustentvel. Com certeza, a melhor pedagogia se aplica s

    crianas, construtoras do futuro.

    A Secretaria do Meio Ambiente do Estado de So Paulo, preocupada em

    transmitir, de forma adequada, os conhecimentos adquiridos na labuta sobre a

    agenda ambiental, cria essa inovadora srie de publicaes intitulada Cadernos

    de Educao Ambiental. A linguagem escolhida, bem como o formato apresen-

    tado, visa atingir um pblico formado principalmente por professores de ensino

    fundamental e mdio, ou seja, educadores de crianas e jovens.

    Os Cadernos de Educao Ambiental, em face da sua proposta pedaggica,

    certamente vo interessar ao pblico mais amplo, formado por tcnicos, militan-

    tes ambientalistas, comunicadores e divulgadores, interessados na temtica do

    meio ambiente. Seus ttulos pretendem ser referncias de informao, sempre

    precisas e didticas.

    Os produtores de contedo so tcnicos, especialistas, pesquisadores e

    gerentes dos rgos vinculados Secretaria Estadual do Meio Ambiente. Os

    Cadernos de Educao Ambiental representam uma proposta educadora, uma

    ferramenta facilitadora, nessa difcil caminhada rumo sociedade sustentvel.

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  • Ttulos Publicados

    As guas Subterrneas do Estado de So Paulo Ecocidado Unidades de Conservao da Natureza Biodiversidade Ecoturismo Resduos Slidos Matas Ciliares Desastres Naturais Habitao Sustentvel

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  • Rumo ao consumo sustentvel

    T rabalhar o consumo sustentvel na sociedade essencial para garantir s ge-raes futuras a sua sobrevivncia. A conservao do meio ambiente e seu uso sustentvel so objetivos da Secretaria do Meio Ambiente, porm, a sociedade tem

    um papel essencial na promoo da qualidade ambiental.

    Com a mudana de simples hbitos por parte dos mercados e dos consumidores,

    possvel melhorar significativamente o meio ambiente, seja pela destinao de re-

    sduos para a reciclagem, o uso do transporte pblico, a preferncia pela compra de

    produtos com selos verdes, entre outros. Estas aes, quando realizadas por grande

    parte da populao, promovem a melhoria da qualidade do ar, o uso racional dos

    recursos naturais, alm de gerar emprego e renda para atividades econmicas com

    manejo sustentvel.

    Esta tendncia pode ser verificada, ainda que de forma tmida, em diversos

    segmentos da sociedade.

    A comunicao tem um papel essencial durante este processo. Somente com

    informaes qualificadas, o consumidor poder realizar suas escolhas de forma cons-

    ciente e garantir assim, a transio das cadeias produtivas para uma economia verde.

    Este Caderno de Educao Ambiental vem cumprir este papel de comunicao no

    sentido de informar a sociedade sobre o Consumo Sustentvel, alm de direcion-la

    para a adoo de boas prticas.

    A Secretaria do Meio Ambiente tambm deve atuar de forma decisiva na multi-

    plicao e fomento destas boas prticas, com a instituio de polticas pblicas que

    se traduzam em mudanas significativas nos processos produtivos, diversificando a

    oferta dos produtos sustentveis disponveis pelo mercado e reduzindo o impacto

    das cadeias produtivas sobre o meio ambiente.

    Vamos juntos, governo e sociedade, expressar ao mercado a necessidade de

    mudana dos processos produtivos e garantir, assim, a qualidade ambiental e a qua-

    lidade de vida almejada por todos.

    Bruno CovasSecretrio de Estado do Meio Ambiente

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  • Sustentabilidade e consumo

    N os dias de hoje, falar em sustentabilidade remete diretamente necessidade de adequao dos padres de consumo vigentes na sociedade, na medida em que esse conceito abrange trs vertentes essenciais: a econmica, a social e a

    ambiental.

    Para muitas pessoas, a sustentabilidade corresponde apenas observncia de

    critrios ambientais, de forma que o presente trabalho tem como objetivo justamente

    demonstrar aos cidados a real amplitude do conceito e como isso diz respeito s

    formas de comportamento verificadas na rotina de todos os que habitam o planeta.

    Assim, informaes sobre tipos de comportamento, estilos de consumidores e

    impactos econmicos, sociais e ambientais decorrentes dos mesmos so dispostas

    neste Caderno de Educao Ambiental, visando estimular uma mudana na forma de

    consumir, por meio do constante aprimoramento dos critrios que devem ser levados

    em conta no momento de uma compra, seja ela realizada pelos indivduos ou pelo

    poder pblico.

    Embora a evoluo do grau de conscincia por parte dos cidados venha ocor-

    rendo de forma lenta nos ltimos anos, aes como a publicao do presente trabalho

    demonstram a preocupao do Governo de So Paulo em estimular essa evoluo

    de forma eficiente, mediante a disponibilizao de instrumentos e conceitos bsicos

    relacionados manuteno e preservao dos recursos naturais que o consumo sus-

    tentvel capaz de promover.

    Mostrar ao cidado a importncia de seu papel ao pensar globalmente e agir local-

    mente na busca pela melhoria da qualidade de vida para as presentes e futuras geraes,

    constitui um dos principais objetivos da Coordenadoria de Planejamento Ambiental, es-

    pecialmente por meio da proposio de polticas pblicas voltadas tanto para a Adminis-

    trao quanto para a sociedade em geral, nas quais a sustentabilidade corresponde a um

    item transversal que deve permear todas as reas, especialmente a educao.

    nerea MassiniCoordenadora de Planejamento Ambiental

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  • SUMRIO01.Introduo1302.OsPadresdeConsumo1903.ConsumoxConsumismo2304.TiposdeComportamento2705.GruposdeConsumidores3106.AAnlisedoCiclodeVida3507.AsComprasPblicaseoPapeldoGoverno3908.CertificaoFlorestal45 09.ProdutosOrgnicos4910.ConsumidorxEmpresas53 11.DaConscinciaPrtica6112.ReflexessobreoConsumo69 13.EstilosdeConsumidor73 14.AnlisedaPegadaEcolgica7715.Atitudesquefazemadiferena81

    Concluso97

    Referncias Bibliogrficas100

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  • 35539002_2 miolo alt.indd 12 17/6/2011 13:41:53

  • Introduo Introduo

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  • CAdERno dE EduCAo AmBIEntAl CONSUMO SUSteNtvel14

    1. Introduo

    V ivemos, nos dias de hoje, o que se pode chamar de Era do Consumo, na qual a importncia atribuda satisfao imediata das prprias necessi-dades e ao poder aquisitivo das pessoas atinge propores acima do razovel,

    apoiada, muitas vezes, no conceito de desenvolvimento econmico.

    Uma das principais caractersticas do chamado desenvolvimento eco-

    nmico consiste no desejo de transformar, por meio da utilizao de re-

    cursos tecnolgicos, aquilo que oferecido pela natureza em produtos a

    serem utilizados pelos indivduos, tendo por escopo a obteno de lucro

    e prazer material.

    O conceito de desenvolvimento econmico , em muitos casos, relaciona-

    do melhoria da qualidade de vida da populao, a qual, tendo maior poder

    aquisitivo, passa a comprar seu bem-estar. Assim, se pensarmos, por exem-

    plo, nas estratgias utilizadas para a comercializao de imveis, possvel

    verificar que, por trs dos anncios que expressam a expanso urbana das

    classes mais favorecidas, retratando imveis dotados de toda a infraestrutu-

    ra de lazer e comodidades possveis, omitem-se informaes sobre como os

    sistemas naturais sero sacrificados para sustentar esses empreendimentos,

    sendo necessrios cada vez mais e mais recursos para saciar a sede de con-

    sumo das pessoas que habitaro esses locais. Isso sem considerar o fato de

    que, guardadas as devidas propores, o mesmo ocorre com a expanso dos

    bairros, condomnios e favelas.

    Alm disso, verifica-se que, atualmente, os seres humanos constituem

    uma espcie majoritariamente urbana, de forma que o alcance da susten-

    tabilidade e do equilbrio entre o volume de recursos naturais e a demanda

    humana dever ser atingido basicamente no mbito das cidades.

    Ocorre que as pessoas que j nascem nas cidades no tm uma noo

    clara do processo negativo que vem ocorrendo, pois no ritmo frentico do

    ambiente urbano no costuma haver tempo para a reflexo sobre o assunto,

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  • 151. IntRoduo

    uma vez que tudo facilitado: gua disponvel nas torneiras, alimentos dis-

    ponveis nos mercados (ainda que no para todos), dentre outros elementos

    que proporcionam uma sensao de independncia e felicidade, notoriamen-

    te enfatizada pela mdia.

    Em resumo, o consumismo integrou-se ao prprio sistema de socializa-

    o entre as pessoas, qual seja, a sociedade de consumo, acarretando graves

    problemas ambientais.

    Dessa forma, a postura do consumidor, nesta primeira dcada do sculo

    21, determinar a qualidade do futuro ambiental para as prximas gera-

    es e ecossistemas. O consumismo afeta de forma significativa o sistema

    ambiental, na medida em que se apoia na posse e na explorao incontida

    de espaos e recursos finitos. Se alocarmos todos os recursos para atendi-

    mento das necessidades humanas, que tendem a ser infinitas, o colapso

    FigURA 1 AMBIENTE URBANO.

    Foto: Acervo SMA

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  • CAdERno dE EduCAo AmBIEntAl CONSUMO SUSteNtvel16

    ambiental ser inevitvel e irreversvel. Assim, para garantir o desenvol-

    vimento sustentado, ser preciso mudar a forma de atendimento dessas

    necessidades, parcial e racionalmente.

    Tal situao remete, portanto, necessidade de compatibilizar o desen-

    volvimento socioeconmico com a preservao da qualidade do meio am-

    biente e do equilbrio ecolgico, tal como previsto pela Poltica Nacional do

    Meio Ambiente, instituda pela Lei n. 6.938/81.

    A considerao desse aspecto corresponde, portanto, ao caminho para

    se atingir o chamado desenvolvimento sustentvel, sendo este conceito an-

    terior ao de consumo sustentvel, objeto do presente trabalho, definindo-se

    aquele como a explorao equilibrada dos recursos naturais, limitando-se

    satisfao das necessidades e do bem-estar da presente gerao, bem como

    sua conservao para as futuras geraes.

    O conceito de consumo sustentvel passou a ser construdo a partir do

    termo desenvolvimento sustentvel, divulgado com a Agenda 21, documento

    produzido durante a Conferncia das Naes Unidas sobre o Meio Ambiente e

    Desenvolvimento, no Rio de Janeiro, em 1992. A Agenda 21 relata quais so

    as principais aes a serem tomadas pelos governos para aliar a necessidade

    de crescimento dos pases com a manuteno do equilbrio do meio ambiente.

    Os temas principais desse documento falam justamente sobre mudanas de

    padres de consumo, manejo ambiental dos resduos slidos e saneamento e

    abordam, ainda, o fortalecimento do papel do comrcio e da indstria.

    O ato de consumir corresponde a um processo que normalmente reali-

    zado de forma automtica e, muitas vezes, impulsiva. A princpio, costuma-se

    associar o consumo ao ato de comprar, o que, apesar de correto, no abrange

    todas as etapas que permeiam o ato de consumo, pois a compra constitui

    apenas uma dessas etapas.

    Anteriormente compra propriamente dita, preciso decidir o que con-

    sumir, por que razo consumir, de que forma consumir e de quem consumir.

    Aps tais reflexes que se parte para a compra em si. Ressalte-se que o

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  • 171. IntRoduo

    processo no termina nesse momento, pois ainda ser preciso refletir sobre a

    forma de uso e o descarte daquilo que foi adquirido.

    Ademais, possvel perceber que o consumo, por se tratar de um pro-

    cesso e no de um ato isolado, est presente de forma quase integral na vida

    dos cidados, seno vejamos. Ao acordar, normalmente os indivduos tomam

    banho e escovam os dentes, o que consome gua e eletricidade, fora sabo-

    nete e pasta de dente. Em seguida, costumam tomar caf da manh, o que

    implica o consumo, por exemplo, de caf, leite, pes, frutas e mais gua (para

    o preparo de bebidas e para lavar a loua) e eletricidade.

    Ao sair para o trabalho, consome-se combustvel, seja do carro, da mo-

    tocicleta, do nibus, ou ainda, energia eltrica, no caso do metr. A menos,

    claro, que se opte por andar a p ou de bicicleta. J no ambiente de trabalho,

    FigURA 2 LADEIRA PORTO GERAL, PRxIMO RUA 25 DE MARO, SO PAULO.

    Foto: Miguel Schincariol/Banco de Imagens SP

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  • CAdERno dE EduCAo AmBIEntAl CONSUMO SUSteNtvel18

    mais consumo: eletricidade, gua, papel, etc. Isso demonstra, inclusive, que

    no preciso despender dinheiro de forma imediata para consumir.

    O conceito de consumo sustentvel, portanto, diz respeito compre-

    enso por parte dos indivduos, na posio de cidados consumidores, dos

    impactos e das consequncias de seu consumo sobre o meio ambiente, o

    respeito qualidade de vida individual e coletiva e o desenvolvimento justo

    da sociedade. Traduz-se, assim, pela conscincia em fazer do ato de compra

    um ato de cidadania, por meio da escolha de produtos, servios e empresas

    que colaborem para uma condio de vida ambientalmente adequada e

    socialmente justa.

    Pode-se definir o consumidor consciente, seja este indivduo, empresa,

    entidade social ou governo, como aquele que, por seus valores e atitudes,

    busca contribuir para um mundo melhor, por meio de escolhas conscientes

    no momento de consumir produtos, servios e recursos naturais, valorizan-

    do empresas que procuram ser socialmente responsveis, preocupando-se

    com o impacto da produo e do consumo sobre o meio ambiente, buscan-

    do a melhor relao entre preo, qualidade e atitude social em produtos

    e servios oferecidos no mercado, atuando junto s empresas para que as

    mesmas aprimorem seus processos de produo e suas relaes com a

    sociedade e mobilizando outros consumidores para a prtica do consumo

    consciente.

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  • 2

    os padresde consumo

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  • CAdERno dE EduCAo AmBIEntAl CONSUMO SUSteNtvel20

    2. Os Padres de Consumo

    H istoricamente, a mudana nos padres de consumo pode ser verificada por meio de uma anlise sobre o papel do indivduo em seu meio, de for-ma que o amadurecimento da conscincia possibilita discernir que o poder est

    nas mos do homem comum; e o indivduo, na posio de cidado, toma para

    si tal poder, tornando-se consciente e responsvel no exerccio de seus papis.

    inegvel que nos ltimos anos tem se verificado um aumento da cons-

    cientizao das pessoas sobre os danos que o uso indiscriminado dos recursos

    naturais pode causar ao meio ambiente, levando o cidado a assumir uma pos-

    tura mais crtica em relao s suas opes de consumo, considerando carac-

    tersticas de produtos, at ento tidas como no essenciais, no processo de es-

    colha, as quais passaram a representar um fator importante no ato da compra.

    Entretanto, embora tenha havido um aumento na conscincia ambiental

    das pessoas, ainda no se verificou uma mudana efetiva nos padres de con-

    sumo dos cidados, na medida em que a informao, por si s, no o sufi-

    ciente para mudar hbitos arraigados. Assim, as pessoas j sabem, por exemplo,

    dos benefcios da reciclagem, da existncia de uma economia do lixo, etc., o

    que no impede que as cidades continuem sujas, que as pessoas continuem a

    jogar lixo em locais inapropriados e a gerar quantidades absurdas de resduos.

    FigURA 3 LIxO A CU ABERTO.

    Foto: Acervo SMA

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  • 212. os PAdREs dE Consumo

    Atualmente, os 500 milhes de pessoas mais ricas do mundo, cerca de

    7% da populao, so responsveis por 50% das emisses de gases de efeito

    estufa, enquanto os 3 bilhes de pessoas mais pobres emitem apenas 6%.

    Diante desses dados, possvel constatar que, sem uma mudana cultural

    que coloque valores sustentveis acima do consumismo, nenhuma revoluo

    tecnolgica ou poltica pblica sero capazes de resgatar a humanidade de

    problemas graves climticos, sociais e ambientais.

    Em 2006, a humanidade consumiu algo em torno de US$ 30 trilhes em

    mercadorias e servios, cerca de 28% a mais do que se consumiu h dez anos,

    o que levou a um aumento considervel da extrao de recursos naturais para

    atender a essa demanda.

    Os norte-americanos, por exemplo, consomem aproximadamente 88 kg

    de recursos por dia. Se todos vivessem dessa forma, a Terra s poderia susten-

    tar um quinto da populao mundial, ou seja, 1,4 bilho de pessoas.

    FigURA 4 EMISSES INDUSTRIAIS.

    Foto: Acervo SMA

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  • CAdERno dE EduCAo AmBIEntAl CONSUMO SUSteNtvel22

    Apesar dessa constatao, no se pode desconsiderar o fato positivo

    de que o aumento progressivo da conscincia da populao em relao

    necessidade de adotar padres mais responsveis de utilizao dos recur-

    sos naturais ter consequncias virtuosas, principalmente a mdio e lon-

    go prazo, com a modificao de comportamentos e hbitos de consumo.

    Referidas mudanas vm sendo estimuladas, inclusive, pela mdia que tem

    dado importncia ao tema em razo das previses negativas decorrentes do

    aquecimento global.

    Ressalte-se, ainda, que um consumo nunca 100% sustentvel, pois

    a sustentabilidade um conceito complexo e deve ser buscada em toda a

    cadeia produtiva. Dificilmente um produto ou servio inteiramente sustent-

    vel, at mesmo porque ainda vivemos na era dos combustveis fsseis. Porm,

    o consumo consciente, por enquanto praticado apenas por uma pequena par-

    cela da populao, geralmente urbana e bem posicionada economicamente,

    crescente e j viabiliza uma srie de negcios, estruturando mercados que

    no existiam h 15, 20 anos, como, por exemplo, o de alimentos orgnicos,

    equipamentos ecoeficientes e biocombustveis.

    Dessa forma, as empresas vm sofrendo uma revoluo em suas pr-

    ticas e processos de produo, o que mais sentido, entretanto, em uma

    pequena elite preocupada com as novas tendncias do mercado e com

    viso de longo prazo.

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  • Consumo X Consumismo

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  • CAdERno dE EduCAo AmBIEntAl CONSUMO SUSteNtvel24

    3. Consumo X Consumismo

    A problemtica relativa ao consumo torna necessrio distinguir entre o que consumo e o que consumismo, ou seja, qual a diferena entre consumir o bsico, de forma consciente, e consumir de forma excessiva ou intil.

    Referida distino diz respeito nossa atual situao: vivemos em um

    mundo capitalista e globalizado, no qual a sociedade de massa v no con-

    sumo um aspecto altamente positivo, por entender que se trata de um po-

    tencial indicador econmico e social. A questo, portanto, est diretamente

    relacionada cultura da sociedade, de forma que os cidados so induzidos,

    especialmente por fora da mdia, a acharem que precisam de determina-

    dos bens e produtos, passando a consumir o suprfluo como se fosse absolu-

    FigURA 5 CONSUMIDORAS OBSERVAM VITRINE.

    Foto: Pierre Duarte / Banco de Imagens SP

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  • 253. Consumo X ConsumIsmo

    tamente necessrio, acarretando a mudana de sua condio: de consumidor

    torna-se consumista. Trata-se, assim, de um processo relacionado aos hbitos

    e atitudes individuais que, em uma sociedade, terminam por gerar impactos

    das mais diversas naturezas.

    Numa sociedade de consumo, como a que vivemos, o que se constata

    que, ao longo do tempo, houve um aumento significativo do real valor

    atribudo a um bem, de forma que o que antes era considerado no essencial

    tornou-se imprescindvel. A explicao mais bvia para essa mudana radical

    quanto essencialidade de um produto reside no poder de influncia da

    mdia sobre as pessoas, especialmente sobre as crianas, que as fazem pen-

    sar que no podem viver felizes se no puderem consumir aquilo que lhes

    apresentado como essencial.

    FigURA 6 EDUCAO PARA O CONSUMO.

    Foto: Acervo SMA

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  • CAdERno dE EduCAo AmBIEntAl CONSUMO SUSteNtvel26

    Diante do poder de persuaso das mdias e dos mecanismos de publici-

    dade existentes, cabe ao poder pblico atuar de forma reguladora, a fim de

    viabilizar uma mudana nos padres de produo e consumo atuais, por meio

    da adoo de medidas como: aumento da carga tributria sobre atividades

    ambientalmente danosas; reduo de subsdios para padres de produo

    insustentveis; motivao da mdia e de setores de marketing para modela-

    rem padres de consumo sustentvel; melhoria da qualidade da informao

    relativa a impactos ambientais dos produtos e servios e incentivo ao desen-

    volvimento industrial com utilizao de tecnologias limpas.

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  • tipos de Comportamento

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  • CAdERno dE EduCAo AmBIEntAl CONSUMO SUSteNtvel28

    4. Tipos de Comportamento

    Segundo pesquisas do Instituto Akatu entidade promotora do consumo

    consciente ligada ao Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social

    sobre os perfis dos consumidores, entre os comportamentos que os indivduos

    declaram adotar e as razes que os levam a pratic-los, possvel verificar os

    graus de preocupao com a coletividade expressos por eles, de acordo com

    o estgio de conscincia em que se encontram. Tais comportamentos podem

    ser classificados, conforme os efeitos que provocam, da seguinte forma:

    a) Comportamentos de EFICINCIA: sua adoo resulta em benefcios

    diretos e de curto prazo para o consumidor, evitando o desperdcio e gerando

    melhor aproveitamento de produtos e servios. Dentre os comportamentos a

    serem considerados nesta classificao, pode-se mencionar:

    Evitar deixar lmpadas acesas em ambientes desocupados;

    Fechar a torneira enquanto escova os dentes;

    Desligar aparelhos eletrnicos quando no esto em uso;

    No guardar alimentos quentes

    na geladeira;

    Utilizar o verso de folhas de papel

    j utilizadas.

    b) Comportamentos de REFLExO:

    sua adoo resulta em benefcios a m-

    dio prazo para o consumidor, estando

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    FigURA 7 FECHAR A TORNEIRA ENqUANTO ESCOVA OS DENTES E FAz A BARBA.

    35539002_2 miolo alt.indd 28 17/6/2011 13:42:10

  • 294. tIPos dE ComPoRtAmEnto

    associados reflexo sobre suas prticas de consumo. Como exemplos des-

    ses comportamentos, temos:

    Planejar a compra de alimentos, evitando o desperdcio;

    Pedir nota fiscal ao fazer compras, garantindo o cumprimento da lei por

    parte das empresas;

    Planejar a compra de roupas, considerando apenas o que for necessrio

    Ler o rtulo atentamente antes de decidir a compra;

    Apresentar queixa a algum rgo de defesa do consumidor em caso

    de dano.

    c) Comportamentos de SOLIDARIEDADE: sua adoo, ainda que no pro-

    porcione benefcios diretos ou imediatos a quem os pratica, acarreta efeitos

    Foto: Acervo SMA

    FigURA 8 LATAS DE LIxO PARA RECICLAGEM.

    35539002_2 miolo alt.indd 29 17/6/2011 13:42:11

  • CAdERno dE EduCAo AmBIEntAl CONSUMO SUSteNtvel30

    positivos a longo prazo coletividade e s futuras geraes. Refletem, assim,

    uma viso de mundo mais voltada para a sustentabilidade, podendo-se men-

    cionar, dentre outros:

    Separar o lixo para reciclagem;

    Comprar periodicamente produtos feitos com material reciclado;

    Comprar produtos orgnicos de forma habitual.

    FigURA 9 HORTA.

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  • Grupos de Consumidores

    535539002_2 miolo alt.indd 31 17/6/2011 13:42:12

  • CAdERno dE EduCAo AmBIEntAl CONSUMO SUSteNtvel32

    5. Grupos de Consumidores

    D entre os tipos de consumidores a serem considerados no contexto do consumo sustentvel, possvel classific-los, de acordo com seu grau de conscientizao, em consumidores Indiferentes, Iniciantes, Compro-

    metidos e Conscientes.

    O grupo Indiferentes constitui o ponto de partida do ranking e so

    aqueles consumidores que adotam o menor nmero de comportamentos

    conscientes, com menor frequncia, fazendo-o com uma viso de curto prazo

    e mais voltados para seu prprio bem-estar.

    Os Iniciantes e Comprometidos refletem estgios intermedirios

    e expressam a evoluo da conscincia relativa ao consumo. J, o grupo

    FigURA 10 RUA JOS PAULINO, SO PAULO, SP.

    Foto: Rubens Chiri / Banco de Imagem Governo SP

    35539002_2 miolo alt.indd 32 17/6/2011 13:42:16

  • 335. GRuPos dE ConsumIdoREs

    Conscientes o que adota maior nmero de comportamentos conside-

    rados ideais e os exerce com maior habitualidade. Demonstram, tambm,

    maior preocupao com questes como a sustentabilidade e a preservao

    do meio ambiente. Suas aes buscam solucionar problemas a curto, mdio

    e longo prazos.

    Normalmente, o que se verifica que os grupos Indiferentes e Cons-

    cientes so os menores e expressam comportamentos antagnicos. Alm

    disso, o grupo Indiferentes costuma ser mais jovem e mais pobre, alm

    de individualista, enquanto o grupo Conscientes mais velho, com maior

    poder aquisitivo e tende a se preocupar mais com o futuro. J, a maioria dos

    consumidores encontra-se nas classificaes Iniciantes e Comprometidos.

    O grupo Conscientes demonstra, assim, preocupaes que vo alm

    FigURA 11 ELETRODOMSTICO COM SELO PROCEL.

    Foto: Acervo SMA

    35539002_2 miolo alt.indd 33 17/6/2011 13:42:17

  • CAdERno dE EduCAo AmBIEntAl CONSUMO SUSteNtvel34

    do ato individual de consumir e representa o nvel mais avanado da socieda-

    de em termos de conscincia no consumo. Referidos consumidores percebem

    os impactos que essas aes exercem no meio ambiente, a mdio e longo

    prazos, adotando medidas no intuito de minimizar esses impactos.

    Um dos comportamentos mais consolidados nesse grupo o uso racio-

    nal da energia, o que provavelmente veio como consequncia do apago,

    quando foi institudo o racionamento de energia eltrica. Nessa poca, vieram

    tona as deficincias do Brasil em razo da falta de investimentos no setor,

    noticiando a imprensa em larga escala que o uso indiscriminado dos recursos

    naturais colocava a escassez de gua e energia como problemas contempo-

    rneos com grande tendncia a se agravarem.

    Tal fato acabou introduzindo novos hbitos na vida da populao, de

    forma que banhos demorados, uso incorreto de eletrodomsticos, manter o

    ferro eltrico ligado alm do tempo necessrio e outras formas de desperdcio

    foram combatidos nos domiclios e nas empresas, por meio da disseminao

    de comportamentos que acarretavam, alm do uso racional, a diminuio das

    contas de luz.

    Se, por um lado, economizar gua e energia corresponde a um comporta-

    mento adotado por boa parte da populao, a compra de produtos reciclados

    e orgnicos, por exemplo, um comportamento ainda restrito a uma minoria,

    qual seja, os consumidores classificados como Conscientes. Tal se deve, em

    parte, ao custo desses produtos, que so, em geral, mais caros que os tradi-

    cionais, cabendo estabelecer, portanto, uma relao com o poder aquisitivo

    dos consumidores.

    35539002_2 miolo alt.indd 34 17/6/2011 13:42:17

  • A Anlise do Ciclo de Vida

    635539002_2 miolo alt.indd 35 17/6/2011 13:42:17

  • CAdERno dE EduCAo AmBIEntAl CONSUMO SUSteNtvel36

    6. A Anlise do Ciclo de Vida

    U ma das formas mais indicadas para se escolher adequadamente um produto consiste na anlise de seu ciclo de vida, mais conhecido como anlise do bero ao tmulo, ou seja, desde a extrao da matria-prima at

    o descarte final, pois por meio desse mecanismo possvel verificar, de forma

    global, quais os impactos ambientais do produto a ser consumido. A partir de

    referida anlise, o consumidor adquire a capacidade de considerar os critrios

    de sustentabilidade no momento de sua compra.

    Ocorre que a anlise do ciclo de vida de um produto, em razo de sua

    alta complexidade, tem aplicao ainda deficiente no mercado nacional, de

    forma que os consumidores no tm acesso a todas as informaes relativas

    aos impactos ambientais dos produtos que consomem, dificultando a escolha

    dentre as alternativas disponibilizadas no mercado.

    O que se vislumbra, alis, justamente o contrrio: a maioria das pro-

    pagandas mostra apenas o lado positivo do produto e normalmente o faz

    FigURA 12 RECICLAGEM DE GARRAFAS PET.

    Foto: Divulgao

    35539002_2 miolo alt.indd 36 17/6/2011 13:42:18

  • 376. A AnlIsE do CIClo dE VIdA

    de forma suficiente para fazer com que o consumidor assimile tal produto

    como algo excelente e necessrio para seu bem-estar, ignorando os possveis

    efeitos adversos que aquele bem pode acarretar coletividade e ao meio

    ambiente.

    Diante da dificuldade de verificao de todas as etapas inerentes

    vida de um produto, resta ao consumidor buscar, por iniciativa prpria,

    informaes bsicas a respeito do mesmo, tais como, matria-prima, con-

    sumo de gua e energia decorrentes de sua utilizao, possibilidade de

    reaproveitamento e/ou reciclagem, dentre outros aspectos que permitam

    caracterizar minimamente um produto como sustentvel entre as opes

    disponveis no mercado.

    Alm disso, necessria a atuao conjunta entre Estado e sociedade

    para a mudana do paradigma relativo ao consumo, por meio de um processo

    FigURA 13 POLUIO INDUSTRIAL.

    Foto: Acervo SMA

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  • CAdERno dE EduCAo AmBIEntAl CONSUMO SUSteNtvel38

    educacional eficiente e por uma atuao mais firme por parte do poder pbli-

    co relativamente regulao da publicidade, a fim de que sejam mostrados

    ao consumidor no apenas os aspectos positivos, mas tambm os negativos,

    como o mecanismo aplicado publicidade de bebidas alcolicas, por exem-

    plo, que vem obrigatoriamente acompanhada de advertncias sobre os as-

    pectos negativos do lcool. Dessa forma, o acesso informao e a influncia

    do pblico nas decises dos produtores, por meio de seu poder de compra,

    constituem elementos fundamentais para a promoo do desenvolvimento

    sustentvel.

    35539002_2 miolo alt.indd 38 17/6/2011 13:42:18

  • 7

    As Compras Pblicas e o Papel do Governo

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  • CAdERno dE EduCAo AmBIEntAl CONSUMO SUSteNtvel40

    7. As Compras Pblicas e o Papel do Governo

    T odos os anos, os governos federal, estaduais e municipais consomem grande parte dos recursos do oramento na compra de produtos e na contratao de servios, movimentando bilhes de reais, que atingem um por-

    centual considervel do Produto Interno Bruto do Pas, afetando diretamente

    importantes setores da economia. Dados da OCDE Organizao para a Coo-

    perao e Desenvolvimento Econmico apontam que, em pases desenvolvidos,

    cerca de 10% do PIB gasto anualmente em compras e contrataes pblicas.

    Nos pases em desenvolvimento, dentre os quais o Brasil, esse porcentual atinge

    at 30%, demonstrando, portanto, a enorme influncia do Estado como agente

    econmico, podendo impactar positivamente a economia e estimulando neg-

    cios responsveis sob o ponto de vista socioambiental.

    Assim, mediante a aprovao de polticas pblicas, construdas coletiva-

    mente, com a participao de todos os atores envolvidos, os governos devem

    comear a fazer compras mais responsveis, lanando editais de licitao

    para a compra de produtos sustentveis, tais como: merenda orgnica, mo-

    bilirio proveniente de manejo florestal sustentvel com cadeia de custdia

    legalizada, carros que utilizem combustveis menos poluentes, equipamentos

    de informtica eficientes do ponto de vista energtico, lmpadas menos po-

    luentes e mais eficientes, etc.

    A partir do momento em que os gastos governamentais passarem a ser

    direcionados aquisio de bens e servios considerados sustentveis, verifi-

    car-se- uma mudana gradual nos padres de consumo da sociedade como

    um todo, que contribuir para a inovao do mercado fornecedor, por meio

    da criao e comercializao de novas alternativas de produtos relativamente

    s j existentes, considerando critrios sociais e ambientais a serem adotados

    na fabricao dos bens e na prestao de servios.

    Em pases desenvolvidos e em algumas cidades do Brasil, j possvel

    vislumbrar as consequncias decorrentes da implementao do conceito de

    35539002_2 miolo alt.indd 40 17/6/2011 13:42:18

  • 417. As ComPRAs PBlICAs E o PAPEl do GoVERno

    compras sustentveis, privilegiando-se os fornecedores comprometidos com

    o uso racional dos recursos naturais, pressionando as outras empresas a se

    adaptarem aos padres de responsabilidade socioambiental sob pena de per-

    derem sua competitividade no mercado.

    O Estado de So Paulo, por exemplo, vem buscando, por meio de mu-

    danas na legislao e de parcerias com os municpios, a implementao da

    sustentabilidade em suas compras e contrataes. Dentre as normas apli-

    cveis s licitaes, h o Decreto n. 50.170/2005, que instituiu o Selo de

    Responsabilidade Socioambiental, a ser concedido a determinados materiais

    e servios que atenderem aos critrios socioambientais previstos no citado

    diploma legal, como economia no consumo de gua, no caso de torneiras de

    fechamento automtico, economia no consumo de energia, no caso de apare-

    lhos e eletrodomsticos que contenham Selo Procel, dentre outros exemplos.

    FigURA 14 OPERAO DE FISCALIzAO DO PROJETO SO PAULO AMIGO DA AMAzNIA.

    Foto: Acervo SMA

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  • CAdERno dE EduCAo AmBIEntAl CONSUMO SUSteNtvel42

    FigURA 15 SELO DE RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL.

    Foi publicado, ainda, o Decreto Estadual n. 53.336/2008, que criou o

    Programa Estadual de Contrataes Pblicas Sustentveis. Referido Pro-

    grama vem sendo implementado gradativamente no Estado de So Paulo,

    por meio da capacitao de servidores envolvidos nos processos de compras e

    contrataes dos rgos e entidades governamentais, indicando-se aos mes-

    mos os caminhos a serem observados para a implementao da sustentabi-

    lidade nos processos de aquisio de bens e contratao de servios, com a

    incluso de critrios socioambientais nos editais.

    Dentre as aes previstas no mbito do Programa est a elaborao, pe-

    los rgos e entidades integrantes da Administrao Estadual, de Relatrios

    de Sustentabilidade, com foco em compras e contrataes, por meio dos quais

    ser possvel identificar as instituies que j internalizaram a questo da sus-

    tentabilidade, bem como aquelas que precisam melhorar seu desempenho.

    Observam-se, ainda, outras iniciativas visando introduo de critrios

    socioambientais nas aquisies e contrataes realizadas pelo Estado, como

    o dilogo junto ao setor produtivo, a fim de promover a inovao das opes

    colocadas disposio no mercado, aumentando-se o nmero de alternativas

    35539002_2 miolo alt.indd 42 17/6/2011 13:42:20

  • 437. As ComPRAs PBlICAs E o PAPEl do GoVERno

    sustentveis passveis de serem adquiridas ou contratadas pelo Poder Pblico,

    com preos competitivos em relao s alternativas comuns.

    Cabe ressaltar o fomento ao atendimento de critrios quanto com-

    provao da legalidade da origem de produtos como a madeira nativa uti-

    lizada em obras pblicas, nos termos do que dispe o Decreto Estadual n.

    53.047/2008, que criou o Cadastro Estadual das Pessoas Jurdicas que co-

    mercializam, no Estado de So Paulo, produtos e subprodutos de origem na-

    tiva da flora brasileira CADMADEIRA.

    FigURA 16 FACHADA DA SECRETARIA DO MEIO AMBIENTE.

    Alm disso, a Poltica Estadual de Mudanas Climticas, instituda pela

    Lei Estadual n. 13.798/2009, e a Poltica Nacional de Resduos Slidos

    Lei Federal n. 12.305/2010 apresentam diversos dispositivos relativos s

    compras pblicas sustentveis, com o objetivo de promover a reduo das

    emisses de gases de efeito estufa e do volume de resduos inerentes aos

    bens e servios consumidos pela Administrao.

    Foto: Acervo SMA

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  • 35539002_2 miolo alt.indd 44 17/6/2011 13:42:22

  • Certificao Florestal

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  • CAdERno dE EduCAo AmBIEntAl CONSUMO SUSteNtvel46

    8. Certificao Florestal

    N os dias de hoje, cerca de um tero dos cidados brasileiros demonstra uma preocupao mnima relativamente aos impactos socioambientais decorrentes de seus atos de consumo, apresentando, inclusive, certa predispo-

    sio a dar preferncia a produtos mais sustentveis, conforme revelam pesqui-

    sas do Instituto Akatu. O que se verifica, entretanto, que entre a boa inteno

    e a prtica efetiva do consumo consciente existe uma barreira a ser transposta,

    a qual diz respeito correta identificao dos produtos considerados sustent-

    veis, em virtude da profuso de selos, certificados e peas publicitrias tratando

    do tema da sustentabilidade.

    Referido excesso de informaes pode, ironicamente, deixar o consumidor

    confuso, iludido ou informado de maneira inadequada. Nesse contexto, os cha-

    mados selos verdes, cujo escopo consiste em certificar e atestar determina-

    das caractersticas socioambientais verificadas em produtos e empresas, consti-

    tuem uma importante ferramenta para orientar as escolhas dos consumidores.

    No Brasil, o movimento da certificao voluntria, com base em critrios e dife-

    renciais ambientais, teve incio na dcada de 1990, especialmente com os alimentos

    orgnicos. A necessidade de adequao aos critrios estabelecidos pelo mercado

    internacional foi o ponto crucial para a evoluo dos processos de certificao.

    A certificao florestal corresponde a uma das formas de identificar um

    produto como sustentvel e consiste num mecanismo voluntrio por meio

    do qual as empresas buscam a valorizao do contedo ambiental de seus

    produtos, visando maior competitividade no mercado da sustentabilidade,

    atualmente em franca expanso.

    Assim, a certificao florestal garante que os produtos so originrios

    de florestas manejadas de maneira ambientalmente adequada, socialmente

    benfica e economicamente vivel, tendo como benefcios principais a contri-

    buio para a conservao da biodiversidade e seus valores associados (gua,

    solo, paisagens e ecossistemas) e a promoo do respeito aos direitos dos tra-

    35539002_2 miolo alt.indd 46 17/6/2011 13:42:22

  • 478. CERtIFICAo FloREstAl

    balhadores, povos indgenas e comunidades locais, alm de gerar vantagem

    competitiva e melhorar a imagem pblica da empresa.

    Referido mecanismo, aliado disposio do consumidor em adquirir

    produtos florestais de origem comprovadamente sustentvel, constitui uma

    forma mais fcil e barata de internalizar os custos ambientais do benefcio, se

    comparada a um controle regulatrio por parte do poder pblico.

    Temos como exemplo de mecanismo de certificao florestal o FSC (Fo-

    rest Stewardship Council), organizao no governamental independente e

    sem fins lucrativos, fundada em 1993, cujos membros atuam como represen-

    tantes de organizaes sociais e ambientais de comrcio de madeira e produ-

    tos florestais, de povos indgenas, organizaes comunitrias e certificadoras

    de produtos florestais de diversas partes do mundo.

    FigURA 17 ESTAO ExPERIMENTAL DE CINCIAS FLORESTAIS, ITATINGA, SP.

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  • CAdERno dE EduCAo AmBIEntAl CONSUMO SUSteNtvel48

    O FSC, controlador do principal selo voltado para produtos florestais,

    responsvel por mais de um tero das florestas certificadas, naturais ou plan-

    tadas, em todo o mundo. No Brasil, o FSC, estabelecido apenas em 2002, cer-

    tifica uma produo voltada quase em sua totalidade para exportao. Assim,

    a certificao da madeira e do papel brasileiros, por exemplo, foi fundamental

    para garantir o acesso ao mercado internacional.

    O Conselho Brasileiro de Manejo Florestal a organizao que represen-

    ta o FSC no Brasil, tendo como objetivo principal a promoo do manejo e

    da certificao florestal no pas. Dessa forma, atua coordenando o desenvol-

    vimento de padres de certificao nacionais e regionais de manejo florestal,

    consultas junto s operaes florestais certificadas no Brasil e como agente

    nominal da marca FSC, emitindo a licena numerada que autoriza a aplicao

    da mesma no produto.

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  • Produtos orgnicos

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  • CAdERno dE EduCAo AmBIEntAl CONSUMO SUSteNtvel50

    9. Produtos Orgnicos

    A agricultura e pecuria orgnicas encontram-se atualmente em franca expanso no Brasil, utilizando sistemas de produo mais equilibrados, com alternativas naturais para a nutrio e controle de doenas em animais.

    Assim, ao optar por carnes ou aves orgnicas, por exemplo, o consumidor, alm

    de aproveitar os benefcios de um alimento livre de agrotxicos e hormnios

    sintticos, tambm proporciona qualidade de vida aos animais.

    Pela anlise das caractersticas da agricultura convencional (uso de agro-

    txicos, adubos, impregnao de resduos qumicos nos alimentos, alterao

    de seu sabor, comprometimento da sade do lavrador, que manuseia os

    produtos qumicos, e do consumidor), verifica-se a negatividade de seus im-

    pactos, como a contaminao de mananciais, leitos de rios, lenis freticos,

    dentre outros.

    Foto: Fernandes Dias Pereira / Imprensa Oficial SP

    FigURA 18 HORTA.

    35539002_2 miolo alt.indd 50 17/6/2011 13:42:27

  • 519. PRodutos oRGnICos

    Tais impactos negativos so ignorados na agricultura convencional, na

    medida em que h maior preocupao com a quantidade produzida em detri-

    mento da qualidade, com a utilizao, em larga escala, de produtos qumicos

    e txicos, inseticidas, herbicidas e adubos qumicos, acarretando o empobre-

    cimento do solo e alimentos impregnados de agrotxicos.

    A agricultura orgnica, por sua vez, tem como alicerces a qualidade dos

    alimentos, a sade da terra em que os mesmos so cultivados e do prprio ser

    humano, que produz e consome esses alimentos. Prioriza, portanto, a utiliza-

    o de tcnicas naturais de combate s pragas e tcnicas manuais de comba-

    te ao mato, utilizando adubos sem processamento qumico, proporcionando

    a interao entre o ser humano e a natureza durante o processo de cultivo.

    Alm disso, a agricultura orgnica caracteriza-se pela adoo de critrios

    sociais e ambientais de produo, cabendo aos produtores atuar dentro da

    legalidade, registrando todos os seus funcionrios, bem como possuir alvar

    Foto: Fernandes Dias Pereira / Imprensa Oficial SP

    FigURA 19 PRODUO DE MARACUJ EM JACUPIRANGA, NO VALE DO RIBEIRA.

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  • CAdERno dE EduCAo AmBIEntAl CONSUMO SUSteNtvel52

    da Vigilncia Sanitria e certificao ambiental. H, ainda, a preocupao

    com a recuperao da mata ciliar e com a utilizao de estercos dos prprios

    animais, com a rotao de culturas, compostagem e controle biolgico de

    pragas e doenas, trabalhando-se em harmonia com a natureza.

    Foto: Fernandes Dias Pereira / Imprensa Oficial SP

    FigURA 20 FRUTAS.

    35539002_2 miolo alt.indd 52 17/6/2011 13:42:29

  • 10

    Consumidor X Empresas

    35539002_2 miolo alt.indd 53 17/6/2011 13:42:29

  • CAdERno dE EduCAo AmBIEntAl CONSUMO SUSteNtvel54

    10. Consumidor X Empresas

    A percepo que os consumidores tm das empresas influencia sobrema-neira seu comportamento ao consumir, determinando as razes que os estimulam a realizar uma compra ou a suspend-la, a procurar rgos de defesa

    do consumidor ou a considerar outros fatores no ato de consumo.

    Dentre as atitudes empresariais que deveriam ser adotadas a fim de es-

    timular o consumidor a adquirir seus produtos e servios e recomend-los

    a seus amigos, por exemplo, verifica-se que o fato de a empresa contratar

    pessoas com deficincia fsica, colaborar com entidades sociais, manter um

    bom servio de atendimento ao consumidor e combater o trabalho infantil

    so medidas que atraem uma parcela considervel de consumidores, ainda

    que os mesmos estejam num nvel de conscincia abaixo do esperado.

    Por outro lado, atitudes como utilizar-se de propaganda enganosa, cola-

    borar com polticos corruptos, desrespeitar o Cdigo de Defesa do Consumi-

    dor ou utilizar mo de obra infantil desestimulam drasticamente os consumi-

    dores a adquirirem os produtos e servios da empresa que as pratica.

    Alm das atitudes positivas e negativas referidas, outro fato importante a

    ser considerado so as razes que levam o consumidor a pagar mais por um

    produto, uma vez que no processo de insero de produtos ambientalmente

    amigveis no mercado, frequente constatar que os produtos considerados

    sustentveis so mais caros que sua verso comum.

    O que possvel notar relativamente a esse aspecto que a disposio

    de pagar mais cresce com o grau de conscincia do consumidor, chegando-se

    a um patamar mximo de 20% a ser despendido a mais pelo mesmo, tanto

    em razo da observncia de critrios ambientais por parte da empresa, quan-

    to pelo status que a aquisio do produto proporciona.

    O produto ecolgico capaz de despertar a conscincia ecossocial da

    comunidade e educar ambientalmente quem o produz e quem o consome. O

    Brasil o pas mais rico do mundo em matrias-primas naturais renovveis

    35539002_2 miolo alt.indd 54 17/6/2011 13:42:29

  • 5510. ConsumIdoR X EmPREsAs

    (mais de 20% da biodiversidade planetria); tem lixo em quantidade abun-

    dante e ainda pouco aproveitado (245 mil toneladas/dia), alm de milhes

    de toneladas de resduos agrcolas e industriais sem qualquer uso. Em suma,

    o pas rene todas as condies para ser um verdadeiro celeiro de ecoprodu-

    tos e materiais reciclados, gerando emprego e levando cidadania a milhes

    de pessoas, tornando-se um modelo de sustentabilidade para outras naes.

    Tecnologia, know-how e criatividade no faltam para isso.

    Com incentivos e poltica adequada, esses produtos poderiam ser ex-

    portados para mercados vidos por artigos verdes, como o europeu e o

    australiano, dentre outros. Hoje, artigos brasileiros j so exportados para a

    Europa, assim como ecoprodutos alimentcios, casos da soja e aa orgni-

    cos. Organismos governamentais divulgaram a cifra de US$ 6 bilhes anuais

    movimentados na Europa apenas com produtos orgnicos. Com uma poltica

    FigURA 21 COOPERATIVA DE RECICLAGEM.

    Foto: Acervo SMA

    35539002_2 miolo alt.indd 55 17/6/2011 13:42:30

  • CAdERno dE EduCAo AmBIEntAl CONSUMO SUSteNtvel56

    especfica para o mercado verde brasileiro, o pas poderia tornar-se um polo

    de indstrias verdes ou sustentveis, tornando-se exportador de bens de con-

    sumo, gerando divisas, emprego e renda de forma inteligente, j que seriam

    retiradas milhes de toneladas de resduos que contaminam o meio ambien-

    te, roubam espao e agridem a sade dos seres vivos.

    Se, ao invs de estimular indstrias poluentes, como a automobilstica

    movida a petrleo, que recebe milhes em incentivos de toda ordem, houves-

    se uma poltica de crdito e ICMS verde, de apoio a projetos comunitrios,

    micro e pequenos empreendimentos, o Brasil poderia contar, em pouco tem-

    po, com um parque industrial sustentvel indito, rompendo a dependncia

    tecnolgica que escraviza as naes em desenvolvimento.

    Foto: Fernandes Dias Pereira / Imprensa Oficial SP

    FigURA 22 COOPERATIVA DE ARTESANATO COM FIBRA DE BANANEIRA, REGISTRO, SP.

    35539002_2 miolo alt.indd 56 17/6/2011 13:42:31

  • 5710. ConsumIdoR X EmPREsAs

    Outra rea de imenso potencial para o crescimento de empresas com

    produtos sustentveis a de saneamento. Segundo dados do IBGE, grande

    parte dos municpios brasileiros no possui tratamento de gua e esgoto.

    Essa necessidade poderia ser atendida pelo setor privado com o fornecimento

    de miniestaes de tratamento, que, alm de resolverem um dos principais

    problemas da sade pblica no Brasil (70% das enfermidades tm origem

    em gua e esgoto no tratados), permitiriam que a gua fosse reutilizada no

    prprio local, reduzindo gastos com grandes estaes de tratamento (ETEs) e

    gerando economia para moradores e municpios; contribuindo, tambm, para

    a descontaminao de corpos dgua e lenis freticos.

    O conceito de produto ecolgico ou ecoproduto ainda representa uma

    incgnita para a maior parte dos consumidores brasileiros: como evidenciar

    que um produto realmente ecolgico ou que mais ou menos ecolgico

    do que outro?

    Foto: Fernandes Dias Pereira / Imprensa Oficial SP

    FigURA 23 TRATAMENTO DE GUA PARA REUSO.

    35539002_2 miolo alt.indd 57 17/6/2011 13:42:34

  • CAdERno dE EduCAo AmBIEntAl CONSUMO SUSteNtvel58

    Atualmente, a forma mais segura de identificao para o consumidor

    a partir dos selos verdes, j referidos anteriormente, como os que j existem

    na Unio Europeia, Japo, Estados Unidos, Austrlia e mesmo em pases vizi-

    nhos, como a Colmbia, que j conta com poltica oficial nesse sentido. O selo

    verde no apenas uma logomarca ou um rtulo com a palavra ecolgico

    na embalagem de um produto, mas o resultado de uma avaliao tcnica

    criteriosa, na qual devem ser levados em conta aspectos pertinentes ao seu

    ciclo de vida, como matrias-primas (natureza e obteno), insumos, processo

    produtivo, consumo e descarte. No Brasil, os selos verdes existentes atingem

    basicamente dois segmentos: produtos orgnicos (alimentcios) e madeira.

    A ausncia de regras claras no setor, ou melhor, a ausncia de um setor

    que pense o mercado verde leva a essas distores e criao de uma cul-

    tura duvidosa de ecoprodutos. O fato que o consumidor no obrigado a

    FigURA 24 ESTAO DE TRATAMENTO DE ESGOTO - CANTAREIRA, SP.

    Foto: Acervo SMA

    35539002_2 miolo alt.indd 58 17/6/2011 13:42:35

  • 5910. ConsumIdoR X EmPREsAs

    conhecer a verdade por si prprio. Ele no precisa ser um tcnico conhecedor

    de qumica, fsica, engenharia, arquitetura, biologia, etc. para avaliar o que

    est comprando. No entanto, ele o objetivo final do jogo de mercado. Por

    isso, para que o ecomercado possa crescer saudvel, ser fundamental que no

    Brasil surjam selos verdes como j existem em todo o mundo.

    Considerar empresas certificadas pelas normas ISO 14001 como sendo

    fabricantes de produtos ecolgicos ou como sendo elas mesmas ecolgi-

    cas por deterem essa certificao um grave equvoco e gera confuso no

    mercado. Na verdade, o selo atesta que foram implantados mecanismos de

    reduo de impactos ambientais e que existe um sistema de monitoramento

    para aperfeioar esse procedimento de forma contnua. Entretanto, no ga-

    rante que determinado produto foi desenvolvido com as melhores prticas, de

    forma que as normas ambientais vigentes no garantem que uma empresa

    no seja poluidora, mas sim que a mesma busca solues para seus resduos,

    documentando todas as aes que possam interferir no meio ambiente.

    Em suma, empreender um sistema de gesto ambiental na empresa

    diferente de ter um produto com certificado ambiental, na medida em que

    a certificao de produto pressupe a realizao de anlise do ciclo de vida

    especfico daquele bem, desde a extrao da matria-prima at o descarte

    final. Assim, a utilizao do selo ISO 14001 no produto pode induzir o con-

    sumidor a erro.

    Uma proposta de ao interessante consiste em as empresas que se ade-

    quarem a critrios socioambientais e, por conta disso, ganharem pontos junto

    ao consumidor e reduzirem custos oriundos da insalubridade no uso de mate-

    riais agressivos sade e ao meio ambiente, poderem receber incentivos fis-

    cais por parte do poder pblico ou mesmo fontes de crdito mais fcil. Outra

    opo de benefcio seria tributar menos ou no tributar produtos reciclados,

    cuja matria-prima seria tributada apenas uma vez, quando virgem.

    Adotar uma poltica favorvel ao mercado de produtos ecolgicos uma

    prova de que as necessidades do homem moderno podem ser conciliadas

    35539002_2 miolo alt.indd 59 17/6/2011 13:42:35

  • CAdERno dE EduCAo AmBIEntAl CONSUMO SUSteNtvel60

    com o uso dos recursos naturais e que a ecologia, mais do que um conceito

    ou pea de marketing, tambm um fator de cidadania.

    Cabe ressaltar, entretanto, que a certificao no algo imune a proble-

    mas, especialmente se considerarmos a velocidade da disseminao dos selos,

    nos dias de hoje, em razo da necessidade de atendimento de uma demanda

    cada vez maior por produtos sustentveis. Diante de tal situao e do cres-

    cente aumento do apelo pelo chamado consumo ecolgico, surge a se-

    guinte questo: no estaria essa busca desenfreada pelo consumo ecolgico

    enfraquecendo a mensagem de que sustentvel mesmo consumir menos?

    35539002_2 miolo alt.indd 60 17/6/2011 13:42:35

  • 11

    da Conscincia Prtica

    35539002_2 miolo alt.indd 61 17/6/2011 13:42:35

  • CAdERno dE EduCAo AmBIEntAl CONSUMO SUSteNtvel62

    11. Da Conscincia Prtica

    A prtica do consumo consciente pelo cidado pode ser efetivada em diversas oportunidades do seu cotidiano, nas diferentes escolhas feitas por ele em diferentes situaes de compras, desde a marca do sabonete at a

    quantidade de gua utilizada durante o banho, da opo entre os alimentos que

    ingere at a embalagem utilizada nos mesmos, dentre outras.

    Essa prtica deve ser executada, tambm, pelas empresas e organiza-

    es, na medida em que se constituem potenciais consumidores de recursos

    naturais, em diversas escalas.

    Assim, a possibilidade de um iminente colapso na capacidade do planeta

    de fornecer bens e servios aos seres humanos est exigindo das empresas

    FigURA 25 POLUIO NO RIO TIET EM PIRAPORA DO BOM JESUS, SP.

    Foto: Acervo SMA

    35539002_2 miolo alt.indd 62 17/6/2011 13:42:36

  • 6311. dA ConsCInCIA PRtICA

    aes que vo alm da diminuio da emisso de poluentes ou da utilizao

    de matrias-primas de forma sustentvel. Cabe, tambm, s organizaes

    promoverem a conscientizao socioambiental da comunidade onde atuam e

    da sociedade em geral. Isso porque a questo ambiental diz respeito a cada

    um de ns, no a uma ou outra empresa que desmata florestas ou polui rios.

    Nesse incio do sculo 21, a expectativa de que cerca de um tero dos

    pases do mundo sofrer com a escassez permanente de gua. Isso porque,

    desde 1950, seu consumo em todo o mundo triplicou. Para que a gua continue

    sendo potvel e suficiente para todos, a populao precisa se conscientizar da

    importncia dela para as suas vidas e mudar seus hbitos. A gua no um

    bem de consumo, portanto no deve ser tratada como tal. Na verdade, trata-se

    de um recurso natural essencial para a vida e cada vez mais ameaado.

    A maior parte da gua doce existente no mundo est concentrada em

    apenas dezenove pases. E o Brasil uma das naes privilegiadas, pois possui

    13,7% da gua doce do planeta, embora sofra com o problema de concentra-

    Foto: Divulgao

    FigURA 26 OBRAS NO RIO TIET.

    35539002_2 miolo alt.indd 63 17/6/2011 13:42:38

  • CAdERno dE EduCAo AmBIEntAl CONSUMO SUSteNtvel64

    o dos mananciais: 70% encontram-se na regio Norte. O consumo de gua

    em nosso pas divide-se da seguinte forma: 59% so destinados agricultura,

    22% para uso domstico e 19% para uso industrial.

    Uma das alternativas para regies com escassez de gua doce a

    utilizao de gua com alta concentrao de sais, como a gua salobra e

    a gua do mar. Para torn-las potveis e, portanto, apropriadas ao consu-

    mo humano, h a necessidade de proceder dessalinizao, processo que

    exige alto investimento e recursos tecnolgicos complexos para a produo

    em larga escala. Neste caso, o preo da gua para o consumidor final torna-

    se muito mais elevado, devido menor oferta e aos gastos envolvidos para

    torn-la potvel.

    O adensamento populacional, assim como a ocupao desordenada, faz

    com que o servio de distribuio de gua potvel torne-se uma tarefa de-

    safiadora para o poder pblico nas grandes cidades do Brasil. Alm disso, o

    problema no processo de urbanizao reflete diretamente na qualidade da

    gua dos mananciais que abastecem as cidades.

    J, a situao da alimentao no mundo marcada por um contrassenso:

    se, por um lado, cerca de 800 milhes de pessoas passam fome todos os dias

    devido a um sistema injusto de distribuio da produo, por outro, so pro-

    duzidas, diariamente, por pessoa, 2.805 kcal, quantidade superior necessi-

    dade de uma alimentao adequada, que de 2.350 kcal. Alm disso, existe

    um nmero crescente de pessoas que tm acesso aos alimentos e que so

    constantemente estimuladas por propagandas que visam aumentar a venda

    de produtos alimentcios.

    O resultado o consumo em excesso entre as pessoas que no tm uma

    conscincia adequada, causando a obesidade e doenas a ela associadas,

    como infarto, derrame, hipertenso e alguns tipos de cncer. Tais extremos

    desnutrio e obesidade expem uma realidade de alerta para toda a so-

    ciedade. Ambos, alm de serem um problema social crnico e que dependem

    de uma ao efetiva dos governos, esto tambm diretamente relacionados

    35539002_2 miolo alt.indd 64 17/6/2011 13:42:38

  • 6511. dA ConsCInCIA PRtICA

    com a atitude de cada cidado, no que se refere ao consumo consciente dos

    alimentos.

    A produo de alimentos vem gerando grandes impactos ao meio am-

    biente, principalmente pelo uso de insumos agrcolas altamente poluentes,

    pela devastao de grandes reas naturais para o plantio e pela extrao

    desordenada de recursos j escassos e que podem chegar extino, aes

    que no levam em conta a sustentabilidade do planeta.

    O desperdcio de alimentos, iniciado na fase de produo at chegar

    mesa do consumidor, agrava ainda mais esta situao. O Brasil um dos prin-

    cipais produtores de alimentos do planeta, mas , tambm, um dos que mais

    desperdia, em todas as etapas, desde a plantao, passando pelo transporte

    e industrializao, at o manuseio e preparo dentro de casa. Estas perdas

    tm como consequncia uma maior necessidade de produo dos alimentos

    Foto: Fernandes Dias Pereira / Imprensa Oficial SP

    FigURA 27 FEIRA EM SO PAULO.

    35539002_2 miolo alt.indd 65 17/6/2011 13:42:41

  • CAdERno dE EduCAo AmBIEntAl CONSUMO SUSteNtvel66

    e, ainda, elevao nos preos, devido chamada lei da oferta e da procura,

    aumentando os impactos ao meio ambiente e restringindo, ainda mais, o

    acesso de uma parte da populao aos alimentos por limitaes financeiras.

    Evitando o desperdcio dentro de casa, no s haver mais alimentos

    disposio no mercado, como os preos sofrero reduo e eles ficaro mais

    acessveis populao. A diminuio da demanda por alimentos far com

    que menos reas sejam cultivadas, tornando o preo do metro quadrado mais

    barato, acarretando a reduo dos preos e maior acessibilidade populao.

    Alm disso, o acesso aos alimentos permitir uma perspectiva mais digna de

    sobrevivncia para toda a populao.

    Foto: Fernandes Dias Pereira / Imprensa Oficial SP

    FigURA 28 FEIRA EM SO PAULO.

    35539002_2 miolo alt.indd 66 17/6/2011 13:42:43

  • 6711. dA ConsCInCIA PRtICA

    Dados Relativos ao Consumo

    A populao total do planeta consome 20% a mais em recursos naturais do que suportvel, ou seja, passvel de reposio. Alm disso, seriam necessrios mais quatro planetas Terra para que toda a populao mundial tivesse o mesmo padro de consumo dos norte-americanos e europeus.Fonte: Instituto Akatu e World Wildlife Fund

    Cada brasileiro gera em torno de um quilo de lixo por dia. Cerca de 65% desse total representado por lixo orgnico, formado de restos de alimentos.Fonte: Instituto Akatu e Associao Brasileira de Empresas de Limpeza Pblica e Resduos Especiais (Abrelpe).

    No Brasil, 70miltoneladas de alimentos vo para o lixo diariamente, e a cada cinco minutos, uma criana morre por problemas relativos fome, totalizando 288 crianas por dia.Fonte: Instituto Akatu

    Em nosso pas, R$ 12 bilhes em alimentos so literalmente jogados no lixo por ano. Esse valor suficiente para alimentar oito milhes de famlias, ou cerca de 30milhes de pessoas carentes por ano, com cestas bsicas de R$ 120,00.Fonte: Secretaria de Agricultura e Abastecimento de So Paulo

    Perto de 44% do que plantado se perde na produo, distribuio e comercializao: 20% na colheita, 8% no transporte e armazenamento, 15% na indstria de processamento e 1% no varejo. Com mais cerca de 20% de perdas no processamento culinrio e nos hbitos alimentares, os desperdcios totalizam 64% em toda a cadeia.Fonte: Revista Veja, edio 1749, ano 35, n 17.

    S os supermercados da cidade de So Paulo descartam perto de 13milhesdetoneladas de alimentos por ano. As feiras livres jogam no lixo mais de mil toneladas em frutas, legumes e verduras por dia.Fonte: Mesa Brasil

    Clculos da Secretaria de Agricultura e do IBGE mostram que de 20% a 30% de todos os alimentos comprados para abastecer uma casa acabam indo para o lixo.

    35539002_2 miolo alt.indd 67 17/6/2011 13:42:43

  • CAdERno dE EduCAo AmBIEntAl CONSUMO SUSteNtvel68

    Traando-se uma comparao entre a evoluo do consumo nos pases

    desenvolvidos e a ocorrida no Brasil, verifica-se que, infelizmente, o processo

    de industrializao brasileiro no conseguiu desconcentrar a riqueza, afetada

    diretamente pela herana colonialista e escravista, diferentemente do que

    ocorreu nos pases desenvolvidos que, embora afetados em alguns momentos

    por crises cclicas, apresentavam uma renda relativamente bem distribuda,

    geogrfica e socialmente.

    Assim, no Brasil, o mercado capitalista sofistica-se ao longo do tempo,

    porm sem integrar as massas, acarretando uma situao facilmente per-

    cebida nos dias de hoje: a coexistncia de luxo e pobreza extremada, que

    prejudica, e muito, a imagem do Brasil perante outros pases.

    No obstante, com a ampliao e consolidao da democracia, pressio-

    na-se o poder pblico a se diversificar nos aspectos relativos s demandas

    sociais, o que atualmente constitui papel de inmeras ONGs, cujo escopo con-

    siste justamente em acelerar a transferncia internacional de reivindicaes e

    movimentos de luta, dentre os quais, por exemplo, os de proteo mulher,

    criana e ao meio ambiente, incluindo-se a o consumo.

    Diante desse quadro, possvel chegar seguinte concluso: a renda

    precisa se desconcentrar de forma contnua e segura, de forma que as ino-

    vaes empresariais em produtos possam favorecer as camadas de menor

    poder aquisitivo, considerando-se o nus coletivo que uma poltica empresa-

    rial alheia ao impacto ambiental pode produzir, devendo ser encorajadas as

    estratgias ecologicamente sustentadas.

    35539002_2 miolo alt.indd 68 17/6/2011 13:42:43

  • 12

    Reflexes sobre o Consumo

    35539002_2 miolo alt.indd 69 17/6/2011 13:42:43

  • CAdERno dE EduCAo AmBIEntAl CONSUMO SUSteNtvel70

    12. Reflexes sobre o Consumo

    C onsiderando o fato de que vivemos num mundo em transio, o apelo e estmulo ao consumo so constantes no dia a dia dos indivduos, porm, inegvel que existem momentos determinados em que a reflexo sobre nossa

    forma de consumo vem tona de maneira crtica. A maioria desses momentos

    pode ser verificada nas ocasies em que a sociedade submete-se a um perodo

    de crise, seja esta de natureza econmica ou social, dentre outras.

    Um forte exemplo dessa realidade pode ser vislumbrado se analisarmos

    as consequncias decorrentes do ataque s torres gmeas nos Estados Uni-

    dos, em 2001. Aps a destruio das torres, o presidente veio a pblico fazer

    um apelo em nome de uma retomada do consumo, rotulando essa atitude

    como sendo altamente patritica, uma vez que a manuteno do poder de

    consumo era, naquele, momento, fundamental para o pas.

    Outro exemplo o caso da Argentina, onde os consumidores vm pas-

    sando por um processo no qual repensam seu consumo com base em valores

    nacionalistas, acreditando que pode valer mais a pena consumir um produto

    de origem local em vez de um produto importado, resultando em uma mu-

    dana efetiva nos padres de consumo da populao.

    Perodos de crise podem ser teis, portanto, para incentivar a reflexo

    das pessoas no tocante questo do consumo, cabendo ressaltar, entretanto,

    que o volume de informaes existentes, nos dias de hoje, nem sempre

    disseminado de forma ampla o suficiente para permitir uma anlise por todas

    as camadas da populao.

    Tal reflexo mostra, de pronto, a realidade de que vivemos em um plane-

    ta com recursos esgotveis e que, em algum momento, ser necessrio pensar

    nessa finitude e quais as consequncias disso para o ser humano. Alm disso,

    as pessoas comeam a pensar em sustentabilidade, tanto do consumo como

    do planeta, visando sua continuidade. Por fim, passa-se a pensar na ques-

    to dos resduos decorrentes do consumo, como as embalagens: para onde

    vo, qual o seu potencial de reciclagem e de deteriorao, etc.

    35539002_2 miolo alt.indd 70 17/6/2011 13:42:43

  • 7112. REFlEXEs soBRE o Consumo

    FigURA 30 DESPEJO INADEqUADO DE LIxO DOMSTICO.

    FigURA 29 REA CONTAMINADA COM AMIANTO.

    Foto: Acervo SMA

    Foto: Acervo SMA

    35539002_2 miolo alt.indd 71 17/6/2011 13:42:46

  • 35539002_2 miolo alt.indd 72 17/6/2011 13:42:46

  • 13

    Estilos de Consumidor

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  • CAdERno dE EduCAo AmBIEntAl CONSUMO SUSteNtvel74

    13. Estilos de Consumidor

    N o que diz respeito aos perfis de consumo existentes nos dias de hoje, possvel constatar a existncia, basicamente, de trs estilos de consumi-dores: o consumidor impulsivo (ou compulsivo), o consumidor amadurecido e

    o consumidor racional.

    O consumidor impulsivo aquele que, teoricamente, todos gostariam de

    ser: simplesmente olha, gosta e compra, tudo de forma imediata, sem qual-

    quer reflexo aprofundada sobre o ato.

    O segundo, mais amadurecido, considera sua situao financeira e deter-

    mina suas compras com certo grau de racionalidade. Assim, pode at ceder a

    algum impulso, mas habitualmente no foge sua lista de compras, demons-

    trando uma mudana em suas prioridades, de forma que, ainda que j tenha

    sido um consumidor compulsivo, passou a ser mais racional em suas compras.

    quanto ao terceiro tipo, o consumidor racional, corresponde ao consu-

    midor que planeja seu consumo, levando em conta suas reais necessidades,

    distribuindo seus recursos de maneira a conseguir o mximo possvel com um

    menor consumo.

    Analisando os trs estilos, possvel concluir que o ideal mesmo que o

    consumidor, independentemente de seu estilo, passe a consumir com respon-

    sabilidade, o que muitas vezes corresponde a um campo desconhecido para

    as pessoas. Assim, as reaes ao conceito de empresa com responsabilidade

    social podem ter sua receptividade variada, em decorrncia, por exemplo, do

    local considerado.

    S possvel verificar certa unanimidade por parte dos consumidores em

    considerar uma empresa como socialmente responsvel quando na mesma

    encontra-se implcito o respeito aos direitos do consumidor, uma vez que este

    um conceito j solidificado. quando se demonstra que a empresa social-

    mente responsvel abrange, alm do respeito aos direitos do consumidor, o

    respeito aos direitos do trabalhador, ao meio ambiente ou, ainda, o investi-

    35539002_2 miolo alt.indd 74 17/6/2011 13:42:46

  • 7513. EstIlos dE ConsumIdoR

    mento em projetos sociais, o pblico acaba por se encantar com a grandeza

    do conceito.

    Atualmente, o fator meio ambiente tem sido o que mais sensibiliza

    o consumidor, pois representa uma questo capaz de alterar seu grau de

    conscincia. J, no que diz respeito aos direitos trabalhistas, quanto mais

    alta a escala social, mais o consumidor tende a achar que o respeito a esses

    direitos no passa de obrigao das empresas; quanto mais baixa a escala

    social, mais o consumidor fica encantado com o cumprimento desses deveres,

    considerando isso como algo a ser prestigiado.

    Diante desse quadro, possvel promover um salto qualitativo nos estilos

    de consumo, por meio do estabelecimento de um dilogo com o consumidor,

    o que demanda um trabalho de pesquisa, a fim de observar o grau de com-

    preenso do pblico. O dilogo deve ser permanente, proporcionando conhe-

    cimento sobre a questo, bem como tornando pblico esse conhecimento,

    construindo-se junto com o consumidor o conceito de consumo consciente.

    Outro fator importante para viabilizar o salto qualitativo a uniformiza-

    o dos conceitos de consumo consciente e responsabilidade social, a fim de

    tornar tais conceitos familiares ao consumidor. Alm disso, necessrio um

    processo visando estimular a sociedade como um todo a refletir de forma

    efetiva sobre suas reais necessidades de consumo, sobre as condies de

    trabalho existentes, sobre o consumo sustentvel, sobre o esgotamento dos

    recursos naturais e sobre as questes de incluso e excluso social.

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  • 35539002_2 miolo alt.indd 76 17/6/2011 13:42:46

  • 14

    Anlise da Pegada Ecolgica

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  • CAdERno dE EduCAo AmBIEntAl CONSUMO SUSteNtvel78

    14. Anlise da Pegada Ecolgica

    A Anlise da Pegada Ecolgica consiste em uma metodologia que busca examinar como a forma de vida das pessoas deixa rastros e marcas no meio ambiente, estando diretamente ligada, portanto, aos padres de consumo

    dos indivduos. No se trata de uma medida exata, mas sim de uma estimativa

    que mostra at que ponto nossa forma de viver est de acordo com a capaci-

    dade do planeta de oferecer e renovar seus recursos naturais e de absorver os

    resduos que geramos ao longo de vrios anos.

    Assim, considerando inmeros fatores, tais como o fato de a economia

    global estar em choque com muitos limites naturais da Terra; de a populao

    humana estar em constante crescimento, aumentando o consumo e a emis-

    so de gases de efeito estufa; de as reservas de gua estarem se esgotando,

    bem como o fato de quase todo o crescimento estar acontecendo nas cida-

    des, que apesar de ocuparem apenas 2% da superfcie do planeta, consomem

    75% dos seus recursos, necessrio que as pessoas calculem sua pegada

    ecolgica, pois s assim percebero quanto suas atitudes e padres de con-

    sumo podem acarretar consequncias irreversveis para o meio ambiente.

    Dessa forma, a pegada ecolgica serve, tambm, como uma ferramenta

    de leitura e interpretao da realidade, pela qual poderemos enxergar proble-

    mas j conhecidos, como a m distribuio da renda, e construir novos cami-

    nhos para solucion-los, por meio de uma distribuio mais equilibrada dos

    recursos naturais, iniciada principalmente pelas atitudes de cada indivduo.

    A anlise da pegada ecolgica surgiu como um instrumento adicional de

    avaliao ambiental integrada, sendo perfeitamente aplicvel ao objeto do pre-

    sente estudo, permitindo estabelecer, de forma quantitativa, um diagnstico dos

    resultados das atividades humanas, assim como os custos relativos s apropria-

    es de reas naturais para a manuteno dos padres de produo e consumo.

    Considerando, portanto, o total de reas que podem ser consideradas

    produtivas na superfcie terrestre, possvel imaginar, num primeiro momen-

    35539002_2 miolo alt.indd 78 17/6/2011 13:42:46

  • 7914. AnlIsE dA PEGAdA EColGICA

    to, que os seres humanos poderiam dispor de, aproximadamente, 9 bilhes de

    hectares para desenvolver suas atividades. Excluindo-se desse total as reas

    destinadas preservao, intentando a promoo do suporte vida (reservas

    de biodiversidade, regulao do clima, estocagem de carbono, etc.), restam

    apenas cerca de 7,4 bilhes de hectares de terras disponveis para o uso

    humano.

    Ocorre que essas reas disponveis por habitante vm diminuindo de

    forma assustadora desde o sculo passado, quadro que se agravou espe-

    cialmente nas ltimas dcadas. Assim, atualmente, cada habitante da Terra

    dispe de, aproximadamente, 1,5 ha, de forma que estamos enfrentando um

    desafio relativamente capacidade de sustentao dos ecossistemas perante

    as atividades econmicas e o consumo de materiais.

    O pice dessa crise pode ser vislumbrado, como j dito, nas cidades, onde

    FigURA 31 DESPEJO DE LIxO DOMSTICO EM RIO.

    Foto: Acervo SMA

    35539002_2 miolo alt.indd 79 17/6/2011 13:42:49

  • CAdERno dE EduCAo AmBIEntAl CONSUMO SUSteNtvel80

    as pessoas simplesmente esquecem-se dos elos com a natureza, na medida

    em que os alimentos so comprados em mercados, consumidos e seus res-

    duos despejados em lixeiras, muitas vezes consideradas como sumidouros

    mgicos, como se nelas acabasse o ciclo de vida dos produtos. Os dejetos

    somem nos vasos sanitrios, levados por uma quantidade razovel de gua.

    Ou seja, os metablitos do consumo humano simplesmente so omitidos dos

    olhos da populao, com exceo dos miserveis que vivem dessas sobras.

    Infelizmente, apesar dos esforos em sensibilizar os cidados para as

    questes ambientais, o que se verifica so indicadores de qualidade ambiental

    convergindo no sentido de que as transformaes ainda so insuficientes para

    provocar uma mudana efetiva. Assim, instrumentos como a Educao Ambien-

    tal, a legislao, as Unidades de Conservao, as certificaes, a avaliao de

    impacto ambiental e o licenciamento ambiental, dentre outros, acabam apre-

    sentando resultados tmidos, sendo necessrio, portanto, continuar a busca por

    novos instrumentos, alm de aperfeioar os atualmente existentes.

    FigURA 32 LIxO A CU ABERTO.

    Foto: Acervo SMA

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  • 15

    Atitudes que Fazem a diferena

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  • CAdERno dE EduCAo AmBIEntAl CONSUMO SUSteNtvel82

    15. Atitudes que Fazem a Diferena

    O s atuais padres de produo e consumo so injustos e insustentveis, de forma que para satisfazer as necessidades de gua, matrias-primas e energia dos mais de 6 bilhes de pessoas que vivem hoje na Terra, consome-se

    cerca de 20% a mais do que o planeta capaz de oferecer.

    Tais fatos colocam a humanidade frente a um grande desafio, qual seja,

    criar uma sociedade economicamente prspera, ecologicamente sustentvel

    e socialmente justa sobre um planeta limitado. possvel vencer esse desafio

    por meio de aes cotidianas, concretas e voluntrias de consumo consciente,

    permitindo a qualquer pessoa contribuir para a preservao do meio ambien-

    te e melhorar a qualidade de vida de todos, transformando o consumo num

    verdadeiro instrumento de cidadania.

    De fato, todos podemos incorporar em nossas vidas um padro de

    sustentabilidade inicial e perceber que, aps alguns dias, semanas, meses

    e anos, esse processo j ser um hbito. Portanto, observar a relao de

    interdependncia entre o ato de consumir e o impacto desse ato sobre o

    Planeta e as espcies que nele habitam, torna o consumidor um agente

    de transformao do mundo, a partir da incorporao desses elementos

    nas decises de compra, bem como no descarte dos resduos de produtos

    e servios.

    Dentre os principais problemas a serem considerados, verificam-se os

    relativos ao consumo de gua e energia e disposio do lixo.

    a) gUA

    O consumo mundial de gua aumentou cerca de seis vezes no sculo

    20, em decorrncia, principalmente, do elevado crescimento populacional e

    do uso indiscriminado de gua para a irrigao e a indstria. Outro motivo

    consiste na poluio dos mananciais, ligada aos despejos produzidos pelas

    indstrias e agricultura, bem como pela falta de saneamento, dando subsdio

    35539002_2 miolo alt.indd 82 17/6/2011 13:42:50

  • 8315. AtItudEs quE FAzEm A dIFEREnA

    a previses de que, em 2050, uma em cada quatro pessoas viver num pas

    com problemas de desabastecimento de gua.

    Atualmente, cerca de 2,4 bilhes de pessoas vivem sem saneamento b-

    sico, de forma que cada litro de esgoto produzido e no tratado capaz de

    contaminar pelo menos outros 10 litros de gua limpa, causando doenas

    que matam milhes de indivduos em todo o mundo. O excesso de consumo

    e a poluio podem comprometer o acesso do brasileiro gua, tornando ne-

    cessria a mudana nas atitudes de consumo a fim de conservar esse recurso.

    b) LiXO

    Diariamente, so descartadas, em mdia, 125 mil toneladas de lixo domi-

    ciliar, no Brasil. Se todo esse lixo fosse colocado em caminhes e se os mes-

    mos fossem enfileirados, ter-se-ia uma fila de 100 quilmetros de comprimen-

    FigURA 33 LIxO.

    Foto: Acervo SMA

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  • CAdERno dE EduCAo AmBIEntAl CONSUMO SUSteNtvel84

    to. Ou seja, como se houvesse, a cada quatro dias, uma fila de caminhes

    cheios de lixo indo de So Paulo at o Rio de Janeiro.

    No h um sistema perfeito de disposio final para o lixo, pois tanto os

    lixes e aterros quanto a incinerao e a reciclagem tm, em maior ou menor

    grau, impactos ambientais. Os resduos domsticos jogados a cu aberto ou

    em aterros irregulares provocam a contaminao das guas subterrneas e a

    poluio do ar com gases txicos.

    Por conta disso, o ideal que se evite, na origem, que o lixo seja produ-

    zido, podendo o consumidor ajudar nisso recusando embalagens desneces-

    srias, comprando produtos higinicos ou de beleza com refil, reaproveitando

    sobras de comida e preferindo alimentos a granel, etc. quando isso no for

    possvel, a sada reutilizar materiais usados, aproveitar embalagens, doar

    roupas e material escolar, dentre outras aes. Por fim, existe a opo da

    reciclagem. Papis, vidros, plsticos e metais, que so os principais materiais

    reciclveis, representam cerca de 38% do peso total dos resduos gerados e

    sua coleta mobiliza, atualmente, mais de 200 mil pessoas no Brasil. Entretan-

    to, apenas 135 cidades no pas tm sistemas organizados de coleta seletiva,

    que recolhem o lixo reciclvel de casa em casa. possvel contribuir para a

    reduo dos impactos provocados pelo lixo mudando as atitudes de consumo.

    c) ENERgiA

    Para manter o ritmo de vida dos cidados brasileiros, cuja rotina deman-

    da a utilizao de inmeros aparelhos eletrnicos e eletrodomsticos, cada

    indivduo tem de consumir o equivalente a cerca de 8 toneladas de petrleo,

    por ano. A maioria das fontes de energia tem grande impacto sobre o meio

    ambiente, sendo a energia solar uma das excees, por ser renovvel, no

    poluir o ar nem a gua, exigir pouco espao e no produzir rudo.

    J, a queima de gasolina, diesel, gs e carvo mineral tem a caracterstica

    de emitir gs carbnico e monxido de carbono, que causam uma srie de

    problemas respiratrios populao. A queima de combustveis fsseis tam-

    35539002_2 miolo alt.indd 84 17/6/2011 13:42:51

  • 8515. AtItudEs quE FAzEm A dIFEREnA

    bm colabora para o aquecimento da Terra (aquecimento global), de forma

    que, se carros e indstrias continuarem queimando combustveis provenien-

    tes de petrleo e carvo, no ritmo atual, a temperatura mdia do planeta

    poder aumentar em at 5C, nos prximos 50 anos.

    Sendo o Brasil um pas ensolarado e detentor de bacias hidrogrficas

    privilegiadas, possui boas condies de substituir o petrleo por fontes re-

    novveis de energia, como a biomassa e a hidroeletricidade. A energia das

    hidreltricas praticamente no emite poluentes no ar, mas exige a inundao

    de reas imensas, tornando necessria a expulso de algumas populaes,

    alm de inutilizar reas que poderiam ser plantadas.

    Conclui-se, portanto, que a maioria dos problemas a serem solucionados

    de imediato, em razo de sua gravidade, podem ser combatidos com mudan-

    as simples nos atos cotidianos das pessoas. Como exemplos de atitudes que

    fazem a diferena, temos:

    Fechar a torneira ao escovar os dentes Cada vez que sete pes-

    soas fecharem a torneira ao escovar os dentes, haver uma economia de,

    aproximadamente, 122 litros de gua tratada, o que suficiente para atender

    s necessidades dirias de uma criana.

    Foto: Cleo Velleda / Imprensa Oficial SP

    FigURA 34 TORNEIRA COM FECHAMENTO AUTOMTICO: ECONOMIA DE GUA.

    35539002_2 miolo alt.indd 85 17/6/2011 13:42:52

  • CAdERno dE EduCAo AmBIEntAl CONSUMO SUSteNtvel86

    No usar o vaso sanitrio como lixo quando se aciona a descarga

    para se livrar de algum resduo, como pontas de cigarro, por exemplo, 10 litros

    de gua tratada de boa qualidade descem pelo ralo. Se 1 milho de pessoas

    cortarem esse hbito, sero economizados 300 milhes de litros de gua por

    ms. Esse volume equivale gua que cai nas Cataratas do Iguau a cada

    quatro minutos.

    No utilizar o esguicho para limpar a calada Ao varrer o quintal

    ou a calada, deve-se lembrar que a cota individual de gua de cada cidado

    pequena, devendo-se utilizar a vassoura e no a mangueira. Cada vez que

    isso feito, economiza-se, em mdia, 280 litros de gua, o suficiente para

    encher meia caixa dgua domstica.

    Eliminar vazamentos Grande quantidade de gua desperdiada

    no Brasil em vazamentos. Assim, se um cano tiver, por exemplo, um buraco de

    apenas 2 milmetros, o vazamento de gua, ao longo de um ano, ser de cerca

    de 1,15 milho de litros. Se essa perda for eliminada em 5 mil residncias,

    ser poupada gua suficiente para abastecer todos os 36 milhes de habitan-

    tes do Estado de So Paulo durante um dia.

    Foto: Fernandes Dias Pereira / Imprensa Oficial SP

    FigURA 35 VERIFICACO DE HIDRMETRO.

    35539002_2 miolo alt.indd 86 17/6/2011 13:42:53

  • 8715. AtItudEs quE FAzEm A dIFEREnA

    Recusar embalagens desnecessrias O Brasil recicla, em mdia,

    17,5% do plstico rgido. O restante acaba no lixo, onde demora mais de

    400 anos para se degradar. Se depositado a cu aberto, que o que aconte-

    ce com 30% do lixo produzido no pas, dificulta a compactao e prejudica

    a decomposio dos materiais degradveis. Por isso, prefervel levar sua

    prpria sacola quando for fazer compras. Segundo dados do