O Impacto da Sociedade da Informao no Sistema de Sade em Portugal Uma viso de Gesto

Antnio Serrano

Universidade de vora amss@uevora.pt

Resumo:

Neste captulo pretende reflectir-se sobre a importncia da gesto dos sistemas de informao e das polticas de gesto como factores estruturantes da adopo de solues tecnolgicas no sector da sade. Palavras-chave: Informao, Gesto de Sistemas de Informao, Polticas, Solues Tecnolgicas

1. INTRODUO A ideia romntica de que a cincia universal e de que os resultados da sua aplicao se estendem a toda a sociedade totalmente descabida. A transferncia de tecnologia tem regras prprias, regulada por contratos internacionais, de tal modo que nem todas as naes (e os cidados que as constituem) tm acesso a elas, ainda que elas possam ser fundamentais para alicerar o desenvolvimento regional, salvar vidas ou promover o bem-estar social. As desigualdades e as assimetrias condicionam de forma importante a aplicabilidade e a divulgao das Tecnologias de Informao e Comunicao (TIC). Estas no so seguramente factor de justia contribuindo para diluir as diferenas, sendo antes de tudo reguladas por essas mesmas diferenas. A primeira aplicao prtica da computao relevante para a rea da sade foi o desenvolvimento de um sistema de processamento de dados baseado em cartes perfurados, criado por Herman Hollerith em 1890. Primeiramente utilizado para a realizao do censo dos Estados Unidos daquele ano, o sistema foi, logo a seguir, adoptado para solucionar problemas nas reas de epidemiologia e sade pblica [Oliveira 1990]. A tcnica dos cartes perfurados foi amadurecida e amplamente utilizada nas dcadas de 20 e 30. Apenas no final da dcada de 40 comearam a surgir as tcnicas de armazenamento de sequncias de instrues ou programas. A cincia da computao teve o seu incio real em 1946, com a construo do ENIAC, um computador que ocupava uma rea de 450 m2, pesava 30 toneladas e utilizava 18 mil vlvulas as quais queimavam velocidade de uma a cada sete minutos. Os profissionais da rea da cincia da computao desenvolviam programas em cdigos extremamente complexos e eram indivduos altamente especializados, com profundo conhecimento sobre a mquina. Segundo Toffler [Toffler 1990], havia uma pequena "Irmandade de Dados" os profissionais de processamento de dados, nicos capazes de fazer o crebro gigante funcionar , cujos "sacerdotes gozavam das bnos de um infomonoplio".

Foi apenas com a substituio das vlvulas por transstores e, a seguir, por chips, que os computadores se tornaram acessveis tanto aos laboratrios de pesquisas das universidades como s empresas. No entanto, as potencialidades de utilizao dessas mquinas eram amplamente acompanhadas e avaliadas por todas as reas do conhecimento humano, inclusive a mdica. A evoluo tecnolgica tem permitido inundar as organizaes de sade com imensas solues para todos os problemas deste sector. Estas solues vo desde as que desempenham um papel de mero suporte a outras que garantem a informatizao integral de todos os processos quer administrativos, quer de natureza produtiva. Estamos a assistir em Portugal a uma grande ofensiva dos fornecedores de TIC no sector da Sude, sem que exista a definio de uma poltica geral para esta problemtica e sem que as Unidades de Sade estejam preparadas para gerir adequadamente a insero tecnolgica nas organizaes. Por outras palavras: No existem competncias para garantir que os benefcios potencialmente associados s TIC possam ser de facto alcanados. Mas ser que o contributo da Sociedade da Informao para o sector da sade advm das TIC? Claro que no! Estas so muito importantes mas representam apenas extenses da capacidade humana para processar informao. Uma espcie de prteses cognitivas. S tero impacto se existir capacidade de gesto e de uso das TIC em cada contexto organizacional. As Unidades de Sude, em especial os Hospitais, constituem sistemas complexos cuja matria-prima e produto acabado coincidem: informao. Na verdade um Hospital quando admite e assiste um doente, processa informao clnica e administrativa sobre esse doente e quando o doente tem alta hospitalar, produz, fundamentalmente, informao interna e externa, que alimenta todos os processos organizacionais intra e extra hospital. Neste pressuposto, foi com naturalidade que no mundo desenvolvido, em especial nos pases do norte da Europa, nos EUA e no Canad, se desenvolveram Sistemas de Informao (SI) suportados por TIC muito robustos vocacionados que para suportar directamente a prestao dos cuidados mdicos e cirrgicos quer para suportar toda a actividade decisria numa organizao hospital. Face ao exposto, parece natural que a principal preocupao das organizaes de sade deva ser a de gerir a informao. A Gesto da Informao deve ser enquadrada numa funo dedicada Gesto dos Sistemas de Informao e deve estar orientada para o suporte deciso a todos os nveis, garantindo um alinhamento perfeito dos Sistemas e Tecnologias com o negcio da organizao. Mas de que falamos, quando nos referimos a gerir a informao, ou a gerir os sistemas de Informao? No prximo ponto procuramos dar resposta a estas questes. 2. GERIR OS SISTEMAS DE INFORMAO

2.1. Enquadramento e actividades

A gesto de sistemas de informao (GSI) deve corresponder a uma rea funcional da organizao, sendo responsvel pela gesto da informao enquanto recurso organizacional, bem como pelas seguintes actividades [Serrano et al. 2004]:

Planeamento de Sistemas e Tecnologias de Informao Desenvolvimento de Sistemas e Tecnologias de Informao Explorao de Sistemas e Tecnologias de Informao

Estas actividades evidenciam vrios momentos importantes na funo de GSI, centrados em dois eixos fundamentais: a necessidade permanente de mudana nas organizaes e o desenho do sistema de informao de forma a reflectir as necessidades da organizao. Com efeito, a existncia de uma funo organizacional com estas responsabilidades s faz sentido se permitir criar uma capacidade de resposta atempada s necessidades do negcio organizacional, que mudam rpida e constantemente, articulada com a estratgia dessa organizao. As actividades que compem esta funo so de duas naturezas: organizacional (planeamento dos SI/TIC) e tecnolgica (desenvolvimento e explorao dos SI/TIC), pelo que exigem uma coordenao tcnica com conhecimentos ambivalentes nos domnios da gesto e das tecnologias.

A actividade de planeamento estratgico dos SI responsvel por estabelecer as alteraes ao sistema de informao em reposta estratgia da organizao. A estratgia organizacional definida pela equipa de gesto da organizao e delimita o posicionamento geogrfico, sectorial e de mercado seleccionado em cada momento para a empresa. Esta estratgia determina toda a infra-estrutura de negcio e tecnolgica para suportar o desenvolvimento das actividades. Acontece que, por vezes, a actividade de PESI influencia e condiciona a escolha da prpria estratgia. Esta actividade pressupe uma correcta gesto dos dados e uma gesto da informao e do conhecimento necessrios ao suporte da actividade de toda a organizao.

A actividade de desenvolvimento de sistemas e tecnologias de informao, procura concretizar a estratgia da organizao para o domnio dos SI/TIC e prende-se com a questo: como fazer? Que solues tecnolgicas se nos colocam em alternativa, que componentes se iro desenvolver, que componentes se iro adquirir, que componentes se iro contratualizar em regime de outsourcing? Esta actividade pressupe uma gesto de investimentos em SI/TIC que vise maximizar os benefcios para o negcio.

Por sua vez a actividade de explorao de sistemas e tecnologias de informao prende-se com as questes prticas do funcionamento dos sistemas onde no s os aspectos tecnolgicos so considerados, mas tambm os aspectos relacionados com a dimenso humana no uso das tecnologias devem ser atendidos.

Todas as funes organizacionais devem incluir um momento de avaliao (que pode ser conseguida atravs da implementao de auditorias tcnicas a toda a funo GSI)

e monitorizao com o estabelecimento de indicadores de desempenho e do seu contributo para a estratgia da organizao. Tambm nesta funo e talvez com maior acuidade, dadas as dificuldades na visualizao dos benefcios financeiros associados aos investimentos em SI/TIC, deve ser includo um momento para avaliao de toda a funo que procure medir no s o nvel de satisfao da funo junto dos utilizadores, mas fundamentalmente o grau de concretizao dos objectivos em cada momento fixados. Naturalmente que esta funo centrada no recurso fundamental e estruturante de toda a organizao: a informao. Por seu turno, o sistema de informao deve permitir fornecer, a cada decisor, a informao de que necessita para

suportar os vrios processos de deciso. O sistema de informao ser mais ou menos sofisticado em funo do nvel de estruturao dos processos decisrios e implica uma adequada gesto da informao, que quase sistematicamente esquecida na actividade das organizaes. Sem uma adequada gesto da informao, enquanto recurso organizacional, no possvel garantir que um sistema de informao cumpra cabalmente as suas funes na organizao.

2.2. O Ciclo gestivo da informao

2.2.1 A informao recurso estratgico das organizaes

A informao abundante nas organizaes, embora s uma pequena parte seja utilizada quer ao nvel da gesto estratgica quer pela gesto tctica. A informao sobretudo um recurso estratgico da organizao, superior a qualquer outro factor de produo, pois facilita a combinao e a utilizao de outros factores produtivos. Para que a informao assuma este carcter estratgico, deve ser transformada em conhecimento, pois s este permite a aco por parte dos decisores e a respectiva tomada de deciso. O processo de transformao da informao que circula nas organizaes o objectivo da gesto da informao. Trata-se de uma perspectiva unificadora, que integra a gesto do processamento da informao, a gesto das polticas e normas de informao e ainda a gesto dos recursos de informao (registos, estudos e arquivos) e que no se confunde somente com uma destas vertentes. Assim, importante que a organizao possa gerir a informao de modo mais eficiente com o objectivo de incrementar as capacidades de aprendizagem da prpria organizao e a sua adaptao ao meio ambiente. Como estas organizaes manipulam informao quer da envolvente interna quer da envolvente externa, desenvolvem percepes e construes de acordo com a interpretao que fazem dessa informao e constroem modelos mentais, sempre numa perspectiva de mudana. Tal facto exige que a organizao entenda a sua envolvente para poder desenhar e agir em termos de futuro, extraindo vantagens competitivas das aprendizagens que vai efectuando atravs de um contnuo processo de informao, caracterstico de um sistema aberto.

O objectivo da gesto da informao proteger os recursos da informao bem como as capacidades de informao, de modo a fortificar a capacidade de aprendizagem e de adaptao da organizao. Neste tipo de organizao os gestores assumem um importante papel. Compete aos decisores, utilizando autoridade e responsabilidade, accionar a informao disponvel proveniente da envolvente, para manter ou mudar as estruturas e os processos organizacionais. Neste contexto, as organizaes, consideradas enquanto entidades aprendentes devem possuir um modelo de gesto

da informao que capacite a aprendizagem organizacional. Este modelo inclui a gesto da rede de processos que adquire, cria, organiza, distribui e usa informao.

2.2.2. O ciclo gestivo da informao

De acordo com Choo [Choo 2000], o ciclo gestivo da informao compreende seis processos fundamentais de informao que se desenvolvem continuamente:

Identificao das necessidades de informao;

Aquisio de informao; Organizao e armazenamento da informao; Desenvolvimento de produtos e servios de informao; Distribuio de informao; Utilizao de informao. IDENTIFICAO DAS NECESSIDADES DE INFORMAO

Face volatilidade da envolvente externa, os membros da organizao procuram informao que lhes permita resolver os diversos problemas. Assim, as necessidades de informao tm origem em problemas, incertezas ou ambiguidades de determinadas situaes e experincias especficas da organizao. Em funo das exigncias dos assuntos e das diversas contingncias, assim so determinadas as necessidades e os tipos de informao. Alm dos assuntos especficos, vrios factores contextuais como o estilo de organizao, as restries funcionais, os objectivos claros e conclusivos, o grau de risco, as normas profissionais, determinam a necessidade de recorrer a informao. Vrias questes se colocam nesta fase: o que queremos saber? Porque necessitamos de o saber? O que que o problema em anlise sugere? O que j sabemos? O que poderemos antecipadamente encontrar? O que nos poder ajudar? De que forma precisamos saber? A resposta a estas questes, aponta para o carcter contingencial, dinmico e multifacetado das necessidades de informao. No sector da sade no se procede a esta identificao. Ela catica e desordenada. Emerge de forma casustica no planeada, promovendo redundncias excessivas e lacunas de informao em diversas reas crticas.

AQUISIO DE INFORMAO

Esta segunda fase conduzida pelas necessidades de informao e deve satisfaz-las adequadamente. O planeamento a efectuar para a aquisio de informao tornou-se uma funo complexa. A fragmentao do conhecimento humano em vrias especializaes conduziu proliferao de recursos de informao e servios que levam criao de nichos demarcados. Simultaneamente as organizaes incrementam e exigem tratamentos profundos para seleco dos problemas que consideram estratgicos para a sua sobrevivncia.

As organizaes acumulam informao proveniente das suas operaes internas e dos seus recursos. A maior parte dessa informao fornecida de acordo com as regras ou convenes aceites ou para satisfazer determinados solicitaes. Ao longo da sua existncia, as organizaes acumulam prticas, polticas, procedimentos de operaes standard e regulamentao do governo, que ajudam a estabelecer regras acerca do tipo de informao a recolher, a que entidades e actividades deve respeitar

e ainda ajudam a definir o modo de recolha e obteno dessa informao. O advento e o uso de tecnologias de informao, tm contribudo ao longo destes anos, para a aquisio de dados internos, registando-se mesmo elevados ganhos com procedimentos cada vez mais eficientes. O factor humano cada vez mais reconhecido como determinante na qualidade da recolha da informao. As pessoas filtram e sumarizam a informao, considerando os elementos mais importantes e mais significativas, interpretam aspectos ambguos contribuindo para melhorar as comunicaes e resolver problemas. O planeamento da aquisio da informao, supe tambm o envolvimento dos membros de outras organizaes, tanto quanto

possvel, com o objectivo de criar redes de circulao de informao e coordenao na distribuio dessas redes que envolvem informao colectiva.

Como qualquer outro recurso vital da organizao, a informao deve ser gerida. Obedecendo a um plano organizado, indispensvel que a seleco e o uso de recursos de informao sejam planeados e avaliados. No sector da sade assiste-se a este nvel a uma ausncia de sistemas de partilha de informao de forma automatizada e organizada, pese embora alguns esforos tenham sido realizados com a implementao do SONHO e do SINUS. O problema maior reside na ausncia de uma auditoria adequada da informao adquirida e da forma como a mesma obtida em cada instituio.

ORGANIZAO E ARMAZENAMENTO DA INFORMAO Esta fase do ciclo tem como objectivo criar uma memria organizacional que assenta na criao de um activo repositrio de conhecimento organizacional. O conjunto de dados que so produzidos e recolhidos necessitam de uma estrutura que reflicta o interesse e o modo de utilizao da informao pelos membros da organizao. O papel da tecnologia de informao indispensvel para que a informao seja uma realidade nas actividades operacionais da organizao; a tecnologia de informao deve integrar as polticas de gesto da informao, assegurar a informao significante, relacionada com o passado e o presente da organizao e que o objecto de avaliao da organizao.

A informao adquirida e produzida tem de ser organizada e armazenada de modo sistemtico para facilitar a sua diviso e recuperao. O armazenamento dessa informao representa a memria da organizao. A organizao, baseada no conhecimento deve estruturar a informao e desenhar rotinas de acesso e processamento dessa informao que indispensvel para produzir conhecimento e a base para interpretar situaes, resolver problemas e finalmente tomar decises. O sistema deve maximizar o uso de recursos de informao, optimizando os arquivos estruturados e os mtodos de acesso base de dados.

A eficincia do sistema passa pela gesto de registos que a aplicao de um sistemtico e cientfico controlo de toda a informao registada de que a organizao precisa para suportar o negcio. Um programa de gesto de registos formais da organizao compreende muitas das seguintes funes, registos de inventrio, registos de avaliao, clculos, registos vitais de gesto, arquivos activos de gesto, gesto de micrografias; registos de ficheiros inactivos, gesto de relatrios, gesto de correspondncia, gesto de mails, gesto de directivas (notas de servios). Um inventrio de registos identifica registos individuais, registos de grupos, determina quais so as suas origens, como so usados e como se inter-relacionam.

A gesto dos diferentes tipos de registo activos exige uma variedade de mtodos que reflecte no s o uso de informao, mas os seus formatos e medida. Por exemplo, o registo de correspondncia e de projectos pode ser arquivado de acordo com a classificao do assunto, enquanto os registos de transaces so tipicamente arrumados por nome ou nmero de identificao. A anlise aos registos relativos tomada de deciso, execuo de projectos executados e ou iniciados, aces adoptadas..., faz parte do estudo da histria da organizao que indispensvel ao planeamento do futuro na organizao. A este nvel, as organizaes do sector da sade apresentam graves insuficincias quer ao nvel da organizao da informao,

que apenas parcial e orientada para as necessidades pontuais, quer ao nvel do armazenamento e das condies desse armazenamento. A informao crtica para cada actividade no se encontra armazenada em condies de segurana e de resposta em caso de desastre.

DESENVOLVIMENTO DE PRODUTOS E SERVIOS DE INFORMAO

A informao adquirida e memorizada empacotada em diferentes nveis de produtos e servios destinados a responder s necessidades dos diferentes utilizadores e grupos da organizao. No se trata de um acondicionamento passivo de entrada de dados, mas um acrscimo de qualidade na informao, moldando-a s necessidades e preferncias dos utilizadores. Cada produto ou servio informativo deve acrescentar valor ao ltimo utilizador, facto que nem sempre possvel garantir. Os utilizadores pretendem sobretudo encontrar a soluo para os problemas recorrendo aos produtos ou servios informativos, questionando os assuntos. Toda a orientao da aco que conduz deciso baseada no conhecimento. Nessas circunstncias, a informao usada para formular decises e conduzir comportamentos. Os produtos e servios informativos devem ser relevantes e consequentes para contriburem para a resoluo de problemas, pelo que devem ser dirigidos no s para os assuntos/sujeitos dos problemas, mas tambm para as contingncias especficas que afectam a resoluo desse problema ou cada classe de problemas. A informao disponvel no sector da sade infindvel. Falta, contudo uma viso sistmica que permita potenciar a sua existncia e torne fcil o acesso mesma. Por dificuldades de acesso informao multiplicam-se os pedidos de informao sobrecarregando todas as instituies com frequentes novos formatos de produtos e servios de informao.

DISTRIBUIO DA INFORMAO

O objectivo desta fase do ciclo gestivo divulgar/incrementar a informao na organizao. Para a organizao a informao funciona como catalisador das suas actividades. A informao contribui para a resoluo de problemas ou situaes, criando novos ensinamentos, provocando novas aprendizagens. A informao deve ser distribuda atravs de canais apropriados e ajustados ao modelo de trabalho de utilizadores. O processo de distribuio consiste em procurar informao das diferentes origens para posterior disseminao.

O processo de distribuio de informao e a sua procura condio necessria, mas no suficiente, para a percepo e interpretao das situaes e dos problemas da organizao. O ciclo de distribuio deve garantir que a informao exacta, chegue pessoa certa, no tempo certo, nos lugares e formatos adequados. Como princpio geral, sugere-se que o circuito de informao atenda aos hbitos e s preferncias dos utilizadores. Por exemplo, se um executivo prefere informao apresentada de um modo personalizado, pode subvalorizar a apresentao de registos e preferir um resumo pessoal sobre questes especficas. Assim, os modos de distribuio da informao devem ser decididos em funo do critrio do utilizador, caso a caso, no desprezando o critrio de acessibilidade fsica, como seja o caso das caixas electrnicas de correio ou solues de work-flow. A distribuio da informao na Sade realizada de forma catica em resultado da multiplicidade de nveis de coordenao que apenas servem para afastar o nvel de deciso do nvel da operao. As TIC podem e devem contribuir para a eliminao de nveis intermdios de forma a acelerar a execuo das polticas.

O USO DA INFORMAO

A utilizao da informao faz-se para criao e aplicao de conhecimento atravs de processos de interpretao e tomada de deciso. O uso de informao para interpretao envolve a construo social da realidade e a representao e circulao da informao, o que supe uma interaco multivariada do discurso social. O uso da informao para a tomada de deciso envolve a seleco de alternativas e a procura do contedo da informao que contm a energia da natureza no linear do processo de deciso.

Esta fase decisiva nas organizaes, uma vez que os decisores e os utilizadores finais da informao num processo concreto assumem agora a responsabilidade de tirar partido do sistema de gesto da informao de forma a tomar a melhor deciso e resolver o problema independentemente da sua natureza. Este o momento diferenciador dentro das organizaes e interorganizaes e que condiciona quer os resultados da funo GSI quer de toda a organizao, promovendo a sua riqueza ou a sua pobreza.

Conjugando a disponibilidade de informao (ter), com a competncia para a usar (saber usar) e a viso dos objectivos esperados com o seu uso (saber onde usar), minimizam-se situaes que se repetem com regularidade nas organizaes que apostam recursos num ou em dois destes factores e acabam por ficar com as performances limitadas, seja pelo dfice de viso partilhada seja pelo dfice de qualificao ou de informao.

O sector da sade est inundado de informao. O problema a ausncia de capacidade de extrair utilidade dessa informao. A criao de um Gestor da Informao ao nvel do Ministrio e a existncia de um seu homologo em cada instituio permitira resolver muitos dos problemas existentes a este nvel.

2.3. Organizao e recursos para a GSI

As principais dificuldades sentidas na gesto de SI/TIC relacionam-se, normalmente, com a insuficincia, ou at ausncia, de organizao e gesto estratgica dos SI/TIC. Naturalmente a sua existncia condio necessria mas no suficiente para o sucesso nos investimentos em SI/TIC, pois muitos outros factores devero ser considerados, desde as qualificaes e competncias dos gestores, tcnicos e utilizadores at, e fundamentalmente, qualidade dos processos de gesto adoptados em cada organizao. Geralmente verifica-se que as grandes razes que conduzem ao fracasso na gesto dos SI/TIC so baseados na:

Ausncia total de alinhamento entre as estratgias para o negcio e as estratgias para os SI/TIC;

Descoordenao entre a gesto das necessidades dos SI e a oferta tecnolgica disponibilizada. Implementam-se frequentemente tecnologias que no respondem a qualquer necessidade do SI, o que conduz a desperdcios e a uma ineficcia da funo GSI;

Excessiva centralizao/descentralizao de responsabilidades nos processos de investimentos em SI/TIC conjugada com a falta de mecanismos que garantam a sua coerncia.

Compete aos responsveis pela GSI promover uma gesto articulada e integrada de todas as solues existentes e a implementar na organizao.

Na organizao da funo GSI, coloca-se a questo do nvel ou do grau de centralizao/descentralizao da gesto dos recursos afectos a esta funo. Ao longo de dcadas, discutiu-se muito esta matria, sem que exista uma soluo nica quer dentro da mesma organizao quer entre organizaes distintas. Muitos factores contribuem para esta indefinio:

O grau de dependncia da organizao face s TIC; O grau de maturidade das diversas aplicaes informticas; O contexto geogrfico e poltico, nomeadamente a relao entre os poderes

institudos na organizao; A diversidade e a especificidade do negcio e as presses competitivas

existentes para mudanas permanentes no negcio; Os recursos econmicos disponveis para obter ou desenvolver competncias

tcnicas.

No havendo uma soluo nica, parece de bom senso que em cada caso se avalie qual o nvel de centralizao adequado para a gesto dos recursos e os diferentes graus de liberdade atribudos em funo dos diferentes tipos de investimentos e dos respectivos montantes. Como regra geral, considera-se que quanto maior for o volume de investimento e a importncia das solues para a gesto corrente e futura do negcio, maior dever ser o nvel de centralizao usado na gesto dos recursos.

Os recursos que a funo GSI gere podem ser agrupados em trs grandes grupos: recursos organizacionais, recursos materiais, recursos humanos. Todos estes recursos devero ser organizados de forma a garantir a realizao das actividades fundamentais desta funo e referidas no ponto 2.1.

Planeamento estratgico dos SI; Desenvolvimento de sistemas e tecnologias de informao; Explorao de sistemas e tecnologias de informao.

Em cada uma destas actividades podemos incluir, a ttulo de exemplo, as seguintes tarefas:

Planeamento estratgico dos SI/TIC

Desenvolvimento da estratgia para os SI e para as TIC; Planeamento e desenvolvimento dos recursos necessrios; Avaliao das diversas opes tecnolgicas; Definio do tableaux de bord para a funo GSI; Anlise do negcio; Planeamento da contingncia; Planeamento das capacidades e cargas; Desenvolvimento de novos servios. ...

Desenvolvimento de sistemas e tecnologias de informao

Anlise de sistemas; Desenho de sistemas; Programao e desenvolvimento de software / avaliao, seleco e aquisio

de software (ex: packages); Gesto de investimentos; Gesto de projectos; Gesto da informao; Procurement de informao (fontes de informao externa e interna) ...

Explorao de sistemas e tecnologias de informao

Formao dos utilizadores; Manuteno de aplicaes e clculo/controlo de cargas; Resoluo de problemas junto dos utilizadores; Centro de atendimento e aconselhamento tcnico; Controlos de nveis acesso e de segurana; Instalao de equipamentos e redes; Manuteno de hardware e redes; Actualizaes de software; Gesto dos contratos de fornecimento; ...

Para o desempenho destas actividades as organizaes tm de decidir onde e como obtero os recursos necessrios, em especial os recursos materiais e humanos. Tradicionalmente, estes recursos eram obtidos e desenvolvidos internamente de forma centralizada, designando-se esta forma de obteno de recursos por insourcing. Por vrias razes, entre as quais a necessidade de reduzir a sua estrutura organizacional, as empresas e o Estado comearam a recorrer ao mercado para obterem parte dos recursos necessrios funo GSI, designando-se esta actividade por outsourcing. Esta actividade consiste na delegao, celebrada contratualmente, de todos ou parte dos recursos tcnicos e humanos necessrios para garantir os servios tecnolgicos, a uma entidade externa. Vrias empresas tm realizado a extenso deste conceito aos servios associados ao sistema de informao da prpria organizao, colocando em terceiros a responsabilidade pelas suas aplicaes. No entanto, fazer o outsourcing das TIC no uma deciso fcil. O recurso a esta soluo emergiu em contexto de crescente competitividade organizacional, obrigando a reduzir custos de explorao. A entidade externa que passa a assegurar estas responsabilidades por contrato consegue realizar as tarefas subjacentes a custo mais baixo por motivos relacionados com economias de escala.

Com a adopo desta soluo as organizaes transferem o oramento de capital para o oramento de explorao, atravs de uma quantia fixa e peridica a pagar entidade contratada. Esta transferncia permite ganhar maior flexibilidade e maior visibilidade contabilstica dos custos reais com as TIC, mas por outro lado, apresenta a desvantagem de reduo dos activos tecnolgicos da empresa e da valorizao que tal representa na estrutura do respectivo balano.

Para alm das razes de natureza financeira, o recurso ao outsourcing assenta em razes de natureza tcnica, como sejam a melhoria do nvel de qualificao tcnica na

organizao acedendo a conhecimentos tcnicos no disponveis internamente e facilitar o acesso a novas tecnologias.

Podemos ainda encontrar inmeras razes associadas ao negcio e que esto na base do recurso ao outsourcing:

Reestruturar a funo GSI; Forar a diminuio dos atrasos no desenvolvimento de aplicaes; Aumentar a eficincia, principalmente em reas de negcio onde a flutuao na

procura de servios de TI grande; Reestruturao da organizao, como resultado de fuses e aquisies,

centralizando numa organizao (do grupo de empresas ou externa) esta funo.

Mesmo em projectos completos de outsourcing, existem competncias vitais que devero ser mantidas no controlo da organizao, de forma a diminuir os riscos inerentes ao outsourcing:

A competncia para acompanhar, medir e interpretar as capacidades dos SI/TIC e relacionar estas capacidades com as reais necessidades do negcio em cada momento;

A competncia para trabalhar directamente com a equipa de gesto de topo para definir novos requisitos e prioridades em qualquer momento;

A competncia para identificar formas apropriadas para consultar o mercado, estabelecer as especificaes e gerir todo o processo de fornecimento, no respeito pelo contrato celebrado;

A competncia para monitorar, avaliar e gerir as relaes contratuais.

3. A GESTO DE SISTEMAS DE INFORMAO NA SADE

Naturalmente que no ponto anterior apenas se introduziram alguns aspectos que devem constituir preocupao central na Gesto dos Sistemas de Informao em qualquer organizao e em especial naquelas em que a sua actividade intensiva em informao, como seja o caso das organizaes da sade.

Com o advento da Sociedade da Informao e da presso tecnolgica o Ministrio da Sade, atribuiu ao IGIF a misso de desenvolver solues informticas para todo o Sistema Nacional de Sade, disponibilizando aplicaes que fundamentalmente procuravam garantir a monitorizao do movimento assistencial, a facturao, a gesto de stocks e a gesto dos recursos humanos e a rede de comunicaes do Ministrio (RIS). Este posicionamento levou transformao do IGIF numa espcie de Software-house, centralizando a oferta tecnolgica para o todo o sistema. Este posicionamento foi possvel graas inexistncia de fornecedores no mercado que entendessem o mercado da sade como um alvo apetecvel. Contudo, a interveno do Estado inibiu os diversos fornecedores de desenvolverem solues especialmente vocacionadas para o sector da sade. O IGIF veio de forma paulatina a manifestar fortes dificuldades para garantir um adequado controlo das suas aplicaes, gerando progressivamente insatisfao por parte dos seus clientes.

Desde h algum tempo a esta parte as Unidades de Sade, em especial os Hospitais, procuram solues alternativas que melhorem o controlo operacional da sua actividade produtiva, permitindo de forma rpida e directa conhecer a realidade em cada linda de produo. Estas solues devem garantir a sua integrao com as aplicaes nucleares fornecidas pelo IGIF. Face manifesta incapacidade de resposta do IGIF, o Ministrio decidiu estimular o procurement de solues atravs de orientaes para apresentao de candidaturas a mecanismos de financiamento comunitrio. As orientaes da tutela so definidas com o objectivo principal de garantir uma integrao de informao no Sistema Nacional de Sade.

O papel do Ministrio atravs do IGIF ou de outro organismo central deve ser, de facto, centrado nas seguintes funes:

Definio de uma poltica nacional para a informao do Sector da Sade, estabelecendo os requisitos a que os Sistemas e as Tecnologias das diferentes instituies devem dar resposta;

Atribuir ao mercado a responsabilidade de desenvolver solues que satisfaam os requisitos de uma poltica nacional e os que emergem de cada instituio em concreto;

Controlar os resultados das diferentes instituies, quer em termos do impacto das solues adquiridas no controlo da respectiva actividade quer do impacto econmico e financeiro das mesmas.

Dever competir a cada instituio organizar-se de forma a poder implementar um modelo e uma estrutura adequada de Gesto dos Sistemas e Tecnologias de Informao e Comunicao, que garanta:

O Alinhamento estratgico entre os SI/TIC e o seu Negcio; A definio de uma poltica de informao interna que suporte os processos de

deciso em consonncia com uma poltica nacional de informao do sector da sade;

Uma avaliao rigorosa dos investimentos em SI/TIC tendo presente o seu retorno econmico e financeiro;

Uma avaliao ex-post de todos os investimentos realizados; Uma viso pragmtica que evite o desenvolvimento medida de solues nos

domnios de suporte e operacional.

4. CONCLUSO

Neste texto apenas foram abordados alguns aspectos de uma matria complexa e controversa como a Gesto dos Sistemas de Informao no sector da Sude, como reflexo do desenvolvimento da Sociedade da Informao na ltima dcada. indiscutvel que a emergncia das constantes inovaes tecnolgicas associada s necessidades de um sector de informao intensiva, potencia a diversidade de solues destinadas a tentar resolver os mltiplos problemas das Unidades de Sade. Na abordagem apresentada procurou-se sublinhar que estes problemas so eminentemente de natureza gestiva e de natureza poltica. O termo poltica, no contexto deste trabalho, usado para designar as grandes linhas orientadoras para os investimentos em Sistemas e Tecnologias de Informao e Comunicao, quer ao nvel central do Ministrio da Sade, quer de cada Unidade de Sade, considerada de per si.

5. REFERNCIAS

Choo, C., Information Management for the Intelligent Organization, 2 Edio, ASIS, 2000

Oliveira, C., Impacto da Sociedade da Informao e do conhecimento nos Sistemas de Sade, Mestrado em Interveno Scio-Organizacional da Sade, Universidade de vora, 2005

Toffler, A., Powershift, Bantam Books, 1990

Serrano, A., Caldeira. M., Guerreiro, A., Gesto de Sistemas e Tecnologias de Informao, FCA, 2004