2 Viking KathrynHockett Conqueror

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  • 7/29/2019 2 Viking KathrynHockett Conqueror

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    ConquerorKatyrin Hockett

    2 livro da srie VikingsInglaterra e Escandinvia, 858A chama de uma paixo

    Gwyneth olhava para as guas do oceano tentando acalmar as batidas aceleradas deseu corao. Era o dia de seu casamento e por mais que odiasse a idia, naquele mundodominado por homens no tinha escolha a no ser obedecer aos ditames do pai. Ainda assim,ela continuava a sonhar com o amor de um viking loiro que a presenteara com um pingente emforma de cabea de drago...

    A embarcao viking singrava os mares a toda velocidade.Slig, o Destemido, preparava-se para atacar Wessex, onde um dia fora mantido

    prisioneiro. O destino, porm, tinha uma surpresa para Slig, pois uma das primeiras pessoascom quem se deparou foi a linda jovem que o ajudara a fugir de seu cativeiro. Como levar suavingana adiante, quando tudo o que queria era tom-la nos braos e faz-la sua mulher paratoda a eternidade?

    Digitalizao: Cris AndradeReviso: Rejane

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    Parte I

    Donzelas, desiluses e naus vikings

    Captulo I

    Wessex e costa ocidental de Inglaterra, 858

    O brilho suave da luz matinal incidia sobre a costa rochosa. Uma jovem

    delicada e morena observava as guas revoltas do oceano, sentada em umarocha fria e mida. Abraando os joelhos, inspirava fundo o ar marinho eprocurava acalmar-se. Era o dia de seu casamento. Daquele momento emdiante, sua liberdade seria cerceada.

    Um marido... Gwyneth sussurrou e concluiu que o som daquelapalavra no a agradava em absoluto.

    Apesar disso, nada poderia ser feito para impedir a realizao de suasnpcias. O mundo era dominado pelos homens, e uma filha tinha de obedecer

    aos ditames do pai, independentemente do quanto o episdio fossedesagradvel para ela. Gwyneth fora obrigada a aceitar um futuro semperspectivas e a desiluso de casar-se sem amor, em benefcio do fortale-cimento de uma aliana.

    O pai de Gwyneth e Alfred, o futuro marido, eram dois dos maioresproprietrios de terras de Wessex ocidental. H muito tempo haviamconcordado em unir seus territrios pelo casamento. Como Ethelin, sua irmmais velha, j estava comprometida, Gwyneth fora a eleita para a unio de

    interesses. um matrimnio cado dos cus o pai afirmara, contrariando as

    expectativas da filha.

    Gwyneth mal conhecia Alfred. Era perturbador imaginar que se casariacom um desconhecido, embora esse tipo de unio fosse usual entre as classesmais favorecidas. Depois dessa noite no serei mais uma donzela. Gwynethsentiu um arrepio de medo pelo que a aguardava. O marido seria gentil? Ou elepensaria apenas em usufruir os direitos matrimoniais? Embora Ethelininsistisse em dizer que isso no era to ruim, Gwyneth desejava algo mais.Queria a maravilhosa alegria de amar to alardeada nas canes dos bardos. O

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    mesmo sentimento que ela experimentara havia tempos por um escravoviking.

    Gwyneth fechou os olhos. Lembrou-se da primeira vez em que vira o belojovem de olhos castanho-claros e tempestuosos. Seu pai arrastara para dentrodo hall o jovem de mos amarradas nas costas.

    Temos um escravo! o pai anunciara, triunfante. Agora o faremospagar por todo o sofrimento que seu povo trouxe para nosso litoral.

    Curiosa, ela abrira caminho por entre os que se aglomeravam ao redordo pago, que na certa deveria ter semelhana com o demnio. Atnita,comprovara que o escandinavo loiro no diferia muito dos jovens de Wessex.

    Gwyneth espantara-se ao notar que ele deveria ser apenas cinco ou seisanos mais velho do que ela. Embora o rosto imberbe no escondesse asmarcas de energia e de orgulho. De cabea erguida, determinado, parecia

    mais o conquistador do que o conquistado. Apesar disso, ela sentira compaixoao ler a dor e o desengano naquele olhar expressivo.

    Ele insiste em dizer que no nosso inimigo. Que descende deingleses e que seu pai era noruegus e no originrio da Dinamarca. Pois euafirmo que um viking nunca deixar de ser um viking!

    Irado e blasfemando, seu pai empurrara o jovem e o infeliz se estatelarano cho.

    Gwyneth adiantara-se, com uma agressividade incomum prpria

    natureza calma.

    Deixe-o, meu pai! Ele no nos fez mal algum. Segurou a mo fortedo estranho e ajudou-o a ficar em p. Arrepiou-se ao constatar oagradecimento expresso nos olhos do jovem.

    Dali por diante, Gwyneth encarregara-se de levar-lhe comida quesurrupiava da mesa ou que escondia de seu prprio quinho. Receava que ojovem passasse fome, por ser alimentado apenas com gua e mingau. Osorriso de gratido era uma recompensa suficiente. As visitas matinais e

    noturnas haviam se constitudo num verdadeiro tesouro. S queria ficarprxima dele e contempl-lo em silncio.

    Ento veio o dia em que Gwyneth observara o jovem viking trabalhar. Acerta altura, ele se recusara a ser humilhado por um dos irmos dela. E apesarda interferncia de Gwyneth, fora chicoteado sem piedade.

    E ainda diz que ele o brbaro, Edwin! gritara, irada e decidida alibertar o prisioneiro.

    Naquela noite, quando a lua se escondera atrs das nuvens, ela foi at amasmorra levar comida, ungento curativo e a chave da cela.

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    Gwyneth afastou os cabelos sedosos que esvoaavam nas suas facesmolhadas. As lgrimas eram pelo cativo e pela lembrana da despedida.

    Ao passar o unguento nos ferimentos das costas e do peito desnudos,pensara em qual seria a sensao de abra-lo. Por egosmo, fora tentada adizer-lhe que no poderia solt-lo, pois ele se arriscaria a ser morto, caso fosse

    apanhado. Mas de nada adiantaria mentir para si mesma. Queria que ele fi-casse. Admoestara-se pela falta de caridade momentnea e com a faca quetrazia entre as pregas da saia, cortara as cordas que o atavam, sem pensar napunio que receberia pela prpria temeridade.

    Com olhar impenetrvel, o jovem esperou ser libertado e abraou-a porum longo tempo, murmurando palavras que Gwyneth entendera serem deagradecimento. Tambm teve certeza de que jamais o esqueceria. O jovemviking abaixou-se e tirou um pingente que mantivera escondido sob umapedra. E, com um sorriso encantador, entregara-lhe a recordao.

    Gwyneth segurou a jia com carinho. Era um drago de prata com umasafira que, sob o olho do animal, parecia uma lgrima. Toda vez que fitava oamuleto, lembrava-se do escravo e seu corao se enternecia.

    Ainda pensando no seu escandinavo? Gwyneth virou-se e fitou Ethelin,sua irm.

    Eu estava imaginando qual seria seu paradeiro... Gwyneth suspirou.

    Agora no importa mais. Mesmo se chegasse a encontr-lo, seria uma

    senhora casada. Portanto, melhor guardar o pingente junto com os outrosbrinquedos de criana. Ethelin estendeu a mo e aguardou.

    Gwyneth sacudiu a cabea. Jamais entregaria o pingente para ningum.Sentia que o nrdico lhe dera o presente com inteno de proteg-la.

    Hum, faa como quiser. Ethelin deu de ombros. Vamos. Ospreparativos para a cerimnia ainda no terminaram.

    De brao dado com a irm, Gwyneth deu as costas para o oceano. Asduas se encaminharam para a construo de pedra que era de seu noivo e que

    em breve tambm seria sua. No viu as velas de listras vermelhas e brancasque se aproximavam da costa.

    As naus vikings lembravam monstros marinhos. O sol refletia-se nosescudos sobrepostos que se assemelhavam s escamas de drages. Ascabeas desses animais entalhadas nas proas no eram to ameaadorasquanto a dos atacantes a bordo.

    Espero que o ingls prfido no nos traia e que possamos peg-losdesprevenidos o lder murmurou.

    Slig, o Destemido, alto e loiro, era filho de pai nrdico e de me inglesa.Sua coragem e suas faanhas eram notrias. Fitou a costa rochosa que ficava

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    cada vez mais prxima. Durante sete anos, fizera incurses naquela parte dolitoral, em retribuio s humilhaes e ao sofrimento que ali enfrentara.

    Com enorme satisfao, estava preparado para vingar-se do homem queo vendera como escravo.

    Odin! Odin! Slig olhou para o cu. Contamos com suas bnos!

    Os outros escutaram a prece e fizeram coro com a melodia entoada pelolder.

    Odin. Odin. Odin.

    As vozes dos convidados eram como um zumbido dentro da igreja.Gwyneth, a me e a irm ocupavam um pequeno recinto. Afobada, Ethelinarrumava os cabelos negros e sedosos da noiva. Tranava a parte superior eenfeitava as mechas que alcanavam a cintura com fitas e flores.

    Relaxe, minha filha. A me acariciou-lhe as costas. Est muitotensa.

    Estou apavorada Gwyneth sussurrou, admitindo a verdade. Noentendo nada de homens.

    Ethelin deu risada.

    Eles s querem uma coisa... quando no esto pensando em guerrear.D a seu marido o que ele deseja, sempre que ele manifestar vontade. Terem suas mos um homem facilmente amoldvel.

    E eu me sentirei uma mulher de vida fcil. Gwyneth franziu a testa. Onde esconderei meus sentimentos?

    Minha filha a me comeou, conciliadora , ter de enfrentaralgumas tarefas. Cozinhar, limpar, dar filhos a seu marido e agrad-lo nosjogos matrimoniais. Acredito que errei por mim-la demais. A sua rebeldia uma conseqncia disso. Minha querida, logo aprender que o dono da casaimpe a prpria vontade...

    Canta como um galo e cacareja sua posio aos quatro ventos

    Ethelin recuou para apreciar a beleza da irm.

    Gwyneth tinha um nariz pequeno e perfeito, mas do rosto altas,grandes olhos azuis e espessas sobrancelhas escuras.

    Alfred ficar encantado com sua beleza, Gwyneth, e com seu corposaudvel e curvilneo. Ethelin acariciou os prprios quadris amplos. Umapena que depois de alguns filhos ficar como eu.

    Quem me dera eu tivesse a sua beleza Gwyneth apressou-se emdizer.

    Ethelin sorriu com o cumprimento.

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    Eu agradeo, apesar da mentira.

    Gwyneth sentiu o tecido frio do traje que a me lhe vestia pela cabea. Abarra atingiu o cho e as mangas longas tinham fendas que permitiam ver osbraos nus. O tecido branco fazia um belo contraste com os cabelos escuros.

    Quero que tudo seja perfeito. Seu penteado, o vestido, a cerimnia e o

    banquete. Quero que se lembre desse dia para sempre. A me beijou o rostoda filha. Eu lhe darei algo para sonhar no futuro.

    Algo para sonhar.

    Gwyneth tirou o pingente de dentro do decote. Sonhara muitas vezes quereencontrava o viking, que ele se apaixonava e que se casariam. Todas asesperanas perdidas. O belo escravo ficaria apenas na memria, escondido detodos. At de seu marido.

    Pelo amor de Deus, jogue isso fora! Aenella agarrou os ombros dafilha. Deveria estar usando uma cruz e no um pingente pago. Se seumarido vir isso, o casamento comear de maneira impetuosa.

    No posso evitar preocupar-me com ele. Gostaria de saber se estbem e onde se encontra. Alfred no se incomodar pelo fato de eu ter sidorecompensada por um ato de bondade.

    Estupidez, isso sim! Ethelin comentou. Libertar um inimigo denosso pai! Qualquer outra pessoa teria sido condenada morte por isso.

    Gwyneth fora trancada em um quarto sem gua nem comida, depois deter sido aoitada. Ainda conservava as marcas dos ferimentos feitos pelochicote.

    Gwyneth no pretendia mais lutar. Escondeu o pingente entre os seios,amarrou na cintura a capa enfeitada com peles, antes de calar os sapatosforrados com pele idntica do manto.

    Est pronta? Ethelin e Aenella fizeram a inspeo final. Satisfeitas,empurraram-na para frente e encontraram o pai no corredor.

    Pelo amor de Deus, no franza a testa. O pai segurou-a pelo brao. Os convidados pensaro que bati em voc.

    Desculpe-me. Gwyneth estremeceu e tentou sorrir, mas sconseguiu exibiu uma careta.

    No implique com ela, Cedd. Lembro-me de como eu estava nervosano dia de nosso casamento. E olhe que ns dois nos conhecamos desdepequenos. Aenella entregou para a filha o buqu de rosas brancas,vermelhas e violetas azuis. Agora v, minha querida. Alfred a espera.

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    Gwyneth lutou contra as lgrimas e tropeou diante do prtico onde aesperava o sacerdote grisalho, que envergava uma tnica branca e um mantobordado. Como uma sonmbula, foi ao encontro de Alfred.

    Vestido com uma tnica branca e uma capa enfeitada com peles, Alfredsegurou-lhe a mo com firmeza. Ela fitou o homem alto e magro que em breve

    seria seu marido. Rosto e nariz alongados, olhos castanhos. A senhora est muito bonita Alfred elogiou-a.

    Gwyneth imaginou se ele cumprimentava a noiva ou as propriedades quelhe caberiam como dote. Achou o pensamento injusto. Alfred tambm poderiaestar nervoso.

    As palavras do sacerdote pareceram-lhe longnquas. Sentia as mosgeladas e as batidas aceleradas do corao. No conseguia visualizar o futuroao lado daquele homem.

    O som de madeira estilhaada interrompeu a reflexo de Gwyneth. Oinstinto advertiu-a do perigo, antes mesmo de ouvir os gritos s suas costas.

    Deus nos ajude, so os nrdicos!

    No possvel.

    s armas! o pai gritou e tentou desembainhar a espada. No foirpido o suficiente. O pesadelo atingiu-os antes. Gwyneth gritou ao ver o brilhodas espadas erguidas sob a luz das tochas. Aterrorizada, pensou nos entes

    queridos. Isso no pode estar acontecendo! Gwyneth gritou. Os temveis

    guerreiros irromperam no recinto, com os cabelos desfraldados pela corrida, aosom de seu grito de guerra.

    Odiiiinnn!

    Gwyneth pensou em fugir, mas ficou paralisada pelo medo. Por que oguerreiro loiro e barbado, de olhos sagazes a perturbava tanto? Seria por quese pareceria com ele?

    Afastou a idia absurda, quando um dos convidados teve o peitoperfurado pela espada do guerreiro loiro. Aquele brbaro era o oposto do vikingque ela conhecera. Esse era cruel e se comprazia com a carnificina quepraticava. O escravo que fora libertado era bondoso e gentil. O nrdicopossesso olhou-a e sorriu. Gwyneth estremeceu ao deduzir o pensamento queo deixava ainda mais satisfeito. Ele a conquistaria com a mesma facilidade comque dominava a todos.

    Por mais que tentasse, no conseguia acordar do sonho opressivo.

    Gritando e esperneando, foi separada de sua me. Com o canto dos olhos viu o

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    pai e os irmos lutando e temeu pelo pior. Ethelin foi encurralada por umbrutamontes.

    No! Gwyneth gritou e correu para socorrer a irm.

    Saia daqui, Gwyn! o pai berrou. Fuja! Gwyneth no chegou aobedecer. Viu o pai ser imobilizado por dois homens que o agarraram por trs.

    Afastou o projeto egosta e resolveu que todos lutariam juntos. Para vencer oumorrer. Munida de um candelabro, atirou-se para frente. Atingiu primeiro um,depois o outro atacante.

    Alfred! ela chamou o noivo repetidas vezes, mas ele continuouparado, imvel.

    Gwyneth gritou ao ver o pai cair, mas nenhum convidado ou parente veioem seu auxlio. O viking loiro de ombros largos caminhou em sua direo e oolhar feroz era um indicativo de que a luta mal comeara.

    Afastem-se! Gwyneth deu um grito agudo e atingiu com umpontap a canela de um dos agressores.

    O inimigo praguejou e preparou-se para revidar, mas foi impedido pelavoz profunda do nrdico loiro que parecia ser o lder. Gwyneth esperou seratingida por ele, mas no foi o que aconteceu.

    Foi possvel sentir-lhe a autoridade em cada poro. Ele curvou-se, ergueu-a nos braos e atravessou a igreja carregando-a como se ela fosse umacriana. Abriu a porta de uma cmara, entrou e trancou a porta atrs de si.

    O barulho forte da contenda era ouvido dentro do pequeno aposento.No tardaria muito e os tesouros da igreja seriam levados, aps a rendio dosingleses.

    Tenho direito a uma bela recompensa Slig declarou ao fitar ajovem adorvel de longos cabelos negros e olhos azuis.

    Jamais cederei! Gwyneth encarou-o com bravura. Enterrou as unhasnas palmas das mos, procurando ser corajosa.

    Slig espantou-se ao ouvi-la falar seu idioma e deixou-a no cho. o que veremos retrucou, acariciando-a com o olhar.

    A jovem era pequenina. Mal lhe chegava altura dos ombros. Assimmesmo erguia o queixo, desafiadora. Slig tocou-lhe o brao e ela recuoubruscamente. Procurava uma maneira de fugir. Havia apenas a porta e elebloqueava a passagem.

    Eu deveria deix-la ir. No gosto de lutar com mulheres.

    Por que hesitava? O que havia naquela jovem que o perturbava? Seriamos cabelos ou os olhos? Ou seria a satisfao de afastar a noiva de um ingls?

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    Ah, aquele ingls um covarde!, Slig falou consigo mesmo.

    O noivo ficara imvel enquanto o cu caa sobre a cabea de seu povo.No levantara um dedo para salvar a futura esposa. Slig teria lutado at o fimde suas foras para proteger a jovem de um usurpador.

    Jamais deixarei que me toque Gwyneth afirmou, olhando fixamente

    para a porta.

    Jamais um termo muito forte. Aprendi a empreg-lo com parcimnia. Resolveu brincar com a jovem e saiu do caminho.

    Gwyneth agarrou a oportunidade. Correu at a porta macia e tentouabri-la, mas Slig agarrou-lhe os pulsos com presteza, indiferente lutaselvagem que ela empreendia para soltar-se.

    Gosto de mulheres impetuosas. Riu zombeteiro.

    E eu, de homens misericordiosos. Misericrdia?

    Slig tocou na gargantilha de ouro da qual no se separava. Quando setornara um homem livre, resolvera us-la em substituio de ferro quemarcara sua condio de escravo. Era uma lembrana do sofrimento daquelesdias e da crueldade dos senhores ingleses.

    Os ingleses no conhecem o significado dessa palavra. Eles lutamentre si como ces em disputa por um osso e demonstram uma maldade

    inigualvel. Slig soltou-lhe os pulsos e acariciou-lhe levemente o rosto e acurva do pescoo.

    No encoste em mim outra vez. Gwyneth fitou a espada que eleenfiara na madeira da porta. Se fizer isso, eu me matarei.

    Todas dizem a mesma coisa Slig sussurrou , mas nenhuma aindacumpriu a ameaa. Pelo contrrio. Elas logo comeam a implorar para seremacariciadas.

    No eu!

    Slig tomou a resposta como uma provocao. Puxou-a de encontro aopeito e curvou-se para beij-la. Gwyneth prendeu o flego diante dos lbiosfirmes e suaves e da lngua que forava e explorava sua boca.

    Gwyneth sentiu tontura pela proximidade e por um momento deliciou-secom o beijo. Mas s at recordar-se do que ele fizera. Irritada mais consigomesma do que com ele, afastou-se, levantou a mo e esbofeteou-o.

    O golpe ardeu e feriu, sobretudo, o orgulho de Slig, que perdeu apacincia. Pensara em ser gentil, mas de repente tornava-se obcecado empossu-la. A jovem teria de pertencer-lhe por direito de conquista.

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    No pretendia for-la a nada, mas eu o farei, pelas barbas de Odin! Sem hesitar, Slig segurou na gola do vestido e rasgou-o at a cintura.

    No! Gwyneth cobriu-se com as mos espalmadas, tentando mantero recato.

    Slig segurou-a pelos cabelos longos. Fitou-a intensamente e desceu o

    olhar at os seios perfeitos. Sufocou um grito ao perceber o objeto que refletiaa luz do archote. Era o pingente da lgrima do drago.

    Pasmo, Slig afastou a mo depressa.

    Loki me leve!

    Com o rosto sombrio, passou a mo pelos cabelos loiros. O coraodisparou ao lembrar-se da menina bela, bondosa e meiga que lhe concedera aliberdade. Sem ela, estaria perdido.

    Da ltima vez em que a vira, parecia-se com um elfo de cabelos escuros.Magra e desajeitada, quase sem busto.

    Mas que mudana extraordinria... Slig lamentou muito que oreencontro houvesse acontecido em meio a tanta violncia.

    Confusa, Gwyneth no entendeu a mirade de emoes que perpassavampela fisionomia do guerreiro.

    O que houve?

    Slig virou-se de costas e foi at a porta.

    Pode ir embora. Eu no a impedirei de sair, nem permitirei que amachuquem.

    Atordoada pela surpresa, Gwyneth gaguejou algumas palavras degratido.

    No saia de meu ngulo de viso para que eu possa proteg-la.

    Proteger-me? Gwyneth nunca estivera mais confusa. Em ummomento ele parecia desej-la e no seguinte agia como se tivesse sido

    nomeado seu guardio?!O viking no a encarou. Apesar disso, Gwyneth sentiu a tristeza profunda

    que o envolvia. Imaginou o que teria provocado tal sofrimento.

    Por que ele a poupara?, repetiu a pergunta inmeras vezes, enquanto iaao encontro da famlia, ajeitando o corpete como podia.

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    Captulo II

    Slig andava de um lado para o outro diante das portas da igreja eblasfemava em voz alta.

    Mas que falta de sorte! Encontr-la justamente naquelas circunstncias!

    Nos ltimos anos pensara muito na possibilidade de um reencontro. Masem seus sonhos sempre via um homem famoso e prspero a conduzindo pelaentrada de um castelo belssimo. O seu. Gostaria que ela admirasse o indivduoem que se transformara e que no se arrependesse de t-lo libertado. Masagora a fantasia se despedaava. O destino se encarregara de deix-la natrilha da pilhagem e da violncia a que ele se entregava.

    Slig praguejou de novo. No poderia imaginar que a encontraria no

    ataque a uma igreja em Chester. As propriedades da famlia dela situavam-semuito longe da costa. Embora odiasse o pai de sua jovem redentora eprocurasse vingar-se de todos os que o haviam feito sofrer, no pensara ematacar os parentes dela por receio de causar algum mal quela que o salvara.Ento, sem querer, pagara a bondade com atitudes cruis dirigidas famlia dajovem.

    Slig pensava que esse tipo de emoes tinha sido entorpecido pelosltimos anos. Nada mais errneo. Cortava-lhe o corao saber que a magoara.

    Lembrava-se de que ela lhe trouxera gua para aliviar a sede e comidadecente para matar a fome. Interpusera-se entre ele e o chicote, para evitarque fosse punido. Sempre fora bondosa e gentil. Ignorara a condio deescravo e o respeitara. Ela lhe concedera um motivo para continuar vivendo, adespeito da crueldade e da depravao que o rodeavam.

    Recordava-se bem da noite em que ela o libertara. Durante algunsmomentos cogitara em ficar, receoso pelo castigo que ela receberia por t-loajudado. A insistncia da menina o convencera a fugir.

    Por algum tempo vagara, faminto, perdido e solitrio, por leiras inspitas.Mas a determinao e a vontade de sobreviver foram mais fortes. Alimentara-se de animais silvestres e de vegetais. Aos poucos, vencera as centenas dequilmetros que o distanciavam de um povoado viking onde se estabelecera.Durante algum tempo fora cauteloso. Temia at os nrdicos, pois fora tradopor um deles. Finalmente sara para as pilhagens e daquele momento emdiante passara os dias procurando vingar-se dos ingleses. Mas agora, depois dev-la, lamentava profundamente sua maneira de viver.

    Droga de ingls traioeiro! Mesmo sabendo que ela estava para casar-se,

    nada lhe dissera. Slig perguntou-se qual seria o plano sinistro que fizera ohomem entregar-lhes um desenho do interior da igreja.

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    O camarada pretendia ver todos os convidados mortos? Teria inteno defugir ele mesmo com a noiva? Qual pensamento maligno que se insinuara emsua mente?

    Slig fitou a esttua de pedra da jovem com um beb nos braos. Aexpresso de paz no correspondia ao massacre que fora deixado para trs.

    Desejou muito ter tomado outro rumo antes de chegar destruindo tudo. Haviaoutras igrejas, outros conventos e castelos ao longo da costa para serempilhados. Bem, poderia ter escolhido um daqueles.

    Ingls amaldioado!

    Aquele homem maldito que trouxera morte e violncia aos seus deveriaser pago em espcie. Conforme o acordo, a ele seria dado uma parte do saque,mas Slig comeou a elaborar uma boa surpresa. Um traidor no tinhalealdade. Era capaz de trair inmeras vezes, at que o crculo se fechasse.

    Seria uma questo de tempo at que o ingls o trasse tambm. No lhe darei essa oportunidade esbravejou. Entregaria o ingls a

    Roland e deixaria o amigo agir a seu bel-prazer.

    Se no podia ficar com a jovem, o ingls tambm no ficaria, ponderoucom satisfao. Alm disso, ela merecia coisa melhor do que o covarde comquem iria se casar. Pelo menos teria o consolo de saber que o ataque evitara omatrimnio. A idia o fez rir alto. Mas foi uma risada vazia. Depois do queacontecera, no poderia voltar para a vida de sua salvadora, conforme

    planejara. Seria melhor deixar que se lembrasse dele como o escravoinofensivo, em vez do guerreiro que trouxera destruio e morte a seus entesqueridos.

    Ela jamais saber...

    Melhor assim. Era um saqueador escandinavo e ela, uma inglesa de altaestirpe. Em quaisquer circunstncias, uma unio daquelas somente causariaproblemas.

    Como faria para esquec-la?

    Fechou os olhos. Em sua mente enxergou a menina adorvel de olhosazuis e clios escuros. Era to jovem que Slig lutara contra seus sentimentosenquanto estivera cativo. Naquela poca, j imaginava que a jovemdesabrocharia em uma mulher formosa. Uma expectativa plida, se comparada beldade que surgira diante dele.

    O pingente!

    Se no fosse o pingente, o que teria acontecido? Poderia t-la dominadoe ela o odiaria para o resto da vida.

    Um suspiro escapou dos lbios carnudos e Slig lembrou-se de terganhado da me o drago com a lgrima de safira. Comeara a andar e

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    entendera que nunca deveria separar-se do objeto. A me insistira que setratava de uma proteo. Era seu bem mais precioso e ele o entregara aoutrem.

    Por qu?

    Porque naquele momento, ela fora mais importante de que seu prprio

    bem-estar.

    O drago a protegeu!

    E tambm aos outros. No momento em que a reconhecera, pusera umfim pilhagem e violncia. Felizmente, ela nem sequer imaginava de quemse tratava.

    Slig coou a barba que ocultara sua verdadeira identidade. Sabia quesua aparncia mudara bastante. Estava mais alto, mais musculoso e com ocorpo coberto por cicatrizes de batalhas.

    Slig! Roland saa da igreja. O que est fazendo aqui? Deveriaestar l dentro para receber a sua parte.

    No quero saber dos lucros do saque.

    No?! Roland estreitou os olhos e tocou na testa de Slig paracomprovar sinais de febre. Est doente?

    No!

    Roland virou a cabea de lado.

    Tem certeza?

    No! O grito fez Roland tapar os ouvidos.

    Slig compreendeu que no poderia descontar a raiva em seu amigo.Segurou-o pelo brao e levou-o at um banco de pedra. Sem rodeios, contou-lhe a histria do tempo em que fora escravo e da menina que o libertara.

    Ela foi meu nico vnculo com a sanidade. Se no fosse por ela, euteria morrido. Agora a encontrei e cometi um erro grave. Um erro que no

    poderei reparar. Leve-a conosco!

    O qu?

    Leve-a conosco Roland repetiu em voz mais alta. Pelo que estme contando, posso deduzir que tem carinho por ela. Ou no teria sonhado emreencontr-la. Proclame seus direitos sobre ela e ter o resto da vida paradesculpar-se.

    No conseguiria fazer Roland entender que se a dominasse, morreriamos sentimentos que outrora os envolvera. Ela ficaria ao lado dele fisicamente,mas seu corao jamais lhe pertenceria. No era o que desejava. O melhor

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    seria partir e nunca mais a procurar. Era prefervel isso a ver o dio explcito nafisionomia doce, toda vez em que a olhasse.

    No!

    Algum j lhe disse que um homem muito teimoso? Rolandexasperou-se. Slig anuiu.

    Sim, eu o escutei afirmar isso vrias vezes.

    Ah... Roland deu uma sonora gargalhada. Pois bem, volto arepetir o que j disse e peo que mude de idia.

    E fazer dela uma prisioneira? Slig surpreendeu-se. Nunca fariauma coisa dessas. Devo deix-la. Invocarei deusa Fria para que a proteja.Rena os homens. Partiremos imediatamente.

    To cedo? Roland ergueu a mo to logo proferiu tal frase.

    Desculpe-me. No vou dizer mais nada.Roland levantou-se para cumprir as ordens. Slig continuou sentado, com

    a cabea entre as mos, desolado. Embora soubesse estar agindocorretamente, sofria com a certeza de que nunca mais a veria.

    Gwyneth teve a impresso de que a igreja estava cheia de demnios quesaam carregando grandes sacos cheios de objetos de valor.

    Ah, como os odiava!

    Correu em direo capela. Queria encontrar a famlia. A me estavaescondida atrs do altar e, ao v-la, atirou-se em seus braos, chorando.

    E papai?

    No sei o que houve com ele. Seu pai desapareceu.

    Ethelin?

    Aenella deu de ombros.

    Eu a ouvi gritar quando foi carregada para fora. A me recuou esegurou-lhe as mos. Viu seus irmos?

    Gwyneth esforava-se para no chorar.

    Vi Pengwyrn cair sob uma espada inimiga. Edwin estava vivo, mas como brao ferido. No sei de Aidan.

    Vamos procur-los. Aenella lutou contra o terror e caminhou debraos dados com a filha, buscando o marido e os filhos em meio a mortos eferidos.

    Gwyneth localizou dois irmos deitados no cho. Sangrando, mas vivos.

    Ajoelhou-se e ajudou a me a tratar dos ferimentos.

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    Deus nos abandonou, minha me. Por qu? o filho mais velhobalbuciou.

    Talvez ele pretendesse nos punir por nossos pecados. Aenellaresignou-se.

    No acredito que Deus tenha algo a ver com o que nos aconteceu. Os

    vikings so os nicos responsveis por essa atrocidade. E por Deus eu juro queeles pagaro por isso! exclamou Gwyneth, antes de levantar-se e sair daigreja gritando o nome dos outros membros da famlia que no estavam nanave da igreja.

    Quando no obteve respostas, parou ao lado da fonte. A garganta secaimplorava por um gole de gua. Escutou soluos fracos que se repetiam. Olhoupara baixo e sufocou um grito. Aidan estava dentro do poo. Sentado em cimado balde de madeira, agarrava-se na corda para no submergir.

    Aidan?

    Gwyneth puxou o balde com toda fora que possua. Aidan saiu doburaco com as roupas encharcadas.

    O que estava fazendo a dentro? Poderia ter cado na gua e seafogado.

    Foi o nico lugar que me ocorreu como esconderijo. Com aspalavras entrecortadas por soluos, Aidan contou a humilhao de considerar-se um covarde. Eu corri, Gwyn! Fugi dos vikings. No queria morrer. Por isso

    me escondi.

    Gwyneth enxugou as lgrimas do rosto do irmo.

    Todos ns estvamos com medo.

    Mas nem por isso saram correndo.

    Eu no fugi por que minhas pernas estavam trmulas e no pude sairdo lugar. Gwyneth abraou o irmo pela cintura e foi com ele at uma pedragrande, onde se sentaram. No h por que se envergonhar. At mame, que

    sempre foi corajosa, escondeu-se atrs do altar. Ela est bem?

    Nada lhe aconteceu, graas a Deus.

    Eu deveria t-la protegido. Papai sempre dizia que os homens dafamlia eram os responsveis pela me e pelas irms. E eu fugi e as deixeientregues a eles. Gwyneth acariciou-lhe o ombro.

    Um rapaz to novo no teria experincia necessria para lutar contraos nrdicos. At mesmo Alfred apavorou-se. Ficou parado como uma esttua.No ergueu um dedo para ajudar papai nem Pengwyrn.

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    Vi Alfred quando espiei por cima da beira do poo. Ele conversava comum viking grande, horrvel e zarolho.

    Conversavam?

    Vi o grandalho entregar-lhe um saco.

    Alfred e os vikings? Gwyneth recusava-se a acreditar que um inglstrairia seu povo. Por isso tratou de esquecer a dvida.

    Gwyneth deixou o irmo caula e foi procura do pai e de Eithelin. Noos encontrou nos arredores de igreja. Eles poderiam estar em um dos naviosdos agressores. Ouvira dizer que os brbaros aprisionavam pessoas comoescravos.

    Voltou para a igreja, pegou um manto com capuz que ali fora deixado evestiu-o. Caso se mantivesse nas sombras, no chamaria muita ateno.

    Havia dois navios ancorados em uma angra escondida por rvoresfrondosas. Um era o Dracar e tinha um drago esculpido na proa, e o outro erauma das naus alongadas. Os nrdicos azafamavam-se para todos os lados.Como um enxame de abelhas, enchiam sacos, barricas e arcas com o produtodo saque da igreja.

    Ladres! Gwyneth sussurrou. Levaram todas as riquezas que nospertenciam. Odiava-os cada vez mais. Perguntou a si mesma quanto tempoainda pretendiam ficar ali.

    Aproximou-se com cautela, esgueirando-se nas sombras e procurandopor sinais do pai e dos irmos. Nada.

    O lder nrdico estava em p no meio dos outros, de pernas afastadas,distribuindo ordens. Lembrou-se do beijo e esfregou a boca, como se pudesseafastar a m impresso.

    Se eu fosse homem e tivesse uma espada, eu lhe atravessaria o peito! falou consigo mesma, mas logo se calou, para tentar ouvir melhor o quediziam.

    Slig...!Gwyneth virou a cabea e viu vrios nrdicos descendo a colina

    pedregosa rumo ao Dracar. Abaixou depressa a cabea, mas continuou aespionar.

    Ele quer lhe falar. Diz que o senhor o logrou. Um viking carecaempurrou para frente um homem de capuz e vestido de negro.

    Logrei? O lder cruzou os braos na altura do peito, ameaador.

    O senhor atacou cedo demais o homem de capuz acusou o ldernrdico. No houve tempo pra que os votos fossem proferidos.

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    Impossvel! Teria de ser um engano! Mesmo sem ver o rosto do homem,Gwyneth reconhecia-lhe a voz.

    Havia muito tempo. Por que no apressou o sacerdote?

    Eu lhe disse para esperar meu sinal antes de atacar.

    E eu deixei claro quem era o responsvel por meus homens. O ldernrdico adiantou-se e encarou o encapuzado.

    Todos os meus planos caram por terra. Eu queria os homens daquelafamlia mortos para que eu fosse o nico herdeiro. O senhor apenas os feriu.

    A identidade do traidor era indiscutvel. Mesmo assim Gwynethaproximou-se mais um pouco. Seus olhos teriam de confirmar o que seusouvidos escutavam.

    Somos escandinavos e no assassinos! Concordei em assaltar a igreja

    porque o fato nos traria lucros. Quanto s mortes... muitas so inevitveis. Masno concordei em matar por sua causa.

    Quero um quinho maior para compensar seu ataque desastrado.

    O viking ergueu um punho fechado.

    Ter somente o que eu disse que lhe caberia! O lder viking virou-see caminhou para o navio, depois de berrar uma imprecao.

    O traidor de capuz virou-se. No havia a menor dvida.

    Alfred! Gwyneth murmurou.Alfred planejara casar-se para unir as fortunas. E depois engendrara o

    ataque dos vikings para matar o sogro e os cunhados. Assim teria controletotal de todo o territrio a oeste a costa.

    Graas a Deus no houve tempo para o casamento Gwyneth disse asi mesma.

    De certa forma, teria de agradecer aos nrdicos pelo que ocorrera.Observou o lder subir a bordo do Dracar. Embora detestasse os vikings, seu

    dio mais forte era contra Alfred. Ele se arrepender at o fim de seus dias porhaver conspirado contra meu pai! Gwyneth virou-se e subiu a encosta,determinada a arrastar o reino de Wessex contra ele, se necessrio fosse!Todos se voltariam contra o traidor. Alfred teria sorte em no ser esquartejado.

    Devagar e com cuidado, foi em direo igreja. Ouviu passos leves ssuas costas e se deteve. Algum a seguia. Tentou despistar o perseguidoratrs de pedras e rvores. Sem resultado.

    Saiu para um passeio? Alfred indagou, ameaador. A tenso deixava

    a fisionomia dele dura como rocha.

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    Gwyneth teve certeza de que Alfred sabia que ela ouvira a conversa epor isso se tornara uma ameaa para ele.

    verdade.

    Gwyneth procurou afastar-se, mas Alfred agarrou-a pelo brao combrutalidade e forou-a a encar-lo.

    Solte-me! Inutilmente, arranhou-lhe a mo.

    No posso! A senhora representa um problema para mim. Alfredestreitou os olhos e Gwyneth percebeu o grau de ferocidade daquele homem.Ele rosnou e atirou-a no cho. O impacto da terra dura machucou-a, masaquele que a esta hora deveria ser seu marido nem esperou que serecuperasse. Agarrou-a pelo pescoo e apertou.

    No tenho outra alternativa, exceto mat-la. Gwyneth no conseguiarespirar nem pensar. A nica idia que lhe passava pela cabea era que seriamorta pelo homem com quem estivera perto de casar-se.

    No! ela gritou j quase sem ar.

    Implore por misericrdia!

    Por favor...

    De novo...

    Falar era um sofrimento, mas ela se esforou para articular algumaspalavras.

    Por... favor, no... me... mate.

    Alfred aproximou o rosto e Gwyneth entendeu que a inteno dele noera apenas o estrangulamento.

    Gwyneth retesou-se. Recusava-se a aceitar o inevitvel. Inspirou fundo esoltou um grito com esperana de que o pai ou os irmos viessem em seuauxlio. Mas foi um homem alto com um elmo cnico que o interrompeu.

    Pelas barbas de Odin, ainda h mais tesouros por aqui. Alfred afrouxou

    a mo. V embora! J levaram tudo o que tinham direito. Eu cuidarei dela.

    No, senhor. Eu a quero!

    Gwyneth viu o rosto cheio de cicatrizes e achou que seria prefervelmorrer. Mais quatro nrdicos se aproximaram e formaram um crculo suavolta. Todos a olhavam com malcia.

    Alfred preferiu no lutar.

    V embora e leve-a para longe daqui...O viking grunhiu, levantou-a e jogou-a sobre o ombro.

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    Gwyneth lutou e bateu-lhe nas costas com os punhos fechados. Com osjoelhos atingia-lhe o peito. O homem praguejou e parou perto de uma rvore.Sem hesitar, ele girou com velocidade. Gwyneth bateu com a cabea no troncoe mergulhou na escurido gelada da inconscincia.

    Os homens a bordo da nau com a cabea de drago na proa curvaram-se

    sobre os remos. Com algumas vidas perdidas na batalha, havia menos desetenta e dois marinheiros. Vrios remos permaneciam parados, sem ningumpara mov-los.

    Slig contemplou a costa e seu olhar pairou nas brumas que cercavam oterritrio de Wessex. Pensou com tristeza na beldade de olhos azuis que ficarapara trs. Embora desejasse muito lev-la para longe, entendeu que j lhetrouxera muito sofrimento. Ela ficara sozinha para cuidar dos feridos.

    O vento do noroeste trazia mechas de cabelos para frente dos olhos de

    Slig. Ele sentiu o gosto de sal e sorriu. Era bom estar de volta ao mar. Talvezpudesse esquecer o que acontecera em terra.

    Fizemos um sacrifcio em nome de Tor Roland gritou do outro barcoe ergueu a espada para saudar o lder. Nossa jornada chegar a um bomtermo.

    O timoneiro virou a proa em direo ao mar aberto. A nau inclinou-se nasguas azul-esverdeadas e Slig tomou posio junto ao leme.

    Iar a vela! ele comandou.

    Os remos foram recolhidos, enquanto a ordem era cumprida. Para remar,a tripulao sentava-se sobre canastras ou barricas.

    O Sea Dragon deslizava sobre as ondas. Slig deixou seu posto e foi at aproa. Sentia orgulho de sua embarcao. O drago entalhado prosseguia seucaminho por entre a espuma marinha e a boca aberta parecia prestes a engoliruma presa.

    No acho que esses sacerdotes cristos sejam to maus Rolandgracejou, olhando para o vinho que haviam confiscado da igreja. Pelo que

    ouvi dizer, eles bebem vinho quando louvam seus deuses.

    , mas tambm tm de se abster de mulheres.

    Que horror! Roland coou o queixo. Talvez seja por isso queficam sempre carrancudos.

    De repente, a paz do momento foi quebrada por uma briga entre osmarujos.

    Ela minha!

    Podemos reparti-la.

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    Nada disso! Ela est includa na minha parte da pilhagem. Sligergueu a mo, exigindo silncio e caminhou at o local.

    O que houve?

    Eu a trouxe a bordo!

    Lutarei por ela!

    Ela?

    Por um instante, Slig pensou ter ouvido algum gemer.

    As altercaes recomearam e som foi abafado. Mas o interesse foradespertado. Caminhou at onde se encontravam as arcas, as barricas e osengradados. Uma mulher estava estendida no cho. Apesar dos olhosfechados, reconheceu-a de imediato.

    No pode ser!

    Mas era. A jovem inglesa de cabelos escuros. Felizmente, ela respirava. Oque no aplacou sua ira.

    Algum haver de pagar por isso! Olhou ao redor, procurando oculpado.

    Foi Gorm! Ele admitiu a proeza.

    Eu o avisei que a jovem noiva e a famlia dela deveriam ser poupadas! assim que minhas ordens so obedecidas?

    Gwyneth abriu os olhos por um instante e fechou-os em seguida.

    Slig abaixou-se e ergueu-a gentilmente nos braos. Sorriu ao sentir queela se aconchegava. Segurou-a por algum tempo e depois a deitou sobre umadas peles amontoadas no deque. Acariciou-lhe o cabelo e esperou at queacordasse.

    Gwyneth entreabriu as plpebras aos poucos. Fitou o nrdico loiro comintensidade e relanceou um olhar pelo convs. Ao entender o que acontecera,deu um grito ensurdecedor.

    Captulo III

    No! Gwyneth engasgou por causa do grito. Sentia-se confusa e

    apavorada. No se tratava de um pesadelo. Ao fitar o rosto do chefe viking,entendeu que tudo era real. E tornou a berrar.

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    Faa-a calar a boca! um dos guerreiros pediu, com as mos nasorelhas. Ela acabar irritando Aegir, deus dos mares.

    Jogue-a na gua! outro sugeriu. Slig fez sinal, pedindo silncio.

    No se preocupe. Ningum lhe far mal. Eu no permitirei.

    Gwyneth fitou os homens que a rodeavam e no acreditou na promessa.Estremeceu ao ver o brilho dos olhares e os sorrisos maldosos. Tinha deescapar deles. Ignorou a tontura e levantou-se. Cambaleando, foi at a popa.

    Estou cercada por inimigos Gwyneth sussurrou. Ogros odiosossem nenhuma misericrdia.

    Observou as guas espumantes. Hesitou. Olhou para trs e decidiu-se.No havia escolha. Fechou os olhos e orou, preparada para pular.

    No!

    Solig foi pego de surpresa. No esperava por isso. Estava longe deGwyneth. No chegaria a tempo de impedir o gesto tresloucado. Se corresse,ela poderia atirar-se mais depressa. S havia uma atitude a ser tomada.

    Baugi!

    Gwyneth encarou o viking, envolta em emoes desesperadoras e fez osinal-da-cruz.

    Ele que fique com o peso de minha morte em sua conscincia, se que atem.

    Gwyneth atirou-se para frente, mas no caiu. Algum a agarrou pelascostas e evitara o pulo. Olhou por sobre o ombro e estremeceu. Um urso aprendia com a mandbula.

    Slig segurou-a pela cintura e puxou-a para trs com tanta fora queambos se estatelaram no piso de madeira. A queda de Gwyneth foi amortecidapelo animal peludo que ainda no a largara.

    Solte-a, Baugi!

    O animal obedeceu s ordens do dono e largou-a. Gwyneth comeou achorar e procurou desvencilhar-se dos braos que a seguravam.

    Quero ir embora! Largue-me!

    Os ltimos acontecimentos voltaram a acoss-la. Destruio, morte esangue. E o pior de tudo. A traio de Alfred. Seu pai confiara nele e o acolherana famlia. No encontrou palavras para classificar o que Alfred fizera. Forauma conspirao contra o prprio povo. Alfred era muito mais vil de que osnrdicos.

    Eu odeio a todos! Gwyneth decidiu que dali para frente adotaria omutismo como estratgia.

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    Antes se orgulhava por haver aprendido o idioma nrdico, agoradetestava qualquer som semelhante.

    Pode odiar-me, se quiser. Mas meu co e eu salvamos sua vida.

    Slig no encontrou palavras para explicar o remorso que o atormentavapor tudo o que acontecera.

    Gwyneth nada respondeu. Tentou levantar-se, mas foi impedida pelopeso do lder e do urso que ele chamara de co.

    Ah, seu pai tambm tinha ces de caa. Mas nem mesmo eles eram tograndes quanto aquele animal gigantesco, peludo e preto que continuavasentado em cima de suas pernas.

    Slig percebeu o olhar desconfiado da jovem.

    Baugi um gigante afvel e bem-humorado. Ele muito til no navio.

    Pode recuperar objetos ou pessoas que caem na gua.Slig tirou uma das mos da cintura de Gwyneth e afagou a cabea de

    Baugi. Gostava muito do co e orgulhava-se de ser seu dono. Na verdade, ele oencontrara em Wessex, onde um cruel pescador ingls quase o matara detanto trabalho. O pobre animal arrastava redes cheias de peixes para fora domar. No final do dia era amarrado a uma carroa e a puxava at a cidade. Eraum esforo ininterrupto, sem intervalos para descanso. O tratamento dado aoco lembrara-o dos tempos da prpria escravido. Por isso libertara o co dequase setenta quilos, que acabara se tornando seu fiel seguidor. Dera-lhe o

    nome de Baugi em homenagem a um dos gigantes da mitologia escandinava.

    J perdi a conta de quantos homens Baugi salvou. Slig percebeuque ela olhava para o animal com respeito. Sorriu, mas no obteve retribuio. Pode jogar-se no oceano quantas vezes quiser. Baugi a trar de volta. Asenhora conseguir apenas molhar a roupa. Eu no pretendo deix-la morrer.

    Pensando melhor, Gwyneth alegrou-se pelo fato de o co t-la impedidode afogar-se. Mesmo assim, no estava disposta a amolecer o corao diantedo cachorro nem de seu dono. Mesmo se o lder no fora o responsvel pelo

    rapto, passara a sor prisioneira dele.

    Escute-me Slig precisava estabelecer um vnculo de paz entre eles. Dou-lhe a minha palavra de viking que nada lhe acontecer e que estarsegura neste navio.

    Gwyneth fitou-o e admitiu que a sinceridade do nrdico era inegvel.Descontraiu-se e suspirou.

    Se me der sua palavra de que no cometer mais nenhum aio insano,eu a deixarei levantar-se. A senhora promete?

    Gwyneth anuiu, sem falar.

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    Eu no pretendia lev-la conosco, mas acho que os deuses assim odesejaram.

    No o meu Deus! Gwyneth foi rspida, quebrando o voto de silncio.

    Queria continuar com raiva, mas reconhecia que o lder viking no era oculpado. Pelo menos nesse caso. O maior criminoso era Alfred. O perigo ainda

    no fora afastado. Seu pai Ignorava a traio de Alfred. Como avis-lo, seestavam em alto mar?

    Slig soltou-a.

    Ento posso contar com sua promessa de que no tentar afogar-se? ele insistiu.

    Sim. Gwyneth fitou a imensido do oceano sem fim. Leve-me devolta. No se tratava de um pedido, mas sim de uma ordem.

    O reino de Wessex inteiro j deveria saber do ataque. Ele e seus homensseriam recebidos com espadas e acha-d'armas assim que desembarcassem.No podia arriscar a vida de seus guerreiros, nem mesmo por ela. E do fundodo corao, desejava que ela ficasse.

    No posso.

    Pode, sim! Gwyneth no viu sinal de abrandamento na expresso dochefe nrdico. O senhor no pode estar pensando em levar-me... para sei londe!

    No gostaria de causar-lhe tristeza, mas no posso voltar Sligafirmou de maneira terna.

    Meu pai lhe dar uma grande recompensa pelo meu retorno! Gwyneth lutava contra o pnico que insistia em aumentar.

    Seu pai no perderia a oportunidade de matar-nos. Um a um. Asenhora ter de ser um de ns... pelo menos por enquanto.

    Os homens a olhavam com curiosidade, sem desejo. Pareciam aceitar deantemo que ela passara a pertencer ao lder.

    O qu? No... nunca...

    preciso.

    Jamais me comportarei como uma nrdica. Tambm no pretendo seruma de suas mulheres! Gwyneth desafiou-o.

    O tamanho do dio era inconcebvel para uma jovem to adorvel,feminina e pequena. E era mais do que ele poderia suportar. Slig virou-se e foipara o outro lado da nau.

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    Recordou-se de outros tempos quando vira amor e suavidade naqueleolhar. No fora cego diante dos sentimentos ingnuos e puros que ela lhededicara.

    Ah, como gostaria que aqueles dias se repetissem!

    Slig lembrava-se da noite em que ela o libertara, como se houvesse sido

    na vspera. O olhar amoroso com que o fitara ao abaixar-se para tratar-lhe osferimentos. O toque suave daquelas mos delicadas fora melhor de que olinimento curativo. E, sem avisar, ela o libertara.

    Ele a abraara para demonstrar afetividade e gratido. E sentira umaemoo diferente que lhe tocara o corao. Gostaria de ter fugido com ela,mas era jovem demais.

    Sim, beijara-lhe a testa, mas, se fosse mais velha, teria lhe beijado oslbios. Naquele momento desejara ficar a seu lado e esperar que a bela flor

    desabrochasse. Mas fora preciso partir com urgncia.

    Ele estivera certo. A menina se transformara em uma beldade.

    Abaixou o olhar e acariciou Baugi que o seguira.

    Haveria um meio de superar aquela averso e fazer com que ela oamasse de novo? A pergunta continuou a atorment-lo durante muito tempo.

    O sol poente parecia uma enorme moeda de ouro suspensa sobre ooceano azul-marinho. Gwyneth estava encolhida em uma pilha de peles

    grossas amontoadas perto da popa. Estremeceu e cobriu-se com uma dasmantas de pele at o queixo. A nau balouava para cima e para baixo. Ouvia-se a batida rtmica dos longos remos que dragavam a gua e o canto meldicodos marinheiros. A embarcao seguia seu rumo e a afastava cada vez mais dame, do pai, dos irmos e do litoral de sua juventude.

    Trmula, ela afastou os cabelos pegajosos por causa do borrifo dagua salgada do rosto e suspirou. Estava num barco enorme, cheio deestranhos que haviam atacado seus parentes.

    Oh, Deus, por favor, me ajude... Gwyneth fez o sinal da cruz. Protegei-me da sanha dos vikings.

    Contemplou o lder alto e musculoso que se encontrava em p ao lado domastro.

    Que tipo de pessoa seria ele? Qual seria seu prprio destino quandochegassem ao povoado dos nrdicos? O lder a tomaria como esposa? Ouescrava? Seria encarcerada como prisioneira? Qualquer que fosse a resposta, aapreenso continuava intensa.

    Gwyneth admitiu que s vezes no conseguia odiar o lder como deveria.Seus sentimentos emaranhavam-se e no se definiam. No incio, comprovara a

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    brutalidade do nrdico loiro. Por outro lado, havia ocasies em que ele secomportava com gentileza extrema. Um verdadeiro enigma. Era preciso reco-nhecer que ele no a trouxera para aquela nau viking.

    Lembrou-se de Alfred e seu corao endureceu. Ele trara a todos.Esperava voltar em breve para sua casa e poder denunci-lo. Foi nesse

    instante que percebeu que s se sentiria em paz quando Alfred fosse punido. Est com fome? o chefe viking assustou-a ao aproximar-se por trs.

    No Gwyneth mentiu, sentindo o estmago roncar.

    Sente-se enjoada? Ele a tocou no ombro e o tom preocupado foievidente.

    No. Apenas no estou com vontade de aceitar comida de meuscaptores respondeu com rispidez e afastou o corpo.

    Ainda no esquecera o contato das mos dele logo aps o ataque. Talvezpor isso aquela proximidade a deixasse to perturbada. Estremeceu quandoum golpe de ar frio afastou-lhe a manta dos ombros.

    Slig abaixou-se para arrumar a pele e as mos de ambos se tocaram.Por um momento, eles se entreolharam.

    Esta pele de um urso branco como a neve. Eu a comprei em Kaijau murmurou.

    Gwyneth queria tocar a pele macia, mas no se atreveu.

    No queria assustar a jovem. Tinha inteno de cortej-la aos poucos ecom delicadeza. Pretendia faz-la sentir por ele uma ternura idntica sua.Para isso contava com todo o tempo do mundo.

    mesmo? Gwyneth agasalhou-se melhor.

    Ouvi dizer que bem ao norte todos os ursos so brancos. Gwyneth norespondeu, consciente da masculinidade que emanava de seu interlocutor.Depois de algum tempo, ela rompeu o silncio que os constrangeu durantealguns momentos.

    Quanto vai durar essa viagem?

    Vrios dias respondeu Slig, nunca se cansando de admirar-lhetamanha beleza. Os cabelos escuros se confundiam com a noite. Elapermanecia de queixo erguido como uma mulher viking. Parecia aceitar odestino com dignidade e graa, o que o deixava ainda mais intrigado.Prometeu a si mesmo que a protegeria para sempre.

    Vrios dias? Gwyneth repetiu. Lembrou-se das embarcaes de seupovo feitas de couro cru estendido sobre uma tbua de vime. E senavegarmos at a extremidade do mundo? apavorou-se.

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    Slig riu.

    Os monges cristos no lhe ensinaram que o mundo levementearredondado e no plano? Se houvesse algum perigo de despencar na margemdo mundo, eu j teria cado inmeras vezes.

    Gwyneth corou diante da caoada e voltou a seu mau humor. Era muita

    ousadia agir como se ela fosse uma ignorante. Ela sbia ler e escrever e opadre Aiden lhe dera aulas de histria. Duvidou que aquele homem grosseirohouvesse lido qualquer livro na vida. Lutar era tudo o que ele sabia fazer.

    Ainda h muitas coisas a aprender sobre o mundo, minha jovem comentou ele, pondo novamente a mo no ombro de Gwyneth. Logoentender o modo de vida dos vikings.

    Espero que no! No pretendo saber nada sobre roubos eassassinatos! Gwyneth tornou a se afastar dele.

    Slig irritou-se com a reao intempestiva. Gwyneth agia como se osingleses nunca houvessem roubado ou matado. Agarrou-a pelos ombros eforou-a a encar-lo.

    Seu povo tambm saqueou os outros. Vi essa crueldade com meusprprios olhos. Minha me foi morta quando o rei Egberto atacou osmercianos... Slig interrompeu-se com receio de falar demais.

    Gwyneth no teve como contestar aquela verdade. A Inglaterra tornara-se um cenrio confuso de conflitos permanentes. O padre Aiden criticava os

    ingleses que haviam transformado o prprio territrio em um enorme campode batalha. Lutavam entre si mesmos, contra os galeses e os dinamarquesesque tentavam conquist-los.

    No posso negar. Mas tambm h muitos entre ns que desejam apaz.

    Gwyneth notou o sofrimento no olhar do lder antes de ele se virar edeix-la sozinha. Suspirou e, esfomeada, recriminou a si mesma por haverrecusado a comida. Padre Aiden sempre dizia que ela era to orgulhosa quanto

    teimosa. Pelo menos nesse aspecto, teve de dar-lhe razo.

    Fixou-se nas guas turbulentas, perdida em pensamentos. E as questescontinuaram sem soluo. No imaginava qual seria seu destino quandochegassem ao territrio ocupado pelos vikings. Nem mesmo ousava teresperana de ver Wessex novamente. Sentiu uma presena a seu lado. Virou-se e ficou surpresa ao ver o enorme co negro e peludo focinhar-lhe a mo.Alegrou-se ao pensar que fizera pelo menos um amigo.

    Nuvens escuras acumulavam-se no cu e comeavam a esconder o pr-

    do-sol.

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    No estou gostando nada disso, Slig! Roland exclamou, olhando ofirmamento. Essas formaes significam tempestade.

    Slig preocupou-se ao ver Baugi enrodilhado ao lado de Gwyneth. O cono costumava demonstrar amizade por ningum, exceto por seu dono.Poderia tratar-se de uma extenso dos prprios sentimentos.

    Est me ouvindo? Roland cutucou-lhe as costelas. Pare de pensarnela e escute o que estou dizendo. Uma tormenta se aproxima.

    Slig deu de ombros.

    Isso no me assusta. No ser a primeira vez que enfrentarei uma.Minhas embarcaes suportaro o embate.

    Roland estava inquieto e no fazia segredo de seu receio. Fora um dospoucos sobreviventes de um naufrgio na costa de Alba.

    Mas o vento est soprando forte e as ondas... Est preocupado toa. Slig deu um tapa amigvel no brao do

    amigo.

    Conheo algum que no se preocupa com nada! Conheo sua crenade que no morrer to cedo. Mas e quanto aos outros?

    Slig acreditava, assim como os demais nrdicos, que ningum mudavao destino. Este era regido pelas Norns, deusas que teciam o futuro dos deusese dos homens. Havia a convico de que cada um vivia a vida conforme o que

    fora traado para si. Os empecilhos deveriam ser enfrentados com bravura ehabilidade guerreira para ser superados.

    Roland no tirava os olhos do cu.

    Escute!

    Slig obedeceu, mas no percebeu nenhuma anormalidade.

    Pelo contrrio. O silncio era maior do que o usual. Ento um rugidolongnquo comeou a aproximar-se. O vento gemeu um aviso inquestionvel.

    Sem perder tempo, distribui ordens tripulao que se azafamava com cordase mastros.

    Verifiquem a amura, o massame e a verga!

    Era necessrio preparar a embarcao para suportar a tempestade. Cadaguerreiro cumpria sua tarefa com preciso. E Slig era conhecido como umexcelente marinheiro e, apesar de todos saberem que sua me era inglesa,muitos homens abandonavam seus lares para segui-lo. Havia boatos de queseu pai era um grande chefe viking, embora Slig nunca houvesse comentadoa respeito.

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    A embarcao jogava de um lado para outro, lutando contra o oceanorevolto. Aquela tormenta prometia ser devastadora.

    Gwyneth tentou levantar-se, mas a oscilao do barco a deixava tonta.Por instinto, procurou o lder com o olhar. Temeu que ele a houvesse esquecidoem meio ao tumulto. Enganara se. Ele caminhava em sua direo a passos

    largos. Admirou-se. Afinal, nem mesmo conseguia ficar em p, quanto maisandar naquelas circunstncias.

    Slig abaixou-se para ajud-la a erguer-se. Uma onda violenta varreu odeque e fez com que perdessem o equilbrio. Mas a energia de Slig evitou quefossem jogados para longe. Em seguida, outra massa de gua encharcou-os eGwyneth agarrou-se ao lder, com medo de ser atirada para fora do barco.

    Atravs do tecido molhado das roupas, Slig podia sentir cada curva docorpo jovem, inclusive as dos seios pressionados de encontro a seu peito.

    Apesar de sua resoluo e do perigo que os ameaava, no pde evitar odesejo que o assolou de uma forma ainda mais devastadora do que aquelatempestade. Ao fitar Gwyneth, teve certeza de que ela percebera oinconveniente.

    Com uma imprecao, Slig afastou-se dela, sem, contudo, solt-la.Segurou uma corda, caminhou at o arrimo mais prximo em forma de "T".Amarrou Gwyneth pela cintura na viga de madeira e deixou-lhe as mos livrespara que pudesse segurar-se.

    No! Gwyneth gritou, beira do pnico. Tenho de fazer isso para evitar que seja atirada para fora do navio.

    Pare! Sei o que estou fazendo!

    Apesar do pavor que sentia, Gwyneth acreditou na sinceridade do lderviking. Sentiu que ele procurava proteg-la. Acalmou-se e parou de espernear,apesar da corda que lhe raspava a pele. Fascinada, contemplou a maneiracomo o lobo do mar preparava-se para a batalha contra o oceano inclemente.Viu-o amarrar uma corda no pescoo de Baugi e refletiu que o cachorrotambm teria uma tarefa a cumprir.

    Cordames soltos e ao sabor da ventania estalavam e vergastavam o queencontram pela frente. A tripulao viking lutava para manter a embarcaoflutuando, quando a nau mergulhava perigosamente. A espuma voava alto ecaa no convs. Ondas gigantescas espalhavam gua pelas laterais daembarcao. O esforo imenso era partilhado por todos os que estavam a bor-do. At mesmo baldes eram usados para tirar a gua que se acumulava nodeque.

    Gwyneth previu um naufrgio iminente. Agarrada viga, agradeceu

    intimamente ao lder nrdico que a amarrara com as cordas. Ela havia setornado o cordo umbilical que a mantinha presa ao Sea Dragon.

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    O viking tomou seu lugar na popa e apoiou-se com todo o peso na canado leme para evitar que a nau submergisse. O barco enorme parecia uma folha merc do vento. Em instantes a chuva despencou a cntaros. A tripulao doSea Dragon e do Sea Serpent lutava com todas as foras para sobreviver.

    Aterrorizada, Gwyneth no desviava os olhos do atraente viking loiro. Ele

    no demonstrava o menor receio ao movimentar-se de um lado a outro. Era ohomem mais corajoso que j vira em sua vida.

    Slig, o mastro est rachando! Roland gritou no momento em que ahaste grossa girou e por pouco no atingiu as costas do lder. Uma pancadadaquelas o teria jogado para fora do barco.

    O aviso veio em tempo Slig agradeceu ao amigo no mesmo minutoem que uma onda gigante quebrou outra viga. Cuidado, Roland!

    Tarde demais. O mastro deu uma guinada, bateu na cabea de Roland e

    arremessou-o no oceano revolto.

    Gwyneth fechou os olhos e rezou pela alma do nufrago, apesar de eleser um viking e pago.

    Captulo IV

    Slig no pudera evitar que o mastro atingisse em cheio a cabea deRoland, seu fiel amigo que lhe salvara a vida tantas vezes. O pior era queRoland nunca fora um bom nadador.

    Baugi!

    O co era forte o suficiente para arrastar um afogado. Sua capacidadepulmonar permitia-lhe nadar grandes distncias e vencer as correntes

    marinhas. Mas Baugi jamais enfrentara guas to turbulentas. Mesmo assim,Slig teria de arriscar a vida do cachorro para livrar o companheiro da morte.

    Amarrou uma ponta de uma corda longa no pescoo do animal e a outracolocou-lhe na boca. Roland poderia agarrar-se nela para permitir que Baugi otrouxesse para perto da nau. Aquele recurso j fora usado antes e deraresultado.

    V buscar Roland!

    Com uma presteza que rivalizava com seu tamanho, Baugi pulou nasguas geladas. Era impressionante constatar a energia, a habilidade e o poderdo animal. Baugi tinha uma camada externa de plos grossos e oleosos, e uma

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    camada interna lanosa. O que o tornava capaz de suportar a gua gelada. Osps espalmados e com pele elstica entre os dedos permitiam-lhe executaruma espcie de nado de peito. O animal no demorou muito para alcanar onufrago.

    Roland! Slig gritou a plenos pulmes. Agarre a corda e Baugi o

    trar de volta! Roland!Foi intil. A pancada na cabea deixara o amigo inconsciente. Sem

    pensar na prpria segurana, Slig tirou o gibo e o largo cinto enfeitado,ambos de couro, e pulou na gua.

    Pelos cus! Gwyneth sufocou um grito. Imaginar a morte do lderviking trouxe-lhe mais sofrimento do que poderia supor.

    Slig perdeu o flego ao atingir o mar glido. Escutou um rugido quandoa cabea submergiu. Pensou que seus pulmes fossem estourar. O peito

    queimava. Era preciso impedir que a gua salgada entrasse pelas viasrespiratrias. Se isso acontecesse, morreria antes de socorrer Roland.

    Com um grande esforo, voltou superfcie. Respirou profundamente.Apesar do sal que fazia arder seus olhos, arregalou-os para perscrutar asguas. Em instantes viu Roland flutuando de bruos e Baugi cutucando-o,tentando fazer com que ele agarrasse a corda.

    Roland! Slig chamou, desesperado.

    Embora nadasse sem parar, afastava-se cada vez mais da embarcao,

    levado pela corrente martima. Sempre se orgulhara de sua energia e elaparecia esgotada diante do poder do oceano. Mesmo assim lutou com todas asforas que lhe restavam. Pareceu-lhe um milagre conseguir nadar de volta atonde Roland e Baugi se encontravam. Segurou a ponta livre da corda eamarrou-a em torno do corpo inerte do companheiro.

    Puxe, Baugi, puxe!

    O animal obedeceu no mesmo instante e Slig nadou atrs dos dois.

    Apesar de exausto e sem flego, Slig estava determinado a no sedeixar vencer. Nem as manchas pretas que danavam diante de seus olhos ofizeram esmorecer. Teria de chegar ao navio para ajudar os outros a iarRoland para o deque.

    Deus seja misericordioso e o salve... Gwyneth desejava que Deus olevasse para seu reino, apesar de ele ser um gentio.

    O que seria dela dali para frente? Sentira a vontade do lder viking emproteg-la. Mas e os outros? Apavorada, admitiu que no confiava neles.

    Ali! um dos vikings berrou. Outros gritos se seguiram.

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    Por um momento, as esperanas de Gwyneth renasceram. A custo,desvencilhou-se das cordas que a mantinham presa viga e correu para aamurada. Primeiro divisou a silhueta escura de Baugi. Ao lado dele, um vikingflutuava, subia e descia em cima das ondas. Estreitou os olhos, ainda maisangustiada.

    Por favor, meu Deus, ajude... a todos!Como se fosse uma resposta suas preces, viu o lder aproximar-se e

    agarrar o nufrago pelo pescoo.

    Ele est vivo!

    Em meio a gritos de encorajamento, o homem desacordado foi alado abordo do Sea Dragn. Em seguida, o co foi puxado e, por ltimo, o chefe foiauxiliado a escalar a amurada.

    Gwyneth olhou para aqueles que aplaudiam e incentivavam. Que espciede homens seriam eles? E seu lder, como seria? Talvez no fossem toabominveis como havia imaginado.

    Vestido apenas com a braccae, a cala que sempre usava, o viking loiroficava ainda mais atraente. O tecido colava-se ao corpo musculoso e deixava-ocom o aspecto de um deus pago.

    Slig entregou Roland aos cuidados dos marinheiros e correu para a ela.Tomou-a nos braos e afastou-lhe os cabelos dos olhos. Sem pensar, Gwynethaconchegou-se no peito desnudo e largo.

    No me largue! ela gritou, dominada por estranhos sentimentos.

    No deslumbramento daquele abrao, esqueceu seus pais, sua famlia eseu lar.

    O pior j passou garantiu, fitando-a com um sorriso. Segur-la entreos braos era uma sensao maravilhosa. A tempestade est passando. Otempo vai melhorar e a viagem prosseguir sem percalos.

    Aquelas palavras penetraram no nevoeiro que tomara conta da mente de

    Gwyneth. Lutou para soltar-se e recriminou a si mesma.Com que facilidade esquecera os crimes que o idlatra cometera! Ele era

    um viking que atacara sem piedade sua famlia e seu lar. Um inimigoselvagem! Fora uma grande tolice deixar que o salvamento do nufrago e asemoes contraditrias lhe tolhessem a razo.

    Tire as mos de cima de mim! Gwyneth gritou, como se ele fosseculpado pela turbulncia de seus sentimentos.

    Melindrado por aquela atitude inesperada, Slig voltou-se para o

    cachorro que esperava um elogio do dono.

    Muito bem! Nem Odin poderia desejar um campeo melhor!

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    Embora lhe coubessem as honras do salvamento, Slig creditava aoanimal o verdadeiro ato de herosmo.

    Gwyneth reconheceu a afeio que ele nutria pelo co e sentiu-se aindamais confusa. A tempestade que rugia dentro dela era mais perigosa do que atormenta que os atingira. E como combater a ansiedade de seu corao que

    insistia em disparar?Deitada de costas na cama de peles macia e quente, Gwyneth

    visualisava o cu estrelado. Ouvira dizer que os vikings orientavam anavegao pelas estrelas. Para ela, o brilho tremeluzente dos corpos celestesinspirava pedidos.

    Quero ir para casa...

    Esse era seu maior desejo, mas duvidou de que pudesse ser atendido.Afinal, afastavam-se cada vez mais de Wessex.

    Por um longo tempo, observou as estrelas. Lembrou-se da sensao deser abraada por ele e arrepiou-se. O toque sedutor desencadeara sensaesque no conseguia esquecer. A cruel verdade era que se sentia atrada pelonrdico loiro.

    No pode ser...

    Ela teve a impresso de estar traindo aquele jovem viking que amara hmuito tempo.

    Fechou os olhos, mas no adormeceu. Os ltimos acontecimentos aindaestavam muito vivos em sua mente para poder faz-lo. Permaneceu acordadadurante horas e procurou sobrepor a razo s emoes. Finalmente, o cansaoa venceu.

    Gwyneth viu-se rodeada por uma bruma espessa. Vrios rostos a fitavamde perto. A me, o pai e os irmos. Por mais que se esforasse, no pde tocarem nenhum. Eles sumiam em uma nuvem de luz.

    Voltem... por favor...

    Duas silhuetas se aproximaram. Uma das figuras era ela e a outra...Era ele! O jovem viking, belo e loiro a quem ajudara a fugir. Sorria,

    convidando-a para segui-lo. Gwyneth estendeu os braos e ele se aproximou.Beijou-a, acariciou-a e alisou-lhe os cabelos, pouco antes de se abraarem efazerem amor.

    Ningum a far sofrer ele sussurrou.

    No me deixe ela murmurou, sentindo-se segura e amada.

    De repente, outra imagem interrompeu-lhe a serenidade. No comeo asfeies eram indistintas. Quem seria o intruso?

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    No!

    Um viking alto e forte a agarrou pela cintura e tentou afast-la de seuamor. Desesperada, ainda tentou se agarrar quele amor do passado, mas eletambm se afastou em um estranho grupo de pessoas e acontecimentos oempurraram cada vez para mais longe. Gwyneth correu e inutilmente tentou

    alcan-lo.Volte, ela pediu. Por favor, no me deixe.

    As vises mais estranhas se sucediam e o terror aumentava. Com aespada em riste e a fisionomia crispada pelo dio, o viking alto e musculosoperseguia o jovem loiro, e era bvio que pretendia mat-lo.

    Mas por que o desconhecido haveria de querer destruir-lhe a felicidade?

    No... no faa isso...

    Angustiada, Gwyneth abriu os olhos. Estivera sonhando e tudo lheparecera muito real.

    Trmula, cobriu o rosto com as mos.

    Qual o significado daquele sonho? Por que as imagens lhe pareciam maisuma premonio do que devaneios noturnos?

    Aps os reparos dos mastros, as naus escandinavas tornaram a deslizarsobre as ondas do oceano como se a tempestade no houvesse existido.Ningum se lembrava do perigo que haviam enfrentado. A meta da tripulao

    era alcanar terra firme.Embora os temesse, Gwyneth no podia negar que os vikings eram

    navegadores magistrais. Sentiam-se perfeitamente a vontade em meio quelasguas turbulentas. As embarcaes deles eram uma obra de arte e esmero.

    O capito das naus tambm lhe causava admirao, mesmo que noquisesse admitir tal heresia. O sonho continuava a perturb-la. Preocupava-secom o que aconteceria caso encontrasse o amor de sua infncia quandoaportassem. O jovem poderia atrair a ira do lder viking. Embora o viking a

    quem os outros chamavam de Slig a tratasse com bondade, no podiaesquecer da selvageria e da violncia que o acometiam em uma batalha.

    Ainda assim, ele tinha um lado terno, Gwyneth refletiu, contemplando ofsico musculoso. Impossvel esquecer seu olhar no dia do ataque igreja.

    Ele pretendera subjug-la e nada fizera. Teria sido remorso? Gwynethno entendia os motivos que determinaram tal atitude. Na vspera, durante atempestade, o lder viking arriscara a vida para salvar um amigo. Sem dvida,tratava-se de um ato herico.

    Slig sentiu-se observado. Virou-se e ambos se entreolharam. Mais umavez, Gwyneth surpreendeu-se com a intensidade de suas emoes. Aquilo a

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    fazia sentir-se desleal memria do jovem viking que lhe presenteara com opingente. Enfiou a mo discretamente sob o decote do vestido e tocou algrima do drago com reverncia. Cerrou as plpebras. As lembranas dopassado no paravam de surgir. O sorriso do jovem viking. Os olhos. Apequena reentrncia do queixo que ela chegara a acariciar. Mas para seudesgosto, os detalhes da fisionomia de seu viking haviam se apagado.

    Por causa dele! Irada, fitou-o e decidiu imputar-lhe a culpa.

    Virou-se de costas para Slig e procurou o abrigo da tenda rstica quefora erguida na popa com inteno de proporcionar-lhe um pouco deprivacidade. Jamais o perdoaria! Nem mesmo o oceano poderia lavar o sangueque sujava aquelas mos.

    Frustrada, esfregou a palma da mo no vestido rosado que usava. Oviking o encontrara entre os sacos e barricas pilhados da igreja e lhe entregara

    depois da tormenta. Era um dos vestidos que ela trouxera para os festejos quese seguiriam s npcias.

    Ele me presenteou com meu prprio vestido Gwyneth resmungou. Ser que esperava agradecimentos?

    Era evidente que Slig procurava corrigir-se. Trouxera-lhe po, peixesalgado e hidromel, e no desistia de entabular uma conversa.

    Por qu? Na certa esperava que ela se tornasse uma concubina dcilquando chegassem a terra firme. Gwyneth jurou que jamais se entregaria a

    ele.Slig sorriu quando a viu entrar novamente na tenda improvisada no

    convs. Notara que a raiva da jovem cedia. Quando chegassem ao povoadoviking de Nortmbria, ele a faria sua mulher. Ela seria uma bela esposa viking,e saber que estaria sua espera, aps as longas jornadas no mar, por certo ofaria voltar para casa muito mais cedo.

    Vai contar a verdade a ela? Roland interrompeu-lhe as reflexes.

    No!

    Por qu?

    Eu mudei muito, Roland.

    Slig sofrera muitas humilhaes, mas aquele perodo o fortalecera.Transformara-se de menino ingnuo em um homem corajoso.

    Quero que ela se apaixone pelo que sou agora. No quero vocao!No gostaria que me amasse por causa de uma dbil atrao que tivemos nopassado.

    Com essa idia em mente, Slig concentrou seus esforos paraconquistar a afeio de Gwyneth. Observava-a constantemente, procurando

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    aproveitar-se dos momentos em que a jovem se descontraa. Contou-lhe sobresuas viagens pelo mar Italico e rio acima at a Rssia.

    E saqueou aquelas terras tambm? Gwyneth foi rspida.

    No! Slig precisava faz-la entender que no era um homemviolento por natureza. Eu s ataco para me vingar de quem me faz um

    grande mal.

    Como matar minha me a sangue frio e vender um menino comoescravo.

    No posso imaginar por que o senhor haveria de querer prejudicar umhomem de Deus disse ela lembrando o ataque a Igreja.

    No fui eu quem planejou tudo. Foi o homem com quem a senhoraquase se casou.

    Gwyneth teve de aceitar a afirmativa. Ouvira a confisso de Alfred. Assimmesmo, no se deixou vencer pelo argumento.

    Quantas vezes o senhor trouxe destruio e morte ao povo deWessex?

    Duas! Uma para vingar o assassinato de minha me e outra paravingar... Slig fitou-a e enxergou a menina de olhos grandes quedemonstrara tanta bondade. Essa uma histria que lhe contarei algum dia.

    E por que no pode ser agora? Gwyneth sentiu curiosidade.

    Confiei em algum que me traiu...

    Os dois mergulharam em recordaes e o silncio que se seguiu s eraquebrado pelo som das ondas que batiam no casco.

    Quem matou sua me? Gwyneth perguntou depois de algum tempoe leu a resposta no olhar dele. Um ingls!

    Slig refletiu que havia dois culpados. O irmo de sua me e seu prpriopai, que naquele momento deveria estar ao lado dela para proteg-la. Em vez

    disso, ele a deixara aos cuidados de parentes traioeiros. O intrpido Ragnar Slig resmungou em voz baixa.

    O que foi que disse? Gwyneth espantou-se com o sofrimentoexpresso no olhar do guerreiro.

    Um olhar que no lhe era desconhecido. Mas que idia absurda!

    Logo chegaremos a nosso destino Slig mudou de assunto.

    E o que acontecer... comigo? Gwyneth temia escutar a rplica.

    Isso depender da senhora. De mim?

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    Slig segurou-lhe a mo fria e trmula.

    Eu quero...

    No! Gwyneth puxou a mo.

    Ela o impedira de dizer que teria de decidir o prprio futuro. Mas orompante habitual o deixou com vontade de provoc-la.

    Ento a senhora talvez prefira um dos outros. Gorm! Slig apontouo homenzarro responsvel pelo rapto. Ou mesmo Einar? indicou outroviking igualmente repulsivo. Ou Thorbjorn?

    Eu jamais escolheria nenhum de seus homens. No preciso deningum.

    Sem saber por que, acariciou o pingente que trazia sob o decote dovestido. J pensara em entregar-se a um jovem que era o oposto do lder viking

    que estava sua frente. A nica coisa em comum entre os dois era a cor dosolhos.

    Slig notou que ela dava valor ao pingente. O que o agradou e tambmperturbou.

    Quem lhe deu esse colar?

    Gwyneth retesou-se. O sonho a fez temerosa de revelar a verdade.

    Ningum!

    mesmo? Eu vi a pea de relance. A lgrima de um drago. Um jiaque parece um pingente viking. Talvez a senhora no nos odeie tanto assim.

    Slig conteve a vontade de tom-la nos braos, dizer-lhe que a amava eque ainda era o mesmo homem que ela um dia idolatrara. A apreenso comque ela o fitava, porm, o fez ficar desolado.

    O senhor jamais entenderia Gwyneth sussurrou.

    Quem sabe o que se passa na mente do outro? Uma trombeta soou dolado oposto do navio. Era um toque de reunir.

    Estamos chegando a nosso destino: terra firme Slig anunciou.

    E agora comearo meus problemas, Gwyneth pensou. No barcoestavam rodeados por muitos vikings e no havia lugar para privacidade. Nemqueria pensar no que aconteceria quando estivessem em uma casa fechada.

    No deixarei que ele encoste em mim! Se eu permitir, tudo estarperdido.

    No podia mentir para si mesma. A proximidade do lder vikingdespertava nela uma espcie de sensao desconhecida e primitiva. Se ficassea ss com ele por algum tempo, poderia ceder tentao. O que seriainaceitvel. Seu pai continuava em perigo. Alfred trara sua famlia e ainda

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    poderia quem prejudic-los. Seria preciso voltar para Wessex. Todos teriam deser avisados do que acontecera.

    No tenha medo Slig no pronunciara o nome dela desde a noiteem que fora libertado ...Gwyneth.

    O som de seu nome naquela voz rouca e mscula f-la sentir-se

    acariciada, aquecida e...

    Gwyneth... Slig repetiu com ternura.

    Ela inspirou profundamente, tentando acalmar as batidas descontroladasde seu corao. Entendeu que nos prximos dias no teria de recear o corajosolder viking, mas sim suas prprias emoes e sentimentos traioeiros. ComoSlig dissera, estava em suas mos...

    Captulo V

    Sozinha no deque, Gwyneth olhava os penhascos escarpados da ilha deMan, a leste. Embora houvesse feito pouco caso da fascinao de algunshomens pelo mar, comeava a entender por que uma pessoa s ficava felizquando entrava em contato com o oceano. O ar marinho e o cheiro da maresiaeram revigorantes.

    Est olhando na direo errada Slig comentou, pondo ii mo sobreo ombro delicado. Ns vamos para l... Apontou para oeste, onde a ilhaenorme era contornada por dunas baixas e pastagens.

    Gwyneth ficou apreensiva quando as naus chegaram costa, colidindonas rochas. O timoneiro deixou a embarcao encalhada em terra firme,conforme a preferncia dos vikings. Depois dos barcos ancorados, os homenscomearam a retirar a carga do convs.

    Slig foi o ltimo a deixar a nau. Levantou Gwyneth nos braos e levou-aat a praia. Era difcil acreditar que tanta gentileza fizesse parte do homemcruel que pilhara a igreja. Apesar da bondade demonstrada por Slig, Gwynethno deixava de preocupar-se com o que a aguardava. O pior de tudo era queem uma terra estranha haveria poucas possibilidades de fugir.

    Gwyneth sentiu dificuldade em caminhar por ter ficado muito tempoinerte dentro da embarcao. Mesmo com as pernas bambas, esforou-se para

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    seguir as passadas longas do lder viking. Finalmente alcanaram o pequenovilarejo com as habitaes de madeira e taipa. As cabanas pareciam no terjanelas, e as portas eram to baixas que at mesmo Gwynelh teve de abaixar-se para entrar.

    Os camponeses de meu pai moram em choupanas melhores de que

    essas, Gwyneth alarmou-se. Modesto, mas um larSlig anunciou com um sorriso.

    Onde fica meu quarto? Gwyneth torcia as mos, nervosa.

    Ali. Slig indicou um monte de peles que deveria ser a cama. Asenhora e eu dividiremos esta casa. O lder viking ps as mos nos quadris,um gesto com que Gwyneth comeara a acostumar-se.

    Dividir esta... esta... cabana pode at ser. Mas no a cama! Gwynethfoi at a pilha de mantas, tirou uma que parecia ser a pele de um urso earrastou-a at o lado oposto do recinto. Virou-se para o viking, desafiadora.

    Ficarei aqui!

    Baugi seguiu-a e deitou-se na manta, como se fosse o dono da pea.

    Durma onde quiser...

    Slig foi at uma grande arca onde estavam guardados seus pertences.Remexeu dentro e tirou um par de botas de couro, uma cala castanho-amarelada, uma tnica vermelha com animais bordados e um cinto de couro.

    Gwyneth perguntou a si mesma se o viking manteria a palavra de nopossu-la fora e olhou ao redor.

    No centro do ambiente, um caldeiro suspenso em cima de uma lareirade pedra e preso no teto por meio de cordas. No alto um buraco pequeno quena certa no daria vazo fumaa da lareira quando acesa.

    Por acaso pretende que eu cozinhe para o senhor? Gwynethresmungou, aborrecida.

    Na casa de seu pai os escravos encarregavam-se dessas tarefas. Mas aobservao constante lhe ensinara muitas coisas. No encontraria dificuldadeem executar um trabalho pouco dignificante.

    Aqui todos devem dar sua contribuio para a sobrevivncia Sligretrucou com indiferena. No temos chefes nem escravos. Apenas homense mulheres. Tambm no temos lies sentiu-se forado a acrescentar. Ns no ficariamos lado a lado com um inimigo s para tirar proveito.

    Gwyneth pensou em Alfred, como Slig sugeria.

    Amaldioo o covarde e traidor que o levou a atacar-nos Se servir deconsolo, eu o odeio mais do que abomino os vikings.

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    Slig aproximou-se, segurou-a pela mo e enlaou-a com delicadeza.

    Tenho esperana de faz-la mudar de opinio a meu respeito sussurrou e beijou-a.

    Os lbios dele eram firmes, possessivos. Gwyneth no o rejeitou nemcorrespondeu. Ficou imvel. Finalmente, Slig afastou-se.

    Eu no a forarei a nada. Quando a possuir, sua vontade dever serto grande quanto a minha...

    Gwyneth no demonstrou o quanto ele a perturbava.

    Isso jamais acontecer. Impossvel perdoar o que o senhor e os outrosfizeram.

    Jamais um tempo demasiado longo... Slig respondeu antes devoltar ao navio, seguido por Baugi.

    Gwyneth foi at a porta e reparou nas batas castanhas que muitasmulheres usavam. Gostaria de oferecer-lhe seus prstimos, mas sentia-seconstrangida. Por isso ocupou-se em limpar a cabana que seria sua... pelomenos at ela pensar em uma maneira de voltar para casa.

    Depois de tudo limpo e arrumado, refletiu sobre a refeio. Encontrou umsaco com pras secas e nozes, outro com cebolas e repolhos. Tambm haviaamoras e carne seca. O problema, porm, era que no tinha a menor idia decomo acender o fogo. Ainda assim, saciou a fome com as amoras e a carne. Do

    lado de fora da cabana havia uma cuba grande, provavelmente para o banho,e um barril com gua de chuva. Passou as mos nos braos desnudos, ansiosapor lavar-se.

    Sabia que banhar-se seria arriscado, pois Slig poderia aparecer derepente e v-la nua. Por isso, passou apenas um pano ensaboado no corpo elavou os cabelos na gua fria. Tremendo de frio, encontrou uma capa de lcom que enxugou um pouco os cabelos, depois terminou de sec-los ao sol.

    Tornou a entrar na cabana. Foi at a arca e examinou o contedo.Procurava um pente ou uma escova. O ba estava lotado de pratos, clices,facas e colheres de ouro e de prata. Alm de tecidos finos.

    Gwyneth fez uma careta.

    A vida de um viking era mesmo prspera!

    Encontrou algo de interessante?

    Gwyneth percebeu que Slig se aproximava p ante p. Mesmo sem sertocada, sentiu a pele formigar.

    Eu queria cozinhar alguma coisa, mas...

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    Mas nunca lhe ensinaram a fazer isso, no ? Slig sorriu. No sepreocupe, minha querida hspede. Eu lhe mostrarei como .

    Mesmo exausto de tanto descarregar volumes pesados, Slig acendeu ofogo e encheu o caldeiro com gua. Cortou cebolas, repolho e carne seca ecolocou tudo no fogo para ferver. O aroma fez Gwyneth lembrar-se de como

    estava faminta. Mas tambm de que no seria agradvel dormir envoltanaquele cheiro.

    Ainda assim, no lhe restou outra alternativa a no ser estender umatoalha enorme sobre a mesa pequena. Por cima arrumou pratos e tigelas decermica que encontrou em uma laco perto da lareira. Ao lado de cada prato,ps uma faca e uma colher de prata. Recuou para admirar sua arte.

    Slig serviu hidromel de uma barrica que trouxera do barco em doisclices de prata. Sentou-se em um dos bancos pequenos que ladeavam a mesa

    e fez sinal para Gwyneth ocupar o assento em frente ao seu.A comida ficou pronta e eles comeram em silncio. Gwyneth no tirava

    os olhos do prato, com receio de encarar Slig. Mesmo assim, sentiu a tensoda presena dele.

    Tenho algo para a senhora.

    Slig afastou o prato, levantou-se, saiu e retornou com algo na mo.Mostrou-lhe um vestido feito com o tecido mais fino e suave que ela j vira.

    Sabe o que isso? indagou, segurando o traje que parecia refletir

    as chamas do fogo. Seda. Do Oriente longnquo. Muitos vikings endeusamesse tecido.

    A seda era azul e combinava com a safira do pingente. Ele comprara otraje em Kaupang, na esperana de poder encontrar novamente a meninainglesa que lhe salvara a vida.

    lindo! Gwyneth segurou a vestimenta na frente do corpo.

    Vista-o Slig pediu com voz rouca.

    No... eu... no posso... Gwyneth corou com a idia de despir-se nafrente de Slig.

    Ele deu um passo frente.

    Est na hora de a senhora acostumar-se com a idia de ser observada.Pretendo fazer isso muitas vezes. A senhora linda. No h vergonha emmostrar-me seu corpo.

    As mulheres vikings no tinham as mesmas restries impostas scrists. As primeiras exploravam o lado sensual com naturalidade, sem

    considerar isso um pecado.

    Vista-o... repetiu.

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    Gwyneth ficou imvel. Foi incapaz de afastar-se dele e tambm deobedecer-lhe. Era como se ele a despisse com o olhar.

    Vrios minutos de imobilidade se passaram antes de Slig estender amo e acariciar-lhe o busto, a curva da cintura e o abdome plano.

    Gwyneth estremeceu como se o sangue em suas veias se incendiasse.

    No...

    Arfante, tentou entender os sentimentos que Slig lhe despertava.Desejo, mas no amor. Ao mesmo tempo, ficava aterrorizada. Padre Aidenpregava com freqncia contra as emoes pecaminosas e recriminava os quecediam ao erotismo.

    Apesar de sua negativa, sei que no ntimo gostaria de aceitar meuabrao e meu toque. E fazer amor comigo com paixo tamanha que nos fizessealcanar as estrelas. Slig no esperou resposta e abraou-a.

    Gwyneth tentou recuar e tropeou na arca de madeira. Teria cado se eleno a segurasse.

    O senhor prometeu!

    Desapontado, Slig estava determinado a manter a palavra.

    No prometi no beij-la ou toc-la ele sussurrou, antes de beijar-lhe os lbios com uma intensidade que tirou o flego de ambos.

    Slig estava certo. Gwyneth admitiu que seu corpo traa sua mente.Embora insistisse em recusar qualquer intimidade, desejava que o lder vikinga tomasse nos braos e a levasse para a cama. Queria deitar-se com ele nacama de peles e deixar que a levasse at as estrelas.

    Slig era um homem experiente e sentiu a reao positiva de Gwyneth.Imaginou o dilema que a torturava. Aproveitou o momento e beijou-lhe opescoo.

    Diga-me o que deseja e lhe darei tanto prazer que jamais poderprescindir dele.

    Nunca! Sem conseguir respirar direito, Gwyneth repetiu para simesma que teria de impedi-lo de continuar com aquele tormento. Se notirar suas mos manchadas de sangue de cima de mim, eu o amaldioarei parasempre.

    Slig a soltou, com a testa franzida. Depois, virou-se e saiu.

    Gwyneth largou-se na cama de peles, chorando sem parar. Teria de darum jeito de afastar-se de Slig e da tentao que ele representava. Fechou osolhos e soluou mansamente.

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    Uma coisa quente e mida tocou-lhe a orelha. Assustada, temeu quetivesse de lutar por sua honra. Mas no se tratava de Slig. Era Baugi.Estendeu-se ao lado de Gwyneth e ajeitou-se. O animal sentira-lhe a tristeza eprocurava consolar a nova amiga.

    Slig espiou o i