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Richard S. E. Sandbach

Por Dentro do Arco Real

Incluindo os discursos proferidos durante as reuniões anuais das Províncias de Northamptonshire

e Huntingdonshire durante o período de 1978 a 1990, quando

o autor era o Mui Excelente Superintendente Provincial.

2005

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Madras Editora Ltda.Dedicado a Clifford Ellam Jones, M.B.E. — Past Deputy G. Superintendent e Basil Reginald Dixon — Past Second Pr. G. Principal Northamptonshire e Huntingdonshire com afeto e gratidão por seu incentivo, apoio e companheirismo.

AgradecimentosMeus sinceros agradecimentos e reconhecimento àqueles a seguir mencionados pela autorização que me foi dada para reproduzir documentos e trechos neste livro. A Comissão de Assuntos Gerais, pela autorização para a reprodução de trechos do "Freemasonry and Christianity, Towards a Theology for Inter-Faith Dialogue" e do "We Believe in God". Ao Rt. Ver. William Westwood, Lorde Bispo de Peterborough, pela autorização para citar parte de uma carta de muita ajuda que me enviou.

ÍndiceIntrodução e Explanação..............................111.................................................................. A Igreja e a Franco-Maçonaria (1988)............. 152.................................................................. "Nossos Ditos Mui Excelentes Irmãos e Companheiros" 253.................................................................. O Candidato (1978).........................................37

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4.................................................................. A Suprema Ordem (1979)...............................395.................................................................. A História dos Forasteiros (ou Sobrestantes) (1980)...436.................................................................. Um Momento para ser Lembrado (1981)................. 497.................................................................. "O Antigo Brinde" (1982)..................................538...................................................... "Companheiros" (1983).................................................579.................................................................. "Velado em Alegorias" (1984)................................6110................................................................. "Se a Franco-Maçonaria não é uma Religião..." (1985)..6511................................................................. Construindo para o Futuro (1986)...........................7112................................................................. Compatibilidade (1987).........................................9113................................................................. O Caso dos Críticos (1988)...............................9714................................................................ "Amor Fraternal, Ajuda..." (1989)........................... 10315................................................................ "... e Verdade" (1990).......................................... 10916................................................................ "Da Babilônia, Mui Excelente" ...........................115Palavras Finais.............................................131Apêndice A — "O que é a Franco-Maçonaria" — folheto publicado pela Grande Loja Unida da Inglaterra 133

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Apêndice B — Trecho de Franco-Maçonaria e Cristianismo (1987).... 136Apêndice C — "O Relacionamento entre a Franco-Maçonaria e a Religião" — Adotado pela Grande Loja Unida em 12 de setembro de 1962, e afirmada em 9 de dezembro de 1981..137Apêndice D — "A Franco-Maçonaria e a Religião" — folheto publicado pela Grande Loja Unida da Inglaterra.....................................................138Índice das IlustraçõesFigura 1: Lorde Blaney, Primeiro Grande Principal ou Grão-Mestre Zorobabe......... 175Figura 2: O Campo dos Israelitas..................76Figura 3: Brasão da Grande Loja (Antigos) e Brasão da Grande Loja Unida da Inglaterra....... 77Figura 4: Estandartes: Reuben (homem), Judá (leão), Efraim (boi), Dan (águia)......... 77Figura 5: Estandartes das 12 Tribos dos Israelitas...................................................................78 e 79Figura 6: Página de Abertura da Barker Bible.....................................................................80Figura 7: Tábua de Delinear de Oxford.........81Figura 8: Capítulo do Arco Real....................82Figura 9: Avental de Companheiro...............83Figura 10: Antigo Avental com o "T" sobre o "H".....................................................................83Figura 11: Um Modelo de Arco Real..............83Figura 12: Um Pedestal.................................83Figura 13: Um Antigo Certificado..................84Figura 14: Antigo Modelo de um Domo.........85Figura 15: Implementos................................85Figura 16: Rev. dr. George Oliver.................86Figura 17: Grandes Estandartes Escoceses. .87

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Figura 18: Aventais Antigos..........................88Figura 19: Jóia do Principal, do século XVIII. .88Figura 20: Jóia do Arco Real Escocês, de 1868 .....................................................................88Figura 21: Medalhas do Arco Real ...............89Figura 22: Sala Capitular em Bristol.............90

Introdução e ExplanaçãoEste é um livro dedicado, principalmente, aos maçons que ingressaram em algum Capítulo e, assim, tornaram-se Companheiros do Arco Real. Por incluir discursos pronunciados anualmente durante o período de 1978 a 1990, são abordados comentários sobre as posturas das Igrejas em relação à Maçonaria e da Maçonaria em relação à religião. Não é minha intenção, nesse âmbito, criar qualquer controvérsia ou mesmo tentar modificar as opiniões de qualquer crítico da Maçonaria, mas fazer o máximo para ajudar os Companheiros do Arco Real a esclarecer os seus conceitos sobre a Ordem e entender o que os críticos dizem e, tanto quanto possível, as razões daquilo que dizem. O livro tem como alvo o povo maçônico; caso algum leitor seja um opositor ou um crítico da Maçonaria, espero que veja essa obra como clara, sóbria e cuidadosa exposição de uma visão contrária à sua, e das críticas levantadas contra a Arte nos últimos anos; no entanto, não espero, nem estou tentando, alterar suas convicções.Embora Laurence Dermott tenha chamado o Santo Arco Real de "a raiz, o coração e a medula da Maçonaria", não será antes de alguém já ter se

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tornado Membro por algum tempo que a verdade inserida nessa declaração se tornará aparente — e, ainda, para alguns, isso jamais acontecerá. Não posso dizer ter pensado profundamente sobre a Ordem antes de me tornar dirigente de uma Província do Arco Real em 1978, em cujo âmbito eu deveria dirigir-me aos Companheiros da Província de Northamptonshire e Huntingdonshire durante a Convenção Anual. Ao pensar sobre o que poderia dizer de construtivo, considerei abordar, seriamente, a credibilidade da Ordem.Naquela época, a resposta típica à pergunta "Por que eu deveria ingressar em um Capítulo?" era: "Porque ele é um complemento do Terceiro Grau, e desvenda os Segredos Perdidos". Isso nunca soou muito convincente, e menos ainda ao pensarmos com seriedade sobre a Ordem. O título da Ordem, "Suprema Ordem do Santo Arco Real", parecia dar um bom ponto de partida e, ao pensar sobre isso, era levado a crer que, de fato, existia muito mais a ser ponderado; porém, será que os Companheiros sentiriam que valeria a pena ouvir tais palavras? Algumas experiências (e, para dizer a verdade, bastante nervosas) iniciadas em 1979 indicaram que a resposta era afirmativa, e os comentários feitos por visitantes de outras Províncias eram bastante encorajadores. O elemento "especulativo" começou a tomar conta de todo o discurso e, assim, cada um dedicou mais tempo à preparação, sendo o resultado muito gratificante para mim, parecendo muito ajudar os demais. Foi, talvez, com o passar dos anos, que eu tenha começado a entender o que Dermott queria

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dizer.Um maçom é instado, desde o início de sua carreira maçônica, a pensar seriamente acerca do propósito da vida, e os Capítulos do Arco Real apenas prosperarão e crescerão se os Companheiros reconhecerem que há um propósito e um significado na Ordem. Embora possa atrair o interesse, raramente o cerimonial pode converter a atenção em entendimento e, em decorrência, em entusiasmo.Chegada a época de aposentar-me como dirigente, pediram-me que eu reunisse meus discursos e palestras. Essa foi a origem deste livro, do qual tais discursos fazem parte. Como eles foram mantidos, em seu todo, na mesma forma com que foram proferidos, os discursos e palestras são, em seu estilo, mais diretos do que impessoais, e mostram mais um desenvolvimento de pensamento do que uma filosofia fixa ou imutável; no entanto, provavelmente um de seus méritos é a sua brevidade, pois nenhum deles se estende por mais de dez minutos.Os dois primeiros capítulos e o último não se compõem dos discursos ou palestras proferidos no Capítulo Provincial, mas também deram origem, como palestra, aos apresentados: um no Sínodo Superior, ao qual fui convidado a falar sobre a Maçonaria, seguido de um debate sobre o assunto no Sínodo Geral da Igreja da Inglaterra, em 1987; uma outra palestra sobre a História do Arco Real; e a terceira sobre o retrospecto histórico da Lenda da Ordem e algumas lições que dela podem ser extraídas. Como cada um dos capítulos deste livro

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é isolado, é inevitável que algumas repetições venham a ser observadas, mas achei preferível mantê-las a comprometer a coerência de cada capítulo, ou dificultar a sua leitura caso algum Companheiro queira apresentá-lo em algum Capítulo, em cujo caso espero que a sua atenção seja voltada à "Palavra Final", apresentada no final deste livro.Pesadas nuvens interferiram no progresso à medida que a mídia e os elementos mais extremos das Igrejas começaram a atacar a Maçonaria. Havia clérigos e congregados cujos motivos surgiram de legítimas (embora, sob nossa visão, mal-direcionadas) inquietações, que normalmente se declarava estarem baseadas em bases teológicas; alguns laicos justificaram sua atitude e postura como uma expressão da "preocupação pública", mas, freqüentemente, não parecendo avessos a se beneficiar expondo suas opiniões; alguns viam a Arte associada à manutenção de uma sociedade estável, a qual, por seus próprios motivos, queriam perturbar, e à cuja caça juntaram-se com satisfação. Alguns eram simples "curiosos" e havia aqueles cujos motivos eram obscuros, por vezes pessoais, outras vezes, segun-do alegavam com base em princípios, às vezes surgidos de alguma suposta conspiração maçónica, cuja natureza variava conforme os preconceitos da pessoa. Eram tempos difíceis e, certo ou errado, encarei como meu dever ajudar aqueles pelos quais eu era responsável a entender o que estava acontecendo e a reconhecer a verdadeira preocupação onde quer que ela exis-

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tisse, a observar e manter um sentido de proporção e a trabalhar naquilo que devíamos dizer aos nossos críticos ao explicarmos a nossa posição. Isso provou ser uma excelente disciplina pessoal, mas o fato de saber naquela época que as minhas funções de ofício terminariam em 1990 significava trabalhar tendo em vista um termo; assim, as palestras e discursos proferidos em 1989 e 1990 tentam somar o que esse período de peregrino ensinou-me até aqui. A viagem ainda não está concluída ou completa, e quiçá este livro venha a inspirar outros a seguir mais adiante.Em uma questão, mais do que em qualquer outra, fomos assaz afortunados em Northamptonshire e Huntingdonshire; tivemos, então, a ajuda e a compreensão de muitos membros do Clero, tanto da Diocese, quanto da Paróquia, além de outros diversos ministros não-conformistas. A todos esses que tentaram entender e ouviram com simpatia, ofereço a minha profunda gratidão. Foi esse elemento de compreensão que levou ao convite de discursar ao Sínodo Superior e, assim como aquele discurso tinha de se iniciar pela apresentação da Maçonaria na Província para uma audiência em grande parte formada por não-maçons, essa coletânea iniciou-se com uma versão atualizada, para que os leitores possam conhecer os aconteci-mentos em resposta aos quais cada um dos discursos foi proferido.Certamente, existem diversos métodos de "trabalhar" o Arco Real. Assim sendo, alguns Companheiros poderão achar que algumas práticas aqui referidas podem diferir daquelas às

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quais estão acostumados; porém, as mensagens e os ensinamentos são, em seu todo, os mesmos, e espero contar com a sua indulgência.

1A Igreja e a Franco-Maçonaria (1988)

Eu nunca tentei esconder o meu interesse maçônico ou fugir de perguntas sér ias a seu respeito. Isso era de total conhecimento das autoridades tanto diocesanas como paroquianas, sendo que nenhuma crít ica fo i feita contra mim, seja como Presidente da Comissão Diocesana de Finanças (cargo ocupado por mim durante dez anos), seja como Esmoler na Igreja Paroquial (um cargo que muitos franco-maçons ocupam em Loja). Troquei muitas correspondências com autoridades da Igreja antes de fazer minha exposição sobre a Franco-Maçonaria no Sínodo Geral e, em 1988, logo após a sua real ização, fui convidado a discursar sobre a Arte, no Sínodo do Decanato de Peterborough. O que segue é o resultado disso; o conteúdo fornece uma base para os pensamentos desenvolvidos nos últ imos discursos. Os números e os dados foram atual izados e apresentados sob a forma de notas.

Durante muitos anos, críticas, censuras e comentários, embora mal informados ou até (como, infelizmente, acontece às vezes) maliciosos, foram deixados sem resposta, e isso freqüentemente significava que os ataques que eram desferidos por intenção de um adversário deixavam destroços; e, a longo prazo, cada pedaço dos destroços servia de cabeça-de-ponte para os atacantes que se seguiam. A maioria dos filósofos e a maioria das religiões têm sofrido

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situações semelhantes de tempos em tempos. Os primórdios da Igreja Católica não foram diferentes — ela era, por exemplo, seriamente acusada da prática de canibalismo por seus oponentes, que interpretavam mal as suas cerimônias. Decidimos, pois, ser chegado o momento em que devemos limpar esses destroços e defender os nossos princípios.É importante perceber que existem certos grupos, principalmente no exterior, que se denominam maçônicos; porém, nós não os reconhecemos como tal e os consideramos irregulares. A razão para tanto é que eles não seguem os padrões de reconhecimento aceitos pela Franco-Maçonaria in-glesa e convencionados por outras Grandes Lojas com as quais nós, para usar um termo técnico, "comunicamo-nos". E isso se deve, normalmente, a um dos três motivos. O primeiro é a falta da exigência de que um aspirante à admissão afirme a sua crença em um Ser Supremo, como condição prévia para que seja aceito como candidato. O segundo é a falta da exigência de que o candidato deva prestar o seu Juramento sobre, ou tendo à vista, o Livro ou Escritura que ele considere ligado à sua consciência em conformidade com sua religião ou credo, e que deverá estar aberto. De acordo com a Jurisdição Inglesa — ou seja, em todas as Lojas jurisdicionadas à Grande Loja Unida da Inglaterra, seja no âmbito doméstico, seja no exterior, a Bíblia Sagrada deve ser aberta na Loja, em frente ao Mestre, enquanto a Loja estiver em sessão; caso o candidato seja judeu ou não-cristão, ao prestar o seu juramento ele deverá ter também

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à sua vista aberto o Livro ou Escritura considerado em sua Fé como sagrado, em um lugar em que, se necessário, se possa alcançá-lo com facilidade. O terceiro motivo para o não-reconhecimento é a falta de frisar bem e insistir que a Franco-Maçonaria é de caráter não-político.Limitarei-me a abordar apenas a Franco-Maçonaria inglesa, tal como ela é praticada segundo a Grande Loja Unida da Inglaterra, que controla os três Graus básicos (a Maçonaria Simbólica, ou "Craft") e o Arco Real (ou Capítulo), que é uma extensão da Maçonaria Simbólica. Certamente, isso exclui certas Ordens, às quais são feitas algumas referências no relatório do grupo executivo do Sínodo Geral, notadamente o "Rito Antigo e Aceito", Cavaleiros Templários e a Ordem da Cruz Vermelha de Constantino — todas sendo Ordens maçônicas cristãs; porém, por ser dirigente apenas da Maçonaria Simbólica e do Arco Real nessa área, não tenho o direito de falar ou responder pelos demais "ex cathedra".Dentro desses parâmetros, a primeira pergunta a ser formulada deve ser: "O que é a Franco-Maçonaria?" Vocês devem ter consigo, entre seus papéis, um folheto sobre isso, publicado pela Grande Loja Unida. Esse folheto lhes dará uma boa e concisa idéia, mas ainda assim, eu gostaria de dar um pouco mais de forma ao conteúdo; portanto, comecemos com uma reconhecida definição: "A Franco-Maçonaria é um sistema de moralidade" — a palavra "moralidade" é empregada, aqui, no sentido (tal como consta no Concise Oxford Dictionary) de "conduta moral

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(especialmente boa)". Esse é, provavelmente, o ponto mais importante que apresentarei a vocês, pois as mais sérias críticas feitas à Arte, vindas de origens religiosas, parecem basear-se na infundada suposição de que ela é, ou pretende ser, uma religião.Gostaria de dirigir-lhes algumas palavras sobre a organização. O Grão-Mestre é eleito anualmente e tem grande poder, mas a Grande Loja Unida é o real corpo governante. As Lojas fora de Londres são agrupadas em Províncias, estando cada uma sob responsabilidade de um Grão-Mestre Provincial. Nós temos certa tendência a nos atermos aos antigos limites dos Condados; assim, a Província por mim governada é a de "Norfhamptonshire e Huntingdonshire"; ela abrange os antigos Condados de mesmo nome, além do Distrito de Peterborough e Stamford, de forma que vocês poderão perceber ser essa região bastante co-extensiva à Diocese de Peterborough (exceto Rutland), abrangendo partes das Dioceses de Ely e de Lincoln. Existem 66 Lojas na Província, com mais três em provisão, e mais de 3.500 homens — quantidade que aumenta em 40 a cada ano. Em 1986, a Província admitiu mais 138 membros em suas Lojas de Maçonaria Simbólica. A cada ano, a Grande Loja Unida emite entre 13 mil e 15 mil Certificados a novos Membros em todo o mundo7 e autoriza a fundação de 30 a 40 novas Lojas em toda a jurisdição inglesa.Quanto à habilitação para ingresso, sempre temos o cuidado de saber e descobrir as razões e motivos que levaram a pessoa a se apresentar, pois não

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queremos ninguém que pede admissão por (citando palavras do Ritual) "motivos mercenários ou outros menos dignos"; e, àquele que é aceito, lhe será solicitado em Loja Aberta, antes do início da cerimônia propriamente dita, que confirme estar pedindo sua admissão levado por uma "fa-vorável opinião preconcebida sobre a instituição, pelo desejo profundo de instruir-se, e por vontade sincera de poder prestar maiores serviços aos seus semelhantes".Tudo isso não faria o menor sentido se não tivéssemos ideais bem definidos e se não os instruíssemos aos Irmãos. O trabalho de base já se inicia antes mesmo de a pessoa ser proposta como candidata, ao se apresentar à Comissão da Loja. Nessa entrevista, será pedido que confirme a sua crença religiosa em um Ser Supremo, e ele será informado que se espera que, após sua admissão, continue a praticar a religião por ele professada.Também lhe será mencionado o compromisso financeiro a ser assumido, incluindo o dever maçónico da caridade; nessa oportunidade, tam-bém lhe será perguntado se, caso seja casado, a sua esposa e sua família apóiam a sua candidatura. Ele será informado que lhe será exigido prestar um Juramento, no qual se compromete a ter um comportamento conforme os nossos preceitos e a jamais revelar seus segredos. Ele pode fazer as perguntas que desejar sobre esses tópicos ou quaisquer outros, às quais serão respondidas ou será explicado por que uma resposta será dada oportunamente. Assim, eleja saberá bastante sobre o que está por acontecer e

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o que é esperado dele antes que adentre a Loja. Daí, antes de prestar o seu Juramento lhe é assegurado que nele nada há de incompatível com os seus deveres civis, morais ou religiosos.Aqueles que nos criticam são muito bons em se agarrar com escárnio, menosprezo e horror a certas partes que consideram ser o nosso ritual e, freqüentemente, tiram-nas do contexto e mudam o seu foco, assim como aconteceria se durante uma partida de futebol, ao chutar ao gol, a trave fosse mudada de lugar se estivessem perdendo o jogo. Na verdade, ao ver o desenrolar de uma cerimônia, ainda que já a tenha presenciado muitas vezes antes, ela continua exercendo um grande fascínio. Tenha em mente que nenhuma de suas partes é lida, e que os seus protagonistas mudam a cada ano. Tudo deve ser aprendido, e a dignidade e a ordem de uma cerimônia bem executada impressionam e satisfazem, não apenas aquele que a acompanha, mas também quem dela participa, até mesmo, e principalmente, o candidato ao qual cada cerimônia tem o objetivo de transmitir uma mensagem. Em determinada parte da cerimônia do Primeiro Grau, que, por algum motivo, jamais é mencionada pelos que nos criticam, enfatizamos os princípios do Amor Fraternal e a necessidade de que reine a harmonia na Loja, além de, em uma maneira muito intensa, destacar o dever que o maçom tem de socorrer o necessitado ou carente. Finalmente, um longo discurso: a preleção após a iniciação, a qual salienta ser esperado que um Maçom cumpra*com os seus deveres perante seu Deus, o seu próximo

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e a si próprio. Tudo isso é passado oralmente ao candidato, normalmente por um Irmão que ele conhece bem, e o fato de que seu amigo tenha tido o trabalho de aprender tudo isso em seu favor é algo que sempre causa forte impressão sobre o novo Irmão.Estendi-me mais sobre isso por três motivos: primeiro, para enfatizar que um candidato já conhece, de fato, muito daquilo que lhe está sendo solicitado a prometer e assumir; segundo, para lhes mostrar que aqueles que nos criticam têm uma tendência a serem seletivos e a tirar as coisas de seu contexto; e terceiro, para salientar que as instruções sobre as obrigações morais já se iniciam nos primórdios da carreira maçônica da pessoa.A seguir, uma palavra sobre os Rituais. Nenhuma origem sobrenatural é atribuída a eles. E bem sabido que eles evoluíram durante longo período e que as versões atualmente em uso surgiram a partir de 1813, quando duas Grandes Lojas rivais, em Londres, uniram-se formando a Grande Loja Unida da Inglaterra, tendo como Grão-Mestre o HRH Duque de Sussex. Ele era um cristão praticante, um notável estudioso do hebraico e um aplicado franco-maçom que pensou profundamente sobre o caráter e o espírito da Arte, e sustentava que, como um sistema de moralidade, ela deveria ser aberta, independentemente do credo, a todos aqueles que acreditam na criação sobrenatural do mundo. Ele criou comissões, nas quais se incluíam também padres anglicanos, para reorganizar o Ritual

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segundo os seus pontos de vista. Os Rituais assim originados têm sido praticados a partir dessa época, de forma ininterrupta, até os dias de hoje, embora certas penalidades grotescas, que surgiram nos tempos mais duros, tenham sido removidas dos Juramentos. Gostaria de lembrar-lhes que não somos os únicos a ser, às vezes, atrapalhados por heranças: a Igreja da Inglaterra tem um bem conhecido gravame de 39 artigos que ainda é, se bem que de forma relutante, seguido em suas liturgias. No entanto, voltando aos Rituais legados pelas Comissões de Duke, entre aqueles que deles fazem uso, estão membros da Família Real, arcebispos (até mesmo, pelo menos, dois bispos de Peterborough, o arcebispo Magee e o bispo Spencer Leeson), padres da Igreja Institucional e Ministros de muitas outras vertentes cristãs que alegam não ter observado nenhuma incompatibilidade entre o Cristianismo e a Franco-Maçonaria.Quanto aos princípios básicos da Arte, vocês poderão observar no folheto que eles são tradicionalmente resumidos como "Amor Fraternal, Auxílio e Verdade". O "Amor Fraternal" implica amar o seu próximo, no sentido em que Cristo ilustrou essa palavra na parábola do Bom Samaritano; nas palavras adotadas pelo Ritual "fazendo por ele aquilo que, em circunstâncias semelhantes, você gostaria que ele fizesse por você". Isso inclui a tolerância em relação aos ideais e credos dos outros.Quanto ao "Auxílio", a caridade maçónica não se limita apenas às causas maçônicas. Uma das

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nossas maiores organizações caritativas, a "Grand Charity", dedica grande parte de suas receitas em doações a entidades não-maçônicas. No ano fiscal encerrado em abril de 1987, cerca de £500.000, de um total de £1.500.000, foi assim canalizada; cerca de £680.000 foram destinadas a maçons e seus dependentes necessitados, e £70.000 doadas a caridades maçônicas. Outra instituição de caridade, a "Masonic Trust for Girls and Boys", cuida de cerca de 900 meninas, meninos e jovens; o seu mais recente projeto é proporcionar acomodação em cidades do interior para que as meninas, chegando a uma nova cidade para treinamento vocacional, ou para o primeiro emprego, possam contar com um lugar seguro para morar e ter por perto um guardião.Os idosos carentes são assistidos por anuidades, normalmente oriundas das caridades centrais, suplementadas em províncias, além de terem dis-poníveis 15 residências para idosos. Aos enfermos, há o "Royal Masonic Hospital", onde os franco-maçons e os seus dependentes são admitidos para os mais diversos tratamentos, pelos quais pagam de acordo com suas possibilidades; um fundo (chamado "New Samaritan Fund” e sustentado pelas Lojas) provê o déficit resultante. Devemos frisar que pacientes não-maçons são igualmente ali atendidos.Longe do centro, cada província também se ocupa da caridade, seja maçônica ou não-maçônica. A presente receita anual do nosso Fundo Provincial de Benevolência é de aproximadamente £10.000, oriunda, principalmente, de doações feitas pelas

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Lojas, sendo que, desse montante, a Grande Loja Provincial autorizou a aplicação de até £1.600 anuais para fins não-maçônicos.Em cada uma das Lojas, o Mestre deve angariar dinheiro para o que chamamos de sua "lista" em seu ano de mandato. Esse valor é destinado à Instituição, ou instituições, de caridade, sejam de fundo maçónico, ou não-maçônico, de sua escolha; mas espera-se que um décimo desse valor seja direcionado ao Fundo Provincial de Benevolência (Provincial Benevolent Fund). É o recolhimento do dízimo que, mais uma vez, como podem per-ceber, mostra os "endiabrados" maçons imitando a Igreja.Certamente, a caridade não é apenas uma questão de dinheiro. Cada Loja tem um Esmoler, cujo dever é cuidar para que os enfermos, os necessitados e os idosos sejam atendidos apropriadamente. Nesta província, eu tento fazer com que o Esmoler leve consigo um Aprendiz iniciante, acompanhando-o, sempre que possível, em suas visitas; dessa forma, o Aprendiz poderá ver o princípio sendo aplicado na prática, e aqueles que são visitados sentem que não foram esquecidos ou negligenciados; mesmo as viúvas gostam de saber como vai indo a Loja. Além disso, eu peço também às Lojas que se encarreguem da prestação de alguns serviços em suas áreas aos idosos.O terceiro grande princípio é a "Verdade", sucinta, mas o que ela significa? Como haveremos de lembrar, Pilatos teve o mesmo problema e, talvez, se tivesse imaginado que a sua pergunta teria tamanha repercussão mundial, principalmente

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com o acréscimo dos comentários de Francis Bacon, ele jamais a teria formulado. Eu não tentarei apresentar nenhuma resposta, mas posso fazer-lhes uma referência à Epístola de São Paulo aos Filipenses 4:8: "... tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, tudo o que é virtuoso e louvável...". Tenho certeza de que todo maçom, seja cristão ou não, de boa vontade adotaria isso como um padrão de conduta e tentaria com todas as suas forças alcançá-lo. Como vocês poderão ver, o folheto da Grande Loja estabelece forte ligação entre verdade e moralidade.Muito mais poderia ser dito, mas é hora de voltarmos às críticas apresentadas no relatório do grupo de trabalho. Muitas delas se baseiam na errada premissa de que a Franco-Maçonaria é, de alguma forma, uma religião. De fato, é difícil entender como é possível que um movimento que pede à pessoa que professe a sua religião antes de ser admitido, e que a continue praticando após a sua admissão, possa ser chamada, ela própria, de religião. A linha limítrofe entre a religião e a moralidade pode ser por demais tênue, mas ela existe. Quanto às questões formuladas com referência à adoração ou veneração, certamente ela existe; como cristãos, ela existe, ou deveria existir, em cada parte de nossas vidas, e tudo o que fazemos deveria ser feito a serviço de nosso Deus, em conformidade com os ensinamentos de Cristo e com nossa crença na fé cristã. Porém, há um problema, o qual o relatório reconhece que

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tanto a Igreja como a Maçonaria devem encarar: a validade da prece em um contexto inter-religiões. No Sínodo, o arcebispo de York, em minha respeitosa opinião, com toda propriedade, desaprovou a insípida maneira pela qual o grupo de trabalho apresentou o dilema constante do parágrafo 112; porém, a pergunta continua. O pro-blema das relações inter-religiões foi resumido, talvez com maior decência, em um livreto chamado Nós Acreditamos em Deus (We Believe in God), preparado pela Comissão de Doutrina da Igreja da Inglaterra; no dito livreto, nas páginas 13 a 15 pode ser encontrada uma útil discussão, da qual extraímos o seguinte trecho:"... também há muito no Cristianismo e em outras tradições que se sobrepõe — suficiente para indicar estarem todas, de certa forma, relacio-nadas a uma única realidade que, nesses diferentes idiomas, é reconhecida e venerada como Deus. Elas podem tornar-se parte dos meios de raciocínio e experiência que ajudam a explicitar a doutrina de Deus contida em nossas próprias escrituras e tradições, e isso deveria levar-nos a demonstrar sinceridade e reverência em relação às crenças e práticas dos outros... Nós nos preocupamos... com uma realidade definitiva que acreditamos existir, e à qual alegamos ter acesso privilegiado por meio das escrituras e tradições que nos foram preservadas pela Igreja. Porém, ao tentarmos ir além da mera afirmação de que 'acreditamos em Deus', e para sermos mais exatos sobre que tipo de Deus estamos falando, entramos em uma discussão que se tem arrastado desde os

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primórdios da religião cristã, e que, de várias maneiras, deve ser conduzida dentro de qualquer 'religião revelada', se é para que essa religião continue viva."Dentro do contexto dessa citação, eu mencionei a vocês o capítulo I do livreto, mas acredito que não estarei cometendo nenhuma violência ao seu significado ao ler somente um pequeno resumo, chamando a sua atenção em particular para as seguintes palavras: "sinceridade e reverência em relação às crenças e práticas dos outros". Elas me parecem traduzir adequadamente a atitude e postura de um franco-maçom cristão a um Irmão maçom de uma fé diferente da sua; atitude essa que tornou possível à Franco-Maçonaria irlandesa, de norte a sul, permanecer unida sob uma só Grande Loja; para que um árabe-cristão fosse eleito, há alguns anos, Grão-Mestre da Grande Loja de Israel; e para que eu, recentemente, após uma reunião do Supremo Grande Capítulo — o Corpo governante dos Capítulos do Arco Real Inglês — sentasse-me para almoçar com o chefe do Arco Real do Transvaal, de um lado, e com o chefe de uma Ordem maçónica do Zimbabué, do outro, em absoluta e perfeita harmonia.Voltando à questão da prece, tenho certeza de que os franco-maçons resistiriam veementemente a qualquer sugestão para que as preces deixassem de ser feitas nas Lojas. Nem desejaríamos impedir que pessoas de outros credos, que acreditam na existência de um Ser Supremo, juntem-se a nós. Permitam-me citar as palavras do arcebispo de York no debate ocorrido no Sínodo: "Nós

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precisamos muito ter bons contextos nos quais as pessoas dotadas de convicções religiosas possam trabalhar juntas, sem ter de abandonar as suas convicções ou sem ter de ignorá-las. Segundo o meu entendimento, a Franco-Maçonaria tem tentado proporcionar tal contexto... Acredito que a Arte deve ser elogiada por, ao menos, tentar resolver um difícil e complicadíssimo problema". Esse é o fim da citação, e deixo a vocês a mensagem e o raciocínio.Talvez vocês esperem que eu diga algo a respeito das palavras existentes no pedestal do Arco Real. Muitas bobagens e algumas coisas certas têm sido ditas ultimamente sobre isso. Esse assunto não teve nenhuma ajuda positiva pelo fato de que, em alguns Rituais do Arco Real, até mesmo aquele que o grupo de trabalho usou como referência básica, uma das palavras faz alusão a um nome, levando à conclusão de que está ali mencionada como o nome de Deus. Isso está errado e preocupa-nos bastante. Revisões no Ritual são cheias de dificuldades para os franco-maçons, algo que pode produzir um sorriso torto nos lábios dos anglicanos; mas podemos, de fato, considerar-nos gratos ao grupo de trabalho pela criação de um clima em que podemos esperar que se faça a revisão do Ritual, nesse e em outros aspectos, por meio do Supremo Grande Capítulo, nos próximos 12 meses.E o que temos para o futuro? Os princípios da verdadeira Franco-Maçonaria são simples, mas a Arte tem sido muito deturpada e mal interpretada. Como um sistema de moralidade, ela ensina um

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alto padrão de conduta. Certamente, ela não ensina que tal conduta é o caminho da salvação ou da redenção; isso equivaleria ultrapassar o limite entre a moralidade e a religião. O franco-maçom cristão acredita que ele será salvo por meio do sacrifício de Cristo, o Redentor e Salvador, e a Franco-Maçonaria o fará permanecer firme nessa crença, por ser esse o credo de sua fé. Eu, pessoalmente, sempre considerei a minha Franco-Maçonaria não como subordinada, mas como apoio à minha fé como cristão e, como tantos outros, não consigo enxergar nenhuma incompatibilidade entre ambas. Confesso-me sensibilizado pela atitude positiva do arcebispo de York e, respeitosamente, concordo com ele no sentido de que há uma tendência em adotar-se uma postura por demais solene em relação a esse assunto. Não é a sutileza do argumento que deve vencer, mas sim o exemplo daqueles franco-maçons cristãos que servem seu Divino Mestre sob todas as formas que Ele lhes tenha mostrado; cristãos em primeiro lugar e, depois, franco-maçons.Essa discussão tem angustiado muitos franco-maçons, não por ela estar em curso, mas pelo modo com que parece estar sendo conduzida. A mídia tem considerado o relatório condenatório à Franco-Maçonaria, embora o grupo de trabalho e o Sínodo Geral digam o contrário. As impressões são perigosas e ofensivas, e podem polarizar a situação. Houve muita gritaria, e é chegado o momento de falar e de ouvir — não apenas ouvir, mas também escutar. A situação ainda não é

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crítica, mas pode chegar a ser — tanto para os franco-maçons como para a Igreja, sem benefício nenhum para ambos. Não podemos permitir que isso venha a acontecer. E chegado o momento de procurar o entendimento, e do entendimento advirá a harmonia.Eu tentei ser construtivo e evitar a emoção, mas antes de encerrar minha participação, gostaria de fazer um comentário pessoal. Eu encontrei muita alegria, felicidade e companheirismo na Franco-Maçonaria. Eu nunca duvidei, e não duvido, que ela seja absolutamente coerente com a minha fé como cristão; caso assim não fosse, eu a teria abandonado de vez e a qualquer preço.

2"Nossos Ditos Mui Excelentes Irmãos e

Companheiros"Como o Supremo Grande Capítulo foi fundado e

instituído

Este l ivro trata da "Suprema Ordem do Santo Arco Real", reconhecida como parte do Terceiro Grau da Maçonaria Simból ica, apesar de ser uma ordem em separado, com o seu próprio governo e seu próprio executivo. Para entendermos essa curiosa condição, precisamos saber por que a "ordem" surgiu e como surgiu essa estranha unidade de separação. O objetivo desse capítulo é dar uma expl icação para isso.

Datas importantes:1717 Fundação da primeira Grande Loja: ("Modernos").

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1753 Fundação da Grande Loja da "Antiga Instituição": (Grande Loja dos "Antigos", ou Grande Loja "Atholl").1764-1766 Lorde Blayney, Grão-Mestre dos "Modernos".1764 Loja Caledonian recebe o seu certificado de "Modernos".1765 Fundação do "Excelente Grande e Real Capítulo" (The Excellent Grand and Royal Chapter).1766 Exaltação de Lorde Blayney (junho). Exaltação de James Heseltine (julho). Execução do "Certificado do Pacto" — Charter of Compact (22º).1767 O Grande Secretário Spencer ("Modernos") escreve uma carta para Frankfurt.1784 James Heseltine, já Grande Secretário ("Modernos"), escreve sobre o Arco Real.1813 As duas Grandes Lojas unem-se, formando a Grande Loja Unida da Inglaterra (The United Granel Lodge of England).1817 Criado o Supremo Grande Capítulo.

A declaração preliminar no Livro das Constituições (Book of Constitutions) da Grande Loja Unida da Inglaterra estabelece que "pelo solene ato de união entre as duas Grandes Lojas de franco-maçons da Inglaterra, firmado em dezembro de 1813, foi declarado e pronunciado que a Maçonaria Antiga pura é composta de três graus, e apenas três: Aprendiz, Companheiro e Mestre Maçom, até mesmo a Suprema Ordem do Santo Arco Real'". Igualmente, é dito a um candidato

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recém-exaltado ao Arco Real que não lhe foi outorgado um "Quarto Grau", mas que acaba de complementar o seu "Terceiro Grau". Apesar de a Ordem ser um Corpo separado e ser governada independentemente da Maçonaria Simbólica, existe apenas uma efetiva aliança em termos constitucionais por meio de uma ata da Grande Loja Unida, à qual farei referência mais adiante, e por meio de provisões constantes dos regulamentos do Supremo Grande Capítulo, determinando que cada Capítulo deve estar ligado a uma Loja regular, e que certas nomeações-chave no Grande Capítulo devem ser mantidas ex-oficio pelos Oficiais de patente equivalente na Maçonaria Simbólica, se devidamente qualificados. A Loja Simbólica à qual o Capítulo está ligado sob o Regulamento 45 dos Regulamentos do Arco Real é responsável pelo seu bem-estar e sucesso, embora isso não esteja declarado em nenhum lugar nas Constituições. Em teoria, uma vez que toda legislação baseia-se nos Regulamentos do Supremo Grande Capítulo, isso poderia ser alterado por aquele Corpo, o que poderia parecer que a única represália possível à Grande Loja Unida seria a desobediência ao Supremo Grande Capítulo. Felizmente, não há a possibilidade de que isso venha a acontecer, embora, como veremos, o Arco Real tenha sido, durante muitos anos, visto como irregular por uma das duas Grandes Lojas que se uniram em 1913.No nível provincial, podemos ver, claramente, essa estranha união e desunião, uma vez que o Grão-Mestre Provincial no comando da Maçonaria

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Simbólica nem sempre é o Grande Superintendente da Província do Arco Real, embora, sempre que possível, o mesmo Irmão seja nomeado para ambas; e, certamente, a nomeação na Maçonaria Simbólica é feita pelo Mui Venerável Grão-Mestre, enquanto no Capítulo ela é feita pelo Mui Excelente Primeiro Grande Principal, a mesma pessoa se "devidamente qualificada". Quando as duas nomeações em uma província são dadas a duas pessoas distintas, cada uma delas é, teoricamente, independente da outra, exceto em determinados casos; por exemplo, um membro suspenso pelo Dirigente de uma das duas Ordens fica, automaticamente, suspenso da outra. O bem da Franco-Maçonaria requer que ambas trabalhem juntas, e, nos raros casos em que isso não acontece, tamanha é a necessidade para a união prática que, raramente, para colocar isso de forma amena, a Província consegue alcançar o seu pleno potencial.Esse fenômeno de união com separação tem conseqüências que o maçom do Arco Real deve entender se quiser ou tiver de explicar a rele-vância do Capítulo a um Irmão que ainda não tenha sido exaltado ao Arco Real. As razões, como veremos, são históricas; o subtítulo desse capítulo — "Nossos ditos Mui Excelentes Irmãos e Companheiros" — é uma citação do Charter of Compact que criou o primeiro Grande Capítulo do mundo, o ancestral direto do nosso próprio Supremo Grande Capítulo. Ele foi instalado pela autoridade do Lorde Blayney, Grão-Mestre da Primeira Grande Loja da Inglaterra (uma das que

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se uniram em 1813), existindo como tal apesar de que sua Grande Loja não o tenha autorizado a fazê-lo e, oficialmente, considerou o Arco Real uma indesejável inovação.Antes de ponderarmos sobre as razões históricas dessa divisão, é pertinente questionar se isso teve alguma conseqüência prática. Decididamente, a minha resposta é sim, pois enquanto esse estranho relacionamento possa ter construído uma ponte, ele também construiu uma barreira; e essa barreira atrapalha o caminho do franco-maçom em seu progresso ao pleno entendimento da "antiga Maçonaria pura". Assim, nós, como Companheiros do Arco Real, devemos reconhecer que essa barreira existe, entender como ela surgiu, e ter a capacidade de guiar os nossos Irmãos na Maçona-ria Simbólica ao longo da ponte que os tornará nossos Companheiros.Todo franco-maçom pensa que o seu progresso, indo de Aprendiz a Companheiro e de Companheiro a Mestre, é algo natural e inevitável; porém, embora seja reconhecido como um complemento e parte integrante do Terceiro Grau, na prática o Arco Real nem sempre é tratado como tal, mesmo pelas Lojas que são responsáveis por um Capítulo. Como uma ordem separada, com paramentos diferentes, uma arrumação de Loja to-talmente distinta, e tendo como Oficiais Irmãos diferentes daqueles pertencentes ao quadro da Loja à qual está ligado o Capítulo, Irmãos esses, geralmente, de relativa antigüidade na Maçonaria Simbólica, além de tantas outras diferenças, o Arco Real de fato pode dar aos Irmãos que ainda

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não são Membros da Ordem a forte impressão de ser algo bastante diferente da Maçonaria Simbólica. Assim sendo, o Arco Real pode parecer tão pouco relacionado ao Simbolismo quanto a outras Ordens na tradição maçônica, tais como a Marca e os Crípticos (Real e Seleta), sendo cada uma considerada em algumas Constituições como parte da Antiga Franco-Maçonaria. Esse sentido de separação é um fator psicológico que nós, como maçons do Arco Real, devemos ajudar, com afinco, a ser superado pelos nossos Irmãos. Para tanto, temos a nosso favor o fato de que o grau de Mestre Maçom é tão obviamente incompleto em seu desfecho, e o ensinamento do simbolismo, apesar de ser, em si, admirável e prático, está tão obviamente preocupado com a nossa existência terrena, em especial, que qualquer um que pense com seriedade sobre a sua Franco-Maçonaria deve sentir que ela põe em uma das mãos uma história incompleta, e na outra uma filosofia que foi apenas parcialmente desenvolvida. Todos nós sabemos que somos mortais, e que haveremos de morrer um dia — e cito as conhecidas palavras da Bíblia que também são usadas no Ritual de outra Ordem: "o mais sábio de nós não sabe quando". Todos nós professamos em Loja Aberta a nossa crença em um Ser Supremo e devemos acreditar que a nossa vida deveria ter um significado e um propósito em um contexto maior do que o puramente material; assim sendo, é natural que sintamos, quando pensamos sobre os graus do simbolismo pelos quais passamos, que aqueles elementos de significado e propósito continuam

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sem resolução, e que os elevados desígnios e intenções indicados em nossa iniciação na Maçonaria e implícitos nas perguntas que então respondemos foram, de alguma forma, perdidos em um labirinto de palavras e movimentos ritualísticos. Resta ao Arco Real guiar-nos em direção a considerar tudo isso sob o contexto da eternidade e do serviço a Deus instruído pela religião.Isso não significa que o Arco Real seja, em si, mais que um código de moralidade. A Franco-Maçonaria não é, de forma alguma, uma religião e, portanto, a Ordem pode e deveria nos levar a pensar sobre a religião; ela não tem a intenção de substituí-la. Em 1962, a Grande Loja Unida afirmou isso nas seguintes palavras, recentemente confirmadas como representativas de nossa postura em relação a essa importante questão:"Não se pode afirmar categoricamente que a Maçonaria não é nem uma religião nem uma substituta da religião. A Maçonaria procura incutir em seus Membros um padrão de conduta e de comportamento que ela acredita ser aceitável a todos os credos, mas criteriosamente se abstém de interferir nas áreas dos dogmas ou da Teologia. Portanto, a Maçonaria não é uma concorrente da religião, embora no âmbito do comportamento humano é de se esperar que os seus ensinamentos complementem os da religião. Por outro lado, os seus requisitos básicos para que todos e cada um dos membros da ordem acreditem em um Ser Supremo, bem como a ênfase colocada sobre o seu serviço a Ele, deveriam ser uma prova

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suficiente a todos de que a Maçonaria não é intencionalmente discriminatória, mas sim um sustentáculo e preservador da religião, pois ela exige, antes mesmo de o homem ser admitido como maçom, que ele tenha alguma forma de crença religiosa e que, depois de admitido na Ordem, continue praticando a sua religião."Você poderá estar pensando que a minha intenção é dar mais ênfase aos aspectos filosóficos do que a maioria dos franco-maçons estaria disposta a agüentar. Porém, cada vez mais e mais tenho consciência do quanto as pessoas sérias e fervorosas, de todas as camadas, estão atualmente procurando dar significado e propósito às suas vidas. O apoio que os britânicos conseguiam ter antigamente, vindo da autoconfiança e da devida auto-importância, parece ter desaparecido por completo nos dias de hoje, e, em sua passagem, deixou um vazio no qual muitos se debatem. Muitas pessoas ingressam na Maçonaria por mera curiosidade; porém, muitos mais chegam por estarem à procura de algo que sustente e apóie os padrões de conduta e de moralidade nesse tão atribulado mundo de incertezas e problemas, e buscando o companheirismo de outros que, destarte, são bons amigos e inspirados pelo desejo de fazer de suas vidas algo construtivo; a recente campanha de difamação e calúnia contra a Arte em nada afetou isso, principalmente porque, conforme entendimento, individualmente cada franco-maçom é um embaixador, e as pessoas mais razoáveis nos julgarão conforme nos acham. Essa

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é uma boa razão para ser aberta sobre a sua participação como Membro da Arte.E por todas essas razões, bem como o insatisfatório desfecho do Terceiro Grau, que eu acredito que um Irmão deveria ser incentivado a entrar em um Capítulo tão logo fique claro estar ele pronto para se beneficiar do ensinamento e companheirismo por ele oferecido; e, certamente, tão logo ele entre em um Capítulo, deve ser encorajado e ajudado, sendo convidado a ajudar nos trabalhos. Eu deploro as idéias de que um Irmão não deveria ser exaltado antes de ter ocupado algum cargo em sua Loja, e que o traba-lho no Capítulo deve ser feito apenas pelos oficiais do próprio Capítulo. Cada uma dessas falácias — é assim que eu as considero — pode significar que o pleno potencial de um Irmão não se realize e, acima de tudo, que as suas não pronunciadas ansiedades fiquem irresolutas, que as suas per-guntas não formuladas fiquem sem respostas. Por essas razões, entre outras mais, eu decididamente apoio o uso do catequético método de dar as preleções; esse método envolve os Companheiros juniores e os Past Principais nos trabalhos do Capítulo, incentiva e estimula o seu interesse em conseguir dominar as lições que a Ordem está tentando ensinar. Ser um Companheiro significa e exige muito mais que ser Irmão.Voltemos, agora, ao ponto inicial, de que não podemos entender a estranha posição da Maçonaria do Arco Real em relação à Maçonaria Simbólica sem termos um conhecimento dos antecedentes históricos, que é o fator mais

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importante na grande discussão entre as duas Grandes Lojas rivais de Londres: aquela dos assim chamados "Modernos", que foram, certamente, os primeiros ou Primeira Grande Loja, e aquela de seus rivais, autodenominada "Antigos".A Primeira Grande Loja foi fundada em 1717 pelas quatro "imemoráveis" Lojas, das quais três ainda existem. Ela foi a primeira de todas as fundadas na Franco-Maçonaria Especulativa, tal como a conhecemos e, embora no início de sua existência não tenha almejado ir tão alto, ela acabou evocando para si a jurisdição sobre todas as Lojas inglesas. Esse pleito não foi inicialmente aceito por todos e, de fato, oito anos depois, uma antiga Loja em York criou a imponentemente chamada "Grande Loja de TODA a Inglaterra" que, mais tarde, compunha-se de metade da Loja da Antiguidade, uma das "imemoráveis" fundadoras da "Primeira Grande Loja, na Grande Loja do Sul da Inglaterra e do Rio Trent" — mas a história dessa briga é uma outra questão. O sério desafio aos pleitos de prevalência da Primeira Grande Loja surgiu da fundação, em Londres, da "Mais Antiga e Honorável Sociedade de Maçons Livres e Aceitos" (The Most Ancient and Honourable Society of Free and Accepted Masons), cuja Grande Loja é reconhecida, em geral, como surgida em 1751. Os seus Membros acusaram a Primeira Grande Loja de violar os antigos Landmarks da Ordem. E bem possível que tenha havido alguma procedência nessa queixa se, de fato, tal como foi alegado, ela tenha alterado os meios de reconhecimento; mas isso incomodou tanto os

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franco-maçons escoceses quanto os irlandeses, dos quais parece ter existido, naquela época, uma considerável quantidade em Londres, e é bem possível que eles tenham tido certa influência no fomento à insatisfação. Houve época em que se acreditava que os fundadores dessa nova Grande Loja, que adquiriram ou adotaram o apelido de "Antigos" e batizaram seus rivais de "Modernos", fossem rebeldes oriundos da Primeira Grande Loja; porém, o Irmão Henry Sadler, um antigo Grande Bibliotecário da Grande Loja Unida, mostrou ser essa uma história infundada.Como resultado, a Franco-Maçonaria na Inglaterra ficou dividida em dois campos de batalha pelo resto do século. Conseqüentemente, os franco-maçons ingleses estavam por demais envolvidos em suas próprias discussões e, mais tarde, em tentar reconciliar as duas Grandes Lojas, para terem tempo de dar maior atenção às explosivas atividades referentes à criação de novos Graus "Maçônicos" que estavam acontecendo em outros lugares, notadamente na França, Prússia, Índias Ocidentais e no continente norte americano. A Franco-Maçonaria havia sido exportada para esses lugares e desenvolveu-se tão vorazmente que chegou a contar com mais de mil assim chamados "graus maçônicos".No entanto, o Arco Real ficou inteiramente envolvido na briga. Ele estava tornando-se conhecido na época em que a nova Grande Loja foi formada, embora em muitas Lojas inglesas não tenha sido adotado como um Grau Maçônico regular. Não há necessidade de discutir aqui os

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incômodos aspectos que o originaram, ou como ele chegou ao formato que é praticado atualmente aqui; mas, em meados do século XVIII, ele era con-siderado por alguns, um grau de imemorável tradição, enquanto outros o viam como uma inaceitável inovação e anátema. Quando, em 1751, os "Antigos" fundaram a sua Grande Loja que dizia estar dedicada a eliminar as inovações ao sistema, eles já mostravam a sua parcialidade e apoio ao Arco Real, e não perderam tempo em alardear o seu produto, alegando ser a "Grande Loja dos Quatro Graus" e, por conseguinte, ridicularizando a Primeira Grande Loja, atribuindo-lhe autoridade somente sobre os três Graus. Eles difundiram vigorosamente as pretensões do Grau, tanto assim que o seu segundo Grande Secretário, o famoso Laurence Dermott, chamou-o de "a raiz, o coração e a medula da Franco-Maçonaria".A Primeira Grande Loja, os "Modernos", tendo sido novamente preterida, passou a voltar-se contra o Arco Real e, em 1759, em uma carta, o seu Grande Secretário escreveu a um franco-maçom irlandês, as seguintes palavras: "A nossa sociedade não é nem Arco, nem Arco Real ou Antiga e, assim, você não tem direito a participar de nossa caridade" — palavras arrepiantes que Dermott imediatamente incorporou à propaganda de sua própria Grande Loja. Essa foi, e por muito tempo continuou sendo, a postura oficial dos "Modernos", embora, ao que parece, muitos de seus Grandes Oficiais tenham sido exaltados à Ordem, até mesmo, como veremos, o seu próprio Grão-Mestre em 1766; ainda em 1767, o Grande Secretário dos

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"Modernos" escreveu, oficialmente, a um Irmão em Frankfurt que "o Arco Real é uma Sociedade que não reconhecemos e que consideramos ser uma invenção que introduz uma inovação, criada para seduzir os Irmãos"; certamente, até o seu Grão-Mestre foi seduzido.Em um mundo tão conturbado, quem melhor para encontrar uma solução que um irlandês? Cadwallader, o nono Lorde Blayney, tornou-se Grão-Mestre da primeira Grande Loja, em 1764. Nesse mesmo ano, a Loja Caledonian, em Londres, separou-se dos "Antigos", sob cuja égide fora constituída pouco tempo antes, e juntou-se aos "Modernos", recebendo o número 325; atualmente, ela tem o número 134. Em 1765, aparentemente com a ajuda daquela Loja, 29 maçons "Modernos" fundaram um novo Capítulo do Arco Real; ele recebeu o nome de "Excelente Grande e Real Capítulo" (The Excellent Grand and Royal Chapter), nome pomposo que sugere ter sido criado para desempenhar um papel especial. Que esse papel pode bem ter sido a fundação de um Grande Capítulo é apoiado no fato de, até os dias de hoje, nas Cartas Patentes e Certificados chancelados pelo Supremo Grande Capítulo, a cláusula de Certificação ainda se referir ao "Nosso Excelente Grande e Real Capítulo".Em 1766, Lorde Blayney foi exaltado nesse Capítulo; ele ainda era o Grão-Mestre da Primeira Grande Loja, que não fora consultada sobre esse assunto e, certamente, não reconheceria o direito daqueles 29 Irmãos, mesmo com o apoio e a aprovação do Grão-Mestre, para criar um corpo

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governamental para um Grau que eles consideravam, oficialmente, não pertencente ao seu sistema de Franco-Maçonaria e, em vista dessa posição oficial, esses Irmãos não poderiam alegar que a sua conduta era, de alguma forma, regular. Ainda assim, Blayney alegou, como veremos, ter agido em conformidade com seus poderes como Grão-Mestre.Parece que logo após a sua exaltação, Blayney tornou-se, automaticamente, Primeiro Principal do Capítulo e assumiu o título de "Chefe do Arco Real" — de fato, uma promoção bastante rápida. Na Sessão seguinte do Capítulo, em julho, foi exaltado James Haseltine, Grande Mordomo da Grande Loja dos "Modernos".Considerando que a já mencionada carta de Frankfurt foi redigida no ano seguinte, após a exaltação de Lorde Blayney, fica claro que, então, reinava uma grande esquizofrenia entre os "Modernos" em relação ao Arco Real; na verdade, isso continuou assim por mais algum tempo; depois de oito anos, James Heseltine, já seu Grande Secretário, e não apenas um Membro do Excelente Grande e Real Capítulo, mas também um dos signatários da Carta Patente pela qual, como veremos, foi criado o Grande Capítulo, teve de escrever oficialmente a um correspondente estrangeiro nos seguintes termos:"É verdade que muitos Membros da Fraternidade pertencem a um Grau na Maçonaria que dizem ser mais elevado que o outro, que se chama Arco Real. Eu tenho a honra de pertencer a esse Grau... mas ele não é reconhecido na Grande Loja, e todos

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os seus Símbolos, Emblemas e Jóias são proibidos de ali serem usados... Você verá que o Arco Real é uma sociedade privada e distinta. Ele faz parte da Maçonaria, mas não tem nenhuma ligação com a Grande Loja."A partir dessa carta fica claro que, pelo menos alguns "Modernos", admitiam que o Arco Real era um Grau ou Ordem Maçónica, mostrando que, talvez, algum progresso tenha sido alcançado; porém, a alegação de que "não possui nenhuma ligação com a Grande Loja" implica, claramente, que o ato de Lorde Blayney fora anticonstitucional e, como veremos, é um indício de como ele era considerado em alguns âmbitos oficiais. Entre-tanto, a Grande Loja e o Grande e Real Capítulo continuavam coexistindo em um estado beligerante até a época em que as negociações para uma união das duas Grandes Lojas resultaram em sucesso, em 1813.O Excelente Grande e Real Capítulo, tendo à testa Lorde Blayney e muitos influentes "Modernos" como Membros, era muito ativo em 1766. Blayney foi exaltado em junho, e em julho foram realizadas três sessões, todas elas presididas por ele. Na primeira, ficou acertado que um documento, que receberia o nome de "Certificado do Pacto" (Charter of Compact), deveria ser preparado para, com efeito, criar um Grande Capítulo. O fato de ser chamado de "Certificado" é muito interessante, pois os documentos de constituição emitidos por Grandes Lojas eram, geralmente, conhecidos como "autorização" ou "carta patente"; assim, o nome teria um "aroma" de autoridade no

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mundo Maçônico e, certamente, sugeriria que Blayney agia por força de sua posição e da autoridade nela implícita.Ela foi executada em 22 de julho. Nela, Blayney descrevia-se como "Grão-Mestre dos Maçons Livres e Aceitos, e também Mui Excelente Grão-Mestre do Arco Real de Jerusalém... devidamente passado ao Arco Real", declarado "pela Honra, Dignidade, Preservação e Bem-estar da Arte Real" (palavras bastante estranhas, quando sua Grande Loja não sancionara aquilo que estava sendo feito e não reconhecera oficialmente o grau que o novo corpo governava). "Pelas presentes, pelos poderes que temos" — uma cautela atrasada? — "instituímos e erigimos os nossos Mui Excelentes Irmãos e Companheiros... e seus sucessores... conjuntamente conosco e nossos Mui Excelentes Grãos Mestres Sucessores, agora, de tempos em tempos, e por todos os tempos, doravante formando e sendo o Grande e Real Capítulo do Arco Real de Jerusalém...". Vale a pena notar que, mais tarde, a data do certificado foi alterada para parecer ter sido executado em 1767, quando expirava o mandato de Blayney como Grão-Mestre, e a letra "P" de "Past" foi habilmente inserida antes da palavra "Grão-Mestre". Talvez essa tenha sido uma tentativa de insinuar que a Primeira Grande Loja nada tinha a ver com isso (o que, a rigor, seria absolutamente correto), ou que a sua execução fora ultra vires; ou, talvez, para se proteger ou desviar de um ataque ao novo Corpo como irregular ou não autorizado. Mas,

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qualquer que fosse a posição legal, o Grande Capítulo veio para ficar.Pelo menos uma vez, a iniciativa foi tomada pelos "Modernos" e os "Antigos" não foram capazes de reagir eficazmente, pois já haviam feito grande alarde de sua reivindicação de ser a "Grande Loja dos Quatro Graus". Eles reagiram cinco anos depois, reunindo-se em 1771 para criar o seu próprio Grande Capítulo que, no entanto, parece jamais ter passado de um comitê ou, na melhor das hipóteses, uma pálida sombra de sua Grande Loja; certamente, ele nunca chegou a ser uma verdadeira autoridade maçónica independente — algo que haveria de causar problemas mais tarde.Avancemos no tempo da história para o século XIX e o fim da divisão entre as duas Grandes Lojas. Em 1813, depois de muitos preparativos, o HRH Duque de Sussex como Grão-Mestre da Primeira Grande Loja, e o seu irmão HRH Duque de Kent como Grão-Mestre da rival Grande Loja, presidiram a união de ambas, formando a Grande Loja Unida de franco-maçons antigos da Inglaterra. Mais de um ano antes disso, o Duque de Sussex, como Primeiro Grande Principal, prestando informações no Grande e Real Capítulo sobre as negociações visando a unificação, declarou que quatro Graus deveriam ser reconhecidos; e pouco antes da celebração da união, ele foi investido por aquele Corpo "com plenos poderes para negociar a união das Grandes Lojas" que parecia ser "o mais proveitoso aos interesses gerais da Maçonaria". Pode parecer estranho que o Grande Capítulo deveria ser a autoridade a negociar a união das

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Grandes Lojas (que já tinham concordado, substancialmente, com os termos de sua unificação), mas devemos lembrar que, embora para os "Antigos" o Arco Real fosse parte da Maçonaria Simbólica, a Grande Loja dos "Modernos" não poderia falar por ela, por não reconhecerem, ao menos oficialmente, o Grande e Real Capítulo ou a Ordem a qual ele governava, como parte de seu sistema.Não é de surpreender que a responsabilidade pelo governo do Arco Real, após a união, estivesse longe de ser clara, reinando uma evidente confusão. O "Ato de União" aceitava especificamente que a Ordem era uma genuína parte da Franco-Maçonaria, mas o seu verdadeiro status não ficou claramente definido e, assim, o Excelente Grande e Real Capítulo continuava existindo na teoria (e, de fato, legalmente), e o assim chamado Grande Capítulo dos Antigos, sendo um mero comitê de sua Grande Loja, presumivelmente deixou de existir com a União. Foi só em março de 1817, mais de três anos após a união, que uma cerimônia foi planejada para dar ao menos uma aparência de ordem a uma situação de desordem. Os membros do Excelente Grande e Real Capítulo e os antigos membros do "Grande Capítulo" dos Antigos reuniram-se em salas separadas e abriram Capítulos antes de entrarem em uma terceira sala onde o Duque de Sussex recebeu-os e, formalmente, unificou-os. Seis meses depois, a Grande Loja Unida comunicou, por meio do Boletim Trimestral, o que chamou de "fusão" dos "dois Grandes Capítulos" e

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— conforme consta da já mencionada ata — "Resolveu, por unanimidade, que a Grande Loja estará sempre disposta a reconhecer os procedimentos do Grande Capítulo e, desde que as suas disposições não interfiram ou conflitem com os regulamentos da Grande Loja, e estejam em conformidade com o Ato de União, estarão prontos para reconhecer, facilitar, sustentar e preservar o mesmo". As palavras cuidadosamente escolhidas dão a entender que a Grande Loja Unida percebeu que o Arco Real adquirira uma condição diferenciada; que, ao menos em teoria, era totalmente independente, e que, de fato, nem ele nem os seus predecessores fizeram parte do Ato de União, Porém, o corpo que atualmente chamamos de Supremo Grande Capítulo foi formalmente criado e o controle sobre a Ordem que ele representa foi reconhecido. No entanto, somente em 1934 se iniciaram as medidas formais para unificação e "universalização" do ritual.O último passo nessa questão aconteceu em 1853, quando o preâmbulo às constituições da Maçonaria Simbólica adquiriu a sua presente for-ma, a qual acompanha o teor do Ato de União.Dissemos anteriormente, nesse mesmo capítulo, que devemos entender ambas: a barreira e a ponte existentes entre a Maçonaria Simbólica e o Arco Real. Já vimos que as razões e motivos para a separação das duas ordens são, basicamente, históricas, mas as razões para a simpatia entre elas são, de fato, fortes e os acidentes e casualidades históricas não nos deveriam impedir de enxergar e entender o modelo completo da

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"Maçonaria Antiga pura" — o modelo de um Terceiro Grau incompleto que somente se completa pela exaltação. O Arco Real não apenas aperfeiçoa a educação do Mestre Maçom em sua história e segredos; em uma frase que tenho usado com freqüência, a Franco-Maçonaria é colocada em um contexto de eternidade. Ele deve ser levado a sério, e não é todo Mestre Maçom que estará pronto para os seus ensinamentos logo depois de ter sido elevado, mas se "apropriada e adequadamente apresentado" (e essas palavras devem ser bem enfatizadas), ele tem muito a oferecer ao mundo em que vivemos, um mundo incerto de seus valores, mas ardentemente à procura da verdade em uma civilização ameaçada como nunca fora antes. Nós estaremos falhando em nossos deveres perante nossos Irmãos se não percebermos a importância dessa ordem na atualidade e não a estudarmos para que possamos, com sinceridade e convicção, incentivar Mestres Maçons para que se juntem a nós. Ao perceberem que a instrução e a lenda da Maçonaria Simbólica proporciona a eles um sistema terreno de moralidade e, no final, com um conto de perda, morte e desespero, eles verão que deve existir mais, além disso, e qualquer Companheiro dessa Ordem deve ter a capacidade de explicar-lhes que o Arco Real vai mais além, que a sua lenda fala de descobertas e que a sua mensagem é que vivamos na luz e glória da eternidade.O seu primeiro passo prático nesse sentido é lembrar de vestir a sua Jóia do Arco Real em todas

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as ocasiões da Maçonaria Simbólica e incentivar as pessoas a perguntar sobre ela; prepare-se para responder a essas perguntas externando-lhes o que a Maçonaria do Arco Real significa para você, não apenas na teoria, mas também na prática. Lembre-se, acima de tudo, de que essa é uma ordem de companheirismo, devemos encarar e respeitar o seu lado sério e também desfrutar de nossas reuniões, tanto no Capítulo como no Ágape; tudo isso faz parte da verdadeira tradição do Arco Real, pois está registrado que nos primórdios do Grande Capítulo o festival anual era seguido de um baile e de uma ceia, a que eram convidados os Mestres Maçons e as suas senhoras. As Atas mostram que após uma elegante ceia, a noite era encerrada com aquela alegria harmônica e social que sempre foi o padrão característico dos maçons e dos verdadeiros cidadãos do mundo. Os elementos que atrairão os Mestres Maçons a se tornarem Companheiros não serão nem a obrigação, nem a curiosidade, mas a conscientização de que o ensinamento da Ordem é sério e significativo, associado à certeza de estarmos felizes por pertencer a ela e desfrutar daquele verdadeiro e significativo companheirismo que deve ser sempre a característica da Ordem e que explica por que cada um de nós sente tanto orgulho e tanta satisfação em ser chamado de "Companheiro".

3O Candidato (1978)

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O fato de se esperar que, a cada ano, durante a reunião anual do Grande Capítulo Provincial , um Grande Superintendente profira um discurso aos Companheiros proporciona uma oportunidade para expressar os agradecimentos por tudo aquilo que foi real izado ao longo dos 12 meses anteriores, apresentar os votos de sucesso para o período seguinte e oferecer comentários e recomendações. Em 1978, quando fui encarregado da Província de Northamptonshire e Huntingdonshire como Grande Superintendente, a Instalação foi realizada por ocasião da Reunião Anual, e houve pouca oportunidade para fazer mais que expressar os agradecimentos à comit iva que veio de Londres para conduzir a cerimônia e àqueles que tanto trabalharam para o sucesso daquela celebração, além de dar as boas-vindas aos muitos visi tantes. Mas, assim mesmo, restou algum tempo para falar um pouco sobre o tratamento dado aos candidatos; uma versão atual izada dessa parte da Preleção está reproduzida a seguir.

Desnecessário dizer-lhes, Companheiros, que nós dependemos da Maçonaria Simbólica para o fluxo de Candidatos para a nossa Ordem, tal como, de fato, dependem as demais Ordens praticadas na Província. E importante que pensemos muito em como podemos atraí-los e, depois de serem exaltados, como podemos conservar seu interesse e inspirá-los a se dispor a aceitar cargos e começar a desempenhar o seu papel no Capítulo. Para tanto, a primeira coisa essencial é que vocês mesmos pensem muito sobre a Ordem e sejam capazes de explicar o que ela mais atrai em você.Muitas vezes, os candidatos são recrutados em vez de serem atraídos; e são recrutados pelo motivo

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errado, por exemplo, porque, de outra forma, não haveria cerimônia, ou porque um Irmão veterano diz algo como "Já é mais que hora de você estar no Capítulo". Porém, você somente poderá atrair alguém para o Capítulo se puder explicar por que você se sentiu atraído pela Ordem. Para que você seja capaz de fazer isso, poderá ser necessário algum raciocínio de sua parte, mas será algo que você achará bastante válido.O que, então, você deve explicar a um possível candidato? Para começar, pode dizer-lhe que o Arco Real é reconhecido como o complemento do Terceiro Grau, tal como percebe ao ler o Preâmbulo às Constituições da Maçonaria Simbólica. É oportuno ressaltar isso tão logo ele tenha sido elevado e, quando da entrega de seu certificado da Grande Loja, será urna perfeita oportunidade para fazê-lo. Se ele lhe pedir que explique o que significa "completar o Terceiro Grau", você poderá lembrá-lo que a lenda desse Grau acaba em perda, desespero e morte, e dizer-lhe que o Arco Real preocupa-se em encontrar aquilo que foi perdido e que tem uma mensagem de esperança. Porém, mesmo assim, ele somente desejará juntar-se a nós se constatar que você, de fato, aprecia o Capítulo, como você realmente aprecia se fizer a sua parte, cuidando para que as sessões sejam alegres e agradáveis — e aí se inclui a importância de você entender o Ritual e não apenas o decorar como um papagaio.A necessidade de cuidar de um candidato não se encerra com a sua exaltação. A menos que tenha sido absorvido pelo companheirismo do Capítulo, é

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improvável que ele seja suficientemente apreciativo para que possa entender o seu valor, e poderá perder o interesse, ficar aborrecido e deixar de comparecer ao Capítulo. Esse é o pior desastre que pode acontecer a um Capítulo, e uma forte crítica a ser feita por seus membros. Mesmo que não haja nenhuma cerimônia em vista, existem muitos outros trabalhos a serem feitos com um pequeno esforço — preleções, explanações sobre os estandartes, o simbolismo geral da Ordem; e o novo Companheiro pode e deve ser convidado a participar; e se um Past Principal for incumbido de ajudá-lo, você estará envolvendo dois Companheiros em uma mesma atividade. Depois, ao concluir a sua parte, você deverá agradecer por sua participação e prestar uma gentil orientação caso algo tenha saído errado. Tudo isso faz parte de tornar uma fraternidade em companheirismo.

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4A Suprema Ordem (1979)

O t ítulo completo da Ordem, tal como consta do Preâmbulo às Constituições da Grande Loja Unida da Inglaterra (c itando a Ato de União entre as duas Grandes Lojas de Londres, em 1813), é "Suprema Ordem do Santo Arco Real". Um bom ponto de partida para qualquer tentativa de compreendê-la seria a aver iguação das reivindicações impl íc itas nesse t ítulo. Metade do Discurso proferido em 1979 foi dedicada a esse assunto. Foi a sua repercussão que, afinal, convenceu-me a continuar nessa l inha, e os discursos seguintes foram, assim, inteiramente dedicados a descobrir quais mensagens a Ordem reservou-nos para o mundo de hoje. Foi uma tarefa trabalhosa, mas fascinante, e a recompensa foi o interesse que daí foi despertado.

A nossa reunião anual é uma ocasião em que podemos fazer proveitoso retrospecto e útil prospecção, e proporciona boa oportunidade para se fazer um balanço. Assim, eu gostaria de pedir a vocês que, por alguns instantes, pensassem sobre o nome dessa Ordem: a "Suprema Ordem do Santo Arco Real", e que se perguntassem como podemos justificar um título tão pomposo. Se vocês pensarem nas implicações que acompanham esse título, é bem provável que fiquem um tanto impressionados com a sua importância. Estamos tão acostumados com as palavras que a familiaridade faz-nos não dar a devida importância e peso aos seus significados. Você não acha que nós, que nos chamamos não apenas de Membros da Ordem, mas de Companheiros em uma Ordem que porta um título tão retumbante, não

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deveríamos pensar com mais profundidade sobre os motivos que justificam tal título?Um argumento que, certamente, será apresentado é o que trata, simplesmente, de uma linguagem sofisticada e hiperbólica, pois a alegação de ser superior é uma das bem conhecidas etapas no processo de convencer a si próprio e a outrem de sua própria superioridade. Acredito que a análise histórica da Ordem, tal como a conhecemos, mostra que esse argumento é falso. Os Irmãos que, natural e corretamente, desejavam conhecer e ser admitidos aos genuínos segredos apontados pelo Terceiro Grau, pediam para que lhes fosse ensinada a resposta à pergunta formulada, mas não respondida, naquele Grau; na verdade, a pergunta formulada no próprio Ritual. Eles esperavam saber mais, quaisquer que fossem os seus motivos. É bem possível que eles não se sentissem superiores, mas, até que ponto foram influenciados pela humana necessidade de plenitude de conhecimento? Sem dúvida, referências a "inevitável destino" e "paz e redenção" não lhes foram suficientemente explícitos. Mas o que fica evidente — na verdade, saltando aos olhos — naqueles seus primórdios é o fato de terem encontrado não apenas o conhecimento, mas a compreensão, pois eles ti-veram de encarar o supremo enigma: o relacionamento entre o homem e o seu Criador. As insinuações de imortalidade substituíram os emblemas da mortalidade. Precisamos dizer mais alguma coisa para justificar o título de "Suprema Ordem"? É claro que não!

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E o que dizer sobre o "Santo Arco Real"? Ora, sobre o Arco todos nós sabemos, o mais forte vínculo na Maçonaria, aquele que na Franco-Maçonaria Especulativa transforma Irmãos em Companheiros. Ele é "Real" por contemplar os lendários Grãos-Mestres Reais que construíram o Primeiro Templo. Ele é "Santo" — palavra que não deve ser usada com leviandade — porque o Arco da Abóbada ocultava o Altar sobre o qual o "Ine-fável Nome" foi colocado, o Altar que celebramos em cada Capítulo do Arco Real pelo Pedestal que é colocado no meio em todas as reuniões e que o seu certificado do Grande Capítulo coloca sobre o pavimento mosaico da felicidade e tristeza mortais, mas que, ainda assim, dirige o olhar à estrela brilhante da eternidade.É disso que trata essa Ordem. Ela coloca a Franco-Maçonaria Simbólica na estrutura da eternidade. Ela exige um sentido de admiração e comprometimento e proporciona algo para construir uma das mais adoráveis visões que um candidato a qualquer grau maçónico jamais verá. Vocês, como Membros do Grande Capítulo Provincial, têm o dever de cuidar para que o ímpeto, a atenção e a comoção daquele momento seja alimentado e cresça. Isso significa esforçar-se pela proficiência e competência no trabalho, uma vez que são essas as qualificações necessárias para que o ritual seja rapidamente entendido. Se você é um dos responsáveis pela distribuição de trabalho, isso também significa que você deve ajudar aqueles a quem encarregou de desempenhá-los; "suprir suas deficiências", tal

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como a Preleção aos Principais colocada de forma tão encantadora; e você deve cuidar para que participem tantos Companheiros quanto seja razoavelmente possível, pois isso não é apenas mais interessante para o Capítulo, mas utilíssimo como instrução aos Companheiros envolvidos. Mais que tudo, você deve cuidar para que as cerimônias do Capítulo sejam estimulantes. O importante não é que o Companheiro deva ser um especializado conhecedor de uma parte do Ritual; o importante é que o máximo possível de Companheiros estudem e entendam o Ritual e cuidem para que seja cumprido para o benefício do Capítulo e não para a satisfação daquele que desempenhou o seu papel. As lições somente serão aprendidas se o trabalho no Capítulo for agradável e agradar a todos; a Franco-Maçonaria é algo para ser agradável.

5A História dos Forasteiros (ou

Sobrestantes) (1980)A história dos forasteiros (ou sobrestantes) é urna historia de verdadeiro drama, tanto assim que nos concentramos mais na narrativa e esquecemos ser ela também cheia de alegorias. Qualquer procura pelas l ições ensinadas pela Ordem sempre a mostra em uma fase inic ia l .

Sempre ouvimos dizer que o Arco Real completa o Terceiro Grau por se ocupar em encontrar aquilo que foi perdido. Isso nunca

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soou como plenamente satisfatório, apesar de haver algo de incompleto naquele grau. Quando, alguns anos mais tarde, o Ritual do Arco Real foi revisto considerando a omissão da Palavra de Reconhecimento, a questão da "perda" acabou ficando ainda mais difícil de ser entendida. Com o passar dos anos, cheguei à conclusão de que, apesar de ser correto dizer que o Arco Real complementa ou completa o ensinamento da Maçonaria Simbólica, isso não significa apenas encontrar algo que foi fisicamente perdido, restituindo aquilo que estava faltando, mas sim no sentido da absoluta eternidade de nossas vidas. Todavia, algo foi encontrado pelos forasteiros (ou sobrestantes), e foi somente mais tarde que eu pude enxergar algo que deveria estar claro e óbvio desde o início — que a descoberta aconteceu porque o Deus de Israel falou a um monarca persa — um pagão.Os judeus não cultuavam de forma regular e fervorosa a sua adoração ao Deus que os tirou do Egito, e após a construção do Templo de Salomão houve tempos em que até o Pergaminho Sagrado da Lei estava perdido: veja, por exemplo, o episódio registrado em Reis 2 — 22.8, em que é contada a história do ressurgimento religioso que se seguiu à sua descoberta no Reino de Josias, menos de quarenta anos antes da destruição do Templo por Nabucodonosor. Assim, houve um

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simbolismo real na descoberta do Pergaminho e do Nome Inefável; Deus manteve a fé e pôde até revelar a Sua vontade por meio de outros que não da raça judaica. Porém, em 1980, essa percepção ainda está no futuro.Essa foi a primeira vez em que todo o discurso versou sobre a abordagem do significado esotérico da Ordem. Alguns dos pensamentos que fazem parte dessa Preleção estão mais detalhados no capítulo 16 deste livro.Com a investidura dos novos Oficiais, passamos a aguardar a sessão que está por se iniciar, quando, mais uma vez, passaremos àqueles que, ao seu devido tempo, suceder-nos-ão a história que nos foi passada — uma história cheia de maravilha e admiração, um conto que ouvimos com tanta freqüência que pode fazer-nos correr o risco de esquecer a sua magia e o seu mistério. Para mim, ela ainda é repleta de insuspeito significado e sempre há algo de novo a ser aprendido com ela.Pense um pouco sobre a parte central da história. Três homens voltaram do cativeiro em uma terra estranha onde, pelo menos uma vez, estiveram sujeitos ao massacre geral, por serem judeus. Voltaram às ruínas da cidade de seu grandioso rei David, a cidade na qual o seu filho, Salomão, sob cujo reinado a sua nação experimentou sua maior época, erigiu uma Casa dedicada a seu Deus, a Casa onde a Arca,* que foi o testemunho da aliança de Deus com o Seu povo, finalmente foi colocada. Para eles, a cidade era sagrada; fazia

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parte de sua história, e era ainda mais preciosa porque, até então, eles apenas a conheciam por sua reputação; mas agora podiam vê-la, o lugar destinado par Deus que foi quem, muito tempo antes, tirou o Seu povo do cativeiro no Egito, e quem agora tirou a sua geração da Babilônia e decretou onde faria a morada de seu Sagrado Nome. E eles chegaram à cidade, um lugar onde encontraram desolação e ruínas abandonadas. Onde outrora o Templo proclamava a majestade de Deus e o poder de Seu povo, tudo o que havia de mais sagrado para eles estava abandonado, devastado e em ruínas. Tudo aquilo deve ter sido um vívido lembrete da desobediência que os levou ao cativeiro. Não é de se admirar que eles estivessem felizes de aceitar um humilde emprego, desde que esse trabalho estivesse relacionado à reconstrução da Casa.Ali, então, trabalharam arduamente, cuidadosamente limpando os destroços, o lixo e as ruínas, até que um dia encontraram uma escultura de tamanha beleza que pararam e exploraram-na com grande cuidado, encontrando primeiro uma, e depois uma segunda coluna "de rara beleza e simetria", com uma passagem entre elas. A partir daí, eles começaram a organizar o seu trabalho de forma a seguir aquele caminho que encontraram. A trilha levava por mais seis pares de colunas; teriam eles percebido que seguiam por sob o lugar onde se encontrava o Santo dos Santos? E então... nada. Apenas rocha sólida. Desapontado e frustrado, um deles bateu com a sua alavanca no solo, produzindo um som oco na terra. Eles

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olharam novamente e descobriram que estavam pisando sobre alvenaria. Abriram a abóbada, e os tesouros, há tanto tempo perdidos, foram encontrados.Será que você consegue notar aqui, mais uma vez, aquele contraste de sempre entre a Maçonaria Simbólica e o Arco Real, o contraste do "efêmero" e do "eterno"? Na lenda do Simbolismo, quando o solo foi aberto por aqueles fiéis Companheiros, eles encontraram um corpo mortal; quando os forasteiros (ou sobrestantes) abriram a abóbada, eles encontraram um altar a Deus.A câmara, na qual os segredos permaneceram ocultos por cerca de 500 anos, era, aparentemente, simples, mas o seu mobiliário, apesar de modesto, era magnífico: um altar de mármore virgem encimado por uma placa de ouro coberta por um véu, ali colocado por... bem, colocado por quem? Por um dos lendários Grãos-Mestres? Pelo próprio rei Salomão? Quem poderia dizer? Quem poderá dizer isso agora? Não importa. O que importa é que, por todos aqueles anos, tudo aquilo ficou ali enterrado, sem que ninguém sequer suspeitasse de sua existência, aguardando por aquele momento.Pensemos agora, em retrospecto, sobre aqueles 500 anos nos dias em que, conforme nos é contado, a abóbada foi construída e aberta a passagem secreta. Eram pouquíssimos os que a conheciam. O que o mundo podia ver e que deveria ser visto era o esplendor do Templo que o rei, seguindo as ordens de Deus, erigiu para acolher a Arca e o Trono da Misericórdia sob as

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protetoras asas abertas dos querubins; o edifício, cuja riqueza e esplendor havia sido motivo da admiração de nações vizinhas, e cuja fama espa-lhou-se por todo o mundo conhecido de então. O Templo estava ali, em Jerusalém, para que todos o vissem e admirassem. Resplandecente em ouro, mobiliado com riqueza e esplendor, o sagrado santuário do povo judeu, no ápice de seu poder, projetado para impressionar e despertar uma invejável admiração. Para os israelitas em geral, e para o mundo exterior, era isso que significava o Templo. Ele inspirava, e a sua finalidade era inspirar, a admiração e o assombro que espelhavam, intensamente, o poder e a glória de Deus, e para convencer de sua inferioridade todos os demais povos.Todavia, todo o tempo, de forma insuspeita e invisível, sob a mais sagrada parte daquele Templo, a lenda do Arco Real diz que repousava um segredo interior que sobrepujava o esplendor; em uma abóbada subterrânea, sem luxo ou ostentação, os Grão-Mestres colocaram o Nome Inefável junto do sagrado rolo de pergaminho e afiançaram a sua autenticidade fazendo com que os seus próprios nomes fossem ali inscritos.Não vem ao caso como o tempo distorceu a lenda ao longo dos séculos. O que importa, ou melhor, uma das coisas que mais importam, é que nós devemos perceber o contraste entre a aparência exterior e o cerne oculto. Não havia incoerência ou contradição. O Templo proclamava a todos o poder e a majestade de Deus; os segredos eram reservados àqueles escolhidos para compartilhá-

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los. Todos podiam ver o Templo, porém só os ini-ciados sabiam o que ele ocultava.O mesmo deveria acontecer em relação à Maçonaria. Nesse sentido, nós estamos encarregados de praticar fora da Loja aqueles deveres e obrigações que nela nos foram ensinados; neste sentido, nós somos instruídos a provar ao mundo que tipo de homens são os franco-maçons para que mesmo aqueles que não fazem parte de nossa Fraternidade possam enten-der que das nossas mãos eles podem esperar compaixão, simpatia, justiça e caridade, e possam saber, assim, que nós, como franco-maçons, não nos convertemos a nenhuma religião, que reverenciamos o Criador e cada um de nós pratica qualquer que seja a religião por ele professada.Gostaria de citar algumas palavras do último parágrafo de um Discurso proferido em 1985 pelo RW Irmão E. L. Baillieu, então investido no cargo de Grão-Mestre Adjunto da Grande Loja Unida da Inglaterra. Discursando durante uma reunião maçónica na Austrália, ele disse: "O mundo encara-nos como uma sociedade secreta, essencialmente preocupada com o bem-estar dos maçons e de seus dependentes, e dotados de pouquíssimos princípios. Os jovens deveriam estar clamando para se juntarem a nós, mas não estão, não por não terem recursos, mas por não terem informações suficientes sobre aquilo que fazemos ou queremos: o nosso sistema de moralidade e a nossa preocupação com toda a espécie humana. Estou convencido de que a Maçonaria requer de nós um papel positivo e não apenas passivo. Para

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sermos dignos de nossos princípios, devemos fazer algo dentro do pequeno espaço que nos permite melhorar a sociedade na qual vivemos; não podemos, simplesmente, acomodarmo-nos em nossas cadeiras e deixar a tarefa para os outros".Certamente, nós devemos ser, como de fato o Irmão Baillieu disse, orgulhosos e zelosos de nossos princípios e segredos, mas isso não signifi-ca que devemos manter a nossa Franco-Maçonaria assim tão recolhida e tão envolta em mistério, fazendo com que o mundo, em sua ignorância, seja levado a nos ver como egoístas, egocêntricos e indiferentes. Onde deve ficar a linha divisória entre o sigilo ou segredo e a ocultação é algo que cada um de nós deve decidir por si mesmo. Tudo o que eu peço é que você pense sobre isso e tome a sua própria decisão, e que não critique, indevidamente, aqueles que podem, e que de fato conseguem, colocar essa linha divisória um pouco mais além ou aquém do limite em que você colocou a sua.Acima de tudo, Companheiros, não se tornem tão circunspetos ou limitados a ponto de inibir o seu próprio aproveitamento e gozo em companhia de seus Irmãos. A Maçonaria deve ser desfrutada prazerosamente; as nossas reuniões deveriam ser ocasiões de alegria, felicidade e companheirismo. Muito de nossa força está na maneira com que a solenidade de procedimento e a alegria do companheirismo reinam em nossos encontros, seja dentro da Loja ou fora dela; nisto e na face que abertamente mostramos ao mundo, está o nosso futuro. Cada um de nós tem o seu papel a

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desempenhar para assegurar que a nossa Fraternidade desenvolva-se, progrida e avance, em benefício da Humanidade em geral, e para a Franco-Maçonaria em particular. Portanto, Companheiros, cuidem da segurança da abóbada secreta, mas não receiem que o mundo vislumbre ou entreveja as glórias do Templo.

6Um Momento para ser Lembrado (1981)

Dizem que cada Ordem Maçônica tem o seu momento mágico. O Arco Real não é uma exceção, mas embora o candidato seja deixado com a sensação de que algo especial aconteceu, em nenhuma parte do Ritual ele é ajudado a descobrir o que aquele momento significa, ou por que ele é assim tão especial . Ele está embutido no Ritual como um quadro, porém, mesmo aqueles que participam raramente dão suficiente atenção ou pensam sobre aquilo que estão a i lustrar; por conseguinte, eles sentem pouco incentivo para tornar significativa a parte que estão desempenhando. Nos Capítulos em que cada Companheiro é envolvido nessa parte, a cerimônia fica muito mais abri lhantada por sua participação; porém, mesmo naqueles Capítulos nos quais os únicos a se movimentar são os três Pr incipais, o significado está presente. Neste Discurso, o trabalho adotado em minha Província é, certamente, refletido; é aquele usado em muitas outras e, embora possa parecer presunçoso sugerir ser ele mais que uma mera maneira de i lustração, ele é, para muitos, o mais satisfatório nesse sentido.

É ensinado a nós que a Franco-Maçonaria é um sistema de moralidade, velado em alegorias e ilustrado por símbolos. A moralidade e o código de

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conduta que ela implica é ensinado pelo ritual, e o ritual deve ser aprendido. Isso exige uma concentração e um esforço que são, e assim devem ser, assumidos com seriedade, e essa necessidade traz consigo o perigo de que a compulsão de aprender e o receio de errar possam roubar as palavras de significado. Isso também acontece se o cerimonial da Ordem for realizado meramente como um exercício de seguir a liturgia ou agradar a um Diretor de Cerimônias; o efeito será perdido, tal como também acontecerá se não for desempenhado em benefício do candidato, se as palavras não lhe forem dirigidas, ou se os elementos da liturgia forem realizados sem tê-los em mente. Nunca se considere um participante das nossas cerimônias; pense sempre sobre o candidato. Assim, você conseguirá não apenas tornar a Cerimônia de Exaltação mais inteligível ao candidato e a sua admissão mais agradável, mas você verá que, assim fazendo, estará ajudando aos demais companheiros e a si próprio. O Ritual e o Cerimonial representam os meios para chegar a um determinado fim; quando qualquer um dos dois se transforma em um fim em si mesmo, chegamos a um ponto morto.Quando você tiver um trabalho a fazer no Arco Real, tente sempre pensar em seu significado e em seu efeito; você descobrirá que, assim fazendo, aprende muito mais do que com o Ritual, e que há muito mais a ser aprendido. No ano passado, eu apresentei a vocês um paralelo, tendo, de um lado, a universal visibilidade do Templo e a oculta abóbada e, de outro lado, a

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nossa postura pública em relação à nossa Franco-Maçonaria. Aquele foi um exemplo; gostaria de, agora, chamar a sua atenção para um outro exemplo.Um candidato está à porta do Capítulo. Ele acaba de ser examinado nos três Graus da Maçonaria Simbólica, e passou com confiança por seus Deveres na Maçonaria Simbólica. E bem provável que ele já conhecesse o Companheiro que cumpriu essas obrigações, e é bem possível que ele já tenha visto, talvez em fotografia, uma Loja decorada e arrumada para uma reunião de um Capítulo. Ele não terá as mesmas apreensões ou receios que podem acometer um candidato a ser iniciado na Maçonaria Simbólica, e sabe que não será submetido a nenhuma prova perigosa ou desagradável. E provável que ele tenha uma moderada curiosidade sobre o que está por acontecer, mas não há dúvida de que há um forte impulso ou vontade de se retirar; não há a probabilidade de que ele se recuse a prestar o seu Juramento — ele já prestou seu Juramento pelo menos em três outras oportunidades e entende bem a natureza de uma promessa maçónica. Então, por que ele tem os seus olhos vendados?O Ritual fornece uma resposta medíocre. Não fosse pela revelação divina, o homem teria continuado nas trevas da ignorância e do erro. Sim, é uma alegoria, mas ela nunca me pareceu suficiente para justificar os olhos vendados. No entanto, há algo mais; algo da maior importância que depende, inteiramente, da sua incapacidade de visão antes do momento certo e de maior

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efeito. Tal como em muitos dos nossos tão profundos mistérios maçônicos, não é algo que se torna aparente de uma só vez, e cujo significado emerge apenas mais tarde, à medida que vai avançando, passo a passo, ao longo de sua vida mortal. Isso acontece em um rápido momento, sem explicação, e então acaba; mas não acredito que seja jamais esquecido. Ele se inicia no instante em que a venda de seus olhos é removida e termina quando o candidato vira-se para se retirar.No Arco Real, quando a luz é restituída ao novo Companheiro, ele vê diante de si um quadro cuidadosamente elaborado. Ele o apreciará como tal, mas se ele terá uma plena apreciação de seu significado é algo que dependerá exclusivamente se essa parte foi consciente e cuidadosamente realizada por seus Companheiros. Tentemos olhar à luz do conhecimento para aquilo que ele vê e pensar sobre aquilo que está ilustrado.Diante dele está ilustrado um arco interrompido, o símbolo do esforço que ele fez para encontrar o caminho da verdade, e que, de fato, ele não pode encontrar sem um ato consciente de vontade e sem o ensinamento de sua religião, bem como o árduo trabalho do corpo e da mente. Além do arco há uma espécie de tapete que mostra um mosaico quadriculado que representa a nossa viagem por essa vida mortal, com os seus alternantes padrões de alegria e de tristeza. Mais além, em direção ao leste, sobre aquele mosaico, um pedestal com um véu que, como ele haverá de aprender em breve, esconde o Nome Inefável que apenas poderá ser alcançado, e ser entendido o verdadeiro

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ensinamento da Ordem, se for trilhado o caminho à sua frente sem se desviar, seja à direita ou à esquerda. Em sua jornada, ele terá de se defrontar com as forças da natureza, ali representadas pelos corpos platônicos, e as ferramentas que estão à sua frente servem para alertá-lo de que mais esforço e trabalho serão necessários para alcançar a meta, enquanto que a trolha e a espada lá estão para lembrá-lo de que deve construir sadiamente e estar pronto para defender aquilo que construiu. Mas, ao levantar o olhar do pedestal, ele vê, acima e além desse, o triângulo que simboliza o Deus Eterno que governa sobre tudo e sobre todos.Na verdade, ele estará olhando para uma ilustração que resume os ensinamentos do Arco Real, de que devemos venerar o nosso Criador na forma que nos é instruída pela religião que professamos, e executar a Sua Obra neste mundo com uma percepção e uma perspectiva sempre colocada sob o contexto da eternidade. E aqui, novamente, encontramos o mesmo contraste existente entre o Simbolismo e o Capítulo. Na Maçonaria Simbólica, quando é restituída a luz ao candidato, ele vê as três Grandes Luzes que haverão de guiar o seu progresso terreno; no Arco Real, a sua atenção é logo concentrada de uma vez naquilo que é eterno. Nos três Graus da Maçonaria Simbólica ele foi conduzido pelos "intrincados caminhos de sua vida mortal" até a "hora final de sua existência"; agora, a primeira visão que tem como Companheiro é direcionada na prospecção do misterioso véu e na conscientização de que a Ordem está, como lhe

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será lembrado mais tarde, "intimamente misturada a tudo aquilo que nos estará mais próximo e nos será mais querido em uma futura condição de existência". A Maçonaria Simbólica requer que ele siga o ensinamento de sua religião aqui na Terra; o Capítulo lembra-lhe de que deve viver e praticar aquele ensinamento sob o contexto da eternidade.No entanto, isso não é tudo. O caminho a ser por ele percorrido haverá de apresentar perigos e desapontamentos; porém, ao longo de sua cami-nhada, ele será guiado por aqueles que agora estão em seu caminho. Ele não está sozinho; tem Companheiros para a sua jornada; ele se tornou seu Companheiro, tal como eles se tornaram seus Companheiros.Esse momento passa muito rapidamente. Ele lê o Pergaminho. É lembrado de que a luz é a criação do Grande Arquiteto, e retira-se.Você deve ter notado aquela frase "o Grande Arquiteto". Aquelas foram as palavras usadas originalmente no Arco Real e é às suas iniciais que alude o seu certificado do Grande Capítulo. É uma forma de tratamento que, por uma pequena diferença de expressão, destaca que enquanto o Arco Real é o complemento do Grau de Mestre Maçom, é também uma Ordem distinta e separada que olha para além de nossa existência terrena, para a eternidade, que é onde ela está, e para o criador, que é quem lhe dá forma e substância.Tentei descrever o que um momento em nossas cerimônias significa para mim e por que sinto ser ele assim tão importante. Ele surge do Ritual e da

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Liturgia, mas somente eles não conseguem comunicar a mensagem a ser transmitida. Este momento singular que pode significar tanto e proporcionar tantas coisas sobre as quais meditar e, de fato, nas quais confiar como ajuda, alcança o seu maior significado somente quando aqueles en-tão envolvidos percebem que cada um é uma parte de um todo e que estão representando um mistério. Esteja bem consciente disso ao acolher um novo candidato à luz de nossa Ordem, e faça o melhor possível para fazer dessa experiência algo que seja por ele lembrado, algo que possa tornar-se cada vez mais significativo para ele ao longo de seu progresso no Arco Real e de sua jornada pela vida. Jamais permita que a magia do momento perca-se porque você deixou de fazer a sua parte naquele momento com o máximo de habilidade e capacidade.

7"O Antigo Brinde" (1982)

Um catecismo após o jantar (às vezes conhecido como "o Antigo Brinde") proporcionava algumas reflexões para a reunião centenária. As palavras extraídas da "Apócri fa" (Eclesiást icas, cap. 44) foram colocadas em música como um hino que faz parte das comemorações do centenário de uma Loja em Kettering. Isso foi feito por um não-maçom: Christopher Cower, Mestre de Música da Catedral de Peterbowugh, que representa mais uma de nossas dívidas de gratidão à instituição eclesiástica da Diocese.

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Como você já deve ter lido, essa Província do Arco Real foi fundada em 10 de junho de 1880, tendo como seu primeiro Grão-Mestre Provincial e primeiro Grande Superintendente, Sua Alteza o duque de Manchester. Porém, por ter sido somente em 1882 que ele realizou a primeira Reunião Provincial, esse ano é mantido como data de aniversário.Nessa reunião comemorativa do centenário, nós homenageamos especialmente a memória daqueles que fundaram a Maçonaria do Arco Real na Província; porém, também nos voltamos àqueles que os seguiram e que deram continuidade à construção sobre os alicerces que foram tão ciosamente colocados. Graças aos esforços de todos esses companheiros, essa Suprema Ordem tornou-se o que é hoje em nossa Província: alegre e feliz, vigorosa e ativa, próspera e florescente; orgulhosa de seu passado e confiante em seu futuro. E estamos determinados a assim mantê-la, passando-a aos nossos su-cessores com todo o coração, certos de que eles também possam conhecer o mesmo companheirismo que nós conhecemos, e que eles, por sua vez, compartilhem dos propósitos e objetivos da Maçonaria do Arco Real.No início da Cerimônia de Exaltação, nós oramos para que o candidato possa sempre lembrar que o objetivo de nossa Instituição é o bem-estar de nossos semelhantes, mas, acima de tudo, está a honra e a glória a Deus. Com esses objetivos em mente, os nossos predecessores trabalharam pela edificação dessa Província. A nossa obrigação

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perante eles e os nossos sucessores é darmos continuidade ao trabalho de construção, traçando um caminho que haverá de sustentar o porvir; as gerações passadas, presentes e futuras, traba-lhando juntas como Companheiros, naquela paz, Amor e união que lembraremos ao cantarmos juntos "Paz, Amor e Harmonia" antes de partirmos.

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Assim, enquanto comemoramos e celebramos o passado, também refletimos sobre o nosso próprio papel nesse trabalho e o papel a ser desem-penhado por aqueles que virão depois de nós. Para mim, esse é o verdadeiro significado de uma parte de nosso cerimonial que acontece após o encerra-mento do Capítulo e sob a atmosfera alegre e festiva do refeitório, quando louvamos os homens célebres de nossa própria tradição, homenageando-os com o "Antigo Brinde" (Antient Toast): Moisés, Aoliabe e Bezalel; Salomão — Rei de Israel; Hiram — Rei de Tiro; e Hiram Abiff; Zorobabel — Príncipe do Povo; Ageu — o Profeta; e Josué (ou Joshua, ou Jeshua) — o filho de Josadek, o Sumo Sacerdote.E aqui, novamente, deparamo-nos com aquela grande diferença entre a Maçonaria Simbólica e a Maçonaria do Arco Real, cujos exemplos já mencionei em outros Discursos: a diferença entre aquilo que é temporal e aquilo que é eterno. Na Maçonaria Simbólica, a lenda conta-nos a respeito da construção do Templo do Rei Salomão — ao seu tempo, uma magnífica edificação e o primeiro local de permanência da Arca da Aliança; porém, ela cobre apenas um breve momento da História. No Arco Real, no "Antigo Brinde", reconhecemos aquele momento, mas apenas como parte de uma grande história, a da busca do homem pelo conhecimento de Deus e de Seus eternos propósitos. Assim, uma vez mais podemos perceber como o Arco Real penetra mais profundamente que a Maçonaria Simbólica, es-tabelecendo uma estrutura para a Franco-

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Maçonaria sob o contexto da eternidade e dos ensinamentos da religião.O autor do livro de Eclesiasticus na Apócrifa reconhece como o passado, o presente e o futuro estão ligados e interdependentes, ao escrever:"Louvemos os homens célebres e os nossos antepassados que nos geraram... Tal como governaram em seus reinos, homens famosos por seu poder, aconselhando por sua compreensão e declarando suas profecias; líderes de povos por seus conselhos, e por sua sabedoria de aprender a ir ao encontro das pessoas, sábios e eloqüentes em suas instruções... Todos eles foram honrados em suas gerações, e foram a glória de seus tempos. Há os que deixaram um nome atrás de si, fazendo com que os louvores a si fossem transmitidos. E há alguns que não têm memorial algum para si e ficaram como se jamais tivessem nascido, e os seus filhos depois deles. Eram, porém, homens piedosos e misericordiosos, cuja justiça jamais foi esquecida. Por meio de sua semente haverá a continuidade de seu bom legado, e seus filhos fazendo parte dessa aliança. Sua semente ficará para sempre e a sua glória jamais será maculada. Os seus corpos estão sepultados em paz, mas os seus nomes viverão para todo o sempre."Agora pense um pouco naqueles que, nominalmente, celebramos durante o "Antigo Brinde", e veja quanta verdade há na passagem escrita pelo autor.Moisés foi o "homem de Deus", o líder que tirou os Filhos de Israel do cativeiro; Bezalel foi aquele a

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quem "Deus encheu com o seu Espírito e deu-lhe inteligência, competência e habilidade para fazer todo tipo de trabalho artístico"; Aoliabe, da Tribo de Dan, habilidoso artesão que foi escolhido para ser um professor: um "líder pelos seus conselhos"; dois que "não têm memorial".Certamente Salomão foi um grande rei; Hiram era o rei de uma rica e poderosa cidade, provavelmente conhecido em uma região muito maior do que a Jerusalém de então, sendo forte potência marítima no Mediterrâneo; e Hiram Abiff, o filho da viúva, era "o filho de uma mulher, entre as filhas de Dan, e o seu pai, um homem de Tiro, habilidoso em trabalhos em ouro, prata, bronze, ferro, pedra e madeira, em púrpura, em azul e em fino linho e carmesim"; dois grandes reis "tal como governaram em seus reinos, homens famosos por seu poder", dos quais apenas um verdadeiramente "deixou um nome atrás de si", e o filho de uma viúva "com sabedoria de aprender a ir ao encontro das pessoas", sábio em instrução, cujo trabalho era levar honra e morte em uma terra estranha.Por fim, Zorobabel, Ageu e Josué; um príncipe da Casa de David que serviu na guarda pessoal de Dario, rei da Pérsia; Ageu, o profeta que levou ao seu príncipe a ordem de Deus para a reconstrução do Templo; e Josué, o Sumo Sacerdote, sucessor de Aarão, irmão de Moisés, encarregado da supervisão dos Sagrados Mistérios da religião judaica. Um príncipe, um místico e um sacerdote, "aconselhando por sua compreensão e declarando suas profecias; líderes de povos por seus conselhos".

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Nem todos esses eram grandiosos ou célebres, segundo os padrões da História e, ainda assim, foram todos "honrados em suas gerações e a glória de seus tempos"; cada um deles fez a sua parte como líder, levando adiante o grande projeto iniciado por Moisés, fazendo o trabalho de sua geração de forma que as gerações seguintes pudessem honrar e louvar, aproximando-se e adornando o seu Criador.Porém, lembre-se também de que cada uma dessas tríades foi ajudada por uma multidão de outros, sem cuja habilidade e engenhosidade a obra jamais seria completada; homens a respeito dos quais nada sabemos; tipos de homens que trabalharam juntos, como companheiros, na reconstrução de Jerusalém depois do cativeiro "com a trolha nas mãos, e a espada ao seu lado", e que agora "parecem jamais ter existido" — o tipo de homens sobre os quais o Irmão Rudyard Kipling escreveu:

Louvemos os célebres,Homens de pouca exibição;

Pelo seu trabalho que continua,E a sua obra continua,

Ampla e profunda continua,Maior do que possam saber

Quando você fizer o "Antigo Brinde" pense também nesses homens e lembre-se, com gratidão e profunda humildade, daqueles muitos que tra-balharam nessa Província e em seu próprio Capítulo para construir, bem e solidamente, a Maçonaria do Arco Real para que você possa

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desfrutá-la e possa ter um sólido alicerce sobre o qual construir para o próximo século; e para que você decida também, por sua vez, construir com firmeza e solidez, deixando a seus sucessores um admirável legado.

8"Companheiros" (1983)

Dizem que o Santo Arco Real é o complemento do Terceiro Grau; porém, os seus membros não são "Irmãos", mas "Companheiros". Deve haver uma razão para isso; mas o que está envolvido nesse nome? Este tema foi abordado em 1 981 (Cap. 6), mas o assunto pede maior reflexão.

A Grande Loja e o Grande Capítulo governam Ordens distintas e separadas. Mas, apesar disso, a Maçonaria Simbólica e o Arco Real estão íntima e virtualmente ligados, tal como nos é lembrado pelo Preâmbulo às Constituições da Maçonaria Simbólica, no Ato de União firmado em dezembro de 1813 pelas duas Grandes Lojas que formaram a Grande Loja Unida: a Primeira Grande Loja e a Grande Loja dos "Antigos", "declararam que a Maçonaria Antiga pura é composta de três Graus, e apenas três, quais sejam: Aprendiz, Companheiro e Mestre Maçom, até mesmo a Su-prema Ordem do Santo Arco Real...".O candidato que acaba de passar pela Cerimônia de Exaltação, agora é colocado na parte oeste do Capítulo, envergando seus novos paramentos pela primeira vez, vestido com a túnica da inocência, e olhando para um esplêndido cenário colorido e

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diferente de qualquer outro que tenha visto na Maçonaria Simbólica até então. Mesmo a época referida na narrativa é cerca de 500 anos depois da morte de Hiram Abiff e da consagração do primeiro Templo do Rei Salomão. Ele poderá, na verdade, estar imaginando ter entrado em um quarto Grau da Franco-Maçonaria, e tudo deve ser feito para corrigir essa impressão. A ele é dito: "Não se trata de um Quarto Grau. Esse é o complemento do Grau de Mestre".É difícil lembrarmos sempre o quão importante é essa ligação, e que o Arco Real não existe por si só. Laurence Dermott, o segundo e mais famoso entre os Grandes Secretários dos "Antigos", chamava-o de "a raiz, o coração e a medula da Maçonaria"; porém, a raiz não pode prosperar, a não ser que seja nutrida; nem podem o coração ou a medula existirem se não houver um corpo. A Maçonaria Simbólica é tão necessária ao Arco Real quanto este é necessário a ela.Em nosso amor pela maravilhosa Cerimônia de Exaltação, em nossa percepção da mais profunda e mais rica filosofia do Ritual do Capítulo, e em nossa apreciação pelo companheirismo que é uma parte tão vital da Maçonaria do Arco Real, nós podemos, muitas vezes, esquecer que a base da Franco-Maçonaria Simbólica é também a base de nossa própria Ordem.Todos vocês conhecem os princípios que nos ensinam quais são os sustentáculos da Franco-Maçonaria: "Amor Fraternal, Ajuda e Verdade". O Mui Venerável Grão-Mestre falou sobre isso, com simplicidade, mas com grande profundidade,

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durante a Investidura Anual em 1982, e lembrou-nos, mais uma vez, de seu significado aos franco-maçons "Especulativos" de hoje; e nós, como maçons do Arco Real, devemos praticá-los, mais ainda por nos tratarmos de "Companheiros".Originalmente, a palavra "Companheiro" referia-se aos soldados que repartiam e compartilhavam o seu pão, os convivas. O seu Companheiro era, portanto, aquela pessoa com quem você se alimentava nas barracas, e ao lado de quem você combatia no campo de batalha; o homem que o defendia na batalha, tanto quanto você também o defendia, aquele de quem a sua vida poderia depender, e vice-versa. Ser um Companheiro significava, e significa, muito mais que ser um Irmão. Talvez seja por isso que os nossos Capítulos não tenham um Oficial com cargo equivalente ao de Esmoler da Maçonaria Simbólica, pois essa é uma tarefa incumbida a cada um de nós, ou seja, cuidar de seu Companheiro. No entanto, essa atribuição exige nosso tempo e nosso talento e empenho, os quais, nem sempre, estamos prontos a prestar. Por vezes, chego a pensar que, se existe um vício maçónico, esse é o da propensão de encarar tudo isso muito em termos de dinheiro (talão de cheques para a caridade) e pouco em termos de serviço — algo que dificilmente combina com os laços e os vínculos do Companheirismo.Essa responsabilidade comum e recíproca faz parte da exortação que ouvimos em todas as Cerimônias de Instalação na Maçonaria Simbólica, quando dizem que devemos conduzir-nos de tal forma que o mundo (e isso significa todo o mundo,

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e não apenas os Irmãos) veja em um franco-maçom "uma pessoa à qual um coração aflito pode comunicar os seus sofrimentos", e "cujo coração está aberto à benevolência", e como nos é lembrado na preleção aos principais em nossa própria Ordem, "a opinião pública sobre a instituição geralmente deverá refletir o caráter e a conduta de seus principais oficiais", e a isso posso acrescentar que o caráter e o companheirismo do Capítulo também haverá de refletir a sua postura, comportamento, dedicação e esforço.No Capítulo, tanto quanto na Loja, cabe aos governantes dar o exemplo da motivação, do estímulo e do incentivo. No Capítulo, especifica-mente, isso cabe aos Principais, que "quando reunidos em Capítulo devem ser considerados, conjuntamente, como Venerável Mestre, e cada um, individual e separadamente, também como Venerável Mestre; mas, acima de tudo, é dever do Primeiro Principal, como líder da equipe, ser a força motriz, e aquele que deve cuidar para que o companheirismo do Capítulo seja uma realidade para todos os seus membros. Assim, quando acontecer de um Companheiro ausentar-se do Capítulo, ele deve fazer com que uma mensagem chegue às mãos do ausente, dizendo-lhe que a sua falta foi sentida, e que espera poder contar com a sua presença na próxima sessão, além de, naturalmente, oferecer ajuda e conforto quando for necessário. Será difícil chamarmo-nos de Companheiros se não cuidarmos e preocuparmo-nos com os membros de nosso Capítulo.

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Gostaria de frisar e lembrá-los de que a classe ou graduação maçónica nada tem a ver com isso. Essa obrigação surge e existe em razão de sermos Companheiros. Tal como acontece com todos os demais Grandes Superintendentes, sou incumbido de outorgar patentes, com diferentes graus de precedência, sendo esse um dos mais difíceis deveres dos quais somos encarregados. Não são essas patentes que nos tornam Companheiros; onde eu for capaz de honrar qualquer um de vocês, estarei atribuindo-lhe a responsabilidade e o privilégio do serviço, de expressar o Companheirismo da Ordem em um nível ainda maior. Mas no âmbito e fundamento básico, somos todos Companheiros, cada um preocupando-se com o outro, e é nisso que está a nossa força, sendo válido e verdadeiro tanto para o Companheiro recém-exaltado, como para os Membros mais antigos de seu Capítulo.Assim, quando você ouvir alguém dizendo ao novo Companheiro que a cerimônia pela qual acaba de passar complementa o seu Terceiro Grau, que seja lembrado que, embora tenhamos uma filosofia mais profunda do que os nossos Irmãos na Maçonaria Simbólica que ainda não tenham sido Exaltados ao Arco Real, nós também nos baseamos no Amor Fraternal, na ajuda e verdade, mas como orgulhosos herdeiros do antigo título de Companheiro, com todas as implicações de ajuda e apoio mútuos nele contidas, devemos uma obrigação ainda maior entre nós; isso faz com que cada um de nós seja, no mais verdadeiro sentido,

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um Esmoler do Capítulo, sob a liderança e orientação de seu Primeiro Principal.Levar o Arco Real a sério, tal como devemos fazê-lo, não será um empecilho para que as nossas reuniões sejam alegres, felizes, e descontraídas; pelo contrário, isso servirá para aumentar ainda mais o nosso prazer em nossas sessões e encontros. Assim sendo, aproveite e desfrute de suas reuniões do Arco Real, e cuide para que os seus Companheiros também o façam, seja no Capítulo, seja no Ágape que se segue.

9“Velado em Alegorias" (1984)

Era tempo de se jazer um balanço, providencialmente, conforme as coisas aconteciam; ao longo dos quatro anos seguintes, tornou-se necessário considerarmos a postura assumida por certas igrejas cristãs em relação à Franco-Maçonaria e concentrarmo-nos em suas crít icas, as quais muitos franco-maçons consideravam mal concebidas. Certamente muitos Irmãos que, at ivamente, sustentavam as suas igre jas, estavam profundamente magoados pela falta de compreensão e simpat ia da qual, segundo sentiam, eram alvo. O problema não era tanto pelas cr ít icas — esse assunto poderia ser deixado para os outros; o problema era ajudar os nossos a entender, e evitar que eles retirassem a ajuda que estavam dando às suas igrejas, a não ser, é c laro, que assim lhes fosse pedido — o que, de

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fato, aconteceu em alguns poucos casos. Porém, na época em que foi pronunciado o presente discurso, tudo isso ainda estava no futuro.

Existem várias definições da Franco-Maçonaria, mas uma que aparece no ritual e é conhecida de todo Companheiro maçom é: "um sistema de moralidade, velado em alegorias e ilustrado por símbolos". Nas práticas antigas do século XVIII, a moralidade era inculcada pelo Ritual, enquanto as alegorias e os símbolos eram explicados nas Preleções. Infelizmente, as Preleções, por não terem sido revistas por cerca de 150 anos, caíram em desuso, não passando de peças de exposição. Isso é uma lástima, pois nos dias de hoje, quando o homem tem o poder de tornar a Terra um paraíso ou um deserto, nós passamos a ter a necessidade, mais do que nunca na História, de descobrir e esclarecer as verdades que tanto buscamos e que são a base de nosso código moral. E por isso que eu tento, por meio desses Discursos, dirigir a sua atenção a alguns dos símbolos e alegorias que abundam na Franco-Maçonaria, em geral, e no Arco Real, em particular. Eu gostaria de, enfaticamente, incitar cada um de vocês a estudar mais sobre a nossa Ordem, e a adotar para si todos aqueles símbolos e alegorias que acharem instrutivos; e não receiem compartilhá-los com os seus Compa-nheiros. Nenhum de nós pode dar-se ao luxo de ignorar a ajuda do outro ao lidar com os enigmas e quebra-cabeças da moral, que tanto afligem as nossas vidas nos dias de hoje. A aparência exterior

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é um verniz, e não existe ninguém que, no fundo, já não se tenha sentido inadequado ou perdido, mesmo que pouco o tenha demonstrado. Os símbolos e as alegorias ajudam bastante por explicarem a perspectiva de uma eternidade não revelada nos termos de um mundo tridimensional como esse no qual vivemos. E a esse relacionamento com a eternidade que o Arco Real direciona a sua atenção, embora ele não siga mais adiante; a partir daí, você deve buscar maior aprendizado e esclarecimento na sua própria religião.Algo estranho sobre aquela definição da Franco-Maçonaria é que quase todos colocam grande ênfase nos sinais e símbolos, apesar de não fazerem parte, na verdade, da definição, mas apenas serem uma explicação do método de ensino e aprendizado. A verdadeira definição é: "um sistema de moralidade" que, como sabemos, está baseado no Amor Fraternal, Ajuda e Verdade, e não, tal como tanto acontece no mundo profano, na inclemente certeza de sua supremacia. As alegorias e os símbolos são os meios pelos quais os fundamentos são ensinados; isso é ilustrado, ou esclarecido, por meio de símbolos e é encoberto, ou velado, por meio de alegorias. E é exatamente para esse véu que eu gostaria de, hoje, chamar a sua atenção.Pense um pouco sobre a descoberta feita pelos forasteiros (ou sobrestantes). Eles estavam juntos à beira da cavidade, olhando para a escuridão existente no interior da cripta, sabendo que deveriam explorá-la, mas ignorando o perigo que

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ali poderia existir. Seria uma loucura se os três baixassem à cripta; a prudência e a prática fizeram com que dois deles ficassem na superfície, e apenas um fosse baixado sozinho, confiando a sua vida a seus Companheiros. Nenhum deles queria abster-se; "sabendo quem havia sido o arquiteto anterior do Templo e que nenhuma de suas partes havia sido construída em vão", todos queriam seguir adiante. Assim, eles tiraram a sorte. Com toda a precaução e cuidado, um deles desceu à cavidade. Ao ser içado, trazia nas mãos um rolo de pergaminho ou velino; eles o examinaram, juntos, à luz do dia, e perceberam que ali estavam inscritos os mandamentos, leis e promessas de Deus ao homem. Com a sua imaginação ainda mais atiçada por tal descoberta, quando o sol se pôs a pino, o forasteiro (ou sobrestante) foi novamente baixado à cripta; dessa vez ele pôde ver-se em pé sob uma abóbada em cujo centro vislumbrou um altar coberto por um véu, com estranhos símbolos inscritos em suas laterais. Ele sabia que estava em presença de algo misterioso e sagrado. A superstição e o temor levaram-no a se questionar se era digno de tirar aquele véu; não sabemos quanto tempo ele ficou ali parado antes de ousar aproximar-se do altar e retirar o véu, para descobrir que estava diante de algo tão sagrado que ele não se atreveu a revelá-lo, nem mesmo em atendimento à ordem dada por seu príncipe e pelo sumo sacerdote.Certamente uma história altamente dramática e sem precedentes. Ela prende tanto a nossa imaginação que podemos ser levados a nos

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envolver de tal forma na narrativa que deixamos de perceber ou aprender a lição que nela está inserida. O altar somente foi descoberto em decorrência de uma perigosa e arriscada aventura no desconhecido; ao ser encontrado, o seu segredo estava velado e o forasteiro (ou sobrestante) teve de ter a ousadia de retirar aquele véu, por decisão e iniciativa próprias, antes que pudesse compreender o tesouro que o véu ocultava.São alegorias como essa que representam as verdadeiras jóias da Franco-Maçonaria. Fosse ela um mero sistema de palavras a serem proferidas ou de atos a serem praticados diante de uma platéia crítica e preocupada em apenas cobrar a perfeição de palavras e de gestos, já de há muito tempo ela teria sucumbido sob "a inexorável destruição causada pelo tempo". Essa é uma das razões de tentar enfatizar que o Ritual é um método de ensinamento disciplinado, um polimento civilizado aos candidatos para que possam receber instrução, e manter a ordem e a dignidade em nossas condutas e procedimentos; não é, em si, um fim, mas um meio para se chegar àquele fim. O que importa é a mensagem; as palavras carregam a mensagem e, por isso, devem ser aprendidas. Porém, se a Franco-Maçonaria tem sido apenas uma questão de palavras e gestos ritualísticos sem significados ocultos, somente alguns poucos homens inteligentes estariam dispostos a ficar sentados, noites e noites, ouvindo repetidamente sempre o mesmo conjunto de sons, palavras e gestos.

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Que fique claro que eu não estou criticando ou censurando o Ritual. Uma mensagem tem de ser comunicada ao candidato, de forma plena, na devida ordem e seqüência, com propriedade e dignidade. O Ritual mostra-nos como fazê-lo. As variações introduzidas raramente o melhoram ou (e isso é o importante) tornam-no mais claro ao candidato. Um Ritual que tenha sido deficientemente estudado, com as suas palavras murmuradas, ou executado com uma pobre apresentação, provavelmente significará que a mensagem não será sequer entendida nessa primeira e importantíssima ocasião, quando o candidato está no auge de sua receptividade; a não ser que o significado e as palavras sejam perfeitamente dominados ou, ao menos, as palavras cuidadosamente articuladas pelo orador, o candidato dificilmente haverá de perceber o véu da alegoria por si mesmo. Uma boa ritualística, ainda que não acompanhada de uma perfeita dicção, é um deleite para todos nós e pode ser uma fonte de inspiração aos candidatos; uma ritualística praticada com perfeita dicção, mas sem significado ou entendimento será aborrecida e enfadonha aos presentes e não produzirá nem desafio, nem incentivo àquele que deveria ser o alvo principal. Não são os aplausos ou as críticas dos Past Principais que causam o sucesso ou o fracasso, mas sim a clareza com que a mensagem é transmitida. Parte do sucesso dependerá de o candidato realmente perceber que está sendo ins-truído em um "sistema de moralidade"; porém, dependerá muito mais da forma que o leve ao

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anseio de aprender mais, retirar o véu, e explorar o Simbolismo e a alegoria para si próprio; é isso que, na verdade, queremos dizer com "um progresso diário no conhecimento maçônico", frase constantemente usada para sugerir a necessidade de uma "olhada", senão diária, ao menos semanal, no Ritual. Alguns jamais chegam a tentar retirar o véu; porém, há muitos que entendem existir muito mais na Franco-Maçonaria do que a mera repetição, mecânica e indiferente, de um jargão de palavras, e acolhem de bom grado a ajuda de seus Companheiros na desco-berta desses significados ocultos. A explanação da Primeira Tábua de Delinear é um bom ponto de partida, e eu a recomendo a você; e as Preleções do Arco Real, como sempre, carregam em seu bojo os ensinamentos da Maçonaria Simbólica que permitirão penetrar o véu da eternidade.Companheiros, eu os concito a jamais subestimar a sede pelo conhecimento maçônico que muitos daqueles que ingressam em nossa Ordem sentem. E somente pela reflexão acerca da mensagem e do significado que estão inseridos nas entrelinhas do Ritual, e pela descoberta dos símbolos e desvendamento das alegorias para si mesmo, a exemplo daquele primeiro forasteiro (ou primeiro sobrestante), que vocês serão capazes de matar a sede. Mas quando encontrá-los, vocês não apenas serão capazes de ajudar seu Irmão e seu Companheiro; mas terão também aprendido lições para si mesmos e, ao expor os verdadeiros ideais da Franco-Maçonaria, vocês estarão assegurando a sua sobrevivência às gerações vindouras.

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10"Se a Franco-Maçonaria não é uma

Religião..." (1985)Entre 1985 e 1988, o assunto dominante no pensamento maçónico na Inglaterra era o relacionamento entre a Franco-Maçonaria e a rel igião, particularmente o Crist ianismo. Em questões como essa, a emoção pode obscurecer alguns aspectos. Muitos franco-maçons, talvez a maioria, preocupam -se demais com as considerações feitas pelos cr istãos, clérigos e leigos mais ativos, comprometidos com a sua fé, quanto à índole e ao caráter de nossa Ordem. Os franco-maçons cristãos estavam bastante preocupados e aflitos com aquilo que entendiam ser equívocos ou ate, cm certos casos, deturpações e distorções sobre a Maçonaria. Em importante não apenas reconhecer essa aflição, mas também que os franco-maçons compreendessem ao menos ambos os pontos de vista, sem se sentirem inclinados a abandonar suas igrejas, a menos que o seu ministro assim quisesse ou insinuasse. Em geral , não parecia que eles estivessem propensos a sair da Maçonaria.Neste sentido, observamos que muitos ministros reconheceram o trabalho feito em suas igrejas por correligionários maçons, e foram poucos os franco-maçons que acharam necessário, ou foram convidados, a renunciar às suas obrigações junto à Igreja, e nem as Lojas na Província perderam muitos de seus membros por causa disso. As perdas sofr idas em minha Província podem ser contadas nos dedos de uma mão.Certamente, outro problema era expl icar a s ituação às viúvas e outros que estavam aflitos com aquilo que pareciam ser ataques à memória daqueles que lhes eram próximos e queridos, bem como a quaisquer esposas que pudessem ser induzidas por

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essas distorções e mal-entendidos a sentir que seus maridos estavam comprometidos e envolvidos em atividades perigosas ou vergonhosas. O único cami nho possível era tentar restaurar a compreensão e a perspectiva e, ao mesmo tempo, procurar expl icar os pontos de vista e interpretações de nossos crí t icos. Jamais poderíamos esperar convencer os fanáticos e os intolerantes, mas uma paciente explicação poderia ajudar e ser úti l a ambas as partes. Foi voltado a esses propósitos que esse discurso foi pronunciado.

De tempos em tempos, qualquer grande movimento haverá de ser alvo de ataques. Os motivos dos agressores variam, mas o fanatismo, a intolerância (que entendo ser uma convicção oriunda da visão estreita, que considera apenas a sua como certa e todas as demais como erradas), a desconfiança e o medo são, geralmente, bastante pronunciados e, em tais casos, apesar de aparentemente terem bases infundadas, o ataque deve ser tratado com respeito, uma vez que ele, como um todo, origina-se de opiniões e perspectivas sustentadas com honestidade. Porém, quando um ataque é deflagrado dessa forma, sempre há aqueles que a ele se agregam pelos mais sinistros motivos, tais como a inveja, a ganância, a cobiça e ganhos ou vantagens políticas; e, quando isso acontece, a vítima pode, facilmente, desviar-se dos tratos a serem dados à questão central — defender-se dessa maliciosa e agressiva caça às bruxas (pois é nisso que a ques-tão acaba se transformando) — e é possível que, assim, venha a vencer uma batalha, mas perder a guerra.

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Como todos nós sabemos, a Franco-Maçonaria não tem imunidade a esses tipos de ataque e, por estarmos felizes e satisfeitos em nossa Fraternidade, nós os consideramos injustificados. Porém, é necessário que façamos uma distinção entre os ataques motivados com honestidade, e os demais; e devemos esclarecer bem com quem estamos brigando. Eu gostaria de analisar particularmente os recentes pronunciamentos que tentam demonstrar a existência de uma certa incoerência e contradição entre a religião e a Franco-Maçonaria, ou que a Franco-Maçonaria é, em si, uma religião — o que, certamente, não é.Nestes casos, nós nos confrontamos inicialmente com aqueles que, com toda a sinceridade, sustentam que há algo na Franco-Maçonaria con-traditório com a teologia de sua crença religiosa em particular, e seria errado ignorar ou rejeitar a idéia de que a sua preocupação seja oriunda de algo diferente de suas convicções honestamente sustentadas. Nós devemos tentar entender o que eles dizem; somente então poderemos ponderar os seus argumentos e decidir se os achamos certos ou errados; e, se errados, por que julgamos serem tais argumentos falsos ou infundados. Basicamente, conforme entendo, esses críticos estão dizendo que a Franco-Maçonaria é tão parecida com uma religião que ela requer que seus membros acreditem em um Ser Supremo que não é o Deus em quem eles acreditam. Essa opi-nião parece afirmar que nós, como franco-maçons, adoramos ou cultuamos algum deus particular nosso, o que, de fato, seria uma heresia a um

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cristão, mas que sabemos não ser verdade; na realidade, há uma confusão entre religião e moralidade — assunto que voltarei a abordar.Você há de perceber, uma vez mais, o quão importante é que cada um de nós saiba com firmeza e certeza o que é a Franco-Maçonaria. Nós sustentamos e constantemente proclamamos que a Franco-Maçonaria não é uma religião. Ela requer que os seus membros tenham alguma forma de crença religiosa, segundo a qual cada candidato deve confirmar que acredita na existência de um ser Supremo, mas sem ir além desse ponto, exceto na exortação que lhe é feita ao lembrá-lo de que todo franco-maçom deve praticar a religião por ele professada. A religião pode ser a cristã, a judaica, ou qualquer outra. Porém, sem tal crença, um homem não pode ser feito um franco-maçom. Assim sendo, você deve, de fato, professar uma religião antes de ingressar na Ordem, e continuar praticando sua religião depois de ter sido iniciado, o que, para mim, torna difícil entender como é possível alegarem que a pessoa adquire uma religião ao se tornar franco-maçom.Mas, se a Franco-Maçonaria não é uma religião, o que é ela? Cada um de nós conhece a resposta e essa deve ser muito bem entendida por qualquer pessoa que se tenha dado ao trabalho de analisar, desapaixonada e imparcialmente, os fatos. Trata-se de um sistema de moralidade e, como disse o dr. Oliver: "A moralidade não é a base ou o fundamento, mas o resultado e o fruto da religião". Além disso, alguns daqueles que nos atacam e agridem são tão determinados que nos acusam de

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ser uma "quase-religião", algo que, para mim, é contraditório em termos. E muito triste vermos seguidores de Cristo acusando seus patrícios cristãos de comportamento incompatível com a sua religião pelo simples fato de pertencerem a uma Fraternidade que incute uma moralidade baseada no Amor Fraternal, Ajuda e Verdade, e que ensina que o homem deve cumprir as suas obrigações e deveres ao seu Deus, ao seu semelhante e a si próprio. Infelizmente, a História mostra que acusações como essa podem ser facilmente feitas em nome da religião, mesmo quando se trata de uma religião cujo fundador associou-se a proscritos e transmitiu a parábola do Bom Samaritano. Mas, apesar de triste, a História também nos mostra o quão importante são as opiniões dogmáticas para ambos: àqueles que os professam, e àqueles que a eles se opõem. Nós, como franco-maçons, não devemos cair na armadi-lha de tentar reconciliar ou apoiar dessa forma aqueles dogmas discordantes, uma armadilha cujo poder destrutivo foi um dos motivos da proibição das discussões em Loja sobre as diferenças religiosas, por considerá-las inimigas da harmonia e do Amor Fraternal.Os franco-maçons podem, pois, professar diferentes religiões, mas, apesar disso, aceitam um código de moralidade. Não há nenhuma incoe-rência nisso, pois a moralidade que ensinamos é baseada em nosso dever de amor e caridade aos nossos semelhantes, algo tão comum a todas as grandes religiões; e nós não vamos além desse ponto. Os nossos ensinamentos são, de fato,

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baseados em alegorias, as quais são baseadas no Velho Testamento, que também faz parte da Bíblia cristã; e todos nós sabemos que em outras Ordens maçónicas esse ensinamento, de fato, torna-se cristão e assim, apesar de muitos de nós sermos membros destas Ordens, elas não são aceitas como parte da Antiga Franco-Maçonaria pura.Existe uma Alegoria em nossas cerimônias do Arco Real que, forçosamente, convence-me da relação entre a religião e a moralidade. Ela é observada tanto durante a cerimônia de exaltação, em sua parte mais impressionante, como durante o encerramento, quando os Principais erguem os seus cetros e formam um triângulo. Do ápice, o vértice que está, simbolicamente, mais próximo do céu, os emblemas da profecia e do sacerdócio são estendidos, significando a relação de Deus com o homem, expressa, por um lado, por meio das revelações do ensinamento profético e, por outro lado, pela ordenada veneração que cada um de nós dedica ao seu Criador em conformidade com as práticas de sua religião. Na parte inferior da figura está o cetro do Primeiro Principal, simbolizando a nossa existência terrena, mostrando a cada Companheiro do Arco Real como as fronteiras de seu comportamento são limitadas e determinadas pela revelação e pela prática de sua religião. Juntos, esses três cetros formam um triângulo capaz de suportar e resistir a um ataque vindo de qualquer direção, pois cada um de seus lados apóia e fortalece os demais.É assim que vejo o relacionamento na alegoria e, como cristão praticante, não consigo enxergar

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nenhuma incompatibilidade entre a nossa moralidade e a minha religião e, por conseguinte, nada vejo de incompatível entre a minha religião e a Franco-Maçonaria; assim como também não vejo, à luz dos ensinamentos de Cristo, como o fato de estar preparado a orar em companhia de outras pessoas que praticam um outro culto pode ser considerado uma forma de heresia. Algumas palavras escritas pelo dr. Oliver, sacerdote e maçom, são bastante apropriadas: "Não importa qual seja o berço, idioma ou cor de sua pele, cada homem é um Irmão se cumprir suas obrigações com Deus, com seu semelhante e consigo próprio";1 e mais: "Eu admitirei meu Irmão judeu em uma Loja de maçons... mas, assim como ele não abandonará a sua fé a meu mando, nem eu o farei em caso inverso".2 Os paralelos são óbvios.Animem-se, Companheiros. Lembrem-se daquilo que Horace Walpole, que diziam ser um franco-maçom, escreveu em uma época em que a Franco-Maçonaria estava em depressão: "Eu acho que nada, exceto uma perseguição, poderá trazê-la de novo à voga". Essa rixa nos faz pensar sobre a Franco-Maçonaria e sobre a religião, e haverá de nos tornar mais aptos. Até lá, continuemos a nos conduzir em conformidade com os princípios de nossa Ordem, os quais estão tão bem resumidos na Preleção após a Iniciação e as Exortações ao Venerável Mestre e aos Irmãos na Cerimônia de Instalação, sempre se lembrando de refletir sobre

1 The Symbol o f Glory , Discurso de Despedida (1850)2 ibid.

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tais princípios, uma vez que não somos apenas meros Irmãos, mas sim Companheiros do Arco Real, em um contexto de eternidade e sob a luz daquele Companheirismo do qual tanto nos orgulhamos. Além disso, ainda recomendo a vocês o pronunciamento sobre a Maçonaria e a religião, aceito na Grande Loja,3 e incito-os a estudá-lo atenta e cuidadosamente.4 Mas é por meio do preceito e do exemplo em nossas vidas cotidianas, em casa e no trabalho, em horas de descanso ou de labuta, na igreja, na capela, na sinagoga ou no templo, que haveremos de convencer os indecisos, e provar ao mundo que não há incompatibilidade nenhuma entre a religião e a Franco-Maçonaria, que a nossa moralidade existe no contexto da religião e que, de fato, o homem é um seguidor melhor de sua religião por ser um franco-maçom.

11Construindo para o Futuro (1986)

As crí t icas são sempre contundentes, em maior ou cm menor grau, até mesmo quando bem-intencionadas; e, deforma nenhuma, todas as que foram dir igidas à Maçonaria foram bem intencionadas, com algumas delas bastante sinceras. A reação natural ao orgulho ferido é a raiva; porém, é mais sensato tentar refletir se e até que ponto os cr ít icos podem ter as suas razões. Isso envolve o questionamento dos fundamentos sobre os quais a nossa própria conduta se baseia. Assim, havia duas

3 A Resolução está reproduzida no Apêndice "C".4 A relação entre a Franco-Maçonaria e a religião está resumida no folheto de uma Grande Loja, intitulado Freemasonry and Rel ig ion , e que se encontra reproduzido no Apêndice "D".

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coisas a serem feitas na situação que nós enfrentamos em meados dos anos de l980: primeiramente, t ínhamos de determi -nar quais eram os fundamentos pelos quais exist imos e, em segundo lugar, t ínhamos de dist inguir as cr ít icas genuínas ou procedentes daquelas formuladas pelos mais questionáveis e duvidosos motivos. O presente discurso teve o objetivo de tentar levantar pontos a partir dos quais os primeiros pudessem ser determinados.

Espero que agora vocês já tenham tido tempo suficiente para se recuperar da surpresa e do choque aos quais os recentes ataques à Franco-Maçonaria podem ter induzido, especialmente os provenientes daqueles que, com todo o direito, pensávamos ser ao menos simpáticos aos nossos ideais. Muitos daqueles que se juntaram aos ataques podem ter tido os seus motivos em conformidade com as suas luzes; alguns estavam mal informados, e receio que outros tenham sido deliberadamente desencaminhados, nem sempre sem segundas intenções. Em certas ocasiões, havia um ar de regozijo em alguns ambientes nos quais deveríamos esperar existir a compreensão ou, ao menos, a compaixão. De nossa parte, tentamos encontrar os nossos detratores com razão e esclarecimento e, posso dizer, com uma caridade, que nem sempre eles nos dedicaram; podemos, com toda a razão, sentir que respondemos todas as suas perguntas, ainda que eles preferissem não ouvir. Agora, é chegado o tempo de se fazer um balanço e olhar para a frente.

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Eu acho que nós, ao menos, aprendemos alguma coisa disso tudo. Fomos forçados a olhar, desapaixonada e imparcialmente, para uma parte de nossas vidas que tanto significou, e significa, para cada um de nós. Acredito que cada um de nós haverá de chegar à conclusão de que nada temos de importante para nos recriminarmos, a não ser, quiçá, uma grande tendência a sermos reservados sobre a nossa associação à Maçonaria e sobre os seus propósitos e princípios — algo que surge a partir de nosso anseio de desfrutar da privacidade normalmente observada em clubes privados e reuniões. Talvez a nossa própria reserva tenha sido, de fato, uma das razões para que alguns de nossos críticos possam ter sido levados a acreditar que nós realmente temos alguma coisa vergonhosa a esconder.Alguns aspectos, tais como as penalidades implícitas nos Juramentos e a da segunda palavra em nossa própria Ordem, podem ter sido conve-nientes para alguma ação. Mas acredito que, à parte de tal ação, é chegado o momento de deixarmos isso para trás, para que possamos refletir e planejar, construtivamente, para o futuro, lembrando e reconhecendo com gratidão o trabalho feito por aqueles que tão duramente labutaram por nós, incentivando-os a continuar em seus esforços. Podemos, com toda a segurança, deixar para eles as questões altamente políticas, tais como as de relações públicas, e fazer a nossa parte agindo em conformidade com os princípios de nossa Arte. Contudo, enquanto fazemos o balanço, seria muito bom refletir sobre os

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princípios básicos e cada um de nós deveria assegurar-se de ter bem claro em sua mente do que é que tratam e o que são esses princípios, mormente na nossa relação com a Ordem.Sobre que bases, então, devemos construir o nosso futuro como Fraternidade? Certamente sobre aquelas que, ao longo de tantos anos, carre-garam a mensagem do Amor Fraternal, Ajuda e Verdade a todos nós. Nada mudou a esse respeito, exceto, talvez, que corretamente conferimos qual-quer tendência que possa surgir para empanar ou distorcer a linha existente entre a Franco-Maçonaria e a religião. Permanecemos firmes em nossos princípios básicos, jamais interferindo, em nenhuma instância maçónica, nas crenças religiosas de um Irmão, mas recusando a admissão de alguém que não confesse a sua crença em um Ser Supremo, requerendo a todo e qualquer Irmão um alto padrão de moralidade, inculcando as virtudes da Compaixão, da Benevolência e da Caridade, não apenas em relação aos nossos Irmãos, mas a toda a humanidade, derramando a lágrima da dor pelo infortúnio de um Irmão e "derramando o curativo bálsamo do consolo dentro do peito do aflito".Mas para os Companheiros do Arco Real há muito mais. Cada vez que entramos no Capítulo do Arco Real, somos lembrados da estrutura sobre a qual está apoiado o ensinamento da Ordem, pois ali está, bem no meio do Capítulo, o pedestal sobre o qual está colocado o Inefável Nome de Deus, tal como fora revelado por Moisés, colocado sobre o emblema da eternidade. Os nossos detratores e

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caluniadores têm destacado o fato de que, em alguns rituais, aquele pedestal é denominado de altar, o que evidencia estaremos a praticar uma religião, e assim, mais uma vez, desvirtuando e distorcendo, interpretando-nos erroneamente seja intencionalmente, seja por ignorância. É claro que não é nada disso; ele está ali para nos lembrar que os forasteiros (ou sobrestantes) encontraram um altar do qual ali está uma representação, e lembrar-nos do fato de que um Companheiro do Arco Real vê os ensinamentos da Arte à luz da eternidade e não dessa existência terrena que, tal como na Maçonaria Simbólica, é esperado que ele reverencie o seu Deus e pratique a sua religião. Ali sobre ele tal como no altar, está colocado o Inefável Nome, um nome que, como bem sabem os nossos críticos, tem a sua origem na Bíblia Sagrada, o Nome que reverenciamos e que justifica a palavra "santo" presente no título de nossa Ordem.O formato daquele pedestal tem uma mensagem para nós. Ele representa um duplo cubo de pedra trabalhada, uma perfeita pedra de cantaria, termo que se aplica a qualquer bloco de pedra que tenha sido trabalhada e aparada, tornando-a pronta a ocupar seu devido lugar na construção, ainda que não se trate de um cubo absolutamente perfeito, com todos os seus lados iguais. Nós todos estamos bem familiarizados com as palavras usadas nas Preleções e na Explanação da Tábua de Delinear do Primeiro Grau, que descrevem essa pedra — "uma pedra de esquadria perfeita, servindo somente para ser medida pelo esquadro e

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compasso". Assim, para o franco-maçom especulativo, a perfeita pedra de cantaria — a Pedra Quadrada Polida — representa, nas palavras do ritual, "uma vida regularmente despendida em atos de piedade e virtude"; o esquadro representando a Moralidade e o Compasso a nos lembrar da Justiça de Deus.É somente sobre uma pedra assim, um emblema da Eternidade, que ousamos colocar o Inefável Nome; e demonstramos nosso respeito e reve-rência por Ele por meio de gestos que selam nossa fidelidade aos ensinamentos de nosso Criador, em qualquer forma que O adoremos, ao passo que, humildemente, reconhecemos não sermos suficientemente dignos para admirá-Lo.Assim, esse pedestal emula a diferença entre a Maçonaria Simbólica e o Arco Real, à primeira vista unidos no Grau de Mestre Maçom, ainda que separados por aquilo que assinala a diferença entre Irmão e Companheiro, e por nossa persistência de que cada parte de nossa peregrinação terrena está condicionada e governada pela eternidade na qual ela está estruturada. E, assim como acontece na vida, em que você não escolhe o seu Irmão, mas escolhe o seu Amigo, o mesmo acontece na "Maçonaria Antiga pura"; embora você ingresse em uma fraternidade em que talvez não conheça todos os Irmãos da Loja na qual foi admitido e, certamente, pouco saiba o que pode esperar, você é admitido em um Capítulo, entre Companheiros, muitos dos quais você já conhece, e já contando com um razoável conhecimento sobre a Franco-Maçonaria.

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Nós, como Companheiros dessa Ordem, certamente estamos ansiosos em trazer Irmãos para junto de nosso companheirismo. No entanto, devemos certificar-nos de que aqueles que tentamos introduzir haverão de, ao seu devido tempo, apreciar os sérios aspectos de seus ensinamentos. Muitos Irmãos se apresentarão à exaltação em virtude da sensação de perda e lacuna, que é algo endêmico no Terceiro Grau, e causa-lhe um sentimento de insatisfação e frustração, e por lhe dizerem que os verdadeiros segredos do Mestre Maçom somente serão conhecidos no Capítulo. Ele somente chegará a aprender o significado profundo de nosso ensinamento se for verdadeiramente aceito como um Companheiro. Nós temos uma séria mensagem no Arco Real, mas ainda podemos aprender bastante no simbolismo e esforçamo-nos pela união no grande projeto de "sermos felizes e transmitir a felicidade"; e lembre-se sempre de que não é possível conseguir um sem praticar o outro. Como já frisei tantas vezes, "aprecie e desfrute com satisfação a sua Maçonaria"; ao fazer isso, você estará ajudando os demais não apenas a apreciá-la, mas também a entendê-la, seja no Simbolismo, seja no Arco Real.

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12Compatibilidade (1987)

Em 1987, o Grande Capítulo Provincial Joi real izado em 2 de junho. Pouco antes, um grupo de trabalho do Sínodo Geral da Igreja da Inglaterra redigiu um Relatório acerca da Franco-Maçonaria, o qual seria discut ido no Sínodo de julho." O referido Relatório questionava a compatibi l idade entre a Franco-Maçonaria e o Crist ianismo, o que, é claro, Joi divulgado pela imprensa como uma condenação à Maçonaria, apesar de os part ic ipantes do grupo de trabalho negarem ter ido tão longe e chegado a esse ponto. Lendo o Relatório como um leigo, senti pouca simpatia por aquilo que parecia ser um argumento teológico bastante l imitado e restr i to, bastante di ferente, por exemplo, daquele demonstrado em documentos tais como o "Towards a Theology for Inter-Faith Dialogue", um documento para a próxima Lambeth Conference; não que eu temesse que o Relatório impressionasse; o seu est i lo jornal íst ico e o uso de pontos de exclamação, seus desnecessários e impróprios ataques, muitas vezes caindo no r idículo e, mais grave, a sua nit idamente ambivalente abordagem de uma questão tão importante e séria como a da prece e teologia inter-rel igiosa pareciam totalmente deslocados em um documento públ ico sério. Sem dúvida, quando alguns franco-maçons o lessem, a maioria apenas veria notícias de imprensa que, no geral, sugeriam e, de fato, em alguns casos, chegavam a afirmar categori camente que condenavam a Franco-Maçonaria em geral e o Arco Real em particular, classificando-os como blasfêmia. A conduta da Maçonaria Simból ica para esse caso estava, certamente, nas mãos daqueles nomeados pelo Grão-Mestre e pela Grande Loja, mas a minha responsabil idade junto aos I rmãos de minha Província era dar toda a orientação

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possível naquela tumultuada época; assim, o discurso já preparado para a reunião de 1981 foi produzido em favor do que abaixo segue.Este discurso deveria ser pronunciado antes da real ização do debate no Sínodo, mas não há motivo, agora, para revisá-lo, pois ao revê-lo, ele nos parece bastante ameno em relação ao documento do grupo de trabalho. Quanto ao resultado do debate no Sínodo Geral , parece que, como um todo, a Franco-Maçonaria saiu vitoriosa, porém perdeu o voto porque os grupos pol í t icos no Sínodo tomaram todas as medidas para que o Relatório fosse aceito; assim, ficou mais ou menos acertado que o diálogo continuaria, e o seu últ imo parágrafo alegava que, na opinião da maioria dos integrantes do grupo de trabalho, havia "algumas razões fundamentais para questionar a compatibi l idade da Franco-Maçonaria com o Crist ianismo".Tal como muitos outros franco-maçons, estou imensamente agradecido aos muitos clérigos de várias patentes e aos dignitários que deixaram suas l inhas para expressar o seu incentivo e apoio nestas circunstâncias, mas entendi que a minha tarefa era cuidar para que os Irmãos cm minha Província enxergassem a questão em perspectiva, que continuassem tal como era o seu dever) a apoiar até uma Igreja de postura oficialmente antagônica, que continuassem a pensar profundamente em si mesmos à luz de todos os fatos e de como cada um via o verdadeiro relacionamento entre a rel ig ião e a Franco-Maçonaria, e entre a Igreja e a Maçonaria Simból ica e, acima de tudo, não reagissem, mas que se comportassem com dignidade e moderação.

Muito se tem falado e escrito ao longo dos últimos três séculos sobre o relacionamento entre a Franco-Maçonaria e a religião, e isso é algo que está novamente em nossas mentes nos dias de

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hoje. E claro que muitos pensam não haver nenhum problema. Mas, para aqueles que não pensam assim, as opiniões variam entre dois extremos: a Franco-Maçonaria é totalmente incompatível com algumas religiões, normalmente o Cristianismo; ou a Franco-Maçonaria é, em si, uma religião. Eu tenho certeza de que não preciso explicar a essa platéia que, certamente, a Franco-Maçonaria não é uma religião, mas um sistema de moralidade que exige que todo candidato afirme, antes de ser admitido, que deve a sua existência como um ser humano a um poder sobrenatural, e estipula que cada membro deverá viver segundo os ditames e credos da religião por ele praticada.A linha divisória entre a moralidade e a religião é muito sutil, mas não vejo nada de incompatível entre a religião e um código de moralidade que se baseia na mais alta e mais altruísta ética, porquanto esse código de moral apóia e serve às crenças religiosas da pessoa. Um dos pontos fortes da Franco-Maçonaria é que a moralidade que ela ensina restringe-se ao lugar comum, ou seja, àquilo que é aceito como bom por todas as religiões que dedicam amor a Deus e a seus semelhantes, considerando isso a mais desejável base de um sistema de conduta e comportamento; tudo isso como, certamente, faz o Cristianismo.Basicamente, a razão de a Franco-Maçonaria não ser uma religião é o fato de ela não ter nenhum dogma religioso e, assim, ela não declara que qualquer revelação em particular seja certa ou errada, mas apenas que, quanto aos assuntos religiosos, um franco-maçom deve seguir os

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ensinamentos e praticar os métodos de devoção de seu credo. Porém, nós temos de entender que sempre haverá aqueles a quem qualquer ensinamento moral, que não seja aprendido exclusivamente sob o contexto de uma determina-da religião ou seita, será inaceitável. No mundo de hoje, há uma consciência crescente sobre a necessidade de compreensão e tolerância entre as diversas religiões; assim sendo, parece estranho que tal tolerância não seja estendida a um sistema que, embora não seja, ele próprio, uma religião exige que seus participantes pratiquem a sua religião, e enseja que pessoas de diferentes credos se unam em amor e em amizade — algo de vital importância ao mundo inteiro. Mas, seja como for, o debate tende a superaquecer-se e tornar-se por demais emotivo, e nós devemos ter o cuidado de nos manter de "cabeça fria", na própria acepção da palavra. Uma das melhores maneiras de fazê-lo é pensar, cuidadosa e analiticamente, sobre as questões, de forma que possamos responder com convicção a qualquer crítico ou inquisidor, evitando palavras e frases emotivas, e sempre tendo em mente aquela linha divisória entre o código moral e a crença religiosa.Ao analisarmos como explicar a nossa posição, devemos ter certeza de que entendemos a diferença entre sigilo e privacidade. O sigilo, ou se-gredo, é, nos dias de hoje, visto com desconfiança, enquanto a privacidade é considerada um inquestionável direito. Temos todo o direito de exigir nossa própria privacidade, e devemos deixar isso suficientemente claro. É somente quando se

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abusa da privacidade para proteger ou preservar um procedimento errado ou um propósito anti-social que ela se transforma em sigilo ou segredo; e nós devemos estar totalmente convictos dessa distinção e, assim, defendê-la. Ao fazermos isso, devemos mostrar que as nossas atividades como Companheiros do Arco Real estão do lado aceitável da fronteira e, portanto, não podem ser classificadas erradas ou anti-sociais. Para tanto, devemos estar preparados para explicar qual é o significado de nossa Ordem.As diferenças estão exemplificadas de forma muito clara em nosso Ritual. Os forasteiros (ou sobrestantes), que ainda não eram aceitos como tendo direito a participar das decisões políticas ou, até mesmo, legitimamente qualificados para trabalhar na construção, não hesitaram em revelar os detalhes de suas descobertas esperando ser aceitos como colegas, mas se recusaram a pronunciar o Inefável Nome, mesmo quando estavam perante o próprio Concílio. Nós deveríamos, igualmente, estar prontos para explicar o caráter e o espírito de nossa Ordem, ou seja, a aceitação dos padrões de moral inculcados na Arte, e devemos insistir que esse código de moral seja considerado apenas uma parte de nossos deveres e obrigações ao nosso Criador, em um contexto de eternidade. A meu ver, nós podemos, e devemos, exigir o privilégio da privacidade para assuntos tais como os detalhes da história dos forasteiros (ou sobrestantes), bem como dos Sinais e Palavras de reconhecimento

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entre os membros da Maçonaria Simbólica c do Arco Real.

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O Inefável Nome, a palavra no círculo, está sancionada na Bíblia Sagrada como tendo sido revelada pelo divino e, assim, certamente pode ser por nós abertamente afirmada; porém, por tradição, ela nunca é pronunciada nas Reuniões do Arco Real, exceto — e sempre com cerimoniosa reverência — quando tiver de ser usada entre não-maçons. Não consigo entender por que isso deveria ser encarado como uma ofensa a qualquer cristão, embora, é claro, em muitas religiões seja atribuída grande importância a qualquer nome dado a uma deidade; nas tradições judaicas e cris-tãs, o uso de certos nomes ou denominações foi considerado idolatria. Não vem ao caso se você concorda ou não com isso, pois todas essas crenças são subjetivas. Os cristãos sérios e sinceros que sustentam essa opinião têm o direito de saber que existe um Nome que é usado em nossas cerimônias, mas nós temos o direito de frisar que somente aquele único nome é usado e que não apenas ele é sacramentado pela Bíblia, mas também é tratado com a máxima reverência entre nós, mais do que é, muitas vezes, prestada fora da Franco-Maçonaria.Algumas vezes é dito, no que tange à discussão acerca da compatibilidade entre a Franco-Maçonaria e a religião, particularmente a religião cristã, que a maior dificuldade é causada pelo Arco Real. Eu acho isso muito estranho. Para mim, sem dar ênfase ao que é eterno, o que é a essência do Arco Real, a Franco-Maçonaria perderia muito de sua relevância em nossas vidas como mortais. O problema alegado parece centralizar-se nas três

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letras e na palavra que está no triângulo, embora a intenção destas seja lembrar a cada Companheiro a reverência e o respeito devido ao Deus por ele cultuado. Toda discórdia surge do trabalho errado e confuso feito por antigos revisores do Ritual e por aqueles que, mais tarde, em um excesso de zelo mal aplicado, permitiram que aquilo que é apenas uma palavra de re-conhecimento, tal como aparece em muitos graus Maçônicos, seja referido como se fosse um Nome Divino. Eu acredito que estamos consertando isso.5

Infelizmente, isso deu aos nossos críticos cristãos a chance de interpretar mal as letras e alegar que a segunda sílaba da Palavra de reconhecimento é idólatra, algo que, se é que eu entendi bem, somente pode ser conseguido se for distorcida a sua quantificação. O argumento parece basear-se em duas proposições. A primeira é que a Palavra, ou os seus componentes ou as letras, tem a intenção de compreender um nome, ou nomes, de Deus e devemos reconhecer que isso decorre de nossos próprios erros. A segunda é que elas são idólatras, o que na própria acepção da palavra é uma sandice; nelas não existe nenhuma referência a ídolos. Para destruir as acusações de heresia ou blasfêmia contra os crentes anglicanos que estão a servir a sua Igreja, o que mais aprenderam da Franco-Maçonaria não é o caminho radical e as 5 Em 8 de fevereiro de 1989, o Supremo Grande Capítulo resolveu, após um longo e interessante debate, que a palavra no Triângulo e as letras não deveriam mais aparecer sobre o Pedestal, e que todas as referências a elas, por prudência, devem ser removidas do Ritual. Aos interessados recomenda-se o estudo das Atas Oficiais.

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agressões dos métodos dos tempos medievais. Nós devemos estar sempre prontos para discutir e, se necessário, corrigir por meio de bons exemplos; porém, devemos ter muito cuidado para não nos submetermos ou cedermos a pressões erradas ou mal orientadas.Esses problemas levam ao ponto final. Habitualmente dizem que o Arco Real é um complemento do Terceiro Grau da Maçonaria Simbólica, e esta, tal como está, é uma descrição verdadeira, uma vez que a Lenda da Maçonaria Simbólica acaba em perda, fracasso e morte, enquanto que o Arco Real recupera a perda, suplanta o fracasso com o sucesso, e coloca a morte em uma perspectiva verdadeira, direcionando a nossa atenção à prospecção da eternidade, na qual a religião de cada Companheiro será o seu guia. O Arco Real requer que seus membros reflitam sobre a vida neste contexto. Portanto, o Ritual deveria ajudá-los a assim fazer, e não ser, de forma nenhuma, um impedimento ou entrave. Esse é um dos principais motivos para apoiar os esforços que ora vêm sendo feitos para assegurar que as nossas cerimônias tornem-se mais fáceis de serem acompanhadas e, em particular, para encurtar a Terceira Preleção, purgando-a das inexatidões e fraseologias rebuscadas, as quais não apenas comprometem a nossa paciência e credulidade, mas também dificultam manter o interesse daque-les que procuram instrução e orientação.Certamente, tudo isso é apenas uma abordagem pessoal. Porém, eu espero que possa ajudá-lo a

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pensar acerca das importantes perguntas sobre a questão de o Arco Real ser uma parte integrante da Franco-Maçonaria, sobre o que os nossos críticos estão falando a esse respeito, sobre em que eles podem ter sido mal orientados ou se perderam, e por que são importantes as acusações que agora vêm sendo feitas. Nós temos muito a fazer nos meses que temos pela frente c, certamente, haveremos de sair fortalecidos. Tenham sempre em mente o fato de que nós reunimos pessoas de diferentes raças e credos, em paz, em amor e em união, e que, ao assim procedermos com certo sucesso, podemos com humildade afirmar que estamos cumprindo com o nosso dever e obrigação a Deus, a nosso próximo e a nós mesmos.

13O Caso dos Críticos (1988)

Por volta de junho de 1988, a histeria orquestrada sobre a Franco-Maçonaria estava amainando e era tempo de fazer um balanço antes de se voltar à discussão quanto ao significado da Ordem. Era desejável tentar entender, em particular, as legít imas apreensões e receios dos crí t icos sérios, e por que achávamos que os seus receios eram mal compreendidos ou mal interpretados. Havia uma outra razão para querer "voltar à rotina"; eu deveria aposentar-me daí a dois anos e esperava poder, antes disso, resumir a minha filosofia sobre a Ordem formulando um equi l ibrado e construt ivo arrazoado sobre o que deveria significar ser um Companheiro do Arco Real . Nesse aspecto, as cr ít icas e os problemas dos últ imos anos, embora tenham sido de grande uti l idade para nos forçar a pensar sobre a Franco-Maçonaria, têm sido uma perturbação. È sempre dif íci l

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adotar um ponto de vista objetivo sobre um assunto com o qual a pessoa está emocionalmente envolvida e, como a maioria dos franco-maçons aprecia a sua Franco-Maçouaria, havia a possibi l idade de ocorrer um certo grau de envolvimento. Porém, era essencial estabelecer como objetivo um fundamento viável se quisesse que a tarefa para os próximos dois anos fosse realizada com sucesso.Algumas das citações apresentadas neste discurso já apareceram na apresentação durante o Deanery Synod, mas, certamente, em um contexto um pouco di ferente, uma vez que ele foi dir ig ido a uma platéia não-maçônica.

Estamos saindo de um daqueles períodos em que a Igreja cristã sente a necessidade de se pronunciar sobre a Franco-Maçonaria. Não podemos negar, nem nunca negamos, o seu direito de fazê-lo. Igualmente, ela não pode negar o nosso direito de discutir, e até de discordar de suas conclusões. Porém, seria bom que existisse um diálogo, e que cada uma das partes estivesse disposta a ouvir; e não somente ouvir, mas também a escutar.Mas o que foi que escutamos? Eu lembraria duas coisas importantes. A primeira, e menos óbvia, é que as Igrejas em geral, e a Igreja da Inglaterra em particular, estão, conscientemente, tentando redefinir a sua postura em relação às religiões não-cristãs. O mundo de agora parece ser menor que aquele dos tempos medievais, quando grande parte da Teologia cristã estava tomando forma, e, além disso, vivemos em uma comunidade que se compõe de variadas religiões, e não exclusivamente da cristã. Isso foi mencionado, de

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forma breve e pouco convincente, no Relatório do grupo de trabalho da Igreja da Inglaterra;6 mas o seu desenvolvimento pode vir a afetar a luz sob a qual a Igreja verá a Franco-Maçonaria. Espero que as três citações seguintes, todas de fontes da Igreja da Inglaterra, mostrem-lhe por quê.Primeiro: vocês devem estar lembrados das palavras do arcebispo de York durante o debate no Sínodo Geral, as quais ora cito: "Nós precisamos muito de bons contextos nos quais pessoas com diferentes convicções religiosas possam trabalhar juntas, sem abandonarem tais convicções ou sem as ignorarem. A Franco-Maçonaria, tal como a entendo, tenta proporcionar um contexto assim... E minha opinião que a Maçonaria deve ser elogiada por ao menos tentar resolver um problema de grande dificuldade".Segundo: em um livro chamado We Believe in God ("Nós Acreditamos em Deus"), recentemente publicado com a aprovação dos bispos anglicanos, encontramos as seguintes palavras: "Nós acreditamos que a revelação cristã é verdadeira, e em muitos aspectos, em outras religiões, ela é falsa. Porém, existem muitos aspectos no Cristianismo e em outros credos que se sobrepõem suficientemente para sugerir estarem todos em contato, até certo ponto, com uma só e mesma realidade que, nos diferentes idiomas, é reconhecida e reverenciada como Deus. Eles podem tornar-se uma parte dos recursos da razão e da experiência que ajudam a explicitar a

6 Veja Cap. 1, nota 11, e Apêndice B.

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doutrina de Deus implícita em nossas escrituras e tradições, e isso poderá levar-nos a mostrar abertura e respeito pelas crenças e práticas dos outros".7

Terceiro: faço referência a um documento de discussão, preparado para a Conferência Lambeth desse ano, da qual participam os bispos da Comunhão Anglicana do mundo inteiro. Ele se chama Towards a Theology for Inter-Faith Dialogue, e um de seus temas é que "o Espírito Santo, presente na Igreja e nas vidas dos cristãos batizados, também está presente entre aqueles de outros credos e culturas".8 Um exemplo disso constitui a própria base da lenda do Arco Real, pois, e cito a passagem constante no Livro de Esdras, "...despertou o Senhor o espírito de Ciro, rei da Pérsia, de modo que ele fez proclamar... de viva voz...: 'O Senhor Deus do Céu... encarregou-me de edificar-Lhe uma casa em Jerusalém...'".9

Ciro foi o conquistador persa do Império da Babilônia; mas nem ele, nem os que foram conquistados, eram judeus ou cultuavam o Deus dos judeus; e, apesar disso, a ele foi dada a ordem, e ele reconheceu a origem daquela ordem. Ele não apenas a ouviu, mas também a escutou, apesar das barreiras das diferenças religiosas.Como franco-maçons, devemos reconhecer o quão difícil e potencialmente divisivo esses problemas

7 Veja Cap. 1, nota 13; essa passagem está nos parágrafos 13-14.8 Parágrafo 61. Publicado pela Church Home Publ ish ing, ISBN 0 7151 5525 3.9 Esdras, 1:1-2. Versão autorizada.

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podem tornar-se aos cristãos, e, particularmente, à Igreja da Inglaterra em sua estabilidade, que nem sempre tem sido algo fácil de manter, entre o Catolicismo romano e as tradições não-conformistas. Mesmo que venhamos a nos sentir magoados ou ofendidos, como sei que muitos de vocês se sentem, por acharmos que fomos injustamente criticados, deveremos, nessas circunstâncias, ser pacientes, compreensivos e receptivos.A segunda coisa importante que temos ouvido é a preocupação de que a Franco-Maçonaria esteja afastando-se de seu papel de apoio à fé religiosa para se tornar, ela própria, uma religião. Não consigo entender como é possível considerar um sistema de moralidade que impõe a condição de que cada um de seus membros, antes de ser admitido, não apenas deve praticar uma religião, mas também continuar praticando-a após sua admissão, pode logicamente ser considerado, ele próprio, uma religião. Uma das frases favoritas do dr. Oliver dizia que a Franco-Maçonaria é uma "submissa criada da religião" e que desempenha muito bem o seu papel de apoio. A Franco-Maçonaria não é, e jamais deverá ser, uma religião.E claro que cada um de nós sabe que a sua própria religião possui crenças basilares sobre as quais não pode haver nenhum comprometimento, e que qualquer coisa que se oponha a essas crenças não pode ser compatível com elas. Com toda a humildade, tenho a impressão de que o erro cometido por alguns de nossos críticos é entender

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que nós nos opomos a uma religião, a menos que exijamos que nossos membros adotem exclusi-vamente os seus dogmas e doutrinas, o que é, per si, uma sandice. No que concerne ao Cristianismo, permitam-me, mais uma vez, citar um trecho do documento de discussão de Lambeth: "O que nos (cristãos) estimula ao diálogo (isto é, a discussão com aqueles pertencentes a outras religiões) é a crença de que somos todos criados à imagem de Deus, que compartilhamos uma mesma humanidade, e que todos vivemos na presença de Deus".10 O documento segue, e continua enfatizando que, para um cristão, isso deve estar sempre presente em uma exclusiva lealdade e fidelidade a Cristo como o Ungido de Deus. Esta posição inclusiva, apesar de também ser exclusi-va, reflete de maneira bastante correta a postura daqueles franco-maçons cristãos com quem tive o privilégio de discutir esse assunto. Entretanto, nós devemos tentar entender a dificuldade sentida por alguns cristãos por nos unirmos em preces que não são, específica e unicamente cristãs, embora seja difícil vislumbrar como pode haver algum progresso no diálogo inter-religioso em que haja reuniões inter-religiosas de prece.Antes de continuar tentando concluir qual a lição que poderíamos tirar de tudo isso, eu devo lembrá-los das dificuldades que o relatório do Sínodo Geral preferiu colocar com referência ao Arco Real. Nós já estamos tratando de certos tópicos, e devemos ter em mente que a iniciativa foi nossa. Essa

10 Parágrafo 63.

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iniciativa prossegue, e estamos prestes a debater as últimas propostas a serem preparadas pelo nosso próprio grupo de trabalho. A mais importante entre essas propostas é a de que deveríamos tirar do Ritual a palavra que está sobre o triângulo, sem nenhum substituto. Eu acho que está certo; é impossível concordar com uma substituição da palavra do Arco Real e o atraso dessa questão deve trazer danos à Ordem.11 A palavra existente tem sido comprometida por ter sido erradamente descrita como um nome adequadamente significante, mas provavelmente aplicada com exagero por aqueles que reescreveram o Ritual; e, apesar de o conteúdo atribuído pelo relatório da Igreja da Inglaterra, em minha opinião, basear-se em interpretações insustentáveis e pouco escolásticas, o dano feito não tem mais conserto. Por outro lado, eu acho que, a essa altura, feita a nossa parte, não há necessidade de maiores discussões fora da Maçonaria.O que esperar do futuro? As discussões abundam entre os teólogos; esse é o verdadeiro cerne da Teologia, e os teólogos cristãos têm discutido entre si por quase dois mil anos. O campo minado da Teologia não é um lugar para amadores. É pelo exemplo que nós devemos convencer e o processo não será rápido. Eis uma citação bastante adequada ao assunto, extraída da carta que o bispo de Peterborough enviou-me em 17 de julho de 1987: "... embora eu nunca tenha sido um

11 A palavra foi tirada do Ritual; veja Cap. 12, nota 3.

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maçom, sempre estimei, ao longo dos anos, aqueles homens de minhas congregações que achavam ser a Maçonaria uma grande bênção para eles, e não viam nenhum ponto que atentasse ou que dividisse a sua lealdade. Eles estão entre os meus melhores colaboradores, e eu sei que inúmeros vigários em todo país, que não são membros da Ordem, haveriam de dizer a mesma coisa". Essa foi uma carta de grande apoio e incentivo, e vocês verão como suas posturas foram formadas pelo exemplo. Isso alimenta a minha esperança de que pode haver um meio de seguir adiante nessa questão se continuarmos a nos conduzir como fizemos até agora, tentando por meio de ambos, repito, por meio de ambos — fé e comportamento — dar um exemplo em nosso serviço às nossas igrejas e comunidades, pacientemente explicando o que é a Franco-Maçonaria e, mais importante ainda, o que ela não é, e tentando, ao mesmo tempo, compreender os problemas que os outros podem imaginar estar vendo. Podemos também, de forma procedente, dizer que arcebispos, bispos, padres e ministros de variadas áreas, têm-se mostrado felizes de se identificar, abertamente, como franco-maçons. Lembrem-se de que nós não temos nada do que nos envergonhar. O Amor Fraternal, a Ajuda e a Verdade ainda continuam sendo as nossas estrelas-guia; o respeito pela religião de cada um é, para nós, um princípio básico, e o magno projeto de ser feliz e, principalmente, de transmitir felicidade, é um de nossos objetivos mais desafiadores. Nas palavras do Ritual que lembram

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aos cristãos que existem em nosso meio dos ensinamentos do próprio Cristo e, particularmente, a Sua parábola acerca os talentos e aptidões, nós devemos "exortar aqueles talentos com que Deus abençoou-nos, pela Sua glória e pelo bem-estar de nossos semelhantes". Quando a prestação de contas final tiver de ser feita, tudo isso deve, certamente, aparecer na coluna de créditos do "livro contábil", para todo aquele que viveu segundo esses princípios e segundo os princípios de sua religião.

14"Amor Fraternal, Ajuda..." (1989)

Os dois discursos finais foram uma tentativa de recapitular e resumir, tanto quanto possível, uma filosofia do Arco Real . A abordagem de um assunto como esse está sujeita a ser bastante individual, mas apresentar o seu próprio pensamento pode ajudar os leitores a formar suas próprias opiniões. Quando proferidos, os discursos não t inham, e não têm, a intenção ou o propósito de ser didáticos. Um problema, em part icular, surgiu em função das revisões do Ritual, revisões que a maioria, não todos, dos Companheiros aprovou; isso estava em andamento antes de as Igrejas (e mais sensacionalmente a imprensa) in ic iarem as "investigações" que muitas vezes pareciam emocionais, se não histéricas, e que, em alguns casos, dificilmente poderiam ter a sua precisão elogiada. Mas os princípios básicos da Franco-Maçonaria permanecem imutáveis e, assim, surge a pergunta: "Será que a Franco-Maçouaria, que pode ser vista como uma cria do passado, é relevante ao mundo de hoje, às portas do século XXI?" . A resposta a essa pergunta

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t inha de ser dada à Maçonaria em geral , antes que alguém pudesse pensar no significado e na importância do Arco Real.A tentativa de ajudar os Companheiros de minha Província a ver em perspectiva os problemas dos últ imos anos, de certa forma abreviou o tempo para tais discussões; mas, por outro lado, ocorreu um inesperado e posit ivo resultado de todo esse rebul iço e agitação: a tarefa de revisar o Ritual tornou-se muito mais fáci l do que poderia ser de outra forma. A últ ima vez em que o r itual fora oficialmente revisado ocorreu em 1834/1835, quando uma comissão, que contava com uma expressiva representação dos padres angl icanos, fo i nomeada para essa final idade pelo HRH Grão-Mestre, o Duque de Sussex; sem o estimulo proporcionado, em particular, pelas igrejas, a questão da revisão poderia muito bem arrastar-se por algum tempo. Assim, sob o ponto de vista da Maçonaria e, particularmente, do Arco Real, houve alguma compensação pelo dano que, sem dúvida, foi causado aos sentimentos dos muitos franco-maçons tementes a Deus. Agora, restavam apenas dois anos, e a pressão estava sendo exercida por mim; o discurso de 1989 foi , portanto, o primeiro dos dois discursos que contemplaram essas relevantes e significat ivas questões.

Quando nos perguntam "O que é a Franco-Maçonaria?", a resposta que mais fluentemente sai de nossas bocas é: "É um sistema de moralidade, velado em alegorias e ilustrado por símbolos". Ultimamente é provável que estivéssemos ansiosos para enfatizar que ela se preocupa com a moralidade, e que não é, nem declara ser, uma religião; e nós nos sentimos bastante orgulhosos das alegorias e símbolos, embora nos dias de hoje prestemos muito pouca atenção a eles. Mas o que é esse sistema? O que, por assim dizer, reúne e

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mantém os nossos ensinamentos, fazendo deles um sistema? Estas não são perguntas fáceis de responder, apesar de que devemos estar preparados para respondê-las, se é que queremos continuar sendo merecedores de crédito e confiança. Afinal, somos nós mesmos que o definimos como um "sistema", e os indagadores podem, com todo o direito, esperar que justifiquemos a nossa afirmação, enquanto os que nos criticam podem, também com todo o direito, caso não consigamos fazer isso, zombar de nós.A moralidade, em si, não é algo fácil de ser definido; logo descobrimos que, mesmo aqueles que respeitamos podem ser diferentes uns dos outros, no que tange aos pormenores dos assuntos ligados à moral. E bastará uma rápida pesquisa para mostrar que aquilo que é, em geral, visto como moral por uma comunidade qualquer, pode mudar com o passar dos anos. Deste modo, Cristo modificou os códigos de Moisés; assim, nos dias de hoje, o divórcio não carrega, para a maioria das pessoas, o mesmo estigma que lhe era atribuído no primeiro quarto do século XX. Da mesma forma, encontramos teólogos modernos criticando a Maçonaria, acusando-a de práticas que os seus predecessores, antes, consideravam estar de acordo com os princípios cristãos. Poderíamos citar aqui uma infinidade de exemplos, porém todos nós sabemos o quanto e quão rapidamente os costumes e maneiras mudaram, e continuam mudando nos dias de hoje. Será que é chegada a hora de mudarmos as bases de nosso sistema?

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A resposta a essa pergunta dependerá de se a Franco-Maçonaria postula padrões que são adequados e apropriados para o mundo de hoje. Vivemos em um mundo dinâmico, de rápidas mudanças; porém, existem duas constantes que são imutáveis ao gênero humano: a necessidade de cultuar o Divino Criador, satisfação essa que é uma das maiores e principais atribuições da religião, e a necessidade de se estabelecerem padrões que nos permitam viver juntos no mundo do Criador em paz, amor e harmonia, o que é a maior e mais importante atribuição da moralidade. Para essa segunda função, a Franco-Maçonaria contribui porque o nível de comportamento que esperamos de nossos Irmãos em seus relacionamentos com os seus semelhantes neste mundo baseia-se naquelas virtudes que a história de cada religião, de cada filosofia ou civilização dignas de seu nome, tem provado ser o fundamento e o alicerce da felicidade e da benevolência. Nós resumimos tudo isso em Amor Fraternal, Ajuda (que é a Caridade ou, como prefiro chamar, a Compaixão e Misericórdia) e a Verdade (que é o comportamento moral, o exercício daqueles talentos com os quais Deus abençoou-nos, para a Sua glória e para o bem-estar de nossos semelhantes, tal como o ritual nos coloca). Esses três atributos proporcionam a base do sistema de moralidade que praticamos e que ensinamos. Nós reconhecemos e aceitamos que é de Deus que se originam os nossos talentos e apti-dões, e que devemos reconhecer a Deus o uso que deles fazemos. Esse é um dos ensinamentos

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básicos e fundamentais do Santo Arco Real, o qual os nossos críticos parecem estar tão determinados a interpretar mal. Nós devemos, constantemente, deixar bem claro que é exigido a todo franco-maçom que pratique a religião por ele professada, e que dê a devida obediência às leis do Estado onde reside. Digo a "devida obediência" e não "obediência cega"; portanto, espera-se que um franco-maçom não aja de forma contrária aos ditames de sua religião, aos sentimentos de seu coração, ou aos interesses daqueles que, de alguma forma, dele dependam.Estas questões são importantes uma vez que os nossos críticos parecem achar que, pelos nossos ensinamentos, estamos tentando formar, ou mesmo alterar, as crenças religiosas de um Irmão, e parecem não entender, ou talvez não queiram entender, que nós exigimos que todo Irmão veja esses ensinamentos sob o contexto e ensinamentos de sua própria religião. Nós reconhecemos que um crítico pode acreditar sinceramente que somente uma estrita observância aos princípios religiosos que ele aceita — e que, na maioria das vezes, são limitadas em seus objetivos — poderá assegurar o bem-estar de cada uma das almas do gênero humano, o que, certamente, respeitamos com sinceridade. Mas a Franco-Maçonaria incentiva-nos e anima a nos reunirmos em Amor Fraternal, independentemente das diferenças de credo e dogma; isso é algo que, certamente, os homens de boa vontade, em qualquer lugar do mundo, poderiam esperar ter neste mundo dividido, algo que me possibilitou,

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não faz muito tempo, sentar-me em amizade e fraternidade durante um almoço, tendo à minha esquerda o Inspetor Geral do Rito Antigo e Aceito do Zimbabue, e o Grande Superintendente para o Transvaal à minha direita; ou que, recentemente, permitiu que a Grande Loja de Israel elegesse como seu Grão-Mestre um cristão árabe. Esses exemplos são símbolos dos padrões que, enquanto estiverem respeitando as crenças fervorosamente sustentadas por nossos críticos, nós devemos manter e conservar.Um sistema de moralidade não será completo a menos que considere os dias mais sombrios, as épocas de desgosto e sofrimento, ou os momentos em que nos desapontamos em nossos anseios e esperanças, ou ficamos desanimados pelas ações ou negligências dos outros, ou quando não correspondemos aos nossos próprios padrões. O pavimento mosaico sobre o chão da Loja, com os seus quadrados alternados em preto e branco, lembra-nos que os dias de peregrinação terrena não serão todos de alegria e felicidade. Mas ele também nos lembra que nem tudo é escuridão e tristeza e que, talvez, devamos estar preparados para passar pelas trevas se quisermos nos aproximar da perfeição que cada um de nós, dentro do contexto de sua religião, procura alcançar. Se os forasteiros (ou sobrestantes) não estivessem prontos e dispostos a desafiar e enfrentar os perigos do desconhecido, ao se aventurarem na cripta que descobriram, eles jamais teriam encontrado o prêmio que ali jazia.

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Analise com maior profundidade a história dos forasteiros: ela tem muito mais a nos contar. Três homens vieram do exílio e estavam tão contentes de serem recebidos e acolhidos, que não se incomodaram em aceitar qualquer tarefa, embora servil e humilde, que pudesse contribuir com o empreendimento coletivo da reconstrução da Casa do Senhor. Nem todos nós podemos ser sacerdotes ou governantes, ou mesmo esperar conseguir chegar à posição que a nosso ver poderia possibilitar-nos servir ainda melhor ao nosso semelhante. Os forasteiros entenderam por que não podiam ser empregados em trabalhos mais técnicos ou influentes, e sabiam que a realização do objetivo dependia de que cada um, e todos, realizasse a tarefa que lhe fora atribuída, ainda que estivesse abaixo dos limites de sua habilidade. Mas nenhum deles foi temerário ou imprudente; apenas um deles deveria arriscar-se; os outros dois deveriam ficar a postos para cuidar, caso fosse necessário, de içá-lo em segurança. Em certo sentido, a tarefa deles era mais fácil do que a nossa, pois se o seu Companheiro estivesse em perigo, o seu risco seria prontamente conhecido; não é sempre que nós, em nossa vida cotidiana, podemos saber quando um Companheiro está infeliz ou deprimido, porque está convencionado que ele não deve incomodar-nos ou perturbar a nossa complacência. Mas nos sentimos orgulhosos de ser chamados de Companheiros e, como tal, é nosso dever e obrigação cuidar de suas necessidades, mesmo que elas não sejam men-cionadas, e estar disponíveis e dispostos a ajudá-

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lo. O que poderá ajudar-nos a conseguir isso é obedecer ao que está implícito em "comunicar e transmitir felicidade", pois, agindo assim, tornamo-nos mais sensíveis às necessidades dos outros.Porém, Amor Fraternal não significa apenas o amor pelos Irmãos. Ninguém pode esperar ser capaz de evitar os dias sombrios, e é nosso dever e obrigação, como franco-maçons, ajudar os nossos semelhantes ao longo daqueles dias, garantindo que a nossa conduta seja tal que qualquer um, seja ele membro da Maçonaria ou não, possa saber que um franco-maçom haverá de tentar proporcionar conforto ao "coração aflito", e que o aflito possa, de fato, contar com ele. Os samaritanos eram considerados hereges pelos judeus ortodoxos, mas Cristo, ele próprio um judeu, deu-nos a parábola do Bom Samaritano. A opção de passar do outro lado, ao largo, não está aberta a um franco-maçom. A "Ajuda", ou "Compaixão ou Misericórdia", como eu a denominei, não começa ou acaba com o nosso talão de cheques.Você pode estar imaginando o que me levou a elaborar essa questão sob o contexto do nosso "sistema de moralidade". Foi porque a simpatia— que, literalmente, significa "sentir com", ou "sentir por" — é o denominador comum a cada uma das virtudes morais nas quais concentramos e resumimos o nosso sistema: amor, compaixão e comportamento moral. E o fator que, em todos os tempos, sempre trouxe à tona o que de melhor há na humanidade, e algo que o mundo, nos dias de hoje, precisa muito mais do que jamais precisou

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antes, à medida que as fronteiras do conhecimento avançam, as fronteiras físicas encolhem e o homem luta por uma globalização que ele ainda parece não estar pronto para aceitar, na qual as recompensas e os riscos do futuro confrontam-nos de maneira tão envolvente. Sim, Companheiros, nós temos um sistema de moralidade; sim, ele é adequado para os nossos dias, tal como tem sido no passado, e continuará sendo pelos tempos vindouros. Todo franco-maçom pode, sem grandes dificuldades, aplicar os seus princípios sob o contexto dos ensinamentos de sua própria religião. Não temos nenhum motivo para mudar isso, mas temos todos os motivos para nos orgulharmos dele.

15"... e Verdade" (1990)

Se a Maçonaria tem um lugar e uma importância no mundo moderno, então, certamente, o mesmo se apl ica ao Supremo Capítulo do Santo Arco Real . Mas será que tem mesmo essa posição? E, mais importante ainda, será o "Amor Fraternal, Ajuda e Verdade uma definição adequada dos objetivos de uma Ordem cujos membros são ensinados a contemplar a vida em um contexto de eternidade? Esta concentração sobre aqui lo que é eterno invade, de alguma forma, o terr itório da rel ig ião? O discurso final devia cobrir uma vasta área, mas foi uma modesta tentativa de colocar esses problemas em perspectiva e

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incentivar os Companheiros da Ordem a encontrar as suas próprias respostas sob o enfoque de qualquer rel ig ião praticada por cada um deles.Enquanto preparava esses discursos para serem impressos, questionava-me se um aspecto fora suficientemente enfatizado em seus conteúdos: que a Franco-Maçonaria não impl ica, como um correspondente já me sugerira antes, que "a moralidade deveria visar à rel igião simplesmente para identificar e apoiar os princípios morais". De fato, a recíproca é verdadeira, pois, para que alguém se torne um franco-maçom ele deve ter uma rel ig ião, e ela deve ser suprema para ele. Assim, um maçom cristão, que acredita ter s ido salvo pela graça, verá a Franco-Maçonaria como um meio que o ajudará a realizar o segundo mandamento dado por Cristo: amar o seu próximo como a si mesmo. Estar na companhia de outras pessoas que também declararam a sua crença em um Ser Supremo pode ajudá-lo a se afirmar em sua crença religiosa (tal como foi a minha própria experiência) e, assim, ajudá-lo a observar o primeiro mandamento; em toda a abrangência do ensinamento maçônico, ele aprenderá que a prática de sua rel ig ião é a coisa mais importante na vida de um homem. Ao escrever essas l inhas, sinto que ainda não expliquei adequadamente algo que, para mim, é muito importante; o dr. Ol iver resumiu isso ao escrever as palavras que eu já citei em outro discurso: "A moralidade não é a base ou o fundamento, mas o resultado e o fruto da rel ig ião". A força do código maçónico de moral idade nesse sentido é que ele se baseia nas virtudes reconhecidas como tal por todas as principais rel igiões, e insiste que para cada pessoa a sua rel igião é suprema.

A agradável tarefa de governar essa Província do Arco Real durante doze anos levou-me a pensar muito sobre o lugar da Ordem na Franco-

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Maçonaria, a sua importância e relevância para o mundo em que vivemos e para o vindouro, ao qual esperamos chegar, e a cada ano, em nossa Assembléia Anual, eu tentei, com toda a humildade, incentivá-los também a pensar sobre tudo isso. Foi um tipo de jornada peregrina, vagando para um lado e para outro, mas avançando esperançosamente em direção a um objetivo vislumbrado, mas ainda não visto; e, ao longo de todo esse caminho, vocês têm me incentivado e ajudado, fazendo com que realizássemos juntos essa jornada. Agora, na última oportunidade em que terei o privilégio de me dirigir a vocês como seu Grande Superintendente, é hora de analisarmos quais foram os progressos que fizemos.Permitam-me começar com o relacionamento de nossa Ordem com a Maçonaria Simbólica. Dizemos que o Arco Real é o complemento do Terceiro Grau; mas por quê? A resposta mais corriqueira é que ele se dedica a encontrar aquilo que foi perdido, mas embora possamos, em uma outra Ordem, aprender mais sobre a tradição maçónica que aborda uma cripta secreta e o que nela existe,12 a Lenda do Arco Real menciona apenas alguns itens: uma coluna velada, uma placa de ouro com o Inefável Nome de Deus que fora revelado a Moisés, e os antigos Livros da Bíblia; talvez segredos perdidos, mas não os Sinais, cuja perda faz parte da lenda da Maçonaria Simbólica. Os Sinais do Arco Real são, de fato, revelados em

12 Ordem dos Mestres Reais e Escolhidos (Maçonaria "Críptica").

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uma parte mais adiante da cerimônia e acontecem pelos cinco pontos de fraternidade (ou Confraternização) nos quais o Mestre Maçom é instruído e que, por serem Sinais da Maçonaria Simbólica, dizem respeito aos nossos relacionamentos uns com os outros; os sinais do Arco Real referem-se ao nosso relacionamento com o nosso Criador, e é nessa diferença que temos um epítome do mais importante contraste entre as duas Ordens.Um dos Sinais do Arco Real tem importância especial neste sentido. Se pensarmos nos Sinais dos três Graus da Maçonaria Simbólica, veremos que eles se referem apenas a essa vida passageira; e aqueles que já são Mestres Instalados perceberão que isso também acontece naquilo que lhes é revelado em sua Instalação. Porém, há um Sinal na Maçonaria Simbólica que transcende a tudo isso e chama a nossa atenção para a eternidade na qual as nossas vidas são colocadas, e à qual o Arco Real tem o propósito de orientar os nossos pensamentos. A peculiar natureza desse Sinal não é explicada no Ritual, apesar de ser usado com uma freqüência maior do que qualquer outro, sendo um acompanhamento das preces. Mas será que você já percebeu que se trata de um Sinal incompleto? Ele se completa no Arco Real com o Sinal de "R" ou "Ch", pelo qual adotamos uma postura de prece, mas, ao mesmo tempo, reconhecemos a majestade e a glória do Criador, qualidades que os nossos antepassados chamavam de "temor", e que nós chamamos de "reverência" e "respeito". Esse é mais um exemplo

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de como o Arco Real dirige a luz estimulante da eternidade sobre os ensinamentos terrenos da Maçonaria Simbólica. Permitam-me lembrá-los de outros exemplos para os quais, de tempos em tempos, chamei a sua atenção.No terceiro Grau nos é contado que cinco Companheiros cavaram a terra e encontraram um cadáver; no Arco Real, três forasteiros (ou sobrestantes) abriram a cripta subterrânea e encontraram o Inefável Nome. As primeiras coisas com as quais o candidato depara-se na Cerimônia de Iniciação são as Três Grandes Luzes que o guiarão ao longo de sua jornada pela vida; na Cerimônia de Exaltação, a primeira coisa que o candidato vê é uma representação emblemática daquela jornada como um peregrino rumo à eternidade; algo para o qual chamei a sua atenção em 198313 e algo que está emblemáticamente representado em seu certificado do Grande Capí-tulo, diferentemente das virtudes terrenas representadas no Certificado da Maçonaria Simbólica.A lenda da Maçonaria Simbólica termina em perda, desespero, desânimo e morte — o que dificilmente pode ser considerado um fim inspirador ou satisfatório para algo descrito como um "sistema de moralidade". O Arco Real completa o quadro ao nos mostrar que a perda, a morte e o desespero não são a palavra final, um final de história; em uma frase que você já me ouviu falar antes, o Arco Real coloca o ensinamento da Maçonaria Simbólica

13 Veja Cap. 6.

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no contexto da eternidade; e é com a eternidade que nós nos deveríamos preocupar, principalmente enquanto passamos por essa vida transitória para chegarmos à época em que deveremos prestar contas de como usamos os talentos que nos foram outorgados.Ao longo dos últimos três anos, alguns acontecimentos levaram-me a lhes pedir que refletissem não apenas sobre o nosso relacionamento com a Maçonaria Simbólica, mas também com qualquer religião praticada por cada um de nós, especialmente o Cristianismo e, em 1989,14 eu tentei passar em revista a nossa reivindicação de que a Franco-Maçonaria é um sistema de moralidade, e ver como aquela moralidade colocava-se em relação à Religião. Isso levou a uma discussão acerca de nossos princípios e preceitos básicos: Amor Fraternal, Ajuda e Verdade — ou, como eu preferi chamá-los: Amor, Compaixão e Moralidade, todos resumidos na palavra "Simpatia". Isso foi adequado ao falarmos do ensinamento da Maçonaria Simbólica; mas agora eu gostaria de levar o argumento mais adiante à luz daquilo que acabei de dizer sobre a relação entre a Maçonaria Simbólica e o Capítulo.Enquanto a expressão da verdade com a qual nos preocupamos na Maçonaria Simbólica refere-se aos padrões do comportamento moral, no contexto da eternidade a verdade é mais que moralidade; ela é a base de nossa existência, a resposta ao enigma de nossa existência. Em um de seus

14 Veja Cap. 14.

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famosos ensaios, Francis Bacon disse que Pilatos gracejava ao perguntar "O que é a Verdade?" e "não esperaria uma resposta". Com todo o respeito a um grande erudito, acho que Pilatos colocou a pergunta em puro desespero, sabendo o quão propenso é todo ser humano a afirmar que apenas as suas crenças são as verdadeiras e, portanto, o quão impossível era, e ainda é, para qualquer juiz mortal definir a Verdade pelo pensamento lógico. De fato, a Verdade tem dois aspectos: um é o padrão segundo o qual deveríamos viver as nossas vidas em relação a outrem; e o segundo, e mais importante, é a realidade principal, que não podemos provar pela lógica, mas que somente podemos conhecer pela fé. O primeiro concerne à moralidade, o segundo é a essência da crença religiosa, ainda que cada religião, cada vertente da mesma religião, possa abordá-la de formas diferentes.Gostaria de enfatizar isso, pois de outra forma, poderiam dizer que o nosso sistema de moralidade é agnóstico; é a inclusão da Verdade, em seu mais amplo sentido, que prova o contrário, tanto que ninguém pode se tornar um maçom a menos que acredite que o Universo, todos e tudo que nele existe foi criado pelo Divino; e, como franco-maçom, espera-se que ele retenha e alimente essa crença por meio da prática de sua religião.Mas não nos devemos enganar ao pensarmos que, por isso, a Franco-Maçonaria é uma substituta da religião. Já vimos que no Santo Arco Real os pensamentos de cada Companheiro são orientados a examinar as lições morais da Maçonaria

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Simbólica à luz das Verdades Eternas e à prestação de contas sobre sua vida na Terra que ele deverá fazer um dia — assuntos esses que qualquer religião, digna de assim ser chamada, pede que sejam observados por seus adeptos. E esse o complemento do ensinamento da Maçonaria Simbólica, e acho que é isso que Laurence Dermott, um ilustre Grande Secretário do século XV1I1, quis dizer ao chamar a Ordem de "a raiz, o coração e a medula da Maçonaria". Amor Fraternal, Ajuda e Verdade (Amor, Compaixão e Moralidade) são, de fato, os grandes princípios sobre os quais se apóia a Maçonaria Simbólica; porém, os Companheiros dessa Ordem reconhecerão que a verdade é bem mais que a moralidade, e é, de fato, a antiga qualidade de "temor", com todas as suas implicações de disciplina e obediência, e para a qual usamos o ameno termo moderno de "reverência" ou "respeito". Assim, para nós, Companheiros, eu leria essa tríade como "Amor, Compaixão e Reverência" — uma reverência e um respeito que deveriam ser buscados por cada um de nós no seio dos ensinamentos de sua própria religião. Poderá alguém alegar que isso não é compatível com a sua religião? Tal alegação poderia ser considerada um deboche à Teologia inter-religiosa, algo a que já me referi, timidamente, no Discurso que proferi a vocês em 1988.15

Companheiros, se me dirigi a vocês nesses termos, é por estar atendendo ao impulso para resumir

15 Veja Cap. 13.

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algo que eu sinto profundamente, uma visão pessoal do Arco Real, o que, para mim, dá a toda estrutura da Franco-Maçonaria um significado real como um código de conduta, e espero que isso possa ajudá-los a apreciar ainda mais essa Ordem, e enxergar em perspectiva os ataques à Franco-Maçonaria, ainda que tais ataques sejam moti-vados. Cada um de nós deve refletir, por si, sobre essas coisas e lembrar que todos nós ainda estamos aprendendo. Para mim, a Franco-Maçonaria ensina as pessoas a cuidar e preocupar-se com os outros e a adotar elevados padrões para si mesmas; e sem o Capítulo a Maçonaria Simbólica não estaria completa, nem eu poderia continuar sendo um franco-maçom a não ser que visse a Maçonaria Simbólica condizente com a minha religião, e como um código de conduta em perfeita harmonia com tal religião.Não faço nenhuma apologia à séria natureza desse discurso final, mas aceitem a minha despedida com os meus agradecimentos por todo o seu apoio, sua gentileza, sua bondade e — em uma palavra que engloba tudo — seu companheirismo durante esses anos em que me foi dado o privilégio de deter esse cargo de Grande Superintendente; e, uma vez mais, quero dizer a vocês, tal como já disse tantas outras vezes: "Apreciem a sua Maçonaria"; mas, dessa vez, quero acrescentar: "Pensem nessas coisas, passem bem e que Deus esteja com todos vocês".

16

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"Da Babilônia, Mui Excelente"Os capítulos anteriores desse l ivro abordaram a origem e o caráter da Ordem do Santo Arco Real; porém, há um problema que algumas vezes causa certa confusão aos Companheiros, especialmente hoje em dia, quando os conhecimentos bíblicos já não são tão di fundidos, que é o de situar os acontecimentos da lenda do Grau.Esses acontecimentos ou passagens não são os mesmos da lenda da Maçonaria Simból ica, e estão separados por um período dc, aproximadamente, 500 anos, que se refere a um período equivalente àquele entre os nossos dias e a época dos Tudor e a Batalha dc Bosworth. Dez das 1 2 tribos desapareceram, assimi ladas por seus conquistadores; eis que aparecem em cena os caldeus e os babi lônios, e a lenda do Grau inic ia-se com o surgimento dos persas como força dominante na região e o fi m do cativeiro babi lônico por Ciro. Como aconteceu tudo isso? Quais foram as forças que determinaram a derrocada de Israel e de Judá? Por que foi tão dif íc i l construir o segundo Templo? Qual a importância dos Principais e dos escribas mencionados no Arco Real? Somente um conhecimento do panorama histórico poderá proporcionar as respostas a essas e outras perguntas. E quando t ivermos as respostas, o que acontece? Como surgiu a lenda? O que significa a lenda para nós nos dias de hoje?Inevitavelmente, as pesquisas trazem à tona certas anomalias históricas e, muitas vezes, chegam a desafiar a sua credibi l idade. Este não é um fenômeno pecul iar à Franco-Maçonaria; os instrumentos disponíveis aos pesquisadores de hoje fizeram surgir dúvidas sobre muitas lendas que os nossos antepassados entendiam como fatos acontecidos e, mais recentemente, até mesmo a história bíbl ica tem sido questionada em vários campos. Temos de ter em mente que o

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importante no contexto da moral idade são as l ições a serem tiradas e aprendidas da História, tal como são relatadas; são poucos os que, nos dias de hoje, acreditam na história de Adão e Eva no Jardim do Eden e consideram-na como registro de um fato histórico; porém, ela pode ter um grande valor como ensinamento alegórico. O que é essencial no Arco Real é compreender a mensagem que o Ritual procura transmitir .Por ter essa apresentação uma seqüência, certamente haverá repetições de alguns tópicos já abordados, mas para que ela possa ser dada, se assim alguém quiser, como uma preleção, eu a deixei inalterada. Nas mãos de um narrador competente, essa apresentação terá uma duração de, aproximadamente, 3 5 minutos; também achei oportuno reproduzir o mapa que a acompanha, fazendo cópias para distr ibuir entre os presentes antes do início da apresentação.

"Estrangeiros, de onde vindes?" "Da Babilônia, Mui Excelente". Todos nós estamos bastante familiarizados com essas palavras, que são um prelúdio a uma das mais lindas partes de nosso Ritual, talvez demasiadamente familiares para não lhes darmos suficiente atenção. Mas elas merecem ter a nossa reflexão e se forem proferidas nas circunstâncias em que foram supostamente proferidas, elas equivaleriam emocionalmente ao que hoje, talvez, seria: "de um campo de concentração".Assim sendo, qual era o cenário da história? Que tipo de lugar era a Babilônia? Quem eram os caldeus que viviam naquele lugar, e como ela chegou a ser a capital do rei persa? Por que o primeiro Templo foi destruído? Como vivia o povo judeu no cativeiro, e que tipo de cativeiro era

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esse? Por que a lenda dos forasteiros é importante? Por que o Arco Real é essencial à Franco-Maçonaria? Todas essas perguntas estão implícitas naquele breve colóquio, e essa apresentação é uma tentativa de discuti-las.Inicialmente, devemos determinar quando e onde os fatos mais importantes aconteceram, ou seja, devemos refrescar os nossos conhecimentos sobre História e Geografia. Comecemos pela Geografia. Os países e povos envolvidos têm mudado ao longo dos séculos, passando a ser conhecidos por nomes diferentes e adotando novas identidades; assim sendo, a menos que, destarte, definamos as áreas e as raças, a História pode confundir mais que esclarecer. Usarei os termos antigos: Palestina, Ásia Menor, Mesopotâmia, Síria e Pérsia para descrever as regiões que nos interessam aqui. A Palestina será aquela parte da ponta oriental do Mar Mediterrâneo que fica a oeste do rio Jordão. A Ásia Menor será a parte oriental da Turquia de hoje. A Mesopotâmia será a área compreendida entre os rios Tigre e Eufrates, em sua parte sudeste em direção ao golfo Pérsico, grosso modo a parte norte do Iraque de hoje. A Síria será toda aquela região onde hoje está a Líbia e a Síria. A região a leste da Mesopotâmia, em direção ao Afeganistão e índia, será a Pérsia, atualmente Irã. De todas essas terras, as mais férteis e cobiçadas eram as da Palestina e Mesopotâmia; a maior parte do restante era formada por desertos ou montanhas.Mas esses não são os únicos territórios a aparecer na História. Havia sempre o Egito, o país do vale

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do rio Nilo, rico, altamente civilizado e orgulhoso de seu poder e influência, ligado à Palestina pela Península do Sinai, pela qual o grande comércio terrestre entre a Ásia e a África tinha de passar. Ainda assim, apesar de suas vantagens, o Egito nem sempre foi forte; o seu sistema de governo era centralizado, e quando o faraó era fraco, o país era fraco. Por causa dos seguidos casamentos consanguíneos observados nas famílias reais, não é de se surpreender que a influência do país variasse tanto, mas os seus crescentes períodos de fraqueza deram uma oportunidade mais forte e varonil de crescimento.Muitas raças habitavam aquela região; as mais importantes, em nosso caso, eram os judeus, os assírios, os caldeus, os persas e os medos.

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Começando pelos judeus, eles haviam ocupado grande parte da Palestina em seu êxodo do Egito, mas nunca por completo, nem mesmo no auge de seu poder sob o reinado de Davi e de seu filho Salomão. Após a morte de Salomão, em cerca de 930 a.C., eles se separaram em duas nações: Judá, ao sul, com duas tribos, e Israel, ao norte, com dez tribos; muito rapidamente ambas as nações entraram em guerra. O reino do norte era o maior, e o do sul abrangia apenas a pequena região repartida entre as tribos de Judá e de Benjamin; no entanto, era nessa região menor que se situava

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Jerusalém, a cidade que Davi escolheu para ser sua capital, e onde foi erigido o Templo planejado por Davi e construído por Salomão. É importante recordar que até a época do cativeiro na Babilônia os judeus não possuíam um sistema de sinagogas ou lugares de culto em todo o território; o lugar para adoração era o Templo em Jerusalém, a Casa de Deus, e era dever da cada judeu ir àquele local para a sua adoração, fazer suas oferendas ou sacrifícios, sempre que a lei assim exigisse. Devemos registrar que grande parte deles, de tempos em tempos, cultuava deuses locais, eles e seus dirigentes tinham de, constantemente, ser lembrados pelos profetas — cujos papéis devemos abordar mais adiante — de seus deveres e obrigações a Deus, que foi quem tirou os filhos de Israel da escravidão do Egito, conduzindo-os, como nos relata a Bíblia, à "terra da qual jorrava o leite e o mel".Mas a riqueza daquela terra tornou-a igualmente atraente a outros povos; e ela estava entre os egípcios que outrora a possuíram e poderosas forças que começavam a se desenvolver a leste. A Babilônia era um aglomerado de três províncias que, juntas, ocupavam as terras situadas na cabeceira do golfo Pérsico, na embocadura dos rios Tigre e Eufrates, na parte sul da Mesopotâmia. A sua capital era a Babilônia, situada no baixo Eufrates. Na região superior destes dois rios, entre a Ásia Menor e a Pérsia, estava localizada a Assíria que, ao longo de séculos, esteve em conflito com os reis da Babilônia. Os assírios acabaram por tomar a Babilônia e então, em 732 a.C.,

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capturaram Damasco, na Síria, expondo, assim, o norte do reino judeu de Israel a seus ataques. A capital daquele reino era Samaria, e foi subjugada por eles em 722 a.C., cerca de duzentos anos após a morte de Salomão; os judeus do norte foram levados para o leste por seus algozes e, em pouco tempo, acabaram por perder as suas identidades; na verdade, as dez tribos simplesmente desapareceram da História. O fascinante livro Apócrifo de Tobit dá uma nítida idéia do modo de vida dos judeus esmigalhando-se sob a influência assíria.Em seu auge, o Império Assírio incluía o Egito, a Síria, a maior parte da Palestina e a região sudeste da Ásia Menor, estendendo-se ao sul até o golfo Pérsico; no entanto, Judá conseguiu manter uma existência, apesar de precária e independente, graças ao gênio estratégico de Davi em escolhê-la como sua capital e à fé dos judeus em seu destino como o povo escolhido de Deus, apesar de terem vacilado, de tempos em tempos, em sua devoção. O Templo, o local principal da religião judaica, permaneceu de pé como sólido testemunho do status com o seu povo, e era um centro de encorajamento e resistência às influências externas, ainda que, ao longo dos séculos, muito de sua glória original tenha sido arrebatado pelos exércitos hostis ou pelos poderes vizinhos. Porém, o seu papel como ponto central de reunião foi, sem dúvida, uma das razões de ter sido profunda-mente destruído mais tarde.O Império Assírio durou até cerca de 600 a.C. Ele sucumbiu a uma nova dinastia de caldeus que

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havia tomado o trono da Babilônia. A Caldéia era a região ao redor da desembocadura dos rios Eufrates e Tigre, uma rica região de agricultura da Babilônia. Os caldeus expulsaram os assírios com a ajuda dos medos, uma raça que vivia na Pérsia e que, tendo escapado anteriormente do jugo dos assírios, estava feliz em poder ajudar a destruir o império. Os caldeus estabeleceram-se na Babilônia e o auge de seu poder se deu sob Nabucodonosor — o Grande, que reinou logo após a queda da Assíria, da qual conseguiu tomar uma importante parte. Sob suas ordens Jerusalém e o Templo foram destruídos. Jeoaquim, rei de Judá, entregou-lhe a cidade em 16 de março de 597 a.C., e Nabucodonosor tomou a ele e muitos outros líderes como prisioneiros, levando consigo os tesouros que restavam. Quando, nove anos mais tarde, o rei fantoche Zedequias, que havia deixado seu lugar em Jerusalém, rebelou-se, os assírios voltaram a invadir e, após um sítio de 18 meses, durante os quais deixou o povo à míngua e fraco, tomou a cidade, saqueou e incendiou o Templo, deixando as ruínas ao vento e às intempéries.Ao leste da Babilônia, os medos continuavam a prosperar. Eram um povo cuja história tornou-se fortemente a dos persas. Cerca de doze anos após a morte de Nabucodonosor, o persa Ciro tornou-se rei dos medos, destituindo o seu sogro, o governante medo. Ciro era uma pessoa ambiciosa e logo marchou contra a Babilônia, a qual capturou, sem oposição, em 539 a.C.; assim, é possível ver que o império caldeu, que desempenha um papel tão importante em nossa

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lenda, durou menos de cem anos. Ciro e seus sucessores estenderam o seu império ao leste em direção à índia e ao oeste da Europa. Ao sul, as suas fronteiras tornaram-se, aproximadamente, a fronteira norte da Arábia moderna. O Egito e grande parte do litoral sul do Mediterrâneo oriental também tornaram-se parte de seu domínio.Ainda existem outras duas raças a serem mencionadas. Primeiramente os gregos, um povo dividido em cidades-estado, que freqüentemente se envolviam, entre si, em mortíferas e mutuamente destrutivas operações militares que, finalmente, acabaram por destruí-las completamente. Eles estabeleceram uma quantidade de postos avançados ao longo das costas da Ásia Menor e em muitas das ilhas na ponta ocidental do Mediterrâneo. Tratava-se de uma raça dotada de vocação marítima — algo que haveria de possibilitar-lhes, cerca de sessenta anos depois da queda da Babilônia, deter o alastramento ao ocidente do império persa durante a Batalha de Salamina em 480 a.C. Dez anos antes, eles haviam derrotado os persas, por terra, na Batalha de Maratona; por essas duas batalhas, é possível dizer que eles mudaram o curso da História, pois não somente permitiram o crescimento do Estado da Macedónia, ao norte, como também deram tempo para que a emergente cidade de Roma, no Ocidente, se estabelecesse como poder dominante. Embora considerados pelos habitantes do sul da Grécia como quase bárbaros, o termo mais rude no vocabulário da antiga civilização da Europa

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Ocidental, os macedônios eram uma raça de vocação marcial, e conforme as cidades-estado continentais da Grécia iam decaindo, exauridas por seus feudos e pelas constantes guerras, o poder da Macedónia crescia. Decorridos cerca de cento e cinqüenta anos após a Batalha de Salamina, sob o comando de um jovem gênio militar, famoso na História como Alexandre — o Grande, os persas foram dominados e a Macedónia logo estabeleceu o seu domínio sobre todos os países dos quais falamos até agora.A outra raça da qual falávamos anteriormente eram os fenícios, que mantinham o comércio marítimo em todo o Mediterrâneo e mesmo além dele, criando grande quantidade de postos comerciais no continente, entre os quais o mais famoso era Tiro, a Cidade de Hiram, porto rico e poderoso que resistira a todos os invasores, até que Alexandre a tomou e a saqueou no curso de seu avanço rumo ao Oriente.Estes dois povos, os gregos e os fenícios, puseram, com efeito, um termo ao Império Persa pelo exercício do poderio marítimo. Ao assim pro-cederem, eles abriram caminho para a conquista macedónia e para o avanço das influências gregas sobre todas as regiões que agora chamamos de Oriente Médio. Até mesmo os judeus sentiram a sua influência, embora, no final, eles a rejeitaram e voltaram à sua antiga religião, uma caracterís-tica que estivera muito patente em seu cativeiro na Babilônia e que explica e justifica a energia e a determinação com a qual se muniram para

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restabelecer a sua cultura e a sua religião ao término de seu cativeiro.Veremos que, nestas regiões, as mudanças de poder tendiam a ser cataclísmicas, e não aconteciam de forma gradual; mas até que Nabucodonosor saqueasse Jerusalém, os seus habitantes judeus conseguiram manter a sua antiga religião e costumes, sua indissolúvel essência, e o Templo continuou sendo o centro de suas ocasionais explosões de independência, ainda que para tanto os seus governantes tivessem pagado tributo aos seus poderosos vizinhos. Nas épocas de tensão, o Templo era, para eles, um lembrete de que a Casa de seu Deus estava em Jerusalém e que eles compunham o Seu povo e que estavam sob a Sua proteção; infelizmente, nem sempre eles se lembravam de venerá-Lo e tinham de ser sempre lembrados de que Ele poderia retirar a Sua proteção caso não se comportassem em conformidade Seus Mandamentos.A destruição do templo por Nabucodonosor tinha a finalidade de apagar para sempre a consciência de nacionalidade de sua raça e destruir o seu Deus. Porém, o que os caldeus nunca entenderam foi que o Deus dos judeus não era um ídolo físico ou material como eram os seus deuses caldeus, e a destruição da cidade e do Templo produziu um efeito exatamente contrário àquele pretendido, pois ao se defrontarem com aquela grande e final calamidade, os judeus de Judá não permitiram que fossem assimilados à civilização de seus algozes, unindo-se ainda mais firmemente à sua essencial

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indissolubilidade. Os seus talentos e habilidades intelectuais, administrativas e financeiras eram tais como as necessárias a um grande império, fazendo com que, no geral, eles prosperassem. "As margens das águas da Babilônia sentávamo-nos e chorávamos ao lembrar de ti, ó Sião", lamentava o poeta; mas eles tinham a garantia do profeta Jeremias de que, passados setenta anos, o seu cativeiro chegaria ao fim — e eles aceitavam e reconheciam isso como a vontade de Deus. Durante aquele cativeiro, eles recordavam sua história e suas tradições e as escreviam. Muitos dos livros da Bíblia adquiriram, assim, a forma que conhecemos então. Diferentemente dos judeus do antigo reino do norte, grande parte deles jamais esqueceu a cidade e o Templo, e as gerações mais velhas mantiveram vivas as memórias e as tradições, transmitindo-as a seus filhos; e, para tanto, eles foram ajudados e incentivados pelos profetas na Babilônia e em Judá.Esses profetas representavam um fenômeno peculiar aos judeus. As demais raças tinham os seus próprios magos e oráculos, os quais, normal-mente, levavam boa e opulenta vida em função de sua profissão. Os profetas eram vistos como uma raça especial e seleta. Acreditava-se que eram inspirados por Deus, cuja vontade estavam incumbidos de declarar e transmitir aos homens. Ao fazer isso, um profeta freqüentemente censurava o povo e seus governantes transmitindo-lhes verdades muitas vezes pouco agradáveis. Quando, mais tarde, o Estado se tornou uma Monarquia, esse era um ofício um

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tanto quanto arriscado e perigoso, fazendo com que os profetas, algumas vezes, fossem penalizados com o exílio, a prisão ou a morte, por ousarem criticar um soberano monarca. Apesar de tudo isso, eles eram poderosos; representavam, de forma bastante real, a consciência do povo que, muitas vezes, era uma consciência de culpa. Eles levavam as coisas, os sacerdotes e as pessoas a responder de forma inclemente por seus erros e, ao agirem assim, conseguiram preservar a memória e as antigas tradições da história e da veneração que, de outra forma, poderiam ter desaparecido. Eles mantinham a sua reverência e admiração, e freqüentemente eram temidos, tal como podemos perceber por meio da pergunta formulada a Samuel ao chegar à casa de Jessé para ungir Davi. A primeira coisa que lhe ocorreu ao ver o profeta aproximar-se foi perguntar-lhe: "Viestes em paz?". Eles eram astutos políticos e observadores desapaixonados; enxergavam os sinais de seus tempos, e quando a decadência do povo e de seus governantes, inevitavelmente, trouxe as calamidades por eles previstas, o seu prestígio, por isso, foi ainda mais pronunciado. A tríplice conjunção das revelações leigas, sacerdotais e proféticas refletidas no Arco Real é um testemunho da importância que eles tinham.Na verdade, Judá era tão pequena e tão fisicamente insignificante no contexto histórico daquela época, algo que tendemos a esquecer em função da importância da Bíblia em nossa civilização, e os seus governantes tão afeitos ao luxo e ao conforto, sem mencionar a conspiração,

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que os profetas não podiam perder. Mas é importante perceber a influência estabilizante que eles tinham, e os efeitos das constantes repetições das antigas crenças que eles faziam como lembretes aos judeus sobre as tradições de sua raça e de sua especial condição de "povo escolhido", mesmo nos tempos difíceis e adversos. Por saberem que um profeta havia previsto o fim do cativeiro na Babilônia e prometido o seu retorno a Jerusalém, os judeus na Babilônia se consideravam exilados, simples e temporários passantes, e que, apesar do poder de seus algozes e dos constantes esforços em persuadi-los a abandonar a sua religião, eles continuavam ansiando por seu retorno ao lar, com a plena convicção de que isso aconteceria em breve. Assim, quando a Babilônia caiu, ao se aproximar a época prevista para o fim do exílio, eles ficaram extremamente ansiosos e animados; e ao descobrirem que Ciro tinha a intenção de reverter as políticas de despovoamento de seus predecessores, os judeus viram uma oportunidade que se apressaram a aproveitar.Também é oportuno aqui fazer uma descrição da Babilônia na época de Nabucodonosor — o Grande, por ela ser o centro da região na qual viveram as tribos de Judá e Benjamin por cerca de sessenta anos, sendo que o seu luxo, força e esplendor devem, certamente, ter causado forte impressão sobre eles. Era uma cidade altamente civilizada, bem assentada e dotada de uma inimaginável riqueza. Seus muros eram grandiosos e, segundo alguns, com mais de 60 quilômetros de extensão,

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embora muitos arqueólogos ponham isso em dúvida. Eles estavam cercados por uma vala repleta de água corrente. O historiador grego Heródoto relata que os muros tinham cerca de 250 cúbitos de altura e 50 cúbitos de largura; como um cúbito corresponde a 45 centímetros, ou 17,5 polegadas, concluímos que, se ele não estiver exagerando (ele era bem propenso a exageros), os muros tinham, aproximadamente, 90m (ou 300 pés) de altura, e mais de 21m (70 pés) de largura. Mary Reynaud, em seu livro "The Nature of Alexander", descreve-os com 120 metros (300 pés) de altura, e uma largura de 54 metros (180 pés). Certamente aqueles muros eram sólidos e maciços, tanto que o seu topo era suficientemente largo para que uma carruagem puxada por quatro cavalos ali fizesse suas manobras.Grande parte da cidade que mantinha os judeus em cativeiro fora reconstruída por Nabucodonosor. Ali havia belas ruas e algumas casas com três e quatro andares. Nas margens do rio Eufrates, havia pontes que o atravessavam. A rua principal, o caminho das grandes procissões, era dedicada ao principal deus dos caldeus, Marduk ou Bel, e conduzia ao seu grande templo onde a maior parte dos tesouros e utensílios sagrados do Templo de Jerusalém estava guardada. Conforme a história relatada na Bíblia, no livro de Daniel, foi o uso de alguns desses cálices em uma festa dada por um rei caldeu, Belsázar, que deu origem ao episódio em que se deu a frase "a escrita no reboco da parede".

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Assim era a maior cidade do império que Ciro, o persa, conquistou, sem mesmo sitiá-la, em 539 a.C. Parece que muitos dos judeus ali moravam, e alguns, como Daniel, ocupavam altos cargos; é relatado que, sob os persas, Zorobabel era um oficial da guarda pessoal do rei e que, mais tarde, Neemias foi copeiro do rei. Ocasionalmente, eles estavam sujeitos a perseguições religiosas que deram origem a histórias tais como aquela de Daniel na toca dos leões; e mesmo após o retorno a Jerusalém do primeiro grupo de judeus, o Livro de Esther relata que Haman conseguiu convencer o rei a promulgar um edital autorizando, para determinada data, o massacre de todos os judeus do Império, o que foi impedido somente pela corajosa intervenção da rainha Esther, ela própria uma judia. Haman acabou pendurado na mesma forca que havia construído para a execução do pai de Esther, assim dando origem ao termo popular "pendurado tão alto quanto Haman".Os persas, embora pudessem ser cruéis, eram, em geral, bem menos cruéis e severos contra aqueles que mantinham em cativeiro que os assírios, e eram tolerantes nas questões afeitas às diferenças religiosas. Ciro e os seus sucessores eram sempre compelidos por considerações políticas, tinham de conviver com as religiões dos povos subjugados e, habilmente, faziam uso dessa necessidade para ajudar a manter unido o seu império e fortalecer os seus postos avançados.Os judeus viram a realização da profecia que antevira a queda da Babilônia e, embora não tenha sido destruída como cidade, o domínio

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caldeu havia acabado, e pareciam ter se colocado, pragmaticamente, a favor do novo regime, conseguindo sua permissão para retornarem e reconstruir o seu Templo. Sob o ponto de vista de Ciro, não havia motivo para mantê-los em inquieta e agitada permanência na Babilônia, onde poderiam representar uma ameaça à sua paz, enquanto que, se fossem despachados para Jeru-salém, haveriam de defender as fronteiras orientais de seu novo império da sempre presente e atenta inveja e ciúme do Egito. Cerca de um ano depois da captura da Babilônia, ele lhes deu permissão para que partissem. O primeiro grupo deve ter saído por volta de 538 a.C., quase sessenta anos depois da captura de Jerusalém, e cinqüenta anos depois da destruição final do Templo de Salomão.Eu apresentei todas essas passagens em rápidas e grossas pinceladas; mas agora, chegamos ao ponto em que os detalhes devem ser mais desta-cados, e eu enfatizo que quase todas as datas e números mencionados são discutíveis, particularmente as que se referem a Neemias; mas não tenho a intenção de entediá-los com as discussões dos especialistas nessas questões; assim sendo, farei uma abordagem um tanto quanto empírica, esforçando-me em apresentar aquilo que parece ser a média das probabilidades.Ao escrever quase oitenta anos mais tarde, Esdras informa que cerca de 50 mil pessoas compunham o primeiro grupo que retornou a Jerusalém, com 736 cavalos, 245 mulas, 435 camelos e 6.720 asnos — uma belíssima caravana. Ao final de seu

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retorno (e Esdras informa que o último grupo, que muito se apressava, levou quatro meses para percorrer a mesma distância) os seus problemas estavam longe de acabar. Eles estavam a mais de 800 quilômetros da Babilônia, e o mandado, o decreto imperial que autorizava o seu retorno e a reconstrução do templo, embora garantido por Ciro, não foi bem recebido pelos governantes locais que estavam sempre em um permanente e traumático estado de nervos em decorrência da derrota sofrida por aquele que parecia ser um império invencível, e estavam muito cuidadosos para não serem, eles mesmos, pegos no contrapé. A reconstrução do Templo e dos muros da cidade, com todas as implicações do nacionalismo e do orgulho dos judeus, tornou-se alvo de grande preocupação para eles e bem contrário não apenas à política vigente, mas também aos interesses locais. Assim, era natural que eles forçassem a paralisação do trabalho, recomendando sua volta à Babilônia.O mandado de Ciro havia sido outorgado a Sassabasar que era, provavelmente, o filho de Jeoaquim, rei de Judá, e tio de Zorobabel; sabemos muito pouco sobre ele, e ele não teve papel de maior relevância nas histórias relatadas nas Escrituras; presumivelmente, morreu antes mesmo que os trabalhos pudessem ser iniciados. Porém, Josué e Zorobabel imediatamente montaram o altar e iniciaram as observancias religiosas prescritas. Eles e, possivelmente, Sassabasar (veja Esdras 5.16) assentaram as fundações do próprio Templo, em meio a grande regozijo. Essa foi a

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deixa para a oposição local e, assim, o trabalho teve de ser interrompido até que um regulamento vindo da Babilônia pudesse ser obtido. Cambises (e não Artaxerxes, como relata o Livro de Esdras) era quem ocupava então o trono, e a sua resposta mandava que a construção deveria ser interrompida em função da antiga reputação que os judeus tinham de ser um povo rebelde e sedicioso. Porém, Ageu, o profeta, e Zacarias (esse último não é mencionado em nosso ritual) persuadiram Zorobabel e Josué a darem prosseguimento ao trabalho e, ao serem desafiados pelo governador local, eles menciona-ram o decreto de Ciro. Nessa época, é relatado que o Templo "está sendo reconstruído com pedras enormes, e o madeiramento está colocado sobre as paredes, e o trabalho está sendo executado com cuidado e progride nas suas mãos".16 Uma busca nos arquivos reais foi ordenada, e o decreto original foi encontrado. Por ele, Dario, agora rei, sancionou a continuação dos trabalhos de reconstrução. A seguir, transcrevo a tradução do decreto, tal como consta da Bíblia: "os seus fundamentos devem ser restaurados; a sua altura será de 60 côvados; terá três ordens de pedra talhada e uma de madeira".17 Além disso, ele ordenou que fossem devolvidos a Jerusalém todos os utensílios tomados do Templo por Nabucodonosor, e que toda a assistência necessária fosse dada para a conclusão da

16 Esdras 5;8.17 Esdras 6;3 e 4.

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construção. Desta vez não houve questionamentos e a obra foi concluída no sexto ano de seu reinado, por volta de 516 a.C., ou seja, aproximadamente 20 anos depois de ter sido iniciada. Como veremos, todas essas idas e vindas tomaram grande tempo.Você bem pode perguntar: onde entram Esdras e Neemias em tudo isso? A resposta é um tanto quanto surpreendente àquele que mergulhe em nosso ritual sem ter muito conhecimento sobre a História daquele período, uma vez que nenhum dos dois aparece mais durante os 20 anos seguintes. Esdras foi enviado para Jerusalém, provavelmente em 458 a.C., por Artaxerxes, que reinou entre 464 a.C. e 423 a.C. A sua missão era "fazer uma inspeção em Judá e Jerusalém, e ver como está sendo observada a lei do Senhor teu Deus, que tens nas tuas mãos".18 Ele era versado naquela lei, um leal defensor dos usos, costumes e leis da religião judaica, e descendente de um sumo sacerdote e, segundo consta, impedido de retornar antes a Jerusalém em função de seus estudos. Ele pode ter sido motivado pela ansiedade de retornar — o que era um formidável traço do caráter judaico — mas é mais provável que também estivesse alarmado com os rumores de que as coisas não estavam indo bem por aqueles lados, que a adoração no Templo já começava a ser negligenciada, e que costumes estranhos estavam sendo permitidos, corrompendo a pureza da lei e do sangue judeu. Ele estava armado de um

18 Esdras 7;14

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decreto imperial e não levou muito tempo para convencer o povo dos erros que praticava e restabelecer uma estrita observância da lei, tanto pelo povo como pelos sacerdotes. O entusiasmo observado no início do retorno parece não ter sido duradouro, assim como também não foram as suas próprias reformas.Mais tarde, talvez já por volta de 444 a.C., Neemias, que também viera da corte de Artaxerxes, ficou comovido pelo desgosto de tomar conhecimento dos problemas em Jerusalém, onde os muros tinham sido novamente derrubados e os seus portões, incendiados. Ele conseguiu uma carta do rei, que estava em seu palácio em Susa, cerca de 380 quilômetrosa leste da Babilonia, autorizando-o a ir para Jerusalém e fazer os reparos necessários. Ao chegar, ele tomou as providências para a rápida reconstrução dos muros feita por homens com a trolha na mão e a espada ao lado — uma necessidade que enfatiza o estado de instabilidade reinante no lugar.19

Vamos agora ver a nossa lenda sobre os forasteiros (ou sobrestantes), que parece somente poder ser encontrada na tradição maçónica. Devemos lembrar que o Arco Real, como um grau, parece ter sido inventado no século XVIII; certamente, ele tem um embasamento bíblico, embora a sua lenda, como já vimos, não tenha precisão em todos os seus aspectos históricos, mesmo em termos bíblicos. Não podemos dizer se ele se baseou em uma lenda antiga ou não, se

19 Neemias 4; 16-18.

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bem que nenhuma lenda tenha sido encontrada com embasamento satisfatório em todos os seus aspectos. No entanto, sabemos que existiram insistentes rumores de que os tesouros sagrados não se perderam por ocasião da destruição do Templo por Nabucodonosor. No segundo livro Apócrifo de Macabeus, escrito pelo menos 300 anos depois do primeiro retorno do cativeiro, e muitos anos depois que Alexandre, o Grande, derrotou o Império Persa, é dito que quando a destruição de Jerusalém pelos assírios era iminente, o profeta Jeremias tomou o Tabernáculo, a Arca da Aliança e o Altar dos Incensos do Templo e (passo a citar o texto bíblico) "chegou à montanha que Moisés subiu para contemplar a herança de Deus. Chegando ao monte, Jeremias descobriu uma ampla gruta, na qual mandou depositar a Arca, o Tabernáculo e o Altar dos Incensos, tapando, a seguir, a entrada. Alguns daqueles que o haviam acompanhado, voltaram para marcar o caminho com sinais, mas não conseguiram. Quando Jeremias soube, repreendeu-os, dizendo-lhes: 'Este lugar ficará desconhecido, até que Deus reúna o seu povo, e receba-os em misericórdia'".20

Esta é uma das lendas. Uma outra, também encontrada em Macabeus, refere-se ao Fogo Sagrado no Altar.21 Segundo o relato, os sacerdotes tiraram o Fogo Sagrado do Altar e esconderam-no "no fundo de um poço seco, onde

20 Macabeus II 2; 4-7.21 Macabeus II 1; 19-22.

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deixaram tão oculto que ninguém sabia onde ele estava". Também está relatado que Neemias enviou descendentes dos sacerdotes para recu-perar o Fogo Sagrado; eles encontraram o poço cheio de água, a qual ele lhes ordenou espirrar sobre os sacrifícios no altar, e quando o Sol brilhou sobre ele (e aqui volto a transcrever o texto bíblico) "acendeu-se um grande fogo que maravilhou todos os espectadores".Eis, pois, duas lendas: uma sobre a ocultação da Arca, do Tabernáculo e do Altar em uma caverna, e a outra, em uma cripta escondida. A lenda dos Forasteiros, certamente, refere-se a tempos mais antigos, quando o rei Salomão construiu o Primeiro Templo; e aqueles que já são maçons crípticos e conhecedores da tradição maçónica a respeito de como os segredos chegaram onde foram encontrados, haverão de reconhecer certas semelhanças entre essas lendas apócrifas — a existência de alguns repositórios ocultos e o sepultamento de tesouros sagrados. Não somos os únicos a ter uma tradição de que medidas e ações foram tomadas para preservar os tesouros do primeiro Templo.A nossa tradição difere sobre onde foram depositados e descobertos, e, francamente, eu prefiro a versão que nós temos, não por ela ser merecedora de maior crédito histórico, mas por ser uma narrativa mais coerente, natural e significativa. Embora o Arco Real seja, bem provavelmente, um Grau inventado, a invenção em tais assuntos é, normalmente, decorrente da necessidade e da especulação. O terceiro Grau, tal

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como o conhecemos, oferece uma narrativa incompleta, impressionante em sua apresentação, mas insatisfatória em seu conteúdo, uma vez que ela propõe mais perguntas do que respostas. Era necessário mais do que isso; ali estavam os indí-cios e assim nasceu o Grau. Embora seja difícil desentranhar ou separar o que é fato do que é ficção, tudo isso representa uma importante lição a ser ensinada e aprendida.Pense nisso. Os forasteiros (ou sobrestantes) vieram da Babilônia, uma cidade grandiosa e gloriosa. Eles chegaram a Jerusalém, a cidade da lenda, um lugar sobre o qual os seus pais contavam-lhes histórias de maravilha e assombro; mas tudo o que encontraram ali foi desolação, ruínas desertas e abandonadas, montes de escombros, uma viva lembrança da desobediência a Deus que os conduziu a seu exílio em uma terra estranha. E de se admirar que eles tivessem se contentado em ser empregados em uma tarefa tão servil.Assim, eles se aplicaram, diligentemente, no trabalho de limpar o entulho, até que um dia se depararam com uma adorável escultura; fizeram uma pausa e, em seguida, com o maior cuidado, continuaram descobrindo primeiro uma e depois outra coluna de "grande beleza e simetria", com uma passagem entre elas. A partir daí, ordenaram o seu trabalho de forma a seguir o caminho que encontraram e que os levou por entre outras colu-nas mais, até que, finalmente, eles se defrontaram com o local do Santo dos Santos (Sanctum Sanctorum); e, então, nada. Apenas pedra.

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Bastante frustrado e desapontado, um deles golpeou o chão com sua alavanca e ouviu um som de solo oco. Ao examinarem com mais atenção, perceberam que estavam sobre uma pedra trabalhada. A cripta foi aberta e os tesouros foram ali encontrados.Aqui temos um exemplo do constante contraste entre a Maçonaria Simbólica e o Arco Real — o contraste entre o efêmero e o eterno. Quando o solo foi aberto pelos leais Companheiros na lenda da Maçonaria Simbólica, eles encontraram um cadáver; quando os forasteiros abriram a cripta, encontraram um altar dedicado a Deus e ao Nome Inefável. Procure no ritual e encontrará muitos outros contrastes como esse, todos realçando a maneira como o Arco Real enfoca o ensinamento da Maçonaria Simbólica no contexto da eternidade. Eis por que o Capítulo é importante e, de fato, necessário — a Maçonaria Simbólica por si só, não é suficiente. O Arco Real está para a Maçonaria Simbólica, assim como Jerusalém está para a Babilônia.Após o reinado de Salomão, os poderes da terra oprimiram os judeus. Dez das 12 tribos desapareceram; as outras duas foram cercadas e encurraladas pelos inimigos e, no final, perderam todos os seus bens e posses terrenas, até mesmo seus lares e o seu Templo. Porém, esse não foi o fim da história. As forças e poderes terrenos, o desapontamento e a frustração, nunca são o fim. Essa é uma lição que as menções históricas que esbocei para vocês nos ensinam. O Templo foi destruído, mas a cripta com os seus segredos

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sobreviveram. O Arco Real, por meio de sua lenda, conclama-nos a direcionar a nossa fé para aquilo que é Eterno, em conformidade com os ensinamentos que cada um de nós tem de sua religião. Certamente, nós temos também de nos preocupar com as nossas obrigações e deveres aqui na Terra, tal como ensinamos e aprendemos na Maçonaria Simbólica. Há alguns anos, o Mui Venerável Irmão Baillieu disse durante um discurso proferido na Austrália: "Estou convencido de que a Maçonaria exige de nós um papel positivo e não passivo. Para sermos dignos de nossos princípios, devemos fazer algo ao longo do exíguo período que nos é dado para melhorarmos a sociedade na qual vivemos; não nos podemos acomodar em nossos lugares e deixar essa tarefa para os outros".22 Estas palavras enfatizam que cada um de nós tem a sua parte a desempenhar para assegurar que a nossa fraternidade desenvolva-se e progrida para o benefício da humanidade em geral e para a Franco-Maçonaria em particular. Mas o Arco Real ensina que, tal como a grandeza e o esplendor, os perigos, as lutas e os conflitos desse mundo, que por ora nos parecem tão importantes, crescem sem sentido ao longo do tempo e passam, como também passaram a glória e o esplendor do Templo de Salomão e o cativeiro de seu povo; igualmente, o desapontamento e a frustração vão desaparecendo ao percebermos

22 Discurso proferido em março de 1979 à Grande Loja de New South Wales, reproduzido em Atas da Reunião Trienal, Grande Loja Unida da Inglaterra, 25 de abril 1979, Apêndice "B". O trecho citado encontra-se na página 417.

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que há um significado para a vida por sermos as criaturas de um Criador que tem o Seu propósito para cada um de nós e a quem temos o penhorado dever de reverenciar em conformidade com os ensinamentos da religião, independentemente de qual seja o culto e a fé religiosa de cada indivíduo. Em última análise, a lenda da Maçonaria Simbólica é uma lenda de fracasso e perda, uma história sobre a vitória da moralidade. O Arco Real transforma aquela lenda e o ensinamento que ela encerra, colocando-os em um contexto de eternidade e, assim, emprestando-lhes uma perspectiva e um significado sob o contexto da religião. Esta é a grande lição e a razão para o considerarmos um complemento de nosso sistema. A Babilônia é agora apenas um monte de entulho e destroços, mas Jerusalém sobreviveu.

Palavras FinaisOs documentos que compuseram este livro vieram todos de discursos, e eu tentei não mudar o seu formato. Assim sendo, eles podem ser adequados para serem transmitidos no Capítulo, sob a forma de Trabalhos ou Preleções e, caso algum Companheiro queira usar qualquer um deles nessa forma, ele tem a minha plena permissão de fazê-lo, desde que, é lógico (não por razões de vaidade ou orgulho, mas de direitos autorais), acusem, desde o início, a sua fonte bibliográfica. Caso eles sejam julgados úteis sob essa forma, o esforço de

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prepará-los para publicação será amplamente recompensado; e, como todos os direitos oriundos de vendas são destinados ao Fundo de Benevolência para a Província de Northamptonshire e Huntingdonshire, será muita gentileza, quando algum deles for usado por um Capítulo, que seja feita uma adequada contribuição àquele Fundo.

Richard S. E. Sandbach, 1990.

Apêndice A"O que é a Franco-Maçonaria"

Folheto publicado pela Grande Loja Unida da Inglaterra

A Franco-Maçonaria é uma das mais antigas fraternidades seculares. Este folheto tem a finalidade de explicar a Franco-Maçonaria tal como ela é praticada sob os auspícios da Grande Loja Unida da Inglaterra, que administra as Lojas de franco-maçons na Inglaterra e no País de Gales, e em muitos outros lugares de além-mar. As explicações seguintes podem vir a corrigir alguns mal-entendidos.A Franco-Maçonaria é uma sociedade que reúne homens preocupados com os valores morais e espirituais. Os seus membros aprendem os seus preceitos por meio de uma série de exposições ritualísticas, e que seguem as antigas formas, usando os costumes e as ferramentas dos

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pedreiros ou artífices da pedra como guias alegóricos.

A Qualificação Essencial para AdmissãoA qualificação essencial para admissão e para a continuidade como membro é a crença em um Ser Supremo.A admissão à Ordem é aberta a homens de qualquer raça ou credo, que possam preencher essa qualificação essencial e que gozem de boa reputação.

A Franco-Maçonaria e a ReligiãoA Franco-Maçonaria não é uma religião, nem é uma substituta da religião. A sua qualificação essencial a abre a homens de variadas religiões e espera que seus membros continuem seguindo e observando a sua própria fé. A Franco-Maçonaria não permite que a religião seja discutida em suas sessões.

Os Três Grandes PrincípiosAo longo dos muitos anos, os franco-maçons têm seguido três grandes princípios:Amor FraternalTodo verdadeiro franco-maçom mostrará tolerância e respeito pela opinião dos outros, e se comportará com bondade e compreensão em relação ao seu semelhante.

AjudaOs franco-maçons são ensinados a praticar a caridade, e a cuidar não apenas de si próprios,

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mas também da coletividade como um todo, seja pela doação caridosa, seja pelos esforços voluntários e trabalhos individuais.

VerdadeOs franco-maçons lutam pela Verdade, exigindo altos padrões de moral e procurando encontrá-los em suas próprias vidas.Os franco-maçons acreditam que esses princípios representam um meio de alcançar os mais altos padrões e valores na vida.

CaridadeDesde os seus primórdios, a Franco-Maçonaria tem se preocupado com o cuidado prestado aos órfãos, aos enfermos e aos idosos. Esse trabalho continua nos dias de hoje. Além disso, importantes quantias são doadas à caridade nacional e local.

A Franco-Maçonaria e a SociedadeA Franco-Maçonaria exige de seus membros o respeito pelas leis do país no qual a pessoa trabalha e mora.Os seus princípios, de forma nenhuma, conflitam com as obrigações e deveres de seus membros como cidadãos; pelo contrário, eles os concitam a cumprir as suas responsabilidades públicas e privadas.A utilização por um franco-maçom de sua pertinência à Ordem para promover ou favorecer os seus próprios negócios e interesses, ou de outrem, é condenável e é contrária às condições

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pelas quais a sua admissão à Franco-Maçonaria foi aceita.O seu dever como cidadão deve sempre prevalecer sobre quaisquer outras obrigações a outros franco-maçons, e toda tentativa de proteger ou encobrir um franco-maçom que tenha agido de forma desonrada ou desleal é contrária ao seu dever primordial.

Segredo e SigiloOs segredos da Franco-Maçonaria referem-se aos seus antigos e tradicionais meios e modos de reconhecimento. Não se trata de uma sociedade secreta, uma vez que todos os seus membros são livres para reconhecer a sua associação e assim o farão em função de investigação de respeitabilidade. As suas constituições, regras e regulamentos são disponíveis ao público. Não há nenhum segredo ou sigilo quanto aos seus objetivos e princípios. Tal como muitas outras sociedades, ela encara alguns de seus assuntos internos como matéria privativa a seus membros.

Franco-Maçonaria e PolíticaA Franco-Maçonaria é não-política, e a discussão de política nas sessões maçônicas é proibida.

Outros Corpos MaçônicosA Franco-Maçonaria é praticada sob os auspícios de muitas Grandes Lojas com padrões similares àqueles estabelecidos pela Grande Loja Unida da Inglaterra.

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Existem algumas Grandes Lojas e outros Corpos aparentemente maçónicos que não atendem a esses padrões, como, por exemplo, aqueles que não exigem uma crença em um Ser Supremo, ou que permitem ou incentivam os seus integrantes a, como tal, participar em assuntos políticos. Essas Grandes Lojas e Corpos não são reconhecidos pela Grande Loja Unida da Inglaterra como entidades maçonicamente regulares, e o contato com os seus integrantes é proibido.

ConclusãoUm franco-maçom é incentivado a cumprir os seus deveres e obrigações primeiramente ao seu Deus (qualquer que seja o nome pelo qual Ele seja conhecido) por meio de sua fé e prática religiosa; depois, sem nenhum detrimento, à sua família e àqueles que dele dependem, e ao seu próximo, praticando a caridade e o serviço.Nenhum desses conceitos são de exclusividade maçônica, e todos eles deveriam ser universalmente aceitáveis. Espera-se que todos os franco-maçons sigam-nos e cumpram-nos.

Apêndice BTrecho de Franco-Maçonaria e

Cristianismo (1987)Parágrafo 112: Essas questões devem ser consideradas sob o contexto do interesse contemporâneo e em experimentação com práticas inter-religiosas. Somente no ano passado,

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o próprio bispo de Roma23 esteve em Assis, orando pela paz entre budistas, siks, judeus e homens da Medicina das tribos indígenas norte-americanas. Enquanto ouvia atentamente as suas orações, estava ele se unindo a elas, ou discretamente se dissociando de tudo aquilo que estava acontecendo? Será que tudo, em que o próprio arcebispo de Canterbury foi elevado, não passou de uma exibição de destreza espiritual oportuna ou hipocrisia eclesiástica?

Apêndice C"O Relacionamento entre a Franco-

Maçonaria e a Religião"Adotado pela Grande Loja Unida em 1 2 de

setembro de 1 9 6 2 , e afirmada em 9 de dezembro de 1981

A Comissão de Assuntos Gerais prestou sua mais elevada consideração a esse assunto, convencida de ser ele de fundamental importância à reputa-ção e ao bem-estar da Franco-Maçonaria inglesa, e para que pão haja mal-entendidos dentro ou fora da Maçonaria.Nunca é demais insistir com bastante energia que a Maçonaria não é uma religião, nem um substitutivo à religião. A Maçonaria procura incul-car em seus membros um padrão de conduta e de comportamento que ela acredita ser aceitável a todos os credos; mas, de forma aplicada, evita qualquer intervenção no terreno do dogma ou da 23 Ou seja, Sua Santidade, o Papa.

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Teologia. Portanto, a Maçonaria não é concorrente da religião, embora na esfera da conduta humana deva-se esperar que os seus ensinamentos sejam complementares aos da religião. Por outro lado, o requisito básico para que todo membro da Ordem acredite em um Ser Supremo, e a ênfase especial quanto ao dever e obrigação que deve ter para com Ele, deveria ser uma evidência suficiente para todos, exceto para aqueles intencionalmente preconceituosos, de que a Maçonaria é uma preservadora e mantenedora da religião, uma vez que ela exige do homem que tenha, antes de ser admitido como maçom, alguma religião, e espera-se que ele, depois de admitido, continue praticando-a."

Apêndice D"A Franco-Maçonaria e a Religião"

Folheto publicado pela Grande Loja Unida da Inglaterra

IntroduçãoEsse folheto tem o propósito de tratar de um assunto mencionado no folheto "O que é a Franco-Maçonaria". Ele explica a visão da Grande Loja Unida da Inglaterra sobre o relacionamento entre a Franco-Maçonaria e a religião.

Afirmação BásicaA Franco-Maçonaria não é uma religião, nem é um substitutivo da religião. Ela exige aos seus membros uma crença em um Ser Supremo, mas

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não proporciona ou oferece nenhum sistema ou fé próprios.A Franco-Maçonaria é aberta a homens de todas as religiões. É proibida em suas sessões a discussão sobre religião.

O Ser SupremoOs nomes usados para o Ser Supremo possibilitam aos homens de diferentes religiões unirem-se em prece (a Deus, como cada um O vê) sem o emprego de termos nas preces que possam causar algum desconforto entre eles.Não existe um Deus maçônico em separado; o Deus de um franco-maçom continua sendo o Deus da religião por ele praticada.Os franco-maçons têm em comum o respeito pelo Ser Supremo, tal como Ele continua Supremo em suas religiões individuais; e não cabe à Franco-Maçonaria tentar reunir todas as religiões em uma só. Assim, não existe nenhum Deus maçónico composto.

O Livro da Lei SagradaA Bíblia Sagrada, a qual os franco-maçons denominam "Livro da Lei Sagrada", está sempre aberta em qualquer sessão maçônica.

Os Juramentos da Franco-MaçonariaOs juramentos firmados pelos franco-maçons são prestados sobre o Livro da Lei Sagrada, ou envolvem o Livro da Lei Sagrada, ou o Livro é erguido sagradamente por aqueles envolvidos no juramento. Tais juramentos são prestados para

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ajudar a manter em segredo os meios e modos de reconhecimento entre franco-maçons, e a seguir os princípios da Franco-Maçonaria.As penalidades físicas são puramente simbólicas. O compromisso de observar e cumprir os princípios da Franco-Maçonaria são, no entanto, muito profundos.

A Franco-Maçonaria comparada à ReligiãoA Franco-Maçonaria está longe de ser ou estar indiferente à religião. Sem interferir na prática religiosa, ela espera que todo maçom siga e pratique a sua própria religião, e que coloque acima de todas as demais obrigações e deveres, a sua devoção a Deus, qualquer que seja o nome pelo qual Ele seja conhecido. Os seus ensinamentos morais são aceitáveis para todas as religiões.