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    Rara Verenich Martins & Lauro Maia Amorim

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    RESUMO /ABSTRACT

    LEGENDAGEM E DUBLAGEM:DIFERENAS NA TRADUO DO HUMORResumo:Neste trabalho, abordaremos os conceitos tericos da traduo, assim como as

    dificuldades tradutrias, as barreiras lingusticas com as quais o tradutor deve sabercomo lidar, o papel do tradutor enquanto sujeito consciente de seu trabalho, criador denovos textos e produtor de significados. Realizaremos uma reflexo voltada para a

    prtica tradutria para fins audiovisuais, ou seja, a traduo para a legendagem edublagem. Procuraremos mostrar os processos tradutrios de ambas as modalidades etambm a questo da traduo do humor em cada uma delas, uma vez que o tradutordeve usar sua habilidade tradutria, conhecimentos cultural e lingustico e muitacriatividade, no s para driblar as regras impostas pelo mercado de traduoaudiovisual, como principalmente, para ser capaz de criar uma nova linguagem paracada personagem apresentada no material original, de maneira que a traduo em lngua

    portuguesa possa conter traos de humor caractersticos da cultura brasileira. Nosso

    principal objetivo uma tentativa de explicar os porqus de tantos questionamentos dopblico que no conhece as regras existentes no mercado de traduo para legendageme dublagem e por vezes criticam o trabalho do tradutor no caso de eles perceberemalguma perda de informao ou ainda uma traduo muito mal feita.

    Apresentaremos teorias e argumentos que comprovam que nenhuma traduo malfeita, mas sim passa por recriaes e modificaes sempre que necessrio. Por meio dasexplicaes desse processo tradutrio, de citaes de tradutores que trabalham nessarea contando suas experincias e exemplos de tradues extrados do seriado

    Everybody hates Chris (Todo mundo odeia o Chris), esperamos refletir e esclarecer taisdvidas.Palavras-chave: Tradutor como produtor de significados; Legendagem; Dublagem;

    Traduo do humor; Mercado de traduo audiovisual.

    Abstract: This work aims on an approach concerning on Translation Theories, as well

    as the translational difficulties, the linguistic barriers with which the translator must

    know how to deal, the role of the translator as a conscious subject of his work while

    creating new texts and producing meanings. We will develop a discussion focused on

    the audiovisual translation practice which means the translation for subtitles and

    dubbings. It will be shown the translation process on both modalities and also the issue

    about the translation of humor in each of them, as the translator must use his

    translational skill, cultural and linguistic knowledge and creativity, not only to

    circumvent the rules imposed by the audiovisual translation market, but also to be able

    to create a new language for each character presented in the original material, so thatthe translation in Portuguese language may contain proper traces of humor from the

    Brazilian culture. Our main goal is an attempt to explain the reason for so many

    questions from the public who does not know the rules in the market for subtitling and

    dubbing translation and sometimes criticize the work of the translator if they realize any

    loss of information or a translation very poorly done. Theories and arguments which

    prove that no translation is done badly, but it goes through recreations and

    modifications whenever it is necessary will be presented. By the explanation of this

    translation process, citation of translators who work in this area telling about their

    experiences and selected examples of translations from the Everybody hates Chris

    sitcom, we hope to reflect and clarify such doubts.

    Keywords: Translator as a producer of meanings; Subtitling; Dubbing; Translation of

    humor; Audiovisual translation market.

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    LEGENDAGEM E DUBLAGEM:DIFERENAS NA TRADUO DO HUMOR

    Rara Verenich Martins

    UNESP de So Jos do Rio [email protected]

    Lauro Maia Amorim

    UNESP de So Jos do Rio Preto

    Nossa proposta neste trabalho, consiste em analisar e comparar a legendagem ea dublagem da srie norte-americana Todo mundo odeia o Chris (Everybody HatesChris), com o objetivo de se avaliar as diferenas entre os dois procedimentos no quediz respeito difuso da srie no Brasil, destacando os diferentes impactos que alegendagem e a dublagem podem exercer na reconstruo do teor humorstico da srie,uma vez que as duas modalidades possuem especificidades prprias e afetam, at certo

    ponto, e dentro de certos limites, o contedo do roteiro quando de sua traduo para alngua portuguesa. Investigar quais as diferenas entre os dois procedimentos naveiculao da referida srie, e de que modo as solues propostas pelos tradutores

    podem ser mais ou menos eficazes na reconstruo do efeito humorstico a depender domeio adotado (legendagem ou dublagem).

    Alm de nossa curiosidade pelo trabalho do tradutor para essa rea de atuao,chamou-nos a ateno o fato de ainda hoje haver pouqussimos trabalhos e pesquisasfeitos no Brasil sobre esse tema. A maioria dos materiais sobre esse assunto e as

    pesquisas que so realizadas para a melhor compreenso desse processo e dacapacitao desses profissionais realizado no exterior. Por isso, nossa inteno em

    desenvolver essa pesquisa, a de ajudar os futuros formandos e futuros profissionais,que queiram atuar nessa rea, a conhecerem e compreenderem o que de fato acontece.Acrescentamos que tambm deva ser importante para aqueles que no esto no

    meio acadmico e no tm acesso a essas informaes, de maneira que, ao invs decriticarem as legendas ao assistirem a um filme, possam respeitar e valorizar o trabalhodo tradutor, quebrando-se o mito de que quem traduz para legenda no sabe traduzir,traduz muito mal.

    Ao longo dos anos em que se vm estudando a Teoria da Traduo, nosdeparamos com teorias tradicionalistas e outras ps-modernas. Enquanto astradicionalistas procuram exercer o trabalho da traduo como algo que se deve manteresttico e preferencialmente fazendo uma traduo literal, ou seja, palavra por palavra,

    por acreditarem que s assim podem ser fiis ao texto original, as teorias ps-modernas buscam se livrar desse peso e tendem a um trabalho no qual o que se leva emconsiderao a cultura do pblico alvo, o conhecimento de mundo do tradutor e de queforma esse conhecimento e essa cultura vo interferir no s na sua interpretao dotexto, como na sua seleo vocabular e lingustica para a traduo daquele texto,fazendo no apenas um transporte de significados de uma lngua para outra, mas criandoum novo texto. Nessa concepo, temos a traduo como um processo de recriao e detransformao do original.

    Arrojo (1986, p.13), em seu livro intitulado Oficina de Traduo, comenta queenquanto Catford considera a traduo como a substituio do material textual de uma

    lngua pelo material textual equivalente em outra lngua, Nida a compara com as

    palavras de uma sentena em uma fileira de vages. Para este, assim como o que maisimporta no transporte da carga que ela chegue ao seu destino, independente de quais

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    so os vages que a carregam, ou em que sequncia eles esto, na traduo ofundamental que todos os componentes significativos do original alcancem umcorrespondente na lngua-alvo. Se compararmos o tradutor ao transportador da carga,

    poderemos entender que este tem como dever somente a responsabilidade em garantirque a carga chegue ao seu destino. Dessa forma, o tradutor traduz, isto , transporta a

    carga de significados, mas no deve interferir nela, no deve interpret-la. (ARROJO,1986, p.13)Em seguida, a autora explica que por mais que o autor repetisse um texto em

    sua totalidade, essa traduo jamais recuperaria completamente o original, pois seriafruto de sua interpretao do texto, que ser sempre lido e interpretado, mas nunca

    totalmente decifrado ou controlado. Por essa razo, segundo a mesma, traduzir no podeser um mero transporte, ou a transferncia de termos estveis de uma lngua para aoutra, porque o significado de uma determinada palavra ou de um texto no original, serdeterminado na lngua de chegada, provisoriamente, por meio de uma determinadaleitura. Portanto, cada traduo um novo texto, que por sua vez ter uma nova leiturae uma nova interpretao, que poder dar origem a outros textos, e assim

    sucessivamente. Nesse sentido, Arrojo (1986, p.13) considera que a traduo comoleitura deixa de ser uma atividade queprotege os significados originais de um autor, eassume a condio de produtora de significados.

    Por outro lado, h escritores e poetas que criticam a traduo de textosliterrios por considerarem que traduzir destruir, descaracterizar o original. Muitosveem a traduo de poesia como uma prtica impossvel. Outros avaliam a eventual

    possibilidade da traduo potica como sinal de inferioridade. Segundo alguns poetas eescritores, a traduo uma atividade inferior, pois falha ao capturar a alma ou oesprito do texto literrio ou potico. No entanto, como nos explica a autora, no h a

    possibilidade de uma boa traduo sem que a forma e o contedo do texto soframalteraes.

    Sob o olhar de alguns crticos da traduo, havendo qualquer mudana seja naforma ou no contedo do texto, implicaria na alterao de suas caractersticas, econsequentemente, perderia aquilo que o torna literrio.

    Contrariando a viso dos crticos da traduo que se prendem na fidelidade aotexto original, acreditando que os termos devam permanecer estveis na traduo paraoutra lngua para que esta seja considerada boa, Arrojo questiona que

    [...] mesmo que tivermos como nico objetivo o resgate das intenesoriginais de um determinado autor, o que somente podemos atingir em nossaleitura ou traduo expressar nossa visodesse autor e de suas intenes.

    (...) a traduo seria terica e praticamente impossvel se esperssemos delauma transferncia de significados estveis... (...) o que possvel e

    inevitavelmente acontece, a todo momento e em toda traduo umatransformao de uma lngua em outra, de um texto em outro.(ARROJO,1986, p. 4142)

    Quanto maior for o conhecimento cultural de um leitor, maior ser suacapacidade de leitura e interpretao, e consequentemente, maior ser a sua habilidade

    para desenvolver uma boa traduo. Cada traduo, nas palavras da autora, por menor emais simples que seja, exige que o tradutor tenha a capacidade de lidar com reasespecficas de duas lnguas e culturas diferentes. Esse confronto sempre ocorre, j que

    as variveis com as quais o tradutor ir se deparar so imprevisveis.

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    Segundo o terico Stanley Fish, citado na mesma obra da autora, fazemos partede uma comunidade interpretativa em que h um conjunto de elementos que soresponsveis numa determinada poca e numa determinada sociedade, por significadosaceitveis. Assim, o significado nunca se encontra estvel na palavra ou no texto. Ainterpretao se deve aos padres estticos, ticos e morais, das circunstncias histricas

    e da psicologia que constituem aquela comunidade sociocultural.Arrojo (1992), aponta questionamentos quanto noo do inconsciente eprope a desconstruo do sujeito cartesiano para que haja uma melhor compreenso doque ocorre no processo tradutrio, desde a leitura e interpretao do texto original, ouseja, o texto de partida; at a reconstruo do texto na lngua de chegada. Ela explicaque no projeto de desconstruo do logocentrismo, Jacques Derrida se baseia naGramatologia e nos pensamentos de Nietzche e Freud, e ento faz o seguintecomentrio:

    Ao propor a de-sedimentao, a desconstruo de todas as significaes quebrotam da significao de logos, [em] especial a significao de verdade,Derrida necessariamente atualiza e rearticula o desmascaramento da iluso deautonomia do sujeito consciente, senhor da racionalidade, implcito e

    explcito tanto na obra de Nietzche como na de Freud. (ARROJO, 1992,p.13)

    Por intermdio desse questionamento, podemos perceber que no possvelpensarmos em verdade quando sabemos que a lngua viva e est em constantes

    transformaes. Alm disso, a autonomia do sujeito consciente e senhor de sua

    racionalidade tambm outra prtica impossvel de existir, uma vez que no temosdomnio sobre os nossos pensamentos e por mais que queiramos limit-los, eles

    ultrapassam nosso desejo, por serem influenciados pela nossa prpria natureza. Ou seja,a verdade para cada sujeito vai depender da sua interpretao, da sua viso de mundo.

    No ocidente, os gestos mais significativos desse tipo de pensamento, assimcomo a relao entre o sujeito e o real so bastante questionados. Nesse sentido, a

    autora afirma que somente com a desconstruo do logos, que acredita que a verdadedas coisas esteja nas coisas-em-si, como se cada palavra tivesse um nico significado,esttico, independente do contexto, da poca e da sociedade onde ela est inserida,

    possvel aceitarmos a interferncia do tradutor durante a traduo.

    O homem ocidental, dividido entre o senso moral imposto pela sociedade e a

    fora do inconsciente, tende a cultuar o racionalismo e ilude-se com a supostaautonomia de sua conscincia, que na verdade no passa de uma derivao de

    processos inconscientes, ao mesmo tempo que acredita poder separar-se doreal, olhar o real com olhos neutros, de maneira que seu inconsciente no

    interfira em seu olhar e o leve a pensamentos contrrios ao que v, e pensa tero poder de descobrir verdades que no sejam contaminadas por ele e nem

    por seu desejo. (ARROJO,1992, p.15)

    De acordo com Nietzsche, essa busca pelo domnio da racionalidade se refleteem um engano, um disfarce, j que a racionalidade consiste em um processo totalmentehumano. Segundo o mesmo, os homens esto profundamente imersos em iluses e

    fantasias, seus olhos apenas tocam a superfcie das coisas e veem formas; suassensaes de forma alguma os leva verdade mas se contentam em receber estmulos e,

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    por assim dizer, em brincar de esconde-esconde atrs das coisas. (NIETZSCHE, p.175apud ARROJO, 1992, p.15)

    Diante desse pensamento apresentado por Nietzsche, a autora comenta que talreflexo se refere desconstruo da noo clssica de literalidade, ao qual faz parte o

    pensamento de que todo significado tenha seu valor depositado na letra e seja imutvel

    ao ser interpretado por algum.Com base na afirmao de Arrojo, devemos aceitar que todo o conhecimento etoda a cincia se originaram de um impulso inconsciente que no passa de umaconstruo lingustica, e constitui uma forma de linguagem. importante reavaliarmosas crenas nas quais depositamos nossas teorias e hipteses.

    Com o logocentrismo desconstrudo, somos capazes de observar por exemplo,que todos os conhecimentos e at mesmo a cincia foram originados por meio doimpulso inconsciente de algum sujeito, que o levou, o motivou quele determinadoconceito. Da mesma forma, uma construo lingustica ter sempre a nossainterpretao como resultado de nosso inconsciente, que nos levar a formular aquelalinguagem.

    As teorias lingusticas procuram explicar a origem e a localizao dosignificado para ento apresentar hipteses ou modelos sobre o uso ou o funcionamentoda linguagem. Embora haja diferenas de concepo e de interesse entre as teoriasadeptas do logocentrismo, elas compartilham a noo de que forado sujeito/leitor oureceptor que se encontra a origem dos significados.

    Como nos mostra Arrojo, a tradio cultural tinha grande influncia na relaosujeito e objeto e o entendimento acerca do significado:

    Cercada pela crena imposta pela tradio cultural, que acredita haver apossibilidade de uma distino intrnseca entre sujeito e objeto, a origem do

    significado necessariamente localizada no significante (no texto, namensagem, na palavra), nas intenes conscientes do emissor/autor, ounuma combinao ou alternncia dessas duas possibilidades. (ARROJO,

    1992, p. 35)

    Esse pensamento um reflexo da noo de literalidade, no qual um significadotem papel de mero subordinado letra, sendo tambm anterior a qualquer interpretaoe independente do contexto na qual esteja inserido. Na verdade, como se essa noode exaltao ao significado, que est diretamente ligado ao conceito de original,

    funcionasse como uma mensagem subliminar, que sem ser percebida por seu receptor,invade sua mente, transforma seu consciente, o fazendo agir e pensar segundo a

    ordem que lhe foi expressa. Consequentemente, se nos deixssemos levar a regrasdeterminadas pela noo do que seja o significado, que no pode ser alterado,interpretado, ganhando uma nova carga de significaes, no haveria tantas obrasliterrias e poticas conhecidas e admiradas no mundo todo, mesmo porque at osgrandes autores e poetas foram influenciados pelo que eles interpretaram das obras queleram anteriormente ao seu trabalho, assim como tambm no haveria o nosso trabalhocomo tradutores, produtores de significados.

    No entanto, ainda existe entre ns o conceito de literalidade como parteintegrante dos estudos literrios, no qual o literrio e o potico se encontram no texto,como elementos intrnsecos que os marcam e diferenciam dos textos no-literrios.

    Outra possibilidade de distino intrnseca entre sujeito e objeto se refere aoemissor/autor, que teria o domnio sobre a origem do significado, e os valores

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    significativos que lhe so atribudos. Nessa tradio logocntrica e patriarcal, temos afigura autoritria paternal, controladora, que possui um direito e poder indiscutvel dedeterminar os destinos de seus descendentes. Ou seja, o emissor/autor teria a condio

    de atribuir palavra e/ou ao texto que escreve o significado que melhor lhe convm. Talsignificado deveria ser respeitado, e portanto imutvel, independentemente do contexto

    ao qual o leitor estivesse inserido, da sua viso de mundo e da interferncia inconscienteque lhe ocorreria durante a interpretao do que l.Para que um leitor fosse capaz de manter intactos os significados determinados

    pelo autor, ele precisaria compreender o que l, descobrindo e resgatando aquilo que oautor quis dizer,

    [...] j que nesse contexto o desejo do autor o fator determinante para aemergncia e a fixao do significado, o significante (a palavra, o texto)funciona novamente como o envlucro duradouro e resistente capaz deaprisionar atravs dos tempos e em qualquer circunstncia o significado

    autoral conscientemente pretendido. Ao leitor/receptor cabe apenas, nesseenredo, um papel filial e passivo, um papel essencialmente respeitador eprotetor dos desejos autorais intencionalmente inseridos no texto.(ARROJO, 1992, p. 36)

    Porm, como temos visto ao longo de nossos estudos, e principalmente naprtica, quando estamos diante de um texto ou uma obra na qual precisamos ler,percebemos que essa teoria no se aplica de fato, pois em primeiro lugar, nem sempre oautor escreveu aquela obra com a inteno que ns leitores temos de que ele tenha

    pretendido dizer. Alm disso, sempre que lemos um texto, para podermos

    compreend-lo, inconscientemente fazemos uma interpretao, e a partir dessa

    interpretao que aquele conjunto de palavras ter o seu significado, ou seja, segundo oque interpretamos, as palavras ganharo o significado estipulado por ns, pelaconveno existente na comunidade interpretativa da qual fazemos parte. Nesse caso,ns leitores que temos o subjetivismo para determinar o que cada significadoexpressa. Esse processo involuntrio. No h como fugir disso.

    Na viso logocntrica, uma vez que o texto desenvolvido pelo autor e o fatordeterminante para a fixao dos significados, o significante (a palavra, o texto) teria afuno de um envlucro duradouro e resistente, capaz de aprisionar no tempo osignificado proposto pelo autor e conscientemente pretendido. Ao leitor/receptor,caberia apenas o papel de aceitar, respeitar e proteger os desejos autorais que foramintencionalmente inseridos no texto.

    De acordo com a autora, apesar de inmeras e incansveis tentativas, a tradiologocntrica no foi capaz de produzir ao menos uma leitura que fosse totalmenteaceita, que pudesse resistir passagem do tempo e at mesmo s mudanas contextuais.A estabilidade pretendida pelos projetos lingusticos envolvidos com o logocentrismo frustrante, na medida em que no encontra soluo e nem forma alguma de defesa quegaranta a no-interferncia do leitor ou receptor no processo de leitura.

    Diferentemente de Saussure, que deu origem concepo do signo arbitrrio econvencional, a reflexo desconstrutivista necessariamente revisa e redimensiona asnoes tradicionais de significado. Nesse sentido, Arrojo prope que

    Se o signo resultado de uma conveno, de um pacto, a origem dosignificado necessariamente remetida para esse pacto e, em ltima anlise,

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    para a necessidade de organizao e de domnio que desemboca nesse pacto.Se aceitamos a tese dessa convencionalidade do signo, ou seja, a noo deque todo significado necessariamente construdo e atribudo a partir de umtcito acordo comunitrio, no poderemos eximir a leitura e a compreenso,ou qualquer outro processo de utilizao de signos, de uma origem atrelada construo e produo de significados. (ARROJO, 1992, p.37)

    Dessa maneira, o leitor deixa de ser simplesmente um receptor e decodificadorde significados idealizado pelo logocentrismo, e se desperta para a conscincia de suainterferncia autoral em qualquer texto que ler.

    De acordo com Foucault (1979, p. 159 apud ARROJO, 1992, p.38), [o] autordeixa de ser uma fonte finita de significaes que preenchem uma obrae passa a serreconhecido como um certo princpio funcional por meio do qual, em nossa cultura,limitamos, exclumos e escolhemos [(significados)].

    A autora explica, no entanto, que todas essas concluses no trazem comoconsequncia a morte do autor, como muitos temem, nem a liberao do leitor, e muito

    menos o risco do surgimento desenfreado e desautorizado de uma poro designificados. Nossa tradio ordena que o autor continue vivo e continue tendo suafuno de regulador dos significados. Sua morte s ser possvel se determinada pelamesma rede de convenes que provocou seu nascimento.

    Mediante a viso desconstrutivista, o significado no se encontra aprisionadoao texto, nem na inteno consciente de seu autor, e sua origem se deve ao conjunto dasconvenes que fazem parte do perfil do leitor e interferem em sua interpretao.

    Sabemos que o processo de globalizao est crescendo em um ritmo muitoacelerado. Consequentemente, vem ampliando o mercado internacional de importao eexportao, alm de acordos entre os mais diversos pases, o que resulta na necessidadecada vez maior de comunicao e interao entre os povos. Devido a esse processo,

    precisa-se de profissionais que estejam aptos a colaborar com essa relao entre ospases e seus habitantes, decodificando os idiomas usados entre eles.

    A traduo assume ento a funo de possibilitar o acesso informao.Porm, se analisarmos algumas caractersticas pertinentes traduo, percebemos queh a dificuldade de se definir o que o processo tradutrio.

    Traduzir no apenas transportar de uma lngua a outra uma determinadaquantidade de informao. algo complexo, que necessita de preparo, aprendizado,dedicao, operaes mentais e conhecimentos lingustico, cultural e social por parte dotradutor.

    Passamos a compreender melhor todo esse processo quando analisamos as

    caractersticas da traduo audiovisual, ou seja, a traduo realizada para os fins delegendagem e de dublagem.O interesse e o prazer pela arte e pela cultura sempre estiveram enraizados na

    humanidade desde as mais antigas civilizaes.Por meio da arte, sentimentos como emoo, satisfao e diverso so

    despertados; alm de transmitir formao e informao.Ao longo dos anos, com o avano da tecnologia, os meios de comunicao

    tambm sofreram transformaes incrveis, passando pelo cinema, televiso aberta,televiso a cabo, indstria de home vdeos, CD, e mais recentemente o DVD,transmitindo informaes que ajudaram na maior aproximao entre os povos e suasrespectivas culturas.

    Verificou-se ento, a extrema importncia da mdia para a sociedade, e estapassou a ser um tema de reflexo. No entanto, durante os debates sobre o futuro da

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    mdia audiovisual e a diversificao dos programas, percebe-se a ausncia depreocupao com um elemento fundamental: o papel das lnguas. A lngua considerada por muitos como um obstculo no processo de comunicao miditica,sendo muitas vezes esquecida e criticada.

    Apesar das preocupaes sobre a influncia e as transformaes que a mdia

    vinha causando na sociedade moderna, a lngua era vista como um segundo plano.Consequentemente, os problemas envolvidos na traduo de filmes e programas deteleviso tambm acabaram sendo deixados a cargo das comunidades cientficas para arealizao de pesquisas na rea. Porm, quando estamos em contato com algum filmeou programa de televiso em lngua estrangeira, nos deparamos com o enorme conjuntode palavras que aglomeradas exercem o papel de transmitir o que estamos vendo eouvindo.

    A mensagem audiovisual a soma do som com a imagem. Se um deles passadespercebido pelo receptor, independente de qual tenha sido o motivo, o meio decomunicao falhou em cumprir o seu papel fundamental: comunicar por meio do som eda imagem.

    Na mdia audiovisual, alm da importncia do papel cultural, a imagemdepende da lngua para complementar sua semntica. Alm disso, a lngua pode revelarelementos que a imagem no capaz de transmitir.

    Depois da insero dos dilogos nos filmes, da mensagem falada e no maisapenas vista, houve ento a necessidade de um meio em que fosse possvel atransmisso do material cinematogrfico para outros povos e culturas, de forma que eles

    pudessem compreender. Dessa maneira, nascia a traduo para a legendagem.A legenda foi o caminho encontrado para tornar esse processo possvel. Porm,

    ainda hoje nos deparamos com pessoas que criticam as legendas, mesmo por parte dosespecialistas em cinema, que alegam que muitas vezes a legenda atrapalha avisualizao do filme, devido aos caracteres escritos na tela. Dessa forma, para evitartais crticas, deve-se seguir uma regra geral: quanto menor a informao na tela, melhor.

    Geralmente, devido a esse fator, os textos usados na dublagem, acabam sendomais prximos ou semelhantes ao original do que os usados na legendagem.

    Por trs desses fatos, existem as limitaes e as exigncias impostas pelasnormas cinematogrficas, ou seja, o espao e o tempo: a legenda deve se encaixar em

    local delimitado no fotograma do filme. (JOIA, 2004, p.84). Pelas normas

    cinematogrficas, um filme posto de fotogramas, quadros, a unidade de medida dofilme.

    A unidade de medida do filme o p. Cada p corresponde a 16 quadros,

    que ficam na tela por aproximadamente 2/3 de segundo e correspondem auma legenda com no mximo 10 caracteres e espaos. Para que a leitura sejaagradvel e eficiente, considera-se que a medida mxima para uma legenda

    permanecer na tela deve ter at 2 linhas, de at 34 toques cada. (AMARAL,1998, p. 1-2 apud JOIA, 2004, p.85)

    Diante de tais limitaes, necessrio que o tradutor saiba ajustar a mensagemda forma mais adequada possvel, sendo ousado e ao mesmo tempo criativo.

    A legendagem de um filme a nica maneira encontrada capaz de conservarintactos os dilogos e os sons originais. Sua finalidade recorrer sntese da mensagemoriginal, uma vez que so permitidas apenas uma ou duas linhas, no mximo, de texto,

    posicionadas na parte inferior da imagem. Porm, a dificuldade o fato de que quaseimpossvel lermos na mesma frequncia de velocidade na qual escutamos. devido a

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    esse fator que as legendas no so em todos os casos uma transcrio fiel do dilogooriginal, mas sim uma adaptao, que em muitos casos acaba por sacrificar parte dainformao.

    Os tradutores so responsveis por traduzir e adaptar os dilogos no idiomarequerido pelo cliente. O processo de traduo e adaptao um dos que mais

    influenciam para uma boa leitura e compreenso das legendas. Como foi dito antes, oouvir mais rpido que a viso e impossvel ler e escutar a mesma quantidade depalavras. Por isso, o tradutor deve estar atento na hora de traduzir, porque est limitadoa um nmero de caracteres para transmitir toda a informao narrada ou dialogada.

    sempre necessrio que para a elaborao da informao, a mesma passe pormodificaes, mas um tradutor experiente na construo de legendas geralmenteconsegue conduzir o filme dando prioridade informao essencial.

    Outro fator importante e de responsabilidade dos tradutores so as formasgramatical e ortogrfica. Ou seja, verificar as possveis dvidas gramaticais que possamsurgir e usar o corretor ortogrfico antes de entregar o trabalho pronto.

    Sendo o tempo para a leitura maior do que para a visualizao das imagens na

    tela, necessria a sntese da mensagem na legenda, no h como fugir disso. Por outrolado, frequente ouvirmos reclamaes dos espectadores, por no terem tido temposuficiente de ler toda a legenda. J comeou uma nova cena, e aquela mensagem ficou

    para trs.Quando estamos em contato com um texto escrito e perdemos alguma

    informao do que lemos, podemos voltar ao incio do pargrafo e l-lo novamente.Temos a opo de voltarmos uma parte do filme e congelarmos a cena para ler umalegenda que no conseguimos visualizar por completo nos filmes em VHS ou DVD,

    porm, o mesmo no ocorre quando estamos assistindo a um filme legendado na TV ouno cinema.

    Esse o desafio maior para o tradutor de legendas, que tem o dever detransmitir a mensagem de forma com que no polua a tela com muita informao, pois omais importante a visualizao das cenas, o respeito ao nmero de caracteres, e arelao de tempo entre as falas das personagens com o tempo de exibio da legenda, oque de forma nenhuma um trabalho fcil, porm muito criticado e banalizado poraqueles que no possuem nenhum conhecimento a respeito.

    importante ressaltar que a traduo para filmes no consiste apenas natraduo do texto, mas tambm nas imagens do mesmo. Dessa forma, torna-se aindamais complicado para o tradutor executar um bom desempenho na legenda se ele stiver como material de apoio o roteiro, sendo que o correto seria obter juntamente ovdeo para que seja assistido e comparado com o texto, facilitando a escolha lingustica

    do tradutor.Um exemplo disso, uma frase solta como por exemplo Where are theglasses?, citada pelo tradutor Leonardo Teixeira em um artigo para a Abrates(Associao Brasileira de Tradutores e Intrpretes), no qual explica que em um casocomo esse, se o tradutor no tiver o vdeo, no h como tirar suas dvidas para saber seno contexto a palavra glasses se refere a culos ou a copos. De qualquer forma, otradutor ter que escolher uma das opes para sua legenda, o que pode resultar em umatraduo errnea.

    H ainda casos em que apesar de o tradutor ter disponvel o vdeo e o roteiro, otexto lhe foi entregue em um idioma diferente do original do vdeo, o que implicar emuma ateno redobrada do tradutor para no cometer erros de significados. Isso quando

    no for necessrio antes fazer a traduo do roteiro todo para a lngua que estarpresente na legenda, demorando ainda mais o processo de realizao do trabalho. E

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    como sempre, por mais que o tradutor tenha dado o melhor de si diante dascircunstncias que teve de enfrentar, se for encontrado algum erro por parte do pblico,a culpa cair sobre os ombros dele.

    Outro aspecto importante que no pode ser esquecido, o fato de que cadapersonagem sempre tem seu jeito especfico de fala, como sotaques, grias, entre outros.

    Nesse caso a traduo aproxima-se bastante de uma traduo literria, e o tradutor deveter jogo de cintura para conservar esses traos em sua traduo. fundamental que o processo tradutrio passe a ser analisado e respeitado

    como qualquer outra formao e rea de atuao, nas quais os profissionais passam pordificuldades, muitas vezes no so remunerados da forma como esperavam ser, eexercem um trabalho que possui regras particulares, normas que devem ser seguidas,modificaes que ocorrem constantemente, como no caso da escolha lingustica, umavez que qualquer lngua se transforma com o passar do tempo, e, a partir dessasmutaes, o tradutor se insere no meio como um camaleo, se adaptando e agindo deacordo com o que lhe foi proposto, sempre na busca de uma coisa em especial: levar amensagem ao espectador.

    Como em toda rea de trabalho sempre existem os acertos e os erros, o tradutortambm aprende e amadurece por meio de suas experincias.

    Todos estamos sujeitos a erros. Portanto, um tradutor no pode ser criticado deforma geral, desvalorizando o trabalho de outros tradutores. Mesmo porque, existem

    pessoas que se julgam tradutores e realizam tradues, mas no possuem conhecimentoterico nem profissional, jamais estiveram dentro de uma universidade para suaformao acadmica sobre traduo.

    Um bom tradutor de filmes deve ter em mente que a principal diferena em seutrabalho com relao a outros tradutores, que traduz um texto que ser falado,interpretado; um trabalho que est entre a traduo e a interpretao.

    Roig (2004, p.5) afirma que os tradutores nunca devem deixar de estudar e deaprender, pois trabalhamos com idiomas e transmitimos cultura (com nossos textos) etemos a responsabilidade de usar o idioma como instrumento de trabalho.

    Diferentemente do que ocorre na traduo para legenda, a dublagem consisteem transmitir no s a mensagem, como tambm a fala da lngua original do filme paraespectadores de outra nao, que no conhecem o idioma usado pelos atores,introduzindo-se a lngua conhecida por aquele povo no lugar da primeira.

    Por ocultar dos espectadores a lngua-fonte, esse procedimento colabora paraque o tradutor faa as alteraes necessrias no texto, sem que os espectadores

    percebam isso.Um dos papis principais da dublagem permitir que os espectadores tenham a

    sensao de estarem ouvindo os personagens conversando em seu prprio idioma. Paraque isso seja realizado, o tradutor deve estar atento para que, em sua traduo, o nmerode slabas das palavras usadas pelos atores na lngua-fonte, correspondam com onmero de slabas que ser usado por artistas dubladores na lngua-meta, para que hajauma sincronia entre o tempo em que os atores originais movimentam seus lbios para

    pronunciar as palavras e o tempo que os dubladores tero para encaixar as palavras desua lngua naquele movimento labial.

    Alm da preocupao, durante o ato tradutrio, com as escolhas das palavrasdevido ao sincronismo labial, Joia (2004, p. 90-91) destaca que existem outros fatoresque devem ser levados em considerao:

    Diviso de responsabilidades com os atores dubladores, diretor de dublagem,

    tcnico de som e editor; Sincronizao semntica;

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    Sincronizao dos personagens (correspondncia do registro de linguagem usadopelos personagens, escolha apropriada de palavras, fluncia e clareza);

    Transposio adequada de dialetos e sotaques.Ao mesmo tempo que a dublagem camufla a lngua original do filme para dar

    lugar lngua de chegada e da mesma forma a insero de elementos culturais

    pertencentes quela nao, ela tambm possibilita manter intacta a visualizao dofilme.

    Ter conscincia de nosso papel e responsabilidade dentro de todo esseprocesso, e conhecer os passos que so dados anterior e posteriormente ao nossotrabalho, nos ajuda a melhorar profissionalmente.

    Muito antes de um estdio de dublagem entrar em contato com o tradutor paralhe oferecer a traduo de um filme e de o mesmo receber um vdeo juntamente aoroteiro original, existe um amplo processo de trabalho que nos convm conhecer. Otradutor um dos ltimos a ter acesso ao material que nessa cadeia comea com aaquisio do filme em ingls ou ao menos o roteiro do mesmo.

    Os departamentos de dublagem recebem de sua matriz o material a ser

    dublado, e ento, verifica-se se o filme vivel de ser apresentado em nosso pas, casocontrrio o investimento no valer pena. Nesse ltimo caso, pode ser tomada adeciso de no dublar o filme ou de envi-lo diretamente ao mercado nacional de vdeo,no qual os custos da dublagem e promoo, entre tudo, so muito menores.

    As grandes distribuidoras americanas no exportam todo o material queestreiam por l e h casos em que o xito do filme no exterior influencia suacomercializao aqui.

    Os departamentos de produo, encarregados de administrar o material detransmisso produzido fora do nosso pas, enviam representantes aos mercadosinternacionais de televiso para adquirir o direito de transmisso de sries, longas-metragens, filmes e desenhos animados. Nesse caso, quando conseguem o direito detransmisso, no adquirem o filme.

    Existem feiras e mercados internacionais, onde as distribuidoras e produtorasfazem uma exposio de seus produtos aos grandes canais de televiso do mundo todo eefetuam a venda dos direitos de transmisso, nos quais o comprador adquire umdeterminado nmero de captulos no caso de sries em funo da sua expectativade comercializao, e ento determinam por quanto tempo o comprador ter o direito detransmitir aquele material.

    Em seguida, o departamento de produo faz um acordo com os responsveispor outros materiais que devero ser entregues produtora ou distribuidora como:imagem, trilha sonora e material promocional. Um dos maiores problemas que podem

    ocorrer, durante esse perodo de envio de materiais, a falta de alguns materiaisimprescindveis para a transmisso, como por exemplo, que chegue a imagem docaptulo 1 com a trilha sonora do captulo 4.

    importante levar em considerao as limitaes e presses que as pessoasque fazem parte do processo anterior ao nosso passam, pois nos ajuda a compreender eter conscincia da urgncia e importncia da nossa parte do trabalho. Como tradutores,somos os antepenltimos nesse amplo processo. Depois de ns, esto a dublagem e atransmisso.

    Quando alguma produtora se atrasa na hora do envio do material a sertraduzido e dublado, isso acaba provocando uma srie de desajustes que afetam otrabalho do tradutor e do estdio de dublagem.

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    No difcil acontecer casos em que pedida a traduo de uma srie em quefaltam partes de alguns captulos, e para complicar ainda mais, no esto na sequnciacorreta.

    Quando o material chega ao estdio, feita uma cpia que enviada aotradutor. Desta forma, o tradutor normalmente recebe o vdeo e uma lista com os

    dilogos. O vdeo traz a impresso TRC (Time Recording Code), registro do cdigo detempo, o qual nada mais que um cronmetro digital contador das horas, dos minutos,dos segundos e dos quadros, e serve como referncia ao tradutor e ao estdio para alocalizao de alguma parte do filme.

    Quanto traduo do humor, Rosas (2002) destaca que dentre todas as teorias,a que mais se adequa a essa modalidade uma que foi proposta por Katharina Reiss eHans Vermeer em 1984. Essa teoria, conhecida como Skopostheorie, ou teoria doescopo (finalidade/objetivo), est voltada para uma abordagem funcionalista, econsequentemente, foca-se na pragmtica da traduo. Pressupe-se em tal teoria que:

    Toda ao visa (de forma mais ou menos consciente) a um determinadoobjetivo e se realiza de modo que tal objetivo possa ser alcanado da melhorforma possvel na situao correspondente. [...] A produo de um texto uma ao que tambm visa a um objetivo: que o texto funcione da melhor

    forma possvel na situao e nas condies previstas. Quando algum traduzou interpreta, produz um texto. A traduo/interpretao tambm devefuncionar de forma tima para a finalidade prevista. Eis aqui o princpiofundamental de nossa teoria da translao. O que est em jogo a capacidadede funcionamento do translatum (o resultado da translao) numadeterminada situao, e no a transferncia lingustica com a maiorfidelidade possvel a um texto de partida (o qual pode, inclusive, terdefeitos), concebido sempre em outras condies, para outra situao e parausurios distintos dos do texto final (REISS; VERMEER, 1996, p.5 apud

    ROSAS, 2002, p.45).

    De acordo com os autores, a teoria do escopo seria ento, uma teoria complexada ao, uma vez que o texto de partida como uma primeira ao. Dessa maneira,seu interesse no est em se e como agir, mas sim de se e como continuar, ou

    seja, traduzir a ao. Nesse momento, as decises que o tradutor tiver em mente,

    assim como a estratgia para essa operao, o levar a interpretar o se e o o que

    traduzir. Segundo Reiss e Vermeer (1996, p. 80 apud ROSAS, 2002, p.46), o princpio

    dominante de toda translao, sua finalidade. Portanto, afuno desempenhada pelaao o que deve ser levado em considerao. A ao deve ser adequada situao e,

    alm disso, conseguir alcanar um objetivo nessa situao. O papel do tradutor , nessesentido, secundrio diante do objetivo da ao e de seu funcionamento:

    [...] as imagens de um texto podem ser substitudas por outras imagens e suasformulaes, por outras formulaes, sem que a funo do texto se altere. [...]Em relao translao, isso significa: (1) A modificao, com certascondies, algo legtimo. (2) As condies dessa modificao soespecficas a cada cultura. [...] Portanto, uma ao tem xito quando podeser interpretada como adequada situao (quando tem sentido). Como j sedisse, essa interpretao exigida, em primeiro lugar, do prprio sujeito daao (o emissor), que quem tem que (poder) indicar qual era sua

    inteno. Conforme j ressaltado, uma ao no correspondenecessariamente (de modo timo) a sua inteno. [...] Por outro lado, ointerlocutor do sujeito da ao (o receptor) tambm tenta explicar

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    (interpretar) a conduta do emissor, e a explicao do receptor pode diferirda do emissor. Ambos tentam avaliar antecipadamente suas recprocasinterpretaes e lev-las em conta em sua atuao (co-orientao reflexiva)(REISS; VERMEER, 1996, p.82-83 apud ROSAS, 2002, p.46).

    possvel dizermos, ento, que emissor e receptor desempenham, juntos, assuas funes, cada um fazendo a sua parte, e so eles quem podem decidir se umainterao funcionou ou no. Para avaliar sua prpria ao, o emissor pode partir de

    sua inteno, ou seja, a funo pretendida; o receptor pode fazer o mesmo, partindo desua interpretao, a funo interpretada. No entanto, caso a interao entre ambos tenhasido positiva, suas avaliaes no devem apresentar significativas diferenas em relaoa um conjunto de possveis variantes.

    Na traduo sempre h a translao de valores de uma cultura para a outra, ejustamente por esse fator, diferentes valores so apresentados no texto traduzido.

    Se fizermos uma comparao entre a explicao da translao no item a ecomo ela se aplica s obras literrias, podemos perceber o carter especfico e noduradouro da atividade tradutria. Um leitor contemporneo a determinada obra, porexemplo, a leu por motivos bem distintos do que o leitor atual a ler; assim como umleitor estrangeiro que tiver contato com a traduo de um romance de Jorge Amado, noo ler da mesma forma que um leitor brasileiro (principalmente se este for baiano).

    Para que possamos concluir toda a explicao acerca da teoria do escopo,partindo-se do pressuposto de que a traduo tem carter transformador e queinevitavelmente dar origem a outro texto, o mximo que podemos exigir da traduo

    que o texto traduzido seja o mais prximo possvel do texto de partida.

    De acordo com Leibold, para a traduo do humor necessrio que haja uma

    [...] precisa decodificao de um discurso humorstico em seu contextooriginal, sua transferncia para um ambiente diferente e, muitas vezes,discrepante em termos lingusticos e culturais e sua reformulao em umnovo enunciado que tenha sucesso na recaptura da inteno da mensagemhumorstica original, suscitando no pblico-alvo uma reao de prazer edivertimentoequivalentes, a traduo funcional do humorou seja, umaaplicao da abordagem funcionalista da teoria do escopo translao detextos humorsticos [...]. (LEIBOLD, 1989, p.110 apud ROSAS, 2002, p.50)

    Assim, segundo Rosas (2002), a traduo de textos humorsticos deve seguir osseguintes critrios:

    1. considerado pblico-alvo um falante brasileiro que se define como abstrao,no sentido de que deve dominar, alm da norma culta, diversos outros tipos deregistro (popular, regional, gria, etc.). Portanto, seu conhecimento lingusticoser ideal. Alm disso, presume-se que possua o saber enciclopdico necessrio compreenso de qualquer piada que lhe seja apresentada. Finalmente, deverdispor de suficiente tolerncia (abertura psicolgica) para rir at das piadas maispoliticamente incorretas. Feitas essas consideraes, define-se como principalescopo (finalidade/objetivo) desta translao especfica a reao de prazer edivertimento (traduzida no riso) do receptor final;

    2.

    Possvel atribuio prvia, conforme o escopo fixado, de novos valores sdistintas partes do texto de partida: no caso dos textos humorsticos que sero

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    apresentados em seguida, o critrio para definio dos novos valores e dasmodificaes da derivadas baseou-se na deteco inicial do gatilho e na anlisedo que este representa em relao aos demais elementos (lingusticos e culturais)

    presentes no texto. Como o objetivo ou finalidade da traduo, neste caso, omesmo do texto-fonte (o riso do receptor), manteve-se a funo o que exigiu,

    por vezes, mudana no plano da forma, na situao representada, etc. Asmodificaes decorrentes da aplicao do critrio acima foram efetuadas duranteo processo tradutrio e, naturalmente, alm de basear-se nas injunes (e, importante frisar, tambm nas ofertas/possibilidades) da lngua-cultura dechegada, variaram conforme cada caso;

    3. Realizao do escopo: decidida a manuteno da funo na ao translativa,estabelecido o critrio de avaliao do que importava preservar ou alterar emcada parte do texto-fonte, definidos os novos valores e intudas possveisexpectativas do receptor final, procede-se a busca de alternativas na lngua-cultura de chegada que permitam a obteno de um efeito anlogo ao que o texto(potencialmente) provoca na lngua-cultura de partida. Privilegiam-se sempre

    aquelas cuja oferta informativa mais se aproxima da do texto de partida.

    A autora comenta que de tudo que se costuma dizer acerca da traduo de tiposespecficos de texto, tais como os tcnicos ou literrios, a caracterstica maisinteressante do estudo da traduo funcional do humor quanto analogia do efeito, est

    presente em observaes sobre a traduo potica.O interesse pelo estudo do humor verbal teve um grande crescimento nos

    ltimos anos. No entanto, o objeto principal do campo de estudo na maioria das vezesnunca especificamente lingustico. A maioria das abordagens tende a ser de origemscio-antropolgica ou psicolgica. Porm, quanto aos poucos casos em que h oestudo dedicado lingustica do humor, Possenti comenta que Raskin:

    lamenta que a lingustica dedicada ao humor continue sendo a velhalingustica da palavra, agora que se tem at uma lingustica do discurso, aptaa explicar muito melhor numerosos chistes, em especial os que se sustentamem pressuposies, inferncias, implicaturas, estratgias conversacionais, etc.[...] No mximo, [os estudos lingusticos referentes ao humor] teriamchegado ao duplo sentido, que alis, pode ter a ver com domnios lingusticosdiferentes do lexical (POSSENTI, 1998, p.80, apud ROSAS, 2002, p. 55).

    Com base na citao acima, podemos concluir que o duplo sentido pode estar

    ligado aos elementos integrantes das reas da fonologia, da prosdia, da morfologiae/ou da sintaxe.

    Os textos selecionados para neste trabalho no s carregam em si a inteno deprovocar prazer, divertimento e riso (por parte do receptor) como tambm nos levam arefletir sobre a traduo em geral (relao da teoria com a prtica), o que se define comohumor, e por fim, a traduo do humor.

    Entre todas as dificuldades e armadilhas encontradas pelo tradutor, fundamental que o mesmo consiga ter flexibilidade e percepo, importando-se

    principalmente com a cultura do pblico-alvo de seu trabalho. Isso se aplica a qualquerum dos processos que envolvam a traduo, seja traduzindo textos, interpretando,confeccionando as legendas ou traduzindo as falas das personagens que sero dubladas.

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    Como estaremos lidando com um material no qual ser assistido por um pblicoque pode ser infantil, juvenil ou adulto, importante durante a traduo, transmitir alinguagem prpria daquela faixa etria em particular.

    A criatividade tambm outra ferramenta importante que o tradutor deve saberusar. Como em muitos filmes ou sries sejam eles desenho animado ou qualquer outro

    gnero, nos deparamos com piadas, trocadilhos ou provrbios, necessrio que otradutor saiba como transmitir a mesma ideia, ainda que a mensagem no fiqueexatamente igual a da lngua original. Na maioria dos casos no h como fazer umatraduo literal (palavra-por-palavra), pois no faria sentido algum na lngua-alvo.

    preciso ento fazer uma adaptao, j que nem todos os termos existem na lnguaportuguesa.

    Quanto s questes culturais relacionadas ao pblico alvo e a traduo dohumor, o tradutor Xos Castro Roig (2004), faz o seguinte apontamento

    No h nenhuma frmula especfica, nem nenhum manual de estilo queensine como se deve fazer isso. algo que depende inteiramente do tradutore de sua sensibilidade, de conhecimento de mundo, e de sua capacidade pararealizar esse efeito. Em certas ocasies, essas referncias culturais, polticasou humorsticas se perdem porque no podemos substitu-las por outras quesejam conhecidas nos Estados Unidos. O uso de referncias locais [...] deveser feito com bastante cuidado, porque isso resultar no afastamento imediatodo espectador com o contexto, e talvez por isso, seja algo que est quaseexclusivamente ligado a certos programas de humor. (ROIG, 2004, p.5,traduo nossa)

    Como podemos perceber diante do apontamento feito por Roig, no h nenhummanual de instrues nem nenhuma frmula exata para a realizao dessa tarefa. Este

    ato est mais ligado percepo, sensibilidade e criatividade do tradutor na seleovocabular, nas estruturas frasais, na modelagem das propriedades lingusticas que

    possam enriquecer seu trabalho, de modo que o resultado seja uma traduo atrativa esatisfatria ao pblico que se pretende atingir. Podemos destacar novamente, oimportante papel social que o tradutor possui, uma vez que ele no apenas transmite acultura de um povo a outro, mas tambm cria seu prprio texto, cria significados e dessamaneira se faz presente de certa forma em seu trabalho, deixando ali traos de suainterpretao, de seu conhecimento de mundo e de sua personalidade.

    Mostraremos agora alguns exemplos de traduo audiovisual extrados doseriado Everybody hates Chris (Todo mundo odeia o Cris). Em seguida, faremosalgumas anlises da traduo nas modalidades legendada e dublada em comparao

    com o texto original, fazendo questionamentos a respeito de em qual das duasmodalidades foi possvel ao tradutor destacar os traos de humor apresentados noseriado e as probabilidades das alteraes que foram realizadas, na tentativa de

    justificarmos os porqus de tais alteraes.Os trechos selecionados foram extrados do episdio Todo mundo odeia

    Rejeio.Nessa cena, Chris est na mercearia onde trabalha contando ao patro e ao

    Jerome que convidou Yvette para sair. Jerome ento lhe d um conselho:

    Original: When you ask a girl out, you have to get a gift together.Legenda:Quando voc convida uma garota, voc tem que ter estilo.Dublagem:Quando a gente vai sair com uma gata, tem que t ligado.

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    Anlise: possvel observarmos que enquanto no original o personagem diz aoChrisyou have to get a gift togetherque ele deveria levar um presente para a garota,essa expresso omitida e outra apresentada tanto na legenda quanto na dublagem.

    Na legenda, o que poderia ter sido traduzido como voc tem que levar um

    presente, foi traduzido como voc tem que ter estilo. Essa escolha tradutria na

    legendagem provavelmente se deve a reduo do texto original por conta do nmero decaracteres permitido na tela, como j foi explicado nos captulos anteriores. Emcompensao, na dublagem ns temos como escolha tradutria a omisso do mesmotermo em ingls, uma adaptao para a linguagem coloquial, comum entre as pessoasque convivem com o Chris. Assim, na dublagem a fala do personagem passou a sertem que tligado. Nesse caso, a tendncia chegar o mais prximo possvel da forma

    natural como as pessoas se expressam no cotidiano, sem se preocupar com a normapadro da lngua portuguesa, e por isso o personagem diz t ao invs de estar.

    Original:Standing there waiting for Yvette was one of the best feelings Ive had.

    Legenda:Ficar em p l esperando Yvette foi uma das melhores sensaes queeu j tive.

    Dublagem: Ficar l parado esperando a Yvette foi uma das sensaes maisiradas que eu j tive.

    Anlise: enquanto na legenda temos uma traduo literal da fala original dopersonagem, na dublagem a traduo de one of the best feelings Ive had, passou a seruma das sensaes mais iradas que eu j tive. O uso da expresso sensaes mais

    iradas tambm uma adaptao para a linguagem informal, cotidiana e prpria de

    pessoas da faixa etria na qual Chris fazia parte naquela poca. Como podemos ver, ofator scio-cultural pode ter sido levado em considerao na traduo.

    Original:After an hour, I thought maybe the bus got an accident, skipped fromthe road out, exploded in the air and sank into the East River.

    Legenda:Depois de uma hora, eu pensei Talvez o nibus sofreu um acidente,saiu da estrada, explodiu no ar e afundou noEast River.

    Dublagem:Depois de uma hora, eu achei que o nibus tinha batido, derrapado,explodido, capotado e acabado no fundo do rio.

    Anlise:A traduo para a legenda tende a ser mais literal, ou seja, palavra-por-palavra, enquanto que na dublagem, a fala do Chris foi novamente adaptada para o maisusual na linguagem informal; e exatamente pelo fato de a dublagem ter autonomia

    para fazer tal alterao na linguagem que a mesma acaba sendo mais engraada do que alegenda, pois nos transmite com maior propriedade os sentimentos do personagemnaquela ocasio.

    Original:You stood up there in the street. Thats embarassing. If I were you Idbe so depressed Id be standing on the top of Brooklyn Bridge, holding some stones on

    my ankles and a bag of rats around my head, ready to jump.

    Legenda:Levou bolo, l no meio da rua, isso que embarao. Se eu fosse voc,estaria to deprimido que eu estaria no topo da Ponte do Brooklyn, com pedrasamarradas nos meus tornozelos e um saco de ratos em volta da cabea, pronto para

    pular.

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    Dublagem:Tomou o maior bolo na rua, pagou um baita mico. Se eu fosse voc,ficaria to depr que ia subir na ponte do Brooklyn, com 50 quilos de pedras amarradosnos ps e a cabea metida num saco cheio de ratos, pronto pra pular.

    Anlise:Na legendagem, a expresso em ingls you stood up there in the streetvoc ficou em p l na rua numa traduo literal, foi transmitida em portugus

    como levou bolo, l no meio da rua. Nesse momento, j podemos observar quetivemos uma adaptao para a linguagem informal, embora a legendagem esteja sempremais voltada ao texto formal. comum ouvirmos no Brasil as pessoas dizendo quelevaram bolo quando algum tinha combinado de fazer algo junto com outra pessoa, e

    na hora essa outra pessoa no comparecer. Essa uma expresso idiomtica que fazparte do cotidiano dos brasileiros, conhecida por qualquer faixa etria e qualquer nvelsocial.

    A expresso thats embarassing(literalmente isso embaraoso), foi traduzidapor isso que embarao. Novamente, a traduo foi mais literal seguindo o mesmo

    estilo em Id be so depressed traduzida literalmente na legenda como estaria todeprimido.

    Na dublagem, a expresso you stood up there in the street foi traduzida comotomou o maior bolo na rua, e thats embarassing traduzida como pagou um baita

    mico o que bem mais interessante em termos de linguagem humorstica do que aopo tradutria apresentada na legendagem. Id be so depressed foi traduzida porficaria to depr, que tambm se aproxima bastante da linguagem mais natural entre

    os jovens - mais natural do que estaria to deprimido.Alm disso, enquanto na legenda o personagem diz um saco de ratos em volta

    da cabea a bag of rats around my head, na dublagem ele diz a cabea metidanum saco cheio de ratos. Dessa forma, se pensarmos na possibilidade de vermos o

    personagem com a sua cabea enfiada num saco cheio de ratos, muito mais engraadodo que se esse mesmo personagem tivesse um saco de ratos em volta de sua cabea.

    ConclusoNa legenda para canais de TV, o nmero mximo de caracteres permitidos por

    linha 35, e por esse motivo muitas vezes o legendista tem que reduzir toda uma frase,mantendo a ideia principal da mensagem. Alm disso, necessrio durante a confecoda legenda que o legendista faa a sincronia do tempo da entrada e da sada da legendana tela, de forma que o espectador tenha tempo o suficiente para l-la, sem que esta

    permanea por muito tempo, ao ponto de se iniciar uma nova cena e ainda estar na tela alegenda da cena anterior. Por outro lado, o ator dublador consegue brincar melhor

    com a fala dos personagens, pois nesse meio audiovisual, as frases podem ser maiores,uma vez que no existe a restrio do nmero de caracteres como no caso da legenda.Na dublagem tambm h a sincronia, sendo preciso que o dublador fique atento aosmovimentos labiais dos personagens, encaixando as frases traduzidas nos movimentos

    produzidos por eles enquanto falam.Por meio dos trechos selecionados e analisados, levando-se em considerao as

    normas de traduo apresentadas anteriormente ao longo do trabalho e comentadasacima e que devem ser respeitadas tanto na legenda quanto na dublagem, podemos dizerque enquanto o texto da legenda tende a ser mais conservador, uma vez que umregistro escrito, na dublagem muito mais coloquial, por termos ali a fala dos

    personagens da maneira como ela realmente foi produzida por seus falantes, sendo mais

    marcada por grias, linguagem cotidiana, tornando a linguagem mais engraada por ser amaneira mais prxima do que estamos acostumados a ouvir.

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    Pelo fato de essa srie ter um teor humorstico, a cultura do pblico ao qual ovdeo traduzido foi destinado tambm foi essencialmente levada em considerao.Buscou-se ento, tanto na legenda quanto na dublagem, causar no pblico da lnguatraduzida (portugus), a mesma sensao de humor que o original causou no pblico deseu respectivo pas. Dessa forma, os tradutores provavelmente tentaram adequar a fala

    dos personagens para poderem encontrar na lngua portuguesa solues vocabulares omais prximo possvel do que encontramos no original, conservando traoscaractersticos das grias e expresses coloquiais que temos no Brasil e garantindo oefeito de humor esperado.

    Alm disso, nos exemplos apresentados, podemos perceber o papel do tradutorcomo produtor de significados e criador de seu prprio texto, sua criatividade na escolhatradutria e no desenvolvimento da linguagem ao longo do processo tradutrio.

    A presena do tradutor enquanto sujeito consciente de seu trabalho perceptvel a todo o momento, o que nos mostra as caractersticas da prtica da traduograu de dificuldade quanto recriao do texto versuspossveis solues tradutriasencontradas com relao a tudo o que apresentamos ao longo deste trabalho.

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    Campinas: Pontes, 1992. p. 35-40.EVERYBODY hates Chris.Direo: Andrew Orestein. Produo: Adrienne Carter, DonReo e Kali Londono.Narrador: Chris Rock. Produzido por CBS Paramount Television,2007, Estados Unidos. Tempo de durao: +/- 20 minutos cada episdio.

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