0049

4
262 SIGraDi 2013 Dos Diagramas aos Parâmetros: Transformações no Design Digital From Diagrams to Parameters: Transmutations in Digital Design Rodrigo Scheeren Universidade de São Paulo, Brasil [email protected] David Moreno Sperling Universidade de São Paulo, Brasil [email protected] Abstract The article is part of an ongoing theoretical research about the emergence of parametric architecture. It discusses some of the last developments in digital design from the transition of the discourse and operativity by “diagrams” to the theories and processes derived from “parameters”. Centered in Peter Eisenman’s and Patrik Schumacher’s propositions, it is in its horizon to comprehend what relations are established between “diagram” and “parameter” similarities, complementarities and differences , contributing for the critical contextualization of theoretical movements and design processes in contemporary architecture. Keywords: Diagram; Parametric design; Architectural theory; Eisenman; Schumacher. Pontos de Inflexão e Desenrolar Histórico Este artigo, como parte de uma pesquisa em andamento acerca da emergência da arquitetura paramétrica, pretende discutir alguns aspectos do design digital a partir do deslocamento discursivo e da operatividade projetual por “diagramas” conceitochave para a arquitetura nos anos 1990 –, para as teorias e os processos derivados de “parâmetros” – conceitochave para a arquitetura nos anos 2000. Está no horizonte deste estudo compreender e explicitar algumas relações estabelecidas entre “diagrama” e “parâmetro”, os discursos e as operatividades que deles decorrem – similaridades, complementaridades, diferenças , pretendendo contribuir para a contextualização crítica de movimentos teóricos e projetuais internos à arquitetura contemporânea que continuam em pleno desenvolvimento. O estudo focaliza no discurso de duas figuras presentes nos debates acerca de tais temas: Peter Eisenman e Patrik Schumacher. Tal escolha se deve, a: 1) a tentativa de formação de um conjunto teórico conciso sobre ambos os temas, presentes de forma relevante na reflexão desenvolvida por estes autores – dimensão compreensiva; 2) a aplicação e desenvolvimento dos temas em suas práticas projetuais – dimensão metodológica e experimental; 3) a explicitação conceitual que permite um posicionamento ideológico dentro do debate arquitetônico dimensão crítica. Pretendese, portanto, tomar esses autores como elos de mediação entre os campos discursivos e operativos, abrindo um caminho possível para a construção crítica da transição de um paradigma a outro. Em anos recentes, o design digital, crescentemente incorporado por arquitetos, se expandiu da representação visual para o seu exercício como dispositivo formal generativo em modelos de transformações dinâmicas – o que Kolarevic define como “digital morphogenesis” (2005, p. 13). A potencialidade do campo digital expandiu novos territórios de exploração conceitual, tectônica e morfológica, baseado na hipótese de que a otimização do exercício ocorre gradualmente através de processos que operam fatores de complexidade. A constituição desta transição histórica vem consolidando um arcabouço teórico centrado nas transformações dos processos de design e de produção decorrentes do desenvolvimento de dispositivos técnicos. Nela, os anos de 1990 representam um momento de fratura conceitual no qual as condições do debate se modificaram. Com a passagem do pósmodernismo, a noção Deleuziana de diagrama inseriuse na arquitetura e estimulou mudanças do conceito de “tipo” para o de “diagrama”, rendendo projetos conectados com a acelerada alteração das condições de geração formal e programática da arquitetura (Braham, 2000, p. 2 3). Picon (2010: p. 81, 98), posicionando a questão da forma como inseparável ao problema da formação, esclarece que o diagrama tornouse uma alternativa à composição tipológica, permitindo capturar relações ativas entre forças e processos de emergência da forma arquitetônica e que a condição atual se apresentaria de outro modo: a trajetória do diagrama para os parâmetros, na direção de lógicas mais profundas dos fenômenos emergentes. Diagrama e Parâmetro: Correlações na Arquitetura Contemporânea A fim de contextualizar o debate, surge a importância de explicitar e analisar algumas exposições sobre os termos “diagrama” e “parâmetro”, e acrescentar o posicionamento de referências intermediárias aos dois autores escolhidos, guiados pelos termos grifados. O diagrama não é um simples desenho, sendo compreendido como um dispositivo gráfico e representacional: uma estratégia de visualização que mostra relações que, na Scheeren, Rodrigo; Sperling, David Moreno; "Dos Diagramas aos Parâmetros: Transformações no Design Digital", p. 262-265 . In: Proceedings of the XVII Conference of the Iberoamerican Society of Digital Graphics: Knowledge-based Design [=Blucher Design Proceedings, v.1, n.7]. São Paulo: Blucher, 2014. ISSN 2318-6968, DOI 10.5151/despro-sigradi2013-0049 Blucher Design Proceedings Dezembro de 2014, Volume 1, Número 7 www.proceedings.blucher.com.br/evento/sigradi2013

description

dsdsd

Transcript of 0049

  • 262

    SIGraDi 2013

    Dos Diagramas aos Parmetros: Transformaes no Design Digital From Diagrams to Parameters: Transmutations in Digital Design

    Rodrigo Scheeren Universidade de So Paulo, Brasil [email protected]

    David Moreno Sperling Universidade de So Paulo, Brasil [email protected]

    Abstract

    The article is part of an ongoing theoretical research about the emergence of parametric architecture. It discusses some of the last developments in digital design from the transition of the discourse and operativity by diagrams to the theories and processes derived from parameters. Centered in Peter Eisenmans and Patrik Schumachers propositions, it is in its horizon to comprehend what relations are established between diagram and parameter - similarities, complementarities and differences -, contributing for the critical contextualization of theoretical movements and design processes in contemporary architecture.

    Keywords: Diagram; Parametric design; Architectural theory; Eisenman; Schumacher.

    Pontos de Inflexo e Desenrolar HistricoEste artigo, como parte de uma pesquisa em andamento acerca da emergncia da arquitetura paramtrica, pretende discutir alguns aspectos do design digital a partir do deslocamento discursivo e da operatividade projetual por diagramas - conceito-chave para a arquitetura nos anos 1990 , para as teorias e os processos derivados de parmetros conceito-chave para a arquitetura nos anos 2000. Est no horizonte deste estudo compreender e explicitar algumas relaes estabelecidas entre diagrama e parmetro, os discursos e as operatividades que deles decorrem similaridades, complementaridades, diferenas -, pretendendocontribuir para a contextualizao crtica de movimentos tericos e projetuais internos arquitetura contempornea que continuam em pleno desenvolvimento.

    O estudo focaliza no discurso de duas figuras presentes nos debates acerca de tais temas: Peter Eisenman e Patrik Schumacher. Tal escolha se deve, a: 1) a tentativa de formao de um conjunto terico conciso sobre ambos os temas, presentes de forma relevante na reflexo desenvolvida por estes autores dimenso compreensiva; 2) a aplicao e desenvolvimento dos temas em suas prticas projetuais dimenso metodolgica e experimental; 3) a explicitao conceitual que permite um posicionamento ideolgico dentro do debate arquitetnico dimenso crtica. Pretende-se, portanto, tomar esses autores como elos de mediao entre os campos discursivos e operativos, abrindo um caminho possvel para a construo crtica da transio de um paradigma a outro.

    Em anos recentes, o design digital, crescentemente incorporado por arquitetos, se expandiu da representao visual para o seu exerccio como dispositivo formal generativo em modelos de transformaes dinmicas o que Kolarevic define como digital morphogenesis (2005, p. 13). A potencialidade do campo digital

    expandiu novos territrios de explorao conceitual, tectnica e morfolgica, baseado na hiptese de que a otimizao do exerccio ocorre gradualmente atravs de processos que operam fatores de complexidade.

    A constituio desta transio histrica vem consolidando um arcabouo terico centrado nas transformaes dos processos de design e de produo decorrentes do desenvolvimento de dispositivos tcnicos. Nela, os anos de 1990 representam um momento de fratura conceitual no qual as condies do debate se modificaram. Com a passagem do ps-modernismo, a noo Deleuziana de diagrama inseriu-se na arquitetura e estimulou mudanas do conceito de tipo para o de diagrama, rendendo projetos conectados com a acelerada alterao das condies de gerao formal e programtica da arquitetura (Braham, 2000, p. 2-3). Picon (2010: p. 81, 98), posicionando a questo da forma como inseparvel ao problema da formao, esclarece que o diagrama tornou-se uma alternativa composio tipolgica, permitindo capturar relaes ativas entre foras e processos de emergncia da forma arquitetnica e que a condio atual se apresentaria de outro modo: a trajetria do diagrama para os parmetros, na direo de lgicas mais profundas dos fenmenos emergentes.

    Diagrama e Parmetro: Correlaes na Arquitetura Contempornea A fim de contextualizar o debate, surge a importncia de explicitar e analisar algumas exposies sobre os termos diagrama e parmetro, e acrescentar o posicionamento de referncias intermedirias aos dois autores escolhidos, guiados pelos termos grifados. O diagrama no um simples desenho, sendo compreendido como um dispositivo grfico e representacional: uma estratgia de visualizao que mostra relaes que, na

    Scheeren, Rodrigo; Sperling, David Moreno; "Dos Diagramas aos Parmetros: Transformaes no Design Digital", p. 262-265 . In: Proceedings of the XVII Conference of the Iberoamerican Society of Digital Graphics: Knowledge-based Design [=Blucher Design Proceedings, v.1, n.7]. So Paulo: Blucher, 2014. ISSN 2318-6968, DOI 10.5151/despro-sigradi2013-0049

    Blucher Design ProceedingsDezembro de 2014, Volume 1, Nmero 7

    www.proceedings.blucher.com.br/evento/sigradi2013

  • Parametric Modeling

    263

    arquitetura, se afastam de expresses tipolgicas pr-determinadas. Como esquema geral de ideias e, por vezes, expresso de uma abstrao ideal, capaz de transmitir o pensamento do autor atravs de informaes, constituindo ferramenta para atingir certa condio estruturada que contenha caractersticas inerentes distintas representaes. Configurada como mtodo operativo, parte de determinados critrios e torna-se meio para visualizar e organizar relaes complexas entre forma no acabada e processo, convertendo-se em instrumento conceitual capaz de agir sobre si e modificar-se recursivamente. neste sentido que a matriz Deleuziana enfatiza o fator no representacional do diagrama, j que este considerado vir-a-ser, dispositivo geracional ou enunciao, a possibilidade do fato e no uma representao posterior do objeto (Deleuze, 2007, p. 104).

    Podemos perceber como tais caractersticas foram absorvidas por alguns arquitetos do perodo. O diagrama passa a ser entendido simultaneamente como um dispositivo explanatrio/analtico e como instrumento generativo (Eisenman, 2001, p. 27), delimitado muito mais ao campo sinttico do que semntico e sua habilidade em multiplicar efeitos e cenrios (Allen, 2009, p. 50). Alm disso, compreendido como campo de relaes prvio a escalas e materialidades (Reiser, 2006, p. 116), assim como, para o grupo holands UN Studio, o diagrama no considerado como uma metfora, mas igualmente contedo e expresso (Van Berkel; Bos, 2010, p. 224).

    O parmetro, por sua vez, um elemento varivel e fator quantificvel capaz de configurar um sistema de relaes entre elementos ou outras relaes. Atravs de tcnicas digitais, configura-se por meio de atravs de algoritmos que no aparecem, ou seja, no expressam uma forma especfica. O parmetro pode ampliar o campo de possibilidades formais da arquitetura atravs da manipulao de relaes, engendrando geometrias associativas que no so solues fixas (Kolarevic, 2005, p.149). Atravs da insero de poucos elementos que mantm seus atributos inerentes a um definido alcance de programao, gerada e produzida diversidade (Schumacher, 2010, p. 263). Assim, introduz-se uma mudana fundamental pela qual as partes se relacionam entre si e modificam-se de maneira sistemtica, coordenando e reestabelecendo conexes (Woodbury, 2010, p. 11). Parisi considera que cada parmetro contm um potencial real para se tornar um dado que modifica outros parmetros, porm, cada um deles uma entidade, irredutveis entre si (2013, p. 125-6).

    Baseado nas proposies apresentadas, possvel afirmar que o termo central para a compreenso de digrama e parmetro informao, sendo que ambos a administram de maneiras diversificadas. Diagramas baseiam-se fundamentalmente em configuraes geomtricas topolgicas ou euclidianas a partir das quais certas relaes entre dados so extradas para a gerao arquitetural. Os parmetros contm informao que no est aparente; baseiam-se fundamentalmente em configuraes

    algbricas. So praticamente pura sintaxe sintetizada no fator digital algortmico, o qual pode transmutar-se em variadas combinaes formais, tornando-se uma potencial ferramenta generativa.

    Eisenman e Schumacher O tema do diagrama envolve ainda a passagem do domnio fsico para as tecnologias digitais, o que exigiu a reviso de determinadas propostas de desenho enquanto expresso e representao e possibilitou incluir variveis de manipulao, alm de manifestar a complexidade arquitetnica como tema aberto investigao. Quando propostas diagramticas imergiram no digital, houve uma significativa alterao dos seus limites, devido interface virtual ser essencialmente expansiva quando voltada experimentao oscilando entre a visualizao e a interao com a informao. Nesse ponto de inflexo histrica, tanto Peter Eisenman quanto Patrik Schumacher foram contagiados pela concepo de diagrama de Deleuze - configurando no uma metfora ou paradigma, mas uma abstract machine: mapa de relaes entre foras que sobrepem diversos outros mapas, que tanto contedo quanto expresso. Nas palavras de Deleuze, uma mquina abstrata ou diagramtica no funciona para representar, mesmo algo de real, mas constri um real por vir, um novo tipo de realidade (1995, p. 100).

    Peter Eisenman j assimilava em alguns projetos o diagrama como um intermedirio no processo de gerao; como um sistema vetorial, que poderia ser associado ao meio eletrnico: a real computerized model (Galofaro, 1999, p. 38). Exercia um pensamento similar potencialidade digital nas suas investigaes, atravs das tcnicas de transformao diagramticas que Somol defende como antecipatrias da necessidade de desenvolvimento de software de modelao 3D (Eisenman, 2001, p. 10). O arquiteto relacionava o diagrama ao traado e escrita - muito presente em sua investigao conceitual arquitetnica de base estruturalista.

    Posteriormente, Eisenman passa a considerar o diagrama como um territrio de prticas que evoluiu de uma ideia clssica de estrutura para um quadro flexvel de foras e relaes a partir do pensamento Deleuziano (2001, p. 23, 29), ou seja, de um quadro estrutural para um sistema instvel, flexvel ou no formatado. Para ele, o diagrama poderia ser utilizado para garantir a autonomia enquanto condio inerente arquitetura, ou seja, o diagrama como processo lgico que permite constituies formais distanciadas da predisposio autoral dos arquitetos (Eisenman, 2001, p. 49). Sua dimenso processual e explanatria carrega uma lgica anloga interioridade da arquitetura - conceito utilizado para representar o prprio discurso da arquitetura, enquanto conhecimento histrico acumulado, que se manifesta no construdo -, o que, segundo ele, condiciona a maneira como a exterioridade da arquitetura - para alm da forma: as funes, lugares, estruturas, a esttica, os textos, a poltica e os fenmenos

  • 264

    SIGraDi 2013

    sociais - pode ser corporificada (Eisenman, 2001, p. 37; 53). Quando no h condio de interioridade na relao com o diagrama, no h singularidade ou repetio da diferena na arquitetura (Eisenman, 2001, p. 31), produzindo uma nica forma de expresso individual.

    Patrik Schumacher procura articular uma dupla perspectiva para o diagrama. Por um lado, tem um carter representacional: um componente das tcnicas de comunicao, situado entre a arquitetura e o design. A sua base o desenho como meio universalmente aplicvel em um domnio especfico de operao, que suporta atribuies arquitetnicas (Schumacher, 2011, p. 347). Por outro, possui a capacidade de abstrao do real por vir Deleuziano. Tal articulao se apresenta nas relaes de coordenao entre diagrama e parmetro que prope o autor, as quais so esquematizadas em dois modelos e dois atributos: diagrama ordinrio e diagrama extraordinrio, mtrico e paramtrico, respectivamente. A distino entre os dois modelos diz respeito diferena entre processos cristalizados de traduo (representaes) e processos de traduo em formao (proto-representaes), e a distino entre os dois atributos (mtrico e paramtrico) concernentes sua constituio interna.

    O diagrama ordinrio um tipo de diagrama que relaciona a sua forma abstrata entidade concreta representada de forma referencial e esttica uma representao acabada que faz referncia a um projeto ou obra especfica. J o diagrama extraordinrio a abstract machine Deleuziana que se distingue de uma mera representao por suas implicaes permanecerem totalmente em aberto o vir-a-ser performativo. A diferena entre ordinrio e extraordinrio no reside no interior do objeto, seja grfico ou digital, mas nos padres utilizados (Schumacher, 2011, p. 350): fechado (acabado) ou aberto (no definitivo). Os dois atributos (mtrico e paramtrico), que so complementares s duas definies de diagrama, possuem uma distino interna, pela qual o mtrico fornece uma constituio invariante, que diz respeito a medidas, enquanto o paramtrico responde a unidades variveis dentro de um determinado escopo.

    Com o cruzamento dos conceitos, surgem quatro combinaes de diagramas: mtricos ordinrios, mtricos extraordinrios, paramtricos ordinrios e paramtricos extraordinrios. Segundo o autor, o diagrama mtrico ordinrio sistematiza a passagem dos diagramas do modernismo a partir de 1920, o qual definia esquemas com regras de composio no desenho que se transliteravam em representaes tcnicas de projeto. O diagrama mtrico extraordinrio, que surge a partir do perodo de 1980-90 com o desconstrutivismo e os exerccios de dobra, comea a emergir como representaes de entidades abstratas, mas com referncias fixadas s atribuies de arquitetura. A partir do controle, principalmente de animaes, o parmetro emergiu (Schumacher, 2011, p. 353) e, consequentemente, o diagrama paramtrico extraordinrio, que compreende uma dimenso experimental na qual os resultados no podem ser previstos. No

    entanto, como em todo processo de consolidao de uma linguagem, devido ao emprego mais rigoroso de ferramentas computacionais avanadas que fornecem uma variabilidade controlada, Schumacher defende que o diagrama paramtrico ordinrio, seus processos em aberto, mas com resultados controlados, o desenvolvido frequentemente pelas vanguardas da arquitetura digital (2011, p. 354-5). Isso ocorre tanto ao nvel interno do software - linguagens de scripting -, quanto pelo processo formal intuitivo de deformaes contnuas de superfcies topolgicas, associando parmetros por correlaes definidas sejam elas especficas programao ou dados externos.

    Neste processo histrico, a retroalimentao entre prticas exploratrias (extraordinrias) e prticas cumulativas (ordinrias) segue criando e assentando novos horizontes para o processo de projeto.

    Pontos de Similaridade, Complementaridade e Diferena Analisar as similaridades, complementaridades e diferenas entre os discursos dos autores a partir da colocao de Deleuze sobre a construo do diagrama de um real por vir, permite elencarmos algumas propriedades do diagrama e do parmetro. Teyssot (2012) indica que o discurso Deleuziano prev a necessidade de reconhecer a primazia das mltiplas foras que atuam sobre a forma, na qual cada diagrama uma mquina diferenciada, envolvida com o mapeamento de relaes entre foras. interesse de Eisenman e Schumacher alcanar, de forma estruturada, o mapeamento dessas relaes.

    Figura 1: Conceitos que compem o diagrama e o parmetro.

    Peter Eisenman desenvolve sua viso acerca do diagrama incorporando aspectos representacionais (diagramas axonomtricos), explanatrios e generativos, voltada para a utilizao em investigaes formais com determinado fim. Desse modo, passa a investigar uma arquitetura de formas abstratas, no de relaes em processos aleatrios: estes so sistemticos e baseados na geometria. Enquanto mtodo intermedirio no processo de gerao do espao-tempo real (Eisenman, 2001, p. 28) -, as implicaes para a autonomia do processo so cruciais. Em meados de 1990, a questo digital emerge no seu processo de concepo projetual, ampliando foras conceituais no diagrama o que segundo Somol, define a mudana para um perodo de pragmatismo da fora (Eisenman, 2001, p. 22). Posteriormente, tais foras acabam por se materializar: o traado do autor

  • Parametric Modeling

    265

    transforma-se em signo, cristalizando-se na forma acabada da obra, na passagem do sinttico para o semntico.

    Patrik Schumacher, por sua vez, concede representao ligada ao parmetro uma condio particular: a sua dimenso abstrata algbrica percebida como uma potncia que permite ao diagrama ser analisado sem interpretaes estveis. Contudo, ele ainda considera o desenho uma das bases do diagrama, por isso a bipartio entre seus dois modos de apresentao: ordinrio e extraordinrio. Schumacher, a partir da leitura de Deleuze, sugere que em relao aos diagramas extraordinrios nenhuma prtica rotineira encontra-se cristalizada, sendo apenas proto-representaes (2011, p. 351). O diagrama somado variabilidade do parmetro, e sua compreenso como objeto atual em si mesmo (Parisi, 2013, p. 131), potencializa a manipulao aberta de relaes no ambiente digital e a consequente limitao do escopo da arquitetura ao projetado, experimentado e simulado.

    Ambos os autores compreendem a dimenso do devir tanto no diagrama (Eisenman) quanto no parmetro (Schumacher). Para Eisenman, suas experimentaes de traados e escritas se transformam em opes que so analisadas e se convertem no carter formal do objeto arquitetnico, segundo processos especficos que envolvem interioridade (autonomia disciplinar) e exterioridade (interdisciplinaridades). Schumacher incrementa s expresses do diagrama dois princpios geradores distintos ordinrios e extraordinrios -, e duas propriedades especficas mtrica e paramtrica. Na dialtica entre exploraes e acumulaes, entre diagramas paramtricos extraordinrios e modelos paramtricos para solues concretas, Schumacher vislumbra avanos disciplinares.

    Se Eisenman se apresenta como um dos arquitetos proeminentes para captar as transformaes nas lgicas projetuais dos anos 1970 aos anos 1990, que fazem a passagem dos diagramas explanatrios para os representacionais e generativos, Schumacher vem se consolidando como uma referncia a partir da

    qual possvel mapear as transformaes nas lgicas projetuais dos anos 1990 at o presente, potencializando os diagramas generativos a partir da parametria em direo aos novos devires.

    Referncias Allen, S. (2009). Practice: Architecture, technique + representation. New

    York: Routledge.

    Braham, W. (2000). After Typology: The Suffering of Diagrams. University of Pennsylvania ScholarlyCommons. Retrieved from http://repository.upenn.edu/arch_papers/24

    Deleuze, G. (1995). Mil plats: Capitalismo e esquizofrenia. Rio de Janeiro: Editora 34.

    Deleuze, G. (2007). Francis Bacon. Lgica do sentido. Rio de Janeiro: Jorge Zahar.

    Eisenman, P. (2001). Diagram Diaries. London: Thames & Hudson.

    Galofaro, L. (1999). Digital Eisenman: An office of the electronic era. Basel: Birkhuser.

    Parisi, L. (2013) Contagious Architecture: Computation, Aesthetics, and Space. Cambridge, MA: MIT Press.

    Picon, A. (2010). Digital culture in architecture: an introduction for the design professions. Basel: Birkhuser.

    Reiser, J. (2006). Atlas of novel architectonics Reiser + Umemoto. New York: Princeton.

    Schumacher, P. (2010). Parametric Diagrammes. In M. Garcia (Ed.), The Diagrams of Architecture, AD Reader (pp. 260-269). Chichester, UK: John Wiley & Sons.

    Schumacher, P. (2011). The Autopoiesis of Architecture: a new framework for Architecture. Chichester, UK: John Wiley & Sons.

    Teyssot, G. (2012). The Diagram as Abstract Machine. V!RUS, n. 7, Retrieved from http://www.nomads.usp.br/virus/virus07/?sec=3& item=1&lang=en

    Woodbury, R. (2010). Elements of parametric design. Oxford, UK: Routledge.

    Van Berkel, B., & Bos, C. (2010). Diagrams. In M. Garcia (Ed.), The Diagrams of Architecture, AD Reader (pp. 222-227). Chichester, UK: John Wiley & Sons.