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O EMPREGO DA VEGETAÇÃO NA PROSPECÇÃO DE MINERALIZAÇÕES AURÍFERAS NA BAIXADA CUIABANA, MATO GROSSO.

THE USE OF VEGETATION FOR EXPLORING GOLD MINERALIZATIONS IN THE BAIXADA CUIABANA, MATO GROSSO,

RESUMO

Este trabalho aborda o emprego da vegetação na prospecção mineral, tendo por base a análise química de cinzas de folhas, técnica esta conhecida como biogeoquímica. Esta técnica de detecção de depósitos não aflorantes, inicialmente utilizada em regiões cobertas por gelo, vem sendo empregada com sucesso em diferentes regiões por apresentar baixo custo. A planta escolhida para este estudo pertence à família ”Dilleniaceae”, com nome científico “Curatella Americana L.” e popularmente conhecida como Lixeira, foi eleita por ser uma planta predominante no Bioma Cerrado, sendo caracterizada por suas folhas duras e ásperas, e apresenta ampla ocorrência na região Centro Oeste e no país. Foi realizada uma amostragem padrão selecionando arvoredos entre 1 a 3 metros de altura. Este estudo está inserido na Zona Estrutural Interna da Faixa Paraguai, no Grupo Cuiabá, que apresenta sedimentos polideformados e metamorfisados na fácies xisto verde. A área pesquisada situa-se no município de Cuiabá, sendo realizado um perfil na BR 364 entre as adjacências da Serra de São Vicente e o Distrito Industrial da capital, passando pelo Garimpo de Ouro do Jatobá. Os resultados geoquímicos mostram que teor de ouro na cinza da planta é mais em zonas laterizadas, quando comparado às zonas de filito. O método biogeoquímico que utiliza a planta Curatella americana L. como bioindicadora, através da análise química de cinzas de folhas por Plasma de Acoplamento Indutivo (ICP) mostrou teores mais elevados na zona de garimpo, sendo eficiente para indicar áreas mineralizadas a ouro nos domínios do Grupo Cuiabá.

PALAVRAS-CHAVE: Curatella Americana L., biogeoquímica, ouro, laterita, Grupo Cuiabá.

ABSTRACT

This paper discusses the use of vegetation in mineral exploration, based on the chemical analysis of leaves ash, this technique is known as biogeochemistry. This detection technique deposits do not outcrop, initially used in areas covered by ice, has been used successfully in different regions because of its low cost. The plant chosen for this study belongs to the family "Dilleniaceae" with scientific name "Curatella Americana L" and popularly known as Lixeira, was elected to be a dominant plant in the Cerrado Biome, characterized by their hard and rough leaves, and presents widespread occurrence in the Midwest region and in the Country. We performed a standard sample selecting trees from 1-3 meters tall. This study area is inserted in the Internal Zone of Structural Paraguay Belt, Cuiabá Group, which has metamorphic polideformed sedimentary rocks in the greenschist facies. The studied area is located in the city of Cuiabá, a profile being performed in BR-364 road from the adjacency of the São Vicente Hill to the Industrial District of the capital, through the Garimpo de ouro do Jatobá. The results show that gold grades in the ash of plant is higher in areas of lateriterized surfaces when compared to the areas of phyllite. The biogeochemical method using the Curatella Americana L. as a bioindicator, through chemical analysis of the leaves ash by Inductively Coupled Plasma (ICP) showed higher gold grades in the Garimpo areas, being effective to indicate the gold mineralized zones in the Cuiabá Group areas.

KEY-WORDS: Curatella americana L., biogeochemistry, gold, laterite, Cuiaba Group.

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1 – INTRODUÇÃO

Os vegetais por meio de seu sistema radicular apresentam característica de penetrar espessas camadas de solo, podendo ou não atingir rochas subjacentes em busca de soluções nutritivas necessárias ao seu desenvolvimento, tais como C, O, N, H, K, S, P, Ca e Mg além de água.

Mesmo que estes elementos sejam absorvidos de forma seletiva, a planta não pode excluí-los inteiramente, portanto, a composição química de suas cinzas tende a refletir as peculiaridades químicas de seu habitat, ou seja, a composição química do solo em que esta se encontra.

Em geologia a vegetação tem sido usada para avaliar a capacidade de o solo reter água, em mapeamento de unidade litológicas e na localização de concentração metalíferas.

A planta escolhida para este estudo pertence à família “Dilleniaceae”, com nome científico “Curatella Americana L.” e popularmente conhecida como Lixeira. Foi eleita por apresentar uniformidade de distribuição e ser abundante nas áreas de estudo. Ela apresenta-se de pequeno porte podendo medir até 12 metros de altura, sendo caracterizada por suas folhas duras e ásperas e apresenta ampla ocorrência na região centro-oeste e no país. Além disso ela é uma espécie não muito evoluída, pois, não seleciona muitos elementos quando faz a absorção do solo, entrando o ouro como uma impureza. Para este estudo foram utilizados os vegetais com altura entre 1 e 3 metros, tendo assim um padrão de amostragem.

A área de estudo situa-se no município de Cuiabá (Figura 1), o perfil foi realizado na BR 364 entre as adjacências da Serra de São Vicente e o distrito industrial da capital, passando pelo Garimpo de Ouro do Jatobá.

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Figura 1- Mapa de Localização do perfil estudado (mostrado em traço vermelho de maior espessura).

A área estudada está inserida na Faixa Paraguai (Almeida,1965) que foi afetada pelo Ciclo Brasiliano-Pan-Africano (~600 Ma) sendo formada por um cinturão de dobramentos, localizado na região central sul-americana, limitando o leste-sudeste do Cráton Amazônico e o leste do Bloco Rio Apa, sendo parcialmente recoberta por sedimentos das Bacias do Pantanal, Parecis e Paraná. A Faixa Paraguai exibe-se na forma de arco com concavidade para SE, orientando-se para NE-SW no seu ramo norte e N-S no sul, com extensão de 1.500 Km e largura de até 300 Km.

Evans (1894) com a descrição de rochas sedimentares ao norte da Faixa Paraguai foi o primeiro a publicar a respeito desta entidade, mas depois disso houveram várias contribuições, sendo que a mais importante tenha sido feita por Almeida (1984) estabelecendo três domínios estruturais, posteriormente denominados por Alvarenga & Trompette (1993) como zonas estruturais distintas: Zona Estrutural Interna (Grupo Cuiabá), intensamente dobrada e metamorfisada, Zona

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Estrutural Externa (Formações Puga, Araras, Raizama, Bauxi e Diamantino), dobrada com pouco ou nenhum metamorfismo e Coberturas Sedimentares de Plataforma.

Este trabalho está inserido na Zona Estrutural Interna (Grupo Cuiabá) apresentando sedimentos polideformados e metamorfisados na fácies xisto verde (Figura 2), as unidades mais importantes nas áreas estudadas são o Grupo Cuiabá e Granito São Vicente.

O primeiro mapeamento geológico na região de Cuiabá foi realizado por Luz et al. (1980) no Projeto Coxipó e teve escala de 1:50.000, aonde as rochas do Grupo Cuiabá, na Baixada Cuiabana foram subdivididas lito-estratigraficamente em: subunidade 1: composta por filitos sericíticos de cor cinza claro, com intercalações de filitos e metarenitos às vezes grafitosos; subunidade 2: representada pelos metarenitos calcíferos apresentando cores que variam entre cinza escuro e cinza esverdeado, filitos grafitosos com cor cinza escura a preta (comumente intercalados a metarenitos arcosianos e calcíferos) e mármores calcíticos com cor cinza média; subunidade 3: com filitos cinza claro a cinza esverdeados, filitos conglomeráticos, metaconglomerados ocorrendo sob forma de lentes, metarcóseos, metarenitos, lentes de filitos calcíferos, além de níveis de filitos hematítico no topo; subunidade 4: litologicamente composta por metaparaconglomerados petromíticos de cores cinza escuro a cinza esverdeado com tonalidades rosadas, arroxeadas e avermelhadas; subunidade 5: constituída por filitos e filitos sericíticos que apresentam três tons de cinza: o escuro, o esverdeado e o prateado, metarcóseo, metamicroconglomerados e subordinadamente quartzitos; subunidade 6: formada por filitos conglomeráticos com coloração variando entre cinza esverdeada e esverdeada, metarenitos ocorrendo em lentes, quartzitos e mármore; subunidade 7: metaparaconglomerados (metadiamictitos) petromíticos que exibem uma coloração cinza esverdeada a cinza clara; subunidade 8: mármores calcíticos e dolomíticos, margas e filitos sericíticos e subunidade Indivisa: composta por quartzitos, metarenitos, filitos e filitos conglomeráticos.

O ambiente deposicional do Grupo Cuiabá para as subunidades 1, 2, 3, 5 e 6 sugerem ser marinho com instabilidades tectônicas que deram origem a correntes de turbidez com consequentes fluxos de lamas e deposição de turbiditos com intercalações de rochas carbonáticas que representariam períodos de calma tectônica. As subunidades 4 e 7 representariam um ambiente de sedimentação glacio-marinho, provavelmente associado a grandes massas de gelo flutuantes (Luz et al., 1980).

O granito São Vicente localiza-se a 60 Km a sudeste de Cuiabá, com uma área de exposição de aproximadamente 437 Km2 na sua porção leste, e encontra-se intrusivo em rochas metassedimentares de baixo grau do Grupo Cuiabá e parcialmente recoberto pelos sedimentos da Bacia do Paraná na sua porção leste. Observa-se em todo o maciço um grande número de diques e veios aplíticos e/ou pegmatóides das mais variadas espessuras e direções e de composição ácida.

Luz et al. (1980) caracterizaram o Granito São Vicente como uma intrusão hipoabissal, inserida no Grupo Cuiabá, cujo magmatismo provocou metamorfismo de contato nas rochas adjacente desse grupo, observado principalmente nas bordas noroeste e nordeste do corpo, devido à presença de hornfels.

Godoy et al. (2010) fornece a idade obtida pelo método U-Pb convencional em monocristais de zircões 504 ± 8.9 Ma, definida como idade de cristalização e como idade modelo TDM obtidas: 1.165 Ga, sugerindo o retrabalhamento de fragmentos crustais mais jovens, formados predominantemente no Meso a Neoproterozóico.

2 - MATERIAIS E MÉTODOS

Como o objetivo principal do trabalho era o de marcar a presença de ouro em cinzas de lixeira em zonas mineradas ou garimpadas para ouro na Baixada Cuiabana, foi definida uma amostragem no perfil que vai da região da Serra de São Vicente a Cuiabá, passando nas proximidades do Garimpo do Jatobá (Figura 2), ao todo foram coletadas 5 (cinco) amostras na BR-364 ao longo deste perfil e um total de 9 (nove) amostras na área do Garimpo do Jatobá (Tabela 1).

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Os trabalhos de campo consistiram em coleta sistemática de amostras das folhas da planta para posterior tratamento em laboratório. A coleta em campo seguiu um padrão de amostragem selecionando arvoredos entre 1 a 3 metros de altura, as amostras foram realizadas nas folhas pela facilidade da coleta e também porque elas acumulam bem os metais, entre as que dão melhores resultados, estão as localizadas nas partes mais baixas das plantas por serem mais velhas e para as árvores procurou-se amostrar as que apresentam idade superior a dois anos. Para cada amostra foram coletadas em torno de 500 gramas de folhas que apresentavam diâmetro em torno de 10 centímetros e cor verde intensa, evitando sempre variar cor ou textura. O trabalho de coleta sempre foi realizado após dias chuvosos, evitando-se assim a coleta de folhas impregnadas por poeira.

Os trabalhos em laboratório consistiram na preparação das amostras para posterior envio para análise química no ACTLAB-Activatin Laboratories Ltda, no Canadá aonde foram analisadas por Plasma de Acoplamento Indutivo (ICP) para Au e mais 52 elementos. Para a preparação das amostras foi necessária a lavagem das folhas com água destilada, depois desidratá-las em estufa a 80ºC, e por fim calciná-las a 500ºC em mufla. Assim, somente as cinzas foram enviadas ao laboratório (em torno de 0,2 gramas) (método descrito por Resende e Pinho, 2012).

3 – RESULTADOS E DISCUSSÕES

O perfil de amostragem está incluído em litologias do Grupo Cuiabá, na subunidade indivisa de Luz et al. 1980 e Coberturas Detrito Lateriticas Ferruginosas (Figura 2). Como pode ser observado na tabela 1, as amostras coletadas ao longo da BR-364 (1 a 5), bem como alguns pontos relativos ao Garimpo do Jatobá (11 e 13), são folhas coletadas em lixeiras que nasceram e cresceram em zona de intensa laterização, representada localmente por espessas crostas ou ocorrência de grande quantidade de fragmentos lateríticos no solo. Os demais pontos coletados no Garimpo do Jatobá correspondem a amostras de folhas de lixeira que cresceram sobre rochas filiticas da unidade indivisa de Luz et al. 1980.

Figura 2 – Mapa geológico da região em torno de Cuiabá mostrando o perfil São Vicente – Cuiabá (modificado de Luz et al., 1980).

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TABELA 1- Resultados das análises geoquímicas do perfil São Vicente – Cuiabá.

Ponto Au ppb Ag ppb Cu ppm Pb ppm As ppm Zn ppm

1 812,4 64 76,76 1,87 1,0 29,1

2 917,5 88 75,89 2,81 2,8 29,2

3 602,0 80 78,71 2,42 0,1 25,6

4 802,5 51 67,46 0,95 0,4 16,9

5 1310,0 113 58,56 1,83 1,1 18,5

6 364,5 67 83,97 2,04 0,1 26,2

7 652,2 79 77,07 1,92 0,6 22,3

8 276,7 38 41,10 1,17 0,8 58,2

9 190,9 27 30,39 3,24 0,1 26,7

10 387,7 38 53,65 2,97 0,1 49,7

11 1636,2 6439 161,32 2,87 1,2 20,6

12 443,8 73 129,06 1,67 1,7 19,9

13 711,4 75 64,11 3,49 0,7 43,5

14 368,2 84 56,17 43,33 0,9 49,0

Em cinza escuro estão os teores mínimo e máximo de cada elemento e em cinza claro as amostras coletadas em áreas decoberturas detrito laterítica ferruginosa.

Dos dados da tabela 1 podemos concluir que os maiores teores de Au estão associados à zonas laterizadas, onde a média dos teores de Au é de 970,28ppb, com valor mínimo de 602ppb e máximo de 1636,2ppb, enquanto que na zona do Garimpo do Jatobá, onde a rocha é representada por filitos com solos litólicos, a média dos teores de Au é de 383,42ppb, com valor mínimo de 190,9ppb e máximo de 652,2ppb. Observar-se ainda que existe uma relação entre Au-Ag-Cu (Figura 3), o mesmo não acontece para os elementos Pb, Zn e As. Segundo Bowen (1969), existem evidências de que o Cu inibe o fortemente a absorção do Zn e vice-versa, o que pode ser ratificado pelos teores de ambos, pois na maior parte dos resultados quando um está alto o outro está baixo.

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1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 1410.0

100.0

1000.0

10000.0

AuAgCu

Figura 3 - Diagrama mostrando a relação dos elementos Au, Ag e Cu em cinzas de folhas de lixeiras amostradas no perfil São Vicente - Cuiabá.

Quando consideramos somente as amostras coletadas na unidade denominada Coberturas Detrito Laterítica Ferruginosas (amostras destacadas em cinza na tabela 1) observamos que os teores de Au são elevados, no entanto pode-se observar um leve acréscimo no valor para as amostras localizadas nas proximidades e no Garimpo do Jatobá (Figura 4).

1 2 3 4 5 11400.0

600.0

800.0

1000.0

1200.0

1400.0

1600.0

1800.0

Au

Figura 4 – Perfil com teores de (Au) em cinzas de folhas de lixeiras amostradas no perfil São Vicente – Cuiabá. Pontos 1 a 5 – valores amostrados ao longo do perfil e ponto 11 amostra coletada na área do Garimpo do Jatobá, próximo ao perfil.

Ianoski (2012) realizou prospecção biogeoquímica utilizando a planta Curatella Americana L. na região de Cangas município de Poconé, na área de explotação de ouro da mineração São Rafael, que está inserida no mesmo contexto geológico do Grupo Cuiabá pertencente a Faixa Paraguai. Na área alvo da pesquisa realizada em Poconé afloram as rochas do topo da subunidade 3 e base da subunidade 5 de Luz et al. (1980). A subunidade 3 é representada por filitos cinza claro a cinza esverdeados, filitos conglomeráticos, metaconglomerados ocorrendo sob forma de lentes, metarcóseos, metarenitos, lentes de filitos calcíferos, além de níveis de filitos hematítico no topo. A subunidade 5 se distingue da subunidade 3 pela presença de predominante de litotipos mais arenosos, tais como quartzitos. Enquanto que o perfil do trabalho em apreço localiza-se na

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subunidade indivisa de Luz et al. (1980), apresentando filito sericítico de granulação fina e coloração cinza escura alternada com esbranquiçada (Barboza, 2008) e coberturas detrito-lateríticas ferruginosas, já tendo sido estas retiradas na área da mineração. Para Cangas, estudo realizado próximo a áreas de exploração, Ianoski (2012) obteve para as análises da cinza das folhas da lixeira para o elemento Au teor mínimo de 13,5 ppb e máximo de 394,6ppb, com média de teores de 165,1ppb.

Resende e Pinho (2012) obtiveram para cinzas de folhas de lixeira de áreas mineralizadas do Distrito de Cangas, Município de Poconé-MT teor máximo de 751ppb descrevendo uma média de 164ppb. No mesmo artigo Resende e Pinho (2012) descrevem a relação paragenética entre os elementos Au-Ag-Cu nas análises realizadas na região de Cangas e Poconé.

Esses dados sugerem que o teor de Au na cinza da planta é maior em zonas laterizadas, fato que pode ser observado quando se compara os teores obtidos para o perfil São Vicente – Cuiabá, com outras áreas já amostradas em zonas não laterizadas, que apesar de mais ricas em ouro, apresenta teores mais baixos nas cinzas das folhas de lixeira. O mesmo fato ocorre quando comparamos as amostras obtidas para o Garimpo do Jatobá, onde as amostras 11 (1.636,2ppb) e 13 (711,4ppb), que representam zonas de Coberturas Detrito Lateriticas Ferruginosas, tem teores mais elevados do que as demais amostras, representativas de zonas mineralizadas não relacionada à Coberturas Detrito Lateriticas Ferruginosas.

Durante os trabalhos não foram realizadas análises de teores de Au para os solos dos quais as amostras de folhas de lixeira foram coletadas. Assim, não é possível fazer uma relação entre teores de solo com teores de cinzas de folhas de lixeira, fato que poderia elucidar a questão.

Não existem registros de que a zona de Coberturas Detrito Lateriticas Ferruginosas amostrada neste trabalho seja mineralizada a ouro, fato comum quando soluções ricas em Au percolam zonas laterizadas, depositando este metal quando ocorre a redução dos íons Au1+ e Au2+

associado com a oxidação de Fe2+ e Fe3+ (Mann, 1084; Staffregen, 1986). Em zona aurífera é possível que áreas laterizadas concentrem maiores teores de Au. A

presença de pepitas de Au com lateritas formadas por oxido- hidróxidos de ferro atestam este fato (Wilson, 1984; Vasconcelos e Kyle, 1991; Santosh e Omana, 1991; Oliveira e Campos, 1991; Santosh et al. 1992; Zang e Fyfe, 1993).

4 – CONCLUSÕES

Para o perfil realizado na cobertura detrito-laterítica ferruginosa (São Vicente – Cuiabá) as cinzas das folhas de lixeira apresentaram teores mais elevados de Au e Ag, quando comparadas com as de outras zonas auríferas do próprio Grupo Cuiabá, nas quais as amostras de folhas foram coletadas de plantas que cresceram sobre filitos. Os altos teores de Au e Ag apresentado pelas cinzas de lixeiras associadas à Coberturas Detrito Lateríticas devem-se a duas possibilidades: uma maior concentração de ouro e prata nestas coberturas, possibilitando uma maior absorção e acúmulo destes metais pela planta; ou, o ambiente mais rico em ferro possibilitar que um maior processo de absorção de Au e Ag pela planta ocorra, independentemente de o solo apresentar teores mais elevados destes metais.

Na área do garimpo de ouro do Jatobá observa-se que a crosta laterítica raramente ocorre, pois a mesma foi praticamente exaurida, no início das atividades de exploração do ouro, pois este metal ocorria comumente associado à crosta laterítica. Posteriormente os garimpeiros passaram a explotar ouro de veios de quartzo associados aos filitos. Mesmo na área do garimpo, a relação de teores mais elevados em cinzas de folhas de lixeiras associadas a Coberturas Detrito Lateríticas em relação as associadas a rocha filítica foi observada, confirmando a afirmação acima citada.

Muito embora em alguns locais de concentração de Au ocorra uma associação deste elemento com o As, quando analisamos os dados geoquímicos de zonas mineralizadas do Grupo Cuiabá, parece não haver nenhuma associação entre estes dois elementos, fato que foi confirmado também pela análise destes elementos nas cinzas das folhas de lixeira. Este fato revesti-se de interesse, pois a semelhança das associações químicas obtidas para amostras de cinzas de folhas da

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lixeira podendo ser comparada com as associaçõess químicas obtidas para outros tipos de amostras analisadas, tais como solo e rocha confirma a possibilidade de uso da lixeira como um bioindicador.

Com tudo isso, conclui-se que o método biogeoquímico que utiliza a planta Curatella americana L. como bioindicadora, através da análise química de cinzas de folhas por Plasma de Acoplamento Indutivo (ICP) é eficiente para indicar áreas mineralizadas a ouro dentro do Grupo Cuiabá, devendo-se no entanto observar o aumento dos teores de Au e Ag para as amostras coletadas em zonas de Coberturas Detrito Lateríticas Ferruginosas.

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