Post on 01-Feb-2021
M a n u a l d e E d u c a ç ã op a r a o ConsumoSustentável
ISBN 85-87166-73-5
CONSUMO SUSTENTÁVEL: Manual de educação. Brasília: Consumers International/ MMA/ MEC/
IDEC, 2005. 160 p.
1. Consumo sustentável. 2. Cidadania- consumo. 3. Água – consumo. 4. Alimentos – consumo.
4. Biodiversidade – consumo. 5. Transportes – consumo. 6. Energia – consumo. 7. Lixo –
consumo. 8. Publicidade – consumo. I. Consumers International. II. Ministério do Meio
Ambiente. III. Ministério da Educação. IV. Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor.
CDU–504.052
Governo Federal
Presidente da República
Luiz Inácio Lula da Silva
Vice-presidente
José Alencar Gomes da Silva
Ministra do Meio Ambiente
Marina Silva
Ministro da Educação
Tarso Genro
Secretário-Executivo – MMA
Claudio Langone
Secretário Executivo – MEC
Fernando Haddad
Secretário de Políticas para o Desenvolvimento Sustentável – MMA
Gilney Amorim Viana
Secretário de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade – MEC
Ricardo Henriques
Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor
Coordenador-Executivo: Sezifredo Paz
Consumers International/Escritório Regional para América Latina e Caribe
Diretor Regional: José Vargas Niello
Ministério do Meio AmbienteMinistério da Educação
Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor
Brasília 2005
M a n u a l d e E d u c a ç ã op a r a o ConsumoSustentável
Sumário
Cidadania e Consumo Sustentável 13
Nossas escolhas fazem a diferença 14
A Sociedade de Consumo 14
Impactos ambientais do consumo 16
As propostas de mudança dospadrões de consumo 17
Consumo verde 18
Consumo ético, consumo responsávele consumo consciente 18
Consumo sustentável 19
Consumo e cidadania 20
A reconstrução do cidadão noespaço de consumo 21
A politização do consumo 22
O Código de Defesa do Consumidor 23
Consumo sustentável depende daparticipação de todos 24
Água 25
Um recurso cada vez mais ameaçado 26
O ciclo da água 27
A distribuição e o consumo deágua doce no mundo e no Brasil 27
Água no Brasil 28
Os usos da água 29
Uso doméstico 29
Saneamento Básico 31
Uso industrial 32
Uso agrícola 32
Navegação 33
Pesca e lazer 33
Geração de energia 34
O que pode ser feito 35
Atividades 36
Alimentos 41
Os impactos da produção 42
Utilização de insumos químicosna agricultura 43
Agrotóxicos 44
Manipulação genética 46
Alimentos transgênicos 47
Erosão genética 47
Erosão dos solos 47
Em busca de umaagricultura sustentável 48
Agroecologia: o caminho parauma agricultura sustentável 49
Iniciativas de apoio à produção de alimentosmais seguros 51
Agricultura familiar 51
Sistema de plantio direto 52
O que você pode fazer 53
Atividades 54
Biodiversidade 59
Preservar a biodiversidade é proteger a vida 60
A importância da Biodiversidade 60
Funções ambientais 60
Polinização e dispersão das plantas 61
A teia trófica ou cadeia alimentar 61
Variabilidade e adaptação 61
Estabilidade do regime hídrico eamenização climática 62
Funções socioeconômicas 62
Fonte de novos produtos e de energia 62
Sustentabilidade na agriculturae na pecuária 62
Produtos florestais 63
A questão sócio-cultural 64
Lazer e turismo 65
Ecoturismo: uma forma sustentávelde utilização dos recursos naturais 65
Florestas: muito mais do queum conjunto de árvores 65
Os biomas brasileiros 66
Caatinga 67
Campos Sulinos 67
Lixo 113
Um grave problema no mundo moderno 114
Classificação dos resíduos sólidos (lixo) 114
Resíduos perigosos 116
Resíduos indesejáveis 118
Como resolver o problema do lixo? 118
Reciclagem: a indústria do presente 118
Para onde vai o lixo? 119
Tratamento e disposição final do lixo 121
Compostagem 121
Incineração 121
Pirólise 121
Digestão Anaeróbica 121
Reuso ou Reciclagem 122
Aterro sanitário 122
Aterro controlado 123
Unidades de segregação e/ou decompostagem 123
Embalagem: quanto maissimples, melhor 124
A responsabilidade é de quem produz 124
O lixo e o consumo 127
O que você pode fazer 129
Atividades 130
Publicidade 135
Consumo e o meio ambiente 136
Armas que convencem 137
Crianças e jovens: os alvosmais vulneráveis 138
Publicidade enganosa ou abusiva 139
Em busca do consumo sustentável 140
Além do “consumo verde” 141
O que você pode fazer 141
Atividades 142
Glossário 145
Referências bibliográficas 151
Zona Costeira e Marinha 67
Amazônia brasileira 68
Pantanal 68
Cerrado 69
Mata Atlântica 69
Desmatamento: um crime contra a vida 70
Exploração sustentável da madeira 70
Certificação florestal 71
Preservar a biodiversidadeé um dever de todos 72
O que você pode fazer 74
Atividades 75
Transportes 79
Os automóveis e a contaminação do ar 81Poluição veicular: um problema globale local 81A poluição do ar e a saúde 83A poluição do ar e o meio ambiente 84
Acidificação ou chuva ácida 84A ação do ozônio 84
Mudanças climáticas e o efeito estufa 86Aquecimento global 86Solução difícil 86
Transporte e consumo de energia 88Os transportes e o lixo 88O que pode ser feito 90O que você pode fazer 91Atividades 92
Energia 97
A ordem é economizar 98
Energia elétrica 98
O setor elétrico no Brasil 99
Economia forçada 100
A geração de energia eo impacto ambiental 100
Energia hidráulica 100
Energia termelétrica 101
Energia nuclear 103
Energia eólica 104
Energia solar 105
Consumo x desperdício 105
Eficiência energética 106
O que o consumidor pode fazer 107
Atividades 109
Apresentação
O povo brasileiro está cada vez mais consciente de que a qualidade de vida em nosso planeta
sofre sérias ameaças diante do vertiginoso crescimento da produção industrial. Aos pou-cos, o cidadão
começa a perceber que o meio ambiente não é uma fonte inesgotável de recursos, capaz de assegurar
perma-nentemente o processo de crescimento econômico.
O meio ambiente apresenta nítidos sinais de esgotamento, com a contaminação dos recursos
hídricos, a desertificação, a destruição da camada de ozônio, o aquecimento global, a escas-sez e falta
de água. Esses são alguns exemplos dos reflexos da atividade humana sobre o meio ambiente e que
já estão afetando o dia-a-dia das pessoas. O desaparecimento de florestas e de es-pécies da fauna e
da flora, infelizmente, já é uma realidade incontestável.
Para atender às demandas crescentes de consumo da socie-dade, a economia brasileira ainda
depende em larga escala do uso intenso do nosso patrimônio natural e, se mantido o atual mo-delo
de exploração, as conseqüências serão desastrosas, com prejuízos irreparáveis para a diversidade
biológica e para o bem-estar dos indivíduos.
E o que nós, cidadãos comuns, devemos fazer para modificar essa tendência de degradação da
natureza e construir um futuro de sustentabilidade econômica, social e ambiental que queremos?
Um passo importante na direção desse objetivo é avaliar as conseqüências reais para o meio
ambiente de nosso comporta-mento como consumidores. Raramente paramos para pensar que
certas atitudes que tomamos contribuem para o dese-quilíbrio ambiental ou associamos nossas
opções de uso de bens e serviços aos processos de exploração dos recursos naturais.
A sociedade precisa refletir sobre os impactos do consumo na degradação do meio ambiente.
A construção do padrão de desenvolvimento a que aspiramos deve estar norteada pela noção de
crescimento econômico que não perca de vista a preocupação com o equilíbrio ambiental e com
a justiça social.
Conquistas obtidas até agora na gestão ambiental do país, como o aperfeiçoamento dos
mecanismos legais e dos instru-mentos de monitoramento e controle para o uso sustentável dos
recursos naturais, o aumento das áreas protegidas, assim como as medidas voltadas para a ecoeficiência
que começam a ser introduzidas pelas empresas, ainda não são suficientes para conter o impacto do
crescimento da produção econômica e do consumo de bens e serviços sobre o meio ambiente.
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O despertar da cidadania é um dos mais libertários momentos da vida de crianças, jovens e adultos.
É quando a noção de direitos e deveres transcende meros interesses individuais para traduzir uma
nova visão de mundo, que reflete a responsabilidade de cada pessoa na construção de valores
coletivos plenos, plurais e democráticos que assegurem o bem-estar humano e o respeito a todas as
formas de vida em suas mais variadas manifestações.
Entre esses valores coletivos se consagram o direito que todos temos a um meio ambiente saudável
e igualmente o dever ético, moral e político de preservá-lo para as presentes e futuras gerações. A consolidação
desse princípio como ato de cidadania, condição essencial para construirmos uma sociedade
sustentável em nosso país, impõe uma tarefa educacional – inadiável e primordial – que aproxime
a informação do consumidor, desde a sua mais tenra idade, estimulando-o a se manifestar como força
capaz de liderar mudanças, que se fazem urgentes e necessárias, nos padrões de desenvolvimento
do país. Infelizmente ainda sobrevive entre nós o mito da abundância e da inesgotabilidade dos
recursos naturais. É forçoso reconhecer que o consumismo adquiriu uma perigosa e equivocada
condição de valor social, cuja dimensão assume contornos preocupantes em uma sociedade que
ainda não aprendeu a relacionar suas atitudes individuais ou coletivas de consumo à produção,
à degradação ambiental e à conseqüente perda da qualidade de vida das pessoas.
Ao produzirmos a segunda edição do Manual, juntamente com o Instituto Brasileiro de Defesa do
Consumidor, estamos dando continuidade às ações de difusão de padrões sustentáveis de consumo
no Brasil que vêm sendo conduzidas, desde 2002, quando foi lançada a primeira edição. Este Manual
é também fruto de iniciativas integradas. Ele é parte de um processo iniciado com a Conferência
Infanto-Juvenil para o Meio Ambiente “Vamos Cuidar do Brasil”, que gerou uma parceria entre os
ministérios do Meio Ambiente e da Educação em 2003. A Conferência envolveu quase 16 mil escolas
do ensino fundamental e seis milhões de pessoas em um rico debate democrático e participativo
para promover a sustentabilidade e o exercício da cidadania ativa.
Com esta publicação, mantemos vivo um compromisso de gestão integrada de políticas
institucionais que consolida a implementação de uma política de governo. Ela visa ao fortalecimento
das responsabilidades da sociedade com o exercício pleno da cidadania, compreendida nas esferas
de decisões de consumo dos indivíduos, no contexto de seus estilos de vida, de suas relações com a
natureza, com os seus semelhantes, com a sua escola, com o seu bairro, com a sua cidade, com o seu
país e com toda a megadiversidade que ele encerra. Atuando e fazendo educação juntos, disponibi-
lizamos informações e conceitos que possam ter alcance e utilidade no dia-a-dia e na vida das
pessoas, que permitam aos usuários deste manual uma oportunidade de reflexão sobre qualidade
de vida e a cadeia complexa de relacionamentos culturais, socioambientais e econômicos envolvidos
na perspectiva do consumo. Buscamos fortalecer a capacidade das pessoas de atuarem, individual
ou coletivamente, na construção de um novo padrão de consumo, ambiental e socialmente
responsável, onde o consumo excessivo e perdulário de uns não usurpe o direito ou prejudique
as justas necessidades de consumir o mínimo indispensável à qualidade de vida de outros segmentos
menos privilegiados da sociedade.
A natureza ainda perde. Perde porque não adotamos um padrão sustentável de consumo.
Esse custo ambiental, entretanto, pode ser evitado pela socie-dade, com mudança de atitudes,
com hábitos de consumo cons-cientes, que diminuam a pressão sobre os recursos naturais.
Um relacionamento saudável entre o cidadão e o meio am-biente exige que voltemos nossa
atenção para o futuro que es-tamos construindo com ações diárias para as próximas gerações.
Focados no alcance desse objetivo, o Ministério do Meio Am-biente e o Instituto Brasileiro de
Defesa do Consumidor – Idec, lançam o Manual de Educação para o Consumo Sustentável, instrumento
educacional planejado, em particular, para inserir o assunto na agenda escolar, que será prioritariamente
aplicado na rede pública de ensino fundamental e médio. A edição bra-sileira do manual produzido
pela Consumers International inte-gra um conjunto de ações executadas pela Secretaria de Políti-cas
para o Desenvolvimento Sustentável e pelo Idec para difundir o consumo sustentável no País.
Esta versão traz exemplos, os números do mercado de consu-mo e a complexidade do quadro
ambiental brasileiro, abordando os diversos temas relacionados ao cotidiano das pessoas, num
trabalho que contou com a participação de setores da sociedade e de instituições e órgãos do
governo.
O enfoque no segmento escolar não foi aleatório. Motivado a estabelecer um vínculo afetivo com a
natureza, esse jovem ci-dadão, que deve participar da construção do próprio futuro, será capaz de multiplicar
o alcance dessa experiência didática, fazendo-a chegar ao ambiente familiar, onde são tomadas as decisões
de consumo.
Este manual será útil também a outros segmentos da socie-dade, pois apresenta um conjunto de
conceitos e práticas ne-cessárias para que os indivíduos adotem maneiras de pensar e agir que
revertam os atuais padrões insustentáveis de consumo e, a partir daí, como consumidores conscientes,
influenciem a construção de um modelo de desenvolvimento economicamente viável, que se
harmonize com a preservação do meio ambiente e com a permanente busca de melhoria da qualidade
de vida das pessoas.
José Carlos Carvalho
Ministro do Meio Ambiente
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Dessa forma, em sua segunda edição, o Manual de Educação para o Consumo Sustentável será
utilizado como um efetivo instrumento de política pública consistentemente construída, dirigida e
coordenada pelos atores governamentais, a quem compete orientar as dinâmicas pedagógicas
voltadas para despertar a consciência ambiental dos brasileiros. Nesse sentido, servirá de base para as
ações do Ministério do Meio Ambiente e do Ministério da Educação, nas atividades de capacitação
de agentes multiplicadores e de educadores em todo o país. Permitirá reforçar as iniciativas dos dois
ministérios no desenvolvimento de habilidades didático-pedagógicas que ensejarão aos seus usuários,
promover um vínculo mais saudável entre os seres humanos e a natureza, a partir da perspectiva
cidadã de respeito ao meio ambiente, inserido no contexto de suas próprias vivências, valores
e percepções culturais, sociais, econômicos e ambientais.
Nesta edição o Manual traz como tema central e inspirador o debate sobre o direito à cidadania,
melhoria da qualidade de vida dos cidadãos, do resgate da ética nas relações entre consumo
e produção e da responsabilidade que deve ser atribuída a cada indivíduo, como ator social partícipe
do processo de conservação ambiental e de bem-estar da humanidade.
Abrimos com este Manual uma possibilidade de diálogo do governo com a sociedade.
Um convite à ação individual e coletiva dos cidadãos organizados. A educação dos presentes
e futuros cidadãos passa pelo fortalecimento da noção de que a solução dos problemas ambientais
depende necessariamente do esforço compartilhado entre governos, setor produtivo e sociedade,
atuando simultaneamente na esfera da produção e do consumo, em sua dimensão material e simbólica.
Cada qual assumindo o compromisso ético de se reconhecer como parte do problema (mesmo que
com pesos diferenciados) e, conseqüentemente, a responsabilidade pela construção de um modelo
de desenvolvimento que seja sustentável, inclusivo, que enfrente as disparidades de renda, que crie
oportunidades de acesso ao trabalho e promova a redução das assimetrias sociais provocadas por um
modelo de desenvolvimento econômico que ainda nega oportunidades de consumo digno a
um grande contingente de brasileiros ainda invisíveis para o mercado.
Marina Silva Tarso Genro
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Cara professora, Caro professor,1
No Fórum Mundial de Educação realizado em Dakar em 2000, um documento que ficou conhecido
como Compromisso de Dakar considerou a educação para a sustentabilidade ambiental “um meio
indispensável para participar nos sistemas sociais e econômicos do século XXI afetados pela globalização”.
Este espírito converge com o Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e
Responsabilidade Global, construído pela sociedade civil no Fórum Internacional de Organizações
Não-Governamentais e Movimentos Sociais desde a ECO-92, realizada no Rio de Janeiro.
A ampliação de uma Educação para a Sustentabilidade Ambiental é agora reforçada quando
as Nações Unidas, por meio da resolução 57/254, declarou a década da Educação para o
Desenvolvimento Sustentável - 2005 a 2015.
Neste contexto, um novo marco para a consolidação e o enraizamento da Educação Ambiental no
país se dá com o Órgão Gestor da Política Nacional de Educação Ambiental, integrado pela Diretoria de
Educação Ambiental do Ministério do Meio Ambiente - DEA / MMA e pela Coordenação-Geral de
Educação Ambiental - COEA / MEC. Na educação formal, este órgão tem o desafio de apoiar professores
a se tornarem educadores ambientais abertos para atuar em processos de construção de
conhecimentos, pesquisa e intervenção educacional com base em valores voltados à sustentabilidade2
em suas múltiplas dimensões.
Para isso, o Ministério da Educação, como gestor e indutor de políticas públicas criou a Secretaria
de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade - SECAD, que tem como uma de suas respon-
sabilidades garantir o fortalecimento de políticas e a criação de instrumentos de gestão para a
afirmação cidadã, valorizando a riqueza de nossa diversidade étnica, ambiental e cultural. Na Secad
se insere a Coordenação-Geral de Educação Ambiental.
A chegada deste manual às escolas e aos professores junto com o Seminário de Formação de
Educadores Ambientais vem de um casamento de iniciativas integradas. Ele é uma parte de um
processo iniciado com a Conferência Infanto-Juvenil para o Meio Ambiente “Vamos Cuidar do Brasil”3 ,
que gerou uma parceria entre o Ministério do Meio Ambiente e Ministério da Educação em 2003.
A Conferência envolveu quase 16 mil escolas do ensino fundamental e 6 milhões de pessoas, em um
rico debate democrático e participativo para promover a sustentabilidade e o exercício da cidadania ativa.
Para trabalhar essa temática com as escolas, foi resgatada e revista esta publicação do IDEC - Instituto
Brasileiro de Defesa do Consumidor, em conjunto com o Ministério do Meio Ambiente, de 2002.
São inúmeros os desdobramentos da Conferência, mas o primeiro trata da formação continuada
de professores e, o mais inédito, de estudantes do ensino fundamental – jovens lideranças eleitas
como delegados e suplentes – das escolas que realizaram suas Conferências. Para sua implementação,
guardamos e ampliamos a lógica de capilaridade dos Parâmetros em Ação Meio Ambiente na Escola,
por meio de seminários nacional, estaduais e locais. Com a liderança dos delegados e suplentes
eleitos, criaremos Conselhos de Meio Ambiente e Qualidade de Vida nas Escolas (CONVIDA).
Organizaremos juntos, a cada dois anos, Conferências Nacionais de Meio Ambiente para
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aprofundarmos os debates e sensibilizarmos mais escolas; planejamos também incentivar projetos
de pesquisa-ação animados por ONGs e fortalecer a comunicação interescolar em redes.
Assumimos a responsabilidade de interagir com todas essas escolas, desenvolvendo o programa
Vamos Cuidar do Brasil com as Escolas, contribuindo inicialmente para o adensamento conceitual das
questões socioambientais em suas dimensões de conhecimentos científicos, políticas públicas e das
propostas de ações que ajudem a promover intervenções pertinentes com foco na melhoria da
qualidade de vida.
Escolher apenas um material para professores de mais de quatro mil municípios de todos os
estados, regiões, biomas e estratos sociais do país constituiu mais uma enorme dificuldade, solucionada ao
adotarmos este livro sobre o consumo sustentável. Estamos acostumados a tratar de consumo do
ponto de vista do crescimento econômico, da produção industrial, do poder de compra de uma
classe social ou de indivíduos. Já ouvimos falar de consumo responsável ou de direitos do consumidor.
Todavia, este livro é diferente: ele mostra um ponto de vista diferenciado sobre os padrões e níveis
atuais de produção, consumo e descarte. É quase como se a natureza nos contasse sua maneira de
sentir e reagir quando os seres humanos, em um sistema injusto e predatório, utilizam-na apenas
como fonte de recursos, sem preocupação com a sustentabilidade da vida.
O livro traz, ao mesmo tempo, a questão ambiental em diversos temas e um chamamento a uma
nova postura diante do consumo, a consciência de que precisamos nos envolver pessoalmente e em
movimentos coletivos de transformação. Nesse sentido, o conhecimento é fundamental para uma
leitura crítica da realidade e para se buscar formas concretas de se atuar sobre os problemas ambientais.
A relevância deste livro está no fato dele propor novos conceitos sobre os padrões de relação da
sociedade moderna com a natureza de maneira orgânica, interdisciplinar e transversal em relação ao
currículo escolar como um todo. Assim como a própria educação ambiental que, por não estar presa a
uma grade curricular rígida, pode ampliar conhecimentos em uma diversidade de dimensões sempre
com foco na sustentabilidade ambiental local e do planeta, aprendendo com as culturas tradicionais,
estudando a dimensão da ciência, abrindo janelas para a participação em políticas públicas de meio
ambiente e para a produção do conhecimento no âmbito da escola.
Sabemos que os acessos à informação, à participação e ao debate possibilitam nossa busca conjunta
de modos de vida alternativos, nos quais cuidar do meio ambiente significa também respeitar,
amar e reverenciar a vida. No entanto, sem o compromisso pessoal e solidário com a sustentabilidade
da vida no planeta, em nosso dia-a-dia, teremos que repetir a triste frase “mais as coisas mudam,
mais elas continuam iguais”.
A revitalização e a melhoria do meio ambiente e da qualidade de vida de todos passa pela
inclusão com justiça social e ambiental dos seres vivos, humanos ou não, em toda a sua diversidade e
formas distintas de compreensão da felicidade. Felicidade de convivermos com todo o colorido, diverso
e de expressarmos nossas potencialidades, permitindo aflorar um novo pacto, uma nova ética.4
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Metodologia
“O trabalho do educador, do professor tornado educador, é esse trabalho de interpretação do mundo,para que um dia este mundo não nos trate mais como objetos e para que sejamos povoadores do mundo...”
Milton Santos
Precisamos propor um método de trabalho coerente com nossos princípios e objetivos de formaçãode educadores e educadoras de todo o Brasil. Pensamos então em construir uma metodologiaparticipativa inspirada na atuação de Chico Mendes, que promova uma ética sócio-ecológica e nosconduza para transformações empoderadoras dos indivíduos e grupos.
A metodologia proposta inclui a realização de uma série de Seminários, que como no sentidoetimológico da palavra se refere à semente, viveiro, um “lugar de origem, desenvolvimento epropagação” de idéias, e também a utilização deste livro de referência, além de outros materiais. Semser um livro didático no sentido tradicional, o “Consumo Sustentável: um manual de educação” trazuma abordagem que respalda essa concepção de educação ambiental, oferecendo repertório básico,orientação prática e sistematizada para facilitar sua adequação a cada realidade local. Queremos, noentanto, tornar esse repertório o mais diversificado possível e possibilitar a promoção de reflexõesque ampliem sonhos e utopias daqueles professores, dos estudantes e das comunidades que jádebateram suas propostas e projetos de como podem, juntos, cuidar do seu local e do Brasil.
Optamos por buscar formas abertas e inovadoras de construir, juntamente com formadores,professores e alunos, aquilo que Edgar Morin chama de “conhecimento pertinente”, que possibilitaapreender os problemas globais e fundamentais para neles inserir os conhecimentos parciais elocais. Nestes dois saberes, têm-se implícita a busca de um conhecimento complexo, não fragmentárioe que se amplia continuamente, sem entretanto buscar um conhecimento totalizador, tambémlimitado. O conhecimento pertinente reconhece que, em meio à complexidade do real, não épossível nunca a compreensão total. É por isso, também, que a busca do conhecimento torna-se umesforço infinito, mas que pode se tornar um círculo virtuoso.5
A metodologia de formação continuada de educadores ambientais está no duplo sentidoetimológico da palavra latina para educação. Educação provém de duas palavras latinas – educare eeducere –, tendo o primeiro o significado de orientar, nutrir, decidir num sentido externo, levando oindivíduo de um ponto onde ele se encontra para outro que se deseja alcançar; e o segundo, educere,refere-se a promover o surgimento de dentro para fora das potencialidades que o indivíduo possui.Estamos acostumados com o significado de educare, favorecendo o estabelecimento de currículos eprogramas de ensino, mas precisamos resgatar o outro. Por não se tratar de uma disciplina, a educaçãoambiental permite inovações metodológicas na direção do educere – tirar de dentro – por sernecessariamente motivada pela paixão, pela delícia do conhecimento e da prática voltados para adimensão complexa da manutenção da vida.
Por um lado, pensamos na diversidade de saberes e na complexidade dos sistemas naturais esociais. Por outro, queremos trabalhar com a simplicidade do natural, de materiais didático-pedagógicos, do diálogo e de compartilhar experiências e conhecimentos. Para darmos conta da
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complexidade das dinâmicas do mundo contemporâneo, optamos pela arte da simplicidade. Isso sópode ser feito se tivermos a clareza de que na sociedade moderna se confunde complexidade comcomplicação e simplicidade (a essência do complexo) com ser simplista e reduzir tudo e todos amercadoria, portanto, algo a ser consumido.
Ao decidirmos trabalhar diretamente com o universo das 16 mil escolas que realizaramConferências, dizendo-nos “Sim, somos sensíveis à educação ambiental e queremos cuidar do Brasil”,decidimos utilizar uma metodologia aberta e replicável, podendo ser recriada em sala de aula.Usaremos um material básico, porém conceitualmente transformador, com a possibilidade de ampliá-lo com a ajuda de uma diversidade de outros materiais trazidos e/ou elaborados pelos participantesdas próprias atividades.
Assim, este livro funciona como um orientador dos debates, desde os seminários até a sala deaula, sem que especialistas tragam parafernálias complicadas e sem acesso para a maior partedas escolas, sem que isso traduza o universo de conhecimentos. Propomos que todas as instânciasdos seminários – especialistas, técnicos da COEA, formadores, professores e estudantes – trabalhemcom materiais, experiências e documentos trazidos pelos participantes em sua bagagem acumuladade vida. Cada participante leva para o seminário caderno e lápis, além de um livro de meio ambiente,um artigo de jornal ou revista sobre questões ambientais, uma canção, uma poesia e seuspensamentos e habilidades.
Os seminários serão potencializados pela interlocução na diversidade, pelo diálogo e pelaconstrução coletiva de percursos, trajetos e projetos em Educação Ambiental. Revelamos então oseducadores ambientais que estão dentro de cada um e cada uma dos professores, professoras eestudantes participantes. Esperamos que eles permitam incentivar educadores e educadorasambientais a acreditarem em sua capacidade de atuação individual e coletiva, ao se apropriarem deconceitos, readequando métodos, incrementando técnicas e melhorando suas práticas cotidianas.
Este já é um processo de continuidade da Conferência Nacional Infanto-juvenil pelo MeioAmbiente e dos Parâmetros Em Ação – Meio Ambiente, em sua idéia fundamental de “favorecer aleitura compartilhada, o trabalho conjunto e solidário, a aprendizagem em parceria, a reflexão sobreatitudes diante das questões ambientais”.6 O acompanhamento das ações decorrentes desta etapadependerá não só do governo, em suas instâncias, mas também da capacidade organizativa dasociedade civil, dos próprios educadores e dos Conselhos de Meio Ambiente e Qualidade de Vida(CONVIDA) em cada escola.
Coordenação-Geral de Educação Ambiental / SECAD
1 Esta edição foi produzida para o programa Vamos Cuidar do Brasil com as Escolas, MEC / Secad / COEA 2004.2 De acordo com autores como Ignacy Sachs, as dimensões da sustentabilidade são social, ambiental, econômica, cultural, política, ética.3 Idealizada pela Ministra do Meio Ambiente Marina Silva.4 Muitas das idéias desenvolvidas neste texto foram inspiradas em diálogos com o educador ambiental Marcos Sorrentino e leituras de textos de sua autoria.5 MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à Educação do Futuro. 4ed. (trad. Catarina E. F. da Silva e Jeanne Sawaya) São Paulo: Cortez; Brasília:
UNESCO, 2001. 118p.6 Brasil. Ministério da Educação. Programa parâmetros em ação, meio ambiente na escola: guia do formador. Brasilia, MEC, 2001.
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O Idec e o consumo sustentável
O tema consumo sustentável foi introduzido nas atividades do Idec não como mais um item de
nossa extensa agenda de trabalho na defesa do consumidor. O tema foi incorporado como uma
decorrência natural da consciência do impasse em que nos encontramos: ou se alteram os padrões
de consumo ou não haverá recursos, naturais ou de qualquer outro tipo, para garantir o direito das
pessoas a uma vida saudável. Não será possível garantir ao cidadão o direito de acesso universal
sequer aos bens essenciais.
As organizações de consumidores mais atuantes em todo o mundo têm sido desafiadas a
desempenhar um papel pedagógico nessa questão, mostrando ao consumidor a relação direta
entre consumo e sustentabilidade.
O Idec iniciou formalmente seus trabalhos sobre esse tema em 1998, por meio de uma publicação
em parceria com a Consumers International, que congrega cerca de 200 associações de consumidores
em todo o mundo, e a Secretaria de Meio Ambiente do Estado de São Paulo. Em 2000, com o projeto
“Consumo sustentável: uma iniciativa nacional”, o instituto desenvolveu diversas atividades, como
pesquisas sobre hábitos de consumo e eficiência energética de aparelhos domésticos.Também
foram realizados treinamentos de recursos humanos, testes e estudos sobre aspectos ambientais de
produtos e serviços e campanhas de informação ao público sobre o consumo sustentável.
Em 2002, juntamente com a Consumers International, publicou a primeira edição deste manual,
fruto de uma cooperação técnica firmada em 1999 com a Secretaria de Políticas para o Desenvolvimento
Sustentável do Ministério do Meio Ambiente.
Além do manual, foram produzidos folhetos educativos e spots de rádio, para orientar os
consumidores em assuntos como lixo, energia, transporte, alimentos e serviços.
Após o sucesso da primeira edição, cujos 36 mil exemplares foram utilizados na capacitação de
professores e alunos em todo o País, temos grande satisfação de elaborar a segunda edição deste
manual, que será utilizada pelo Ministério da Educação no programa Vamos Cuidar do Brasil nas
Escolas, que atingirá professores de mais de quatro mil municípios.
Acreditamos que, além de seu valor pedagógico, o Manual de Educação para o Consumo
Sustentável contribui para o fortalecimento da cidadania e para a construção de uma política pública
para o consumo sustentável no Brasil.
Marilena LazzariniCoordenadora institucional doInstituto Brasileiro de Defesa do Consumidor
* O Idec é uma associação independente e sem fins lucrativos, que desde 1987 defende exclusivamente os interesses do consumidor brasileiro.
As atividades do Instituto são mantidas fundamentalmente por seus associados. Mais informações: www.idec.org.br.
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Cidadania eConsumo Sustentável
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Nossas escolhas fazem a diferença
Cidadania eConsumo Sustentável
O aumento no consumo de energia, água, minerais e elementos da biodiversidade vem causando sériosproblemas ambientais, como a poluição da água e do ar, a contaminação e o desgaste do solo, o desapa-recimento de espécies animais e vegetais e as mudanças climáticas. Para tentar enfrentar estes problemassurgiram muitas propostas de política ambiental, como consumo verde, consciente, ético, responsável ousustentável. Mas o que significam estas expressões? E o que elas têm a ver com o tema cidadania?
Neste capítulo, vamos abordar aspectos da sociedade de consumo e da relação entre cidadania e consumo.
A Sociedade de Consumo
A abundância dos bens de consumo, continuamente produzidos pelo sistema industrial, é considerada,freqüentemente, um símbolo do sucesso das economias capitalistas modernas. No entanto, esta abun-dância passou a receber uma conotação negativa, sendo objeto de críticas que consideram o consumismoum dos principais problemas das sociedades industriais modernas.
Os bens, em todas as culturas, funcionam como manifestação concreta dos valores e da posição socialde seus usuários. Na atividade de consumo se desenvolvem as identidades sociais e sentimos que perten-cemos a um grupo e que fazemos parte de redes sociais. O consumo envolve também coesão social,produção e reprodução de valores. Desta forma, não é uma atividade neutra, individual e despolitizada.Ao contrário, trata-se de uma atividade que envolve a tomada de decisões políticas e morais praticamentetodos os dias. Quando consumimos, de certa forma manifestamos a forma como vemos o mundo.Há, portanto, uma conexão entre valores éticos, escolhas políticas, visões sobre a natureza e comporta-mentos relacionados às atividades de consumo.
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No entanto, com a expansão da sociedade de consumo, amplamente influenciada pelo estilo de vidanorte-americano, o consumo se transformou em uma compulsão e um vício, estimulados pelas forças domercado, da moda e da propaganda. A sociedade de consumo produz carências e desejos (materiaise simbólicos) incessantemente. Os indivíduos passam a ser reconhecidos, avaliados e julgados por aquiloque consomem, aquilo que vestem ou calçam, pelo carro e pelo telefone celular que exibem em público.O próprio indivíduo passa a se auto-avaliar pelo que tem e pelo que consome. Mas é muito difícilestabelecer o limite entre consumo e consumismo, pois a definição de necessidades básicas e supérfluasestá intimamente ligada às características culturais da sociedade e do grupo a que pertencemos. O queé básico para uns pode ser supérfluo para outros e vice-versa.
A felicidade e a qualidade de vida têm sido cada vez mais associadas e reduzidas às conquistasmateriais. Isto acaba levando a um ciclo vicioso, em que o indivíduo trabalha para manter e ostentar umnível de consumo, reduzindo o tempo dedicado ao lazer e a outras atividades e relações sociais.Até mesmo o tempo livre e a felicidade se tornam mercadorias que alimentam este ciclo.
Em suas atividades de consumo, os indivíduos acabam agindo centrados em si mesmos, sem sepreocupar com as conseqüências de suas escolhas. O cidadão é reduzido ao papel de consumidor, sendocobrado por uma espécie de “obrigação moral e cívica de consumir”.
Mas se nossas identidades se definem também pelo consumo, poderíamos vincular o exercício dacidadania e a participação política às atividades de consumo, já que é nestas atividades que sentimos quepertencemos e que fazemos parte de redes sociais.
O consumo é o lugar onde os conflitos entre as classes, originados pela participação desigual naestrutura produtiva, ganham continuidade, através da desigualdade na distribuição e apropriação dosbens. Assim, consumir é participar de um cenário de disputas pelo que a sociedade produz e pelos modosde usá-lo. Sob certas condições, o consumo pode se tornar uma transação politizada, na medida em queincorpora a consciência das relações de classe envolvidas nas relações de produção e promove açõescoletivas na esfera pública.
O termo sociedade de consumo é uma das inúmeras tentativas de compreensão das mudanças que vêm ocorrendonas sociedades contemporâneas. Refere-se à importância que o consumo tem ganhado na formação e fortalecimentodas nossas identidades e na construção das relações sociais. Assim, o nível e o estilo de consumo se tornama principal fonte de identidade cultural, de participação na vida coletiva, de aceitação em um grupo e de distinçãocom os demais. Podemos chamar de consumismo a expansão da cultura do “ter” em detrimento da cultura do “ser”.O consumo invade diversas esferas da vida social, econômica, cultural e política. Neste processo, os serviçospúblicos, as relações sociais, a natureza, o tempo e o próprio corpo humano se transformam em mercadorias.Até mesmo a política virou uma questão de mercado, comercializando a participação cívica e misturando valorescomerciais com valores cívicos. Isto seria uma “vitória” do consumo como um fim em si mesmo. O consumo passaa ser encarado, mais do que um direito ou um prazer, como um dever do cidadão. Seja como for, o consumismo,que emergiu na Europa Ocidental no século XVIII, vem se espalhando rapidamente para distintas regiões doplaneta, assumindo formas diversas. O início do século XXI está sendo marcado por profundas inovações queafetam nossas experiências de consumo, como a globalização, o desenvolvimento de novas tecnologias de comu-nicação, o comércio através da internet, a biotecnologia, o debate ambientalista etc.. Ao mesmo tempo, novostipos de protestos e reações ao consumismo emergem, exigindo uma nova postura do consumidor.
20% da população mundial, que habita principalmente os países afluentes do hemisfério norte, consome 80% dosrecursos naturais e energia do planeta e produz mais de 80% da poluição e da degradação dos ecossistemas.Enquanto isso, 80% da população mundial, que habita principalmente os países pobres do hemisfério sul, fica comapenas 20% dos recursos naturais. Para reduzir essas disparidades sociais, permitindo aos habitantes dos paísesdo sul atingirem o mesmo padrão de consumo material médio de um habitante do norte, seriam necessários,pelo menos, mais dois planetas Terra.
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Impactos ambientais do consumo
A partir do crescimento do movimento ambientalista, surgem novos argumentos contra os hábitosostensivos, perdulários e consumistas, deixando evidente que o padrão de consumo das sociedadesocidentais modernas, além de ser socialmente injusto e moralmente indefensável, é ambientalmenteinsustentável. A crise ambiental mostrou que não é possível a incorporação de todos no universode consumo em função da finitude dos recursos naturais. O ambiente natural está sofrendo uma exploraçãoexcessiva que ameaça a estabilidade dos seus sistemas de sustentação (exaustão de recursos naturaisrenováveis e não renováveis, desfiguração do solo, perda de florestas, poluição da água e do ar, perdade biodiversidade, mudanças climáticas etc.). Por outro lado, o resultado dessa exploração excessiva nãoé repartido eqüitativamente e apenas uma minoria da população planetária se beneficia desta riqueza.Assim, se o consumo ostensivo já indicava uma desigualdade dentro de uma mesma geração(intrageracional), o ambientalismo veio mostrar que o consumismo indica também uma desigualdadeintergeracional, já que este estilo de vida ostentatório e desigual pode dificultar a garantia de serviçosambientais equivalentes para as futuras gerações.
Estas duas dimensões, a exploração excessiva dos recursos naturais e a desigualdade inter e intra-geracional na distribuição dos benefícios oriundos dessa exploração, conduziram à reflexão sobrea insustentabilidade ambiental e social dos atuais padrões de consumo e seus pressupostos éticos. Torna-senecessário associar o reconhecimento das limitações físicas da Terra ao reconhecimento do princípiouniversal de eqüidade na distribuição e acesso aos recursos indispensáveis à vida humana, associandoa insustentabilidade ambiental aos conflitos distributivos e sociais.
Se considerarmos o princípio ético de igualdade inter e intrageracional,ou seja, o princípio de quetodos os habitantes do planeta (das presentes e das futuras gerações) têm o mesmo direito a usufruir dosrecursos naturais e dos serviços ambientais disponíveis,enquanto os países desenvolvidos continuarempromovendo uma distribuição desigual do uso dos recursos naturais, os países pobres poderão continuarreivindicando o mesmo nível elevado neste uso, tornando impossível a contenção do consumo globaldentro de limites sustentáveis. Neste contexto, os riscos de conflitos por recursos naturais, fome, migra-ções internacionais e refugiados ecológicos tenderão a aumentar. Tal dilema aponta para a percepçãoética de que todos os povos devem ter direitos proporcionais no acesso e utilização dos recursos naturais.Assim, para reduzir a disparidade social e econômica, seria necessário tanto um piso mínimo quantoum teto máximo de consumo. Porém, cada povo tem o direito e o dever de estabelecer padrões própriosde estilo de vida e consumo, não necessariamente copiando os estilos de vida de outras culturas.
A AGENDA 21, documento assinado durante a Rio92, deixa clara a preocupação com o impacto ambientalde diferentes estilos de vida e padrões de consumo:“Enquanto a pobreza tem como resultado determinados tipos de pressão ambiental, as principais causasda deterioração ininterrupta do meio ambiente mundial são os padrões insustentáveis de consumo e produção,especialmente nos países industrializados. Motivo de séria preocupação, tais padrões de consumo e produçãoprovocam o agravamento da pobreza e dos desequilíbrios”. (Capítulo 4 da Agenda 21)
O norte-americano Sidney Quarrier se propôs a tabular toda a carga de materiais e energia que ele e sua famíliatinham usado desde o Dia da Terra, em 1970, até a Rio92 (sem contar os recursos adicionais, como bens e serviçospúblicos, estradas, hospitais, lojas etc.) para medir a totalidade de consumo típico de uma família de classe médiaamericana. Sidney Quarrier concluiu que a forma como sua família viveu durante aqueles 20 anos é uma dasprincipais causas dos problemas ambientais do mundo e um dos mais difíceis de solucionar. E se perguntou: a Terrapode sobreviver ao impacto de Sidney e sua família? A família Quarrier do futuro pode mudar? (Durning,1992).* O Dia da Terra foi criado em 1970 quando o Senador norte-americano Gaylord Nelson convocou o primeiroprotesto nacional contra a poluição. É festejado em 22 de abril e desde 1990 outros países celebram a data.
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A partir da percepção de que os atuais padrões de consumo estão nas raízes da crise ambiental,a crítica ao consumismo passou a ser vista como uma contribuição para a construção de uma sociedademais sustentável. Mas como o consumo faz parte do relacionamento entre as pessoas e promove a suaintegração nos grupos sociais, a mudança nos seus padrões torna-se muito difícil. Por isso, este tema vemfazendo parte de programas de educação ambiental.
As propostas de mudança dos padrões de consumo
A partir da Rio92 o tema do impacto ambiental do consumo surgiu como uma questão de políticaambiental relacionada às propostas de sustentabilidade. Ficou cada vez mais claro que estilos de vidadiferentes contribuem de forma diferente para a degradação ambiental. Ou seja, os estilos de vida de usointensivo de recursos naturais, principalmente das elites dos países do hemisfério norte, são um dosmaiores responsáveis pela crise ambiental.
Diversas organizações ambientalistas começaram a considerar o impacto dos indivíduos, em suas tarefascotidianas, para a crise ambiental. Através de estímulos e exigências para que mudem seus padrõesde consumo, começaram a cobrar sua co-responsabilidade. Assim, atividades simples e cotidianas como“ir às compras”, seja de bens considerados de necessidades básicas, seja de itens considerados luxuosos,começaram a ser percebidas como comportamentos e escolhas que afetam a qualidade do meio ambiente.Dessa forma, muitos cidadãos se tornaram mais conscientes e interessados em reduzir sua contribuiçãopessoal para a degradação ambiental, participando de ações em prol do meio ambiente na hora das compras.
No entanto, esta ênfase na mudança dos padrões de consumo não deve nos levar a entender queos problemas ambientais decorrentes da produção industrial capitalista já tenham sido solucionados comsucesso. Ao contrário, as lutas por melhorias e transformações na esfera da produção estão relacionadase têm continuidade nas lutas por melhorias e transformações na esfera do consumo, uma vez que os doisprocessos são interdependentes.
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Por isso, uma das primeiras questões que devemos fazer é se não estaria havendo uma espéciede transferência da responsabilidade, do Estado e do mercado para os consumidores. Muitas vezes,governos e empresas buscam aliviar sua responsabilidade, transferindo-a para o consumidor, que passoua ser considerado o principal responsável pela busca de soluções. Mas os consumidores não podemassumir, sozinhos, toda a responsabilidade. Ela deve ser compartilhada por todos, em cada esfera de ação.
Assim, quando nós, consumidores, lidamos com dificuldades e dilemas diários relacionadosao nosso papel, ao nosso poder e à nossa responsabilidade pela melhoria ambiental através dasnossas escolhas e comportamentos, estamos aprendendo a nos posicionar sobre quem são os atorese quais são as instituições que devem ser responsáveis por cada problema e cada solução. A ênfasena mudança dos padrões de consumo deve ser vista, portanto, como uma forma de fortalecer a açãopolítica dos cidadãos. Essa nova forma de percepção e definição da questão ambiental estimulouo surgimento de uma série de estratégias, como “consumo verde”, “consumo ético”, “consumo respon-sável” e “consumo consciente”. Surgiu também uma nova proposta de política ambiental que ficouconhecida como “consumo sustentável”.
Consumo verde
Consumo verde é aquele em que o consumidor, além de buscar melhor qualidade e preço, inclui emseu poder de escolha, a variável ambiental, dando preferência a produtos e serviços que não agridamo meio ambiente, tanto na produção, quanto na distribuição, no consumo e no descarte final.
Esta estratégia tem alguns benefícios importantes, como o fato de os cidadãos comuns sentirem,na prática, que podem ajudar a reduzir os problemas ambientais. Além disso, os consumidores verdessentem-se parte de um grupo crescente de pessoas preocupadas com o impacto ambiental de suas escolhas.
Mas a estratégia de consumo verde tem algumas limitações. Os consumidores são estimuladosa trocar uma marca X por uma marca Y, para que os produtores percebam que suas escolhas mudaram.A possibilidade de escolha, portanto, acabou se resumindo a diferentes marcas e não entre consumismoe não-consumismo. Muitas empresas passaram a se interessar em mapear o poder de compra depessoas com alto poder aquisitivo interessadas em um estilo de vida de baixo impacto ambiental,percebendo-as como um novo nicho de mercado. Assim, a necessidade de redução e modificaçãodos padrões de consumo foi substituída pelo simples “esverdeamento” dos produtos e serviços.Além disso, o consumo verde atacaria somente uma parte do problema – a tecnologia – enfatizandoo desenvolvimento de produtos verdes para uma parcela da sociedade, enquanto os pobres ficamcom produtos inferiores e com um nível de consumo abaixo da satisfação de suas necessidadesbásicas. O tema da desigualdade no acesso aos bens ambientais desapareceu completamente dosdebates e propostas de consumo verde .
Consumo ético, consumo responsável e consumo consciente
Estas expressões surgiram como forma de incluir a preocupação com aspectos sociais, e não sóecológicos, nas atividades de consumo. Nestas propostas, os consumidores devem incluir, em suas escolhas
Poderíamos identificar seis características essenciais que devem fazer parte de qualquer estratégia de consumo sustentável:• deve ser parte de um estilo de vida sustentável em uma sociedade sustentável;• deve contribuir para nossa capacidade de aprimoramento, enquanto indivíduo e sociedade;• requer justiça no acesso ao capital natural, econômico e social para as presentes e futuras gerações;• o consumo material deve se tornar cada vez menos importante em relação a outros componentes da felicidade
e da qualidade de vida;• deve ser consistente com a conservação e melhoria do ambiente natural;• deve acarretar um processo de aprendizagem, criatividade e adaptação.
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de compra, um compromisso ético, uma consciência e uma responsabilidade quanto aos impactossociais e ambientais que suas escolhas e comportamentos podem causar em ecossistemas e outrosgrupos sociais, na maior parte das vezes geográfica e temporalmente distantes.
Consumo sustentável
Esta proposta se propõe a ser mais ampla que as anteriores, pois além das inovações tecnológicase das mudanças nas escolhas individuais de consumo, enfatiza ações coletivas e mudanças políticas,econômicas e institucionais para fazer com que os padrões e os níveis de consumo se tornem maissustentáveis. Mais do que uma estratégia de ação a ser implementada pelos consumidores, consumosustentável é uma meta a ser atingida. Para ficar mais claro, se é possível dizer “eu sou um consumidorverde”, ou “eu sou um consumidor consciente”, não teria sentido dizer “eu sou um consumidor sustentável”.
Espaço ambiental é um indicador que mede a quantidade total de matéria-prima não-renovável, terras para agri-cultura e florestas que nós podemos usar em escala mundial. O conceito inclui também a quantidade de poluiçãoque pode ser permitida sem comprometer o direito das gerações futuras ao uso destes mesmos recursos naturais.A quantidade de espaço ambiental disponível é limitada por definição. Além disso, ela é muitas vezes quantificávelem escala mundial (a emissão de CO2 aceitável, por exemplo) e, algumas vezes, em escala local e regional (comono caso das reservas de água potável). De acordo com este conceito, cada país deve ter a mesma quantidade deespaço ambiental per capita disponível e deve ter a possibilidade de desenvolver o mesmo nível de prosperidade.O cálculo do espaço ambiental tem sido feito a partir de cinco elementos: energia, solos, água, madeira e recursosnão-renováveis. A partir da estimativa da oferta global destes recursos, dividida pelo conjunto dos seres humanos,é possível calcular o quanto de espaço ambiental cada país está consumindo além do aceitável. Este conceito é útilpois evidencia as implicações ambientais dos padrões e níveis desiguais de consumo de diferentes paísese grupos sociais. Neste sentido, introduz uma reflexão sobre a necessidade de eqüidade e de alternativasao crescimento econômico, considerando o meio ambiente como um direito de todos. (Brakel,1999)
Espaço Ambiental
Teto de consumo
Piso de consumo
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Além disso, a preocupação se desloca da tecnologia dos produtos e serviços e do comportamentoindividual para os desiguais níveis de consumo. Afinal, meio ambiente não está relacionado apenas a umaquestão de como usamos os recursos (os padrões), mas também uma preocupação com o quantousamos (os níveis), tornando-se uma questão de acesso, distribuição e justiça social e ambiental.
Utilizando como exemplo a área de transportes, na estratégia de consumo verde haveria mudançastecnológicas, para que os carros se tornassem mais eficientes (gastando menos combustível) e menospoluentes, e mudanças comportamentais dos consumidores, que considerariam essas informações nahora da compra de um automóvel. Na estratégia do consumo sustentável, haveria também investimentosem políticas públicas visando à melhoria dos transportes coletivos, ao incentivo aos consumidores paraque utilizem esses transportes e ao desestímulo para que não utilizem o transporte individual (como porexemplo, a proibição da circulação de carros em certos locais e horários).
A idéia de um consumo sustentável, portanto, não se limita a mudanças comportamentais de consu-midores individuais ou, ainda, a mudanças tecnológicas de produtos e serviços para atender a este novonicho de mercado. Apesar disso, não deixa de enfatizar o papel dos consumidores, porém priorizando suasações, individuais ou coletivas, enquanto práticas políticas. Neste sentido, é necessário envolver o processode formulação e implementação de políticas públicas e o fortalecimento dos movimentos sociais.
Por essa razão, o que importa não é exatamente o impacto ambiental do consumo, mas antes oimpacto social e ambiental da distribuição desigual do acesso aos recursos naturais, uma vez que tantoo “superconsumo” quanto o “subconsumo” causam degradação social e ambiental.
No entanto, a estratégia de consumo sustentável baseada exclusivamente na redução do consumo nospaíses do hemisfério norte não garante que haverá uma melhor redistribuição dos recursos. Neste sentido,as políticas de consumo sustentável devem contribuir para eliminar as desigualdades de poder na deter-minação dos mecanismos de comércio internacional entre os países.
Considerando o exposto até agora, é possível afirmar que as relações entre meio ambiente e desenvol-vimento estão diretamente relacionadas aos padrões de produção e consumo de uma determinadasociedade. Mas ao contrário de transferir a responsabilidade exclusivamente para os consumidores indi-viduais, ou se limitar a mudanças tecnológicas de produtos e serviços, o debate sobre os padrões e níveisde consumo precisa ser ampliado para incluir o processo de formulação e implementação de políticaspúblicas, criando um espaço de alianças entre diferentes setores da sociedade.
Finalmente, a construção de padrões e níveis de consumo mais sustentáveis envolve a construção derelações mais solidárias entre diversos setores sociais, como produtores, comerciantes e consumidores.Iniciativas de apoio a formas alternativas de produção (agricultura familiar e orgânica, reservas extrativistas,cooperativas de produtores, economia solidária etc.) precisam contar com uma ampla identificaçãoe participação dos consumidores. Portanto, a busca de formas alternativas e solidárias na esfera da produção,articulando experiências bem sucedidas em “mercados limpos e justos”, podem e devem se aliar aos movi-mentos de consumidores, organizados na articulação de mecanismos de resistência, reorientação dos modelosprodutivos e tentativas de interferência nas agendas hegemônicas. As práticas de consumo podem seruma forma de criação de redes de intercâmbio de informação e de aprendizagem do exercício da cidadania.
Consumo e cidadania
O conceito e o significado da cidadania não são únicos e universais e estão sempre se ampliandoe se modificando para incluir novos direitos, em especial, o “direito a ter direitos”. O conteúdo da cidadaniaé sempre definido pela luta política e pela existência de conflitos reais. Desta forma, pode incorporar novasaspirações, desejos e interesses, na medida em que esses consigam ser reconhecidos coletivamente.Desta forma, um dos pressupostos básicos para a construção da cidadania é o de que os cidadãos lutempela conquista dos direitos definidos por eles próprios como legítimos. Isso faz com que a noção decidadania se torne mais ampla, incorporando novos elementos, como o direito à autonomia sobre
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o próprio corpo, o direito à qualidade ambiental, o direito do consumidor, o direito à igualdade, o direitoà diferença etc. A partir daí, surgem novas questões relacionadas ao exercício da cidadania como,por exemplo, as atividades de consumo.
Quando selecionamos e adquirimos bens de consumo, seguimos uma definição cultural do queconsideramos importante para nossa integração e diferenciação sociais. Assim consumo e cidadaniapodem ser pensados de forma conjunta e inseparável, já que ambos são processos culturais e práticassociais que criam este sentido de pertencimento e identidade.
Além disso, num mundo globalizado, onde a própria atividade política foi submetida às regras domercado, o exercício da cidadania não pode ser desvinculado do consumo, uma das atividades ondeatualmente sentimos que pertencemos a um grupo e que fazemos parte de redes sociais. O consumo nãoé simples possessão individual de objetos isolados mas apropriação coletiva – através de relações deidentidade e distinção com os outros – de bens que proporcionam satisfação biológica e simbólica e queservem para receber e enviar mensagens.
O consumo tornou-se um lugar onde é difícil “pensar” por causa da sua subordinação às forças demercado. Mas os consumidores não são necessariamente alienados e manipulados. Ao contrário,o consumidor também pode ser crítico, “virando o feitiço contra o feiticeiro”. O consumidor “também pensa”e pode optar por ser um cidadão ético, consciente e responsável. Podemos atuar de forma subordinadaaos interesses do mercado, ou podemos ser insubmissos às regras impostas de fora, erguendo-nos comocidadãos e desafiando os mandamentos do mercado. Se o consumo pode nos levar a um desinteressepelos problemas coletivos, pode nos levar também a novas formas de associação, de ação política,de lutas sociais e reivindicação de novos direitos.
A reconstrução do cidadão no espaço de consumo
O consumo é realizado porque se espera que gere satisfação (biológica ou simbólica). No entanto,o consumo também gera decepção e insatisfação. Após vivenciar decepções na esfera de consumo,o consumidor tem, basicamente, duas formas de reação. Se pensar que não teve sorte e que recebeuum produto defeituoso, é provável que ele o devolva ou peça um desconto; esta é, portanto, uma reaçãoindividual a um problema individual. Mas se, por outro lado, o consumidor descobrir que o produtoadquirido, ou o serviço contratado, não é seguro ou traz prejuízos sociais e ambientais, e que isso é umadas suas características, é o interesse público que estará em jogo, tornando mais provável um engajamentonuma manifestação pública. Isso pode se transformar numa importante experiência de mobilizaçãoe politização, uma vez que um consumidor que viveu uma decepção desse tipo poderá estar mais bempreparado que antes para questionar a ordem social e política em geral.
A organização de cooperativas ou redes de consumo fortalece uma percepção coletiva sobre a exploraçãoe os abusos que acontecem nesta esfera. As cooperativas permitem aos consumidores escapar, mesmo que parcial-mente, das relações de exploração na esfera do consumo.
Um boicote pode ser definido como uma recusa planejada e organizada a comprar bens ou serviços de certaslojas, empresas e até mesmo países. Boicotes servem para uma ampla variedade de propósitos: protesto contraaumentos injustificáveis de preços, pressão complementar fortalecendo ou mesmo substituindo uma greve,fortalecimento de organizações de trabalhadores, demonstração de descontentamento com a política salarialou ambiental de uma empresa etc.. As empresas são particularmente sensíveis aos boicotes, uma vez que podemter sérios prejuízos financeiros. O sucesso de um boicote de consumidores depende de vários fatores, tais comoo nível de organização, o tamanho do mercado boicotado, a natureza e o número de mercadorias boicotadas,a interferência de governos e empresas etc..
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Assim, ao traduzirem as insatisfações pessoais (como foram tratados por uma empresa, defeitos em umproduto, propaganda abusiva, processos produtivos poluentes, exploração da mão-de-obra etc.) em questõespúblicas, os consumidores organizados reivindicam a substituição de certas regras, leis e políticas existentespor outras novas (ou ainda o cumprimento das já existentes). Neste caso, decepções e frustrações na esfera doconsumo privado podem provocar maior interesse por questões públicas e maior participação em açõescoletivas. Afinal, formular, expressar, justificar e reivindicar uma insatisfação a torna coletiva e pública.
Neste sentido, não devemos desmerecer a vida privada como espaço de luta pela emancipaçãocoletiva. Afinal, questões e interesses privados podem ser desprivatizados e reconhecidos publicamentecomo questões coletivas.
As atividades de consumo operam na interseção entre vida pública e privada. O debate sobre a relaçãoentre consumo e meio ambiente pode ser uma forma de politização do cotidiano, recuperando as pontesentre estas duas esferas. Através desse debate, a questão ambiental finalmente pode ser colocada numlugar em que as preocupações privadas e as questões públicas se encontram.
Desta forma, surge a possibilidade de que um conjunto de pessoas busque criar espaços alternativosde atuação, enfrentamento e busca de soluções coletivas para os problemas que parecem ser individuais.Trata-se de sujeitos coletivos que buscam juntos construir a indignação e sonhar com a possibilidadede contribuir para uma sociedade mais justa e feliz.
A politização do consumo
O movimento de consumidores utiliza certas estratégias – boicotes, cooperativas, rotulagens etc. –como formas de politização do consumo. Trata-se de um tipo de pressão política que extrapola as açõesnos locais de trabalho para atuar nas relações de consumo.
A eco-rotulagem, ou rotulagem ambiental, consiste na atribuição de um rótulo ou selo a um produto ou a umaempresa, informando sobre seus aspectos ambientais. Desta forma, os consumidores podem obter mais infor-mações para fazer suas escolhas de compra com maior compromisso e responsabilidade social e ambiental.A rotulagem ambiental pode ser considerada também uma forma de fortalecer as redes de relacionamento entreprodutores, comerciantes e consumidores (MMA,2002).
A economia solidária é uma prática de colaboração e solidariedade, inspirada por valores culturais que colocamo ser humano como sujeito e finalidade da atividade econômica, ao invés da acumulação da riqueza e de capital.Baseia-se numa globalização mais humana e valoriza o trabalho, o saber e a criatividade, buscando satisfazerplenamente as necessidades de todos. Constitui-se num poderoso instrumento de combate à exclusão sociale congrega diferentes práticas associativas, comunitárias, artesanais, individuais, familiares e cooperação entrecampo e cidade. (http://www.fbes.org.br)
Os direitos básicos do consumidor estão sintetizados no artigo 6º do Código de Defesa do Consumidor:• Proteção da vida, saúde e segurança;• Educação para o consumo;• Informação adequada e clara sobre produtos e serviços;• Proteção contra a publicidade enganosa e abusiva e métodos comerciais ilegais;• Proteção contra práticas e cláusulas abusivas nos contratos;• Prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais;• Adequação e prestação eficaz dos serviços públicos em geral;• Acesso à justiça e aos órgãos administrativos e facilitação da defesa em favor do consumidor.
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Assim, uma das respostas políticas para a percepção da exploração, e das desigualdades nas relaçõesde consumo pode ser a tentativa de evitar a exploração, aumentando a proporção de consumo realizado forado mercado convencional (como por exemplo, as cooperativas de consumo e as experiências de economiasolidária) ou, ainda, a realização de protestos, boicotes e processos judiciais junto aos órgãos competentes.
Ao contrário do que possa parecer, estas táticas não são novas e podem ser encontradas em inúmerosexemplos históricos desde o século XVII, em que a luta dos operários extrapolou as tradicionais ações nolocal de trabalho para incluir ações na esfera de consumo. Assim, pode-se pensar sobre formas de aquisição/fortalecimento de poder através do uso coletivo do poder de compra dos trabalhadores.
Aos Poucos, a “soberania do consumidor”, propagada pelo neoliberalismo, pode se mover em direçãoà “cidadania do consumidor”, em que o consumo se transforma numa prática social, política e ecológica.
O Código de Defesa do Consumidor
O consumerismo – movimento social organizado, próprio da Sociedade de Consumo – surge comoreação à situação de desigualdade entre produtores e consumidores. Considerando as imperfeiçõesdo mercado e sua incapacidade de solucionar, de maneira adequada, uma série de situações comopráticas abusivas, acidentes de consumo, injustiças nos contratos de adesão, publicidade e informaçãoenganosa, degradação ambiental, exploração de mão-de-obra etc., o consumerismo deu origem aoDireito do Consumidor, uma disciplina jurídica que visa estudar as relações de consumo, corrigindoas desigualdades existentes entre fornecedores e consumidores.
A Constituição Brasileira de 1988 estabelece que “o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa doconsumidor”. Isto abriu importante caminho para a criação do Código de Defesa do Consumidor,em 11 de setembro de 1990. Elaborada pelo poder legislativo e sancionada pelo Presidente da República,a lei 8.078/90 entrou em vigor a partir de 11 de março de 1991.
Conceitos Básicos:Consumidor: é quem compra um produto ou contrata um serviço de um fornecedor; também é aquele queutiliza um produto comprado por outros. Ou seja, uma criança que se diverte com um brinquedo comprado paraela é consumidora; um morador de rua que recebe um prato de comida ou um doente mental que recebetratamento são também consumidores.Fornecedor: é a pessoa ou empresa que fabrica ou oferece produtos ou serviços para os consumidores de formahabitual. Uma pessoa que vende um automóvel usado para outra não é considerada fornecedora porque seunegócio não é aquele. O fabricante do automóvel e o dono de uma revendedora são fornecedores.Produto: é toda mercadoria, durável ou não-durável, colocada à venda no comércio.Serviço: é qualquer trabalho prestado a um consumidor mediante remuneração e sem vínculo empregatício.Relação de consumo: envolve desde o anúncio de um produto por meio de folheto ou propaganda, à realizaçãode orçamento e negociação para aquisição, mas não depende da efetivação da compra.Mercado de consumo: local ou meio pelo qual ocorre a oferta e a procura de produtos ou serviços: uma loja,um contato telefônico, vendas à domicílio, vendas pela Internet ou pelo correio etc.(IDEC & INMETRO, 2002)
Exigindo nota fiscal dos fornecedores de produtos e serviços, participando de ações e campanhas das organizaçõesde defesa do consumidor e lutando por seus próprios direitos, o consumidor contribui para a melhoria dosprodutos e serviços e para a transformação dos padrões e níveis de consumo e a conseqüente melhoria de vida dacoletividade. Ao emitir nota fiscal, o fornecedor é obrigado a pagar impostos que deverão ser usados pelogoverno para construir escolas, hospitais, rodovias etc. Participando de entidades de defesa do consumidor somaforça com outros consumidores na luta pela garantia dos direitos de todos. Com essa luta crescente inibeos fornecedores que agem em desacordo com a lei.
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Além de estabelecer os direitos do consumidor, o Código de Defesa do Consumidor estabeleceas normas de conduta que devem ser seguidas pelos fornecedores de produtos e serviços de consumo.Seu objetivo é preservar a vida, a saúde, a segurança e a dignidade do consumidor, responsabilizandoo fornecedor pela qualidade do que coloca no mercado e exigindo deste a informação necessária sobreseus produtos, além da garantia de reparação de eventuais danos causados ao consumidor, ao meioambiente ou à comunidade.
A divulgação dos direitos do consumidor é essencial para que produção e consumo sejam vistascomo áreas de interesse coletivo.
Consumo sustentável depende da participação de todos
O consumidor deve cobrar permanentemente uma postura ética e responsável de empresas, governose de outros consumidores. Deve, ainda, buscar informações sobre os impactos dos seus hábitosde consumo e agir como cidadão consciente de sua responsabilidade em relação às outras pessoase aos seres do planeta.
As empresas devem agir de forma socialmente e ambientalmente responsáveis em todas as suasatividades produtivas. Nesse sentido, responsabilidade social empresarial significa adotar princípiose assumir práticas que vão além da legislação, contribuindo para a construção de sociedades sustentáveis.
Os governos devem garantir os direitos civis, sociais e políticos de todos os cidadãos; elaborar e fazercumprir a Agenda 21, por meio de políticas públicas, de programas de educação ambiental e de incentivoao consumo sustentável. Além disso, devem incentivar a pesquisa científica voltada para a mudança dosníveis e padrões de consumo e fiscalizar o cumprimento das leis ambientais.
Vivemos em um país onde a eliminação da pobreza, a diminuição da desigualdade social e a preser-vação do nosso ambiente devem ser prioridades para consumidores, empresas e governos, pois todos sãoco-responsáveis pela construção de sociedades sustentáveis e mais justas.
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Água
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Um recurso cada vez mais ameaçadoÁgua
A água é um recurso natural essencial para a sobrevivência de todas as espécies que habitam a Terra.No organismo humano a água atua, entre outras funções, como veículo para a troca de substâncias e paraa manutenção da temperatura, representando cerca de 70% de sua massa corporal. Além disso, é conside-rada solvente universal e é uma das poucas substâncias que encontramos nos três estados físicos: gasoso,líquido e sólido. É impossível imaginar como seria o nosso dia-a-dia sem ela.
Os alimentos que ingerimos dependem diretamente da água para a sua produção. Necessitamosda água também para a higiene pessoal, para lavar roupas e utensílios e para a manutenção da limpezade nossas habitações. Ela é essencial na produção de energia elétrica, na limpeza das cidades, na construçãode obras, no combate a incêndios e na irrigação de jardins, entre outros. As indústrias utilizam grandesquantidades de água, seja como matéria-prima, seja na remoção de impurezas, na geração de vapore na refrigeração. Dentre todas as nossas atividades, porém, é a agricultura aquela que mais consome água –cerca de 70% de toda a água consumida no planeta é utilizada pela irrigação (veja o quadro).
A ameaça da falta de água, em níveis que podem até mesmo inviabilizar a nossa existência, podeparecer exagero, mas não é. Os efeitos na qualidade e na quantidade da água disponível, relacionadoscom o rápido crescimento da população mundial e com a concentração dessa população em megalópoles,já são evidentes em várias partes do mundo. Dados do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef )e da Organização Mundial da Saúde (OMS) revelam que quase metade da população mundial (2,6 bilhõesde pessoas) não conta com serviço de saneamento básico e que uma em cada seis pessoas (cerca de
Ciclo da água
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1,1 bilhão de pessoas) ainda não possui sistema de abastecimento de água adequado. As projeções daOrganização das Nações Unidas indicam que, se a tendência continuar, em 2050 mais de 45% da popu-lação mundial estará vivendo em países que não poderão garantir a cota diária mínima de 50 litros deágua por pessoa. Com base nestes dados, em 2000, os 189 países membros da ONU assumiram como umadas metas de desenvolvimento do milênio reduzir à metade a quantidade de pessoas que não têm acessoà água potável e saneamento básico até 2015.
Mesmo países que dispõem de recursos hídricos abundantes, como o Brasil, não estão livres daameaça de uma crise. A disponibilidade varia muito de uma região para outra. Além disso, nossas reservasde água potável estão diminuindo. Entre as principais causas da diminuição da água potável estãoo crescente aumento do consumo, o desperdício e a poluição das águas superficiais e subterrâneas poresgotos domésticos e resíduos tóxicos provenientes da indústria e da agricultura.
Neste capítulo do Manual de Educação para o Consumo Sustentável se discute porque é tão importantee inadiável a conservação dos recursos hídricos do planeta e quais as ações necessárias para garantir o seuconsumo sustentável. A partir das informações contidas neste manual, você vai poder mostrar aos seusalunos que, com pequenas mudanças de hábitos, todos podemos contribuir para conservar nossas águas,aprendendo a controlar a poluição e a consumir sem desperdício.
O ciclo da água
Na natureza, a água se encontra em contínua circulação, fenômeno conhecido como ciclo da água ouciclo hidrológico. A água dos oceanos, dos rios, dos lagos, da camada superficial dos solos e das plantasevapora por ação dos raios solares. O vapor formado vai constituir as nuvens que, em condições adequadas,condensam-se e precipitam-se em forma de chuva, neve ou granizo. Parte da água das chuvas infiltra-se nosolo, outra parte escorre pela superfície até os cursos de água ou regressa à atmosfera pela evaporação,formando novas nuvens. A porção que se infiltra no solo vai abastecer os aqüíferos, reservatórios de águasubterrânea que, por sua vez, vão alimentar os rios e os lagos.
A distribuição e o consumo de água doce no mundo e no Brasil
O volume total de água na Terra não aumenta nem diminui, é sempre o mesmo. A água ocupaaproximadamente 70% da superfície do nosso planeta.
Mas 97,5% da água do planeta é salgada. Da parcela de água doce, 68,9% encontra-se nas geleiras,calotas polares ou em regiões montanhosas, 29,9% em águas subterrâneas, 0,9% compõe a umidadedo solo e dos pântanos e apenas 0,3% constitui a porção superficial de água doce presente em rios e lagos.
A água doce não está distribuída uniformemente pelo globo. Sua distribuição depende essencialmentedos ecossistemas que compõem o território de cada país. Segundo o Programa Hidrológico Internacionalda Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), na América do Sulencontra-se 26% do total de água doce disponível no planeta e apenas 6% da população mundial,enquanto o continente asiático possui 36% do total de água e abriga 60% da população mundial.
Atualmente, mais de6 bilhões de pessoasem todo o mundoutilizam cerca de54% da água docedisponível em rios,lagos e aqüíferos.Fonte: Unesco
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O consumo diário de água é muito variável ao redor do globo. Além da disponibilidade do local,o consumo médio de água está fortemente relacionado com o nível de desenvolvimento do país e como nível de renda das pessoas. Uma pessoa necessita de, pelo menos, 40 litros de água por dia para beber,tomar banho, escovar os dentes, lavar as mãos, cozinhar etc. Dados da ONU, porém, apontam que umeuropeu, que tem em seu território 8% da água doce no mundo, consome em média 150 litros de água por dia.Já um indiano, consome 25 litros por dia.
Segundo estimativas da Unesco, se continuarmos com o ritmo atual de crescimento demográficoe não estabelecermos um consumo sustentável da água, em 2025 o consumo humano pode chegar a 90%,restando apenas 10% para os outros seres vivos do planeta.
Água no Brasil
Com uma área de aproximadamente 8.514.876 km2 (fonte: Anuário Estatístico 2000) e mais de169 milhões de habitantes (fonte: censo demográfico 2000), o Brasil é hoje o quinto país do mundo, tantoem extensão territorial como em população. Em função de suas dimensões continentais, o Brasil apre-senta grandes contrastes relacionados não somente ao clima, vegetação original e topografia, mastambém à distribuição da população e ao desenvolvimento econômico e social, entre outros fatores.
De maneira geral, o Brasil é um país privilegiado quanto ao volume de recursos hídricos, pois abriga 13,7%da água doce do mundo. Porém, a disponibilidade desses recursos não é uniforme. Como demonstradono quadro abaixo, mais de 73 % da água doce disponível no país encontra-se na bacia Amazônica,
Quadro demonstrativo – Informações básicas sobre as bacias hidrográficas brasileiras
N° Bacia Hidrográfica Área População Densidade Vazão Disponibilidade HÍDRICA** Disponibilidade
10³KM² % Hab. % Hab./Km² M³/S Km³/Ano % M³/hab. ano
1 Amazônica 3.900 45,8 6.687.893 4,3 1,7 133.380 4206 73,2 628.940
2 Tocantins 757 8,9 3.503.365 2,2 4,6 11.800 372 6,5 106.220
3 Atlântico N/NE 1.029 12,1 31.253.068 19,9 30,4 9.050 285 5,0 9.130
4 São Francisco 634 7,4 11.734.966 7,5 18,5 2.850 90 1,6 7.660
5 Atlântico Leste 545 6,4 35.880.413 22,8 65,8 4.350 137 2,4 3.820
6A Paraguai** 368 4,3 1.820.569 1,2 4,9 1.290 41 0,7 22.340
6B Paraná 877 10,3 49.924.540 31,8 56,9 11.000 347 6,0 6.950
7 Uruguai** 178 2,1 3.837.972 2,4 21,6 4.150 131 2,3 34.100
8 Atlântico Sudeste 224 2,6 12.427.377 7,9 55,5 4.300 136 2,4 10.910
Brasil 8.512100 157.070.163 100 18,5 182.170 5.745 100 36.580
Fonte: SIH/Aneel 1999 * ibge, 1996. ** Produção hídrica brasileira
A Política Nacionalde Recursos Hídricosfoi instituída pelaLei 9.433/97, maisconhecida como“Lei das Águas”.
Fonte: Plano Nacionalde Recursos Hídricos– Secretariade Recursos Hídricosdo Ministério doMeio Ambiente
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que é habitada por menos de 5% da população. Apenas 27 % dos recursos hídricos brasileiros estãodisponíveis para as demais regiões, onde residem 95% da população do país (Lima, 1999). Não só a disponi-bilidade de água não é uniforme, mas a oferta de água tratada reflete os contrastes no desenvolvimentodos Estados brasileiros. Enquanto na região Sudeste 87,5% dos domicílios são atendidos por rede dedistribuição de água, no Nordeste a porcentagem é de apenas 58,7%.
O Brasil registra também elevado desperdício: de 20% a 60% da água tratada para consumo se perde nadistribuição, dependendo das condições de conservação das redes de abastecimento. Além dessas perdas deágua no caminho entre as estações de tratamento e o consumidor, o desperdício também é grande nas nossasresidências, envolvendo, por exemplo, o tempo necessário para tomarmos banho, a própria forma comotomamos banho, a utilização de descargas no vaso sanitário que consomem muita água, a lavagem da louçacom água corrente, no uso da mangueira como vassoura na limpeza de calçadas, na lavagem de carros etc..
Os usos da água
Agora, que já conhecemos as condições da água na natureza, sua distribuição no planeta – emespecial no Brasil – e as ameaças que pairam sobre este bem precioso, vamos ver como ela é tratada parao consumo humano (uso doméstico e esgotamento sanitário) e em outras situações nas quais os sereshumanos necessitam dela para viver e produzir (uso industrial, uso agrícola, geração de energia, navega-ção, pesca e lazer). Vamos ver também o que pode ser feito para preservar sua qualidade e quantidade,combatendo a contaminação por esgoto, agrotóxicos, lixo e outras formas de poluição.
Uso doméstico
Segundo o Ministério da Saúde, para que a água seja potável e adequada ao consumo humano, deveapresentar características microbiológicas, físicas, químicas e radioativas que atendam a um padrão de potabi-lidade estabelecido. Por isso, antes de chegar às torneiras das casas, a água passa por estações de tratamento,onde são realizados processos de desinfecção para garantir seu consumo sem riscos à saúde. Após chegarà estação de tratamento, a água passa basicamente pelas seguintes etapas:1. Adição de coagulantes: consiste em misturar à água substâncias químicas (sulfato de alumínio, sulfato
ferroso etc.) e auxiliares de coagulação que permitem a aglutinação das partículas em suspensão.
Cerca de 70% deum dos maioresreservatórios deágua subterrâneado mundo,o Sistema AqüíferoGuarani (SAG), estálocalizado no Brasil.Os outros países quetambém fazemparte do SAG sãoo Uruguai, o Paraguaie a Argentina.Fonte: Secretariade Recursos Hídricosdo Ministério doMeio Ambiente
Você sabe em queBacia Hidrográficaestá localizada a suacidade? Procure seinformar sobre o funcionamentodo Comitê de suaBacia Hidrográfica esobre as organizaçõesda sociedade civilparticipantes.Entre em contatocom essas organi-zações para sabercomo andama regulamentaçãoe a cobrança pelo usoda água e tambémas atividades depreservação e derecuperação dosrecursos hídricos.
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2. Coágulo-sedimentação: a água, já com coagulantes, é conduzida aos misturadores (rápidos e lentos)que promovem a formação de flocos entre o íon alumínio ou ferro trivalente e as partículas presentes naágua. Dos misturadores, a água passa para os tanques de decantação, chamados de decantadores,onde permanece por um período médio de três horas. No fundo dos tanques, depositam-se flocos quearrastam grande parte das impurezas.
3. Filtração: após a decantação, a água segue para os filtros, unidades de areia de granulometria variadaque retêm as impurezas restantes. O filtro tem dispositivos capazes de promover a lavagem de areia,para que o processo de filtragem não seja prejudicado pela obstrução do leito filtrante.
4. Desinfecção: a água, após filtrada e aparentemente limpa, ainda pode conter bactérias e outros orga-nismos patogênicos (não são visíveis a olho nu) que podem provocar doenças como a febre tifóide,disenteria bacilar e cólera. Torna-se necessário, então, a aplicação de um elemento que os destrua.Esse elemento é o cloro, aplicado em forma de gás ou em soluções de hipoclorito, numa proporçãoque varia de acordo com a qualidade da água.
5. Fluoretação: para prevenir a cárie dentária; o flúor e seus sais têm se revelado notáveis comofortalecedores da dentina. A aplicação do flúor na água, por meio de produtos como fluossilicato desódio ou ácido fluossilícico, é a etapa final do tratamento. (Saiba mais sobre tratamento de água nosite: http://www.embasa.ba.gov.br/dicas/tratamentoa.htm). Estas substâncias químicas, no entanto,podem causar problemas à saúde se não utilizadas criteriosamente.
Casa limpa, rios contaminados
Na hora de limpar a casa, muitas vezes exageramos no consumo de produtos de limpeza. Às vezes, nos esquecemosde que muitos produtos anunciados nas propagandas pelas facilidades na remoção da sujeira são altamenteprejudiciais ao meio ambiente. Veja alguns exemplos:
• Detergentes: costumam conter fosfatos, nutrientes que causam o enriquecimento de rios e lagos, provocandoum processo denominado eutrofização, com efeitos como o aumento da produtividade primária, ou seja,o crescimento acelerado de algas (florações). Estas “florações” de algas consomem o oxigênio da água duranteo período noturno, podendo causar mortandades de peixes e outros organismos aquáticos por asfixia. Algumasespécies de algas podem também produzir toxinas.Conforme estudos do EPA (Environmental Protection Agency,órgão do governo Norte-americano) e da OMS, essas toxinas podem atacar o fígado, causando intoxicaçõesagudas, e o sistema nervoso.
• Desodorizador de ambientes ou desodorante ambiental para o banheiro: geralmente contém paradicloro-benzeno, uma substância química que pode provocar câncer e problemas de fígado.
A cada ano, maisde cinco milhõesde pessoas morremde alguma doençaassociada à água,ambiente domésticosem higiene e faltade sistemas de esgo-tamento sanitário.Fonte: “Água eSaúde”, OrganizaçãoPanamericana daSaúde, 2001.
Captação,tratamentoe abastecimentode água
nascente
captação de água bruta
reservatóriode águapotável
estação de tratamento
distribuição de água potávele recebimento de esgoto
rede de esgotos
estação detratamento de esgoto
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Após o tratamento, a água passa por análises laboratoriais, a fim de garantir a distribuição de umproduto de qualidade. O tratamento da água é fundamental para a saúde pública. Nos países da AméricaLatina, apesar dos sistemas de abastecimento terem, pouco a pouco, se estendido até os lugares maisafastados, ainda existe muito a ser feito. Segundo a Organização Mundial de Saúde, na América Latinae Caribe, em 2000, 78 milhões de pessoas não tinham acesso a água encanada e 117 milhões de pessoas nãoeram atendidas por esgotamento sanitário, respectivamente 15% e 22%